A escrita
protegida na teia flui, decompondo os espaços criados num
registo de uma sabedoria primitiva ligada aos mistérios da
natureza, como uma semente que promove e dá forma ao seu
universo.
Como um livro que se abre sob a
luz que irradia do conhecimento contido nas prateleiras da
biblioteca, as obras expostas apresentam múltiplas
possibilidades de metamorfose das palavras, gerando subtis
leituras através da sobreposição do seu diáfano suporte.
Através da Luz, as Sombras criadas
pelas palavras escritas, tornam-se presença e dão corpo ao
sentido de cada uma, como imagem e como narrativa.
O título de cada imagem e as
citações nelas contidas desvelam uma visão poética, quase
íntima, criando contextos abrangentes na abordagem deste
projecto carregado de referências.
Sob a metáfora do olhar, as obras
expostas apresentam as amplas possibilidades da transfiguração,
em que a presença auto-referencial se cruza, por vezes na
alteridade, referência que é também nomeação, através da palavra
escrita.
Nesta exposição as imagens e as
palavras constituem-se por camadas, em sobreposição, utilizando
suportes translúcidos como véus, através dos quais “surge no
silêncio o lugar à invocação da vida e à perfeição das suas
formas”.
São experiências e memórias
acumuladas que nos transportam a leituras inspiradas pelas
palavras ou pelos símbolos que pontuam os espaços esvoaçantes
que exploram o dentro e o fora, a luz e a sombra, a frente e o
verso.
Matéria do Tempo, percorrendo
tramas alinhadas numa maior ou menor densidade acrescentada para
dar forma - seja cor, palavra ou símbolo, seja mancha, sentido
ou carimbo, atingindo uma delicadeza aparente de um espaço que
se constrói decompondo – revelando-se no processo individual e
inverso da observação da geologia de tempos e sinais, de desejo
de comunicar.
Cada obra comunica através do
absoluto e do mistério da origem ao provocar a curiosidade,
utilizando a imaginação e a criatividade, procurando verdades
nas palavras e nas imagens – formas circulares e circunscritas,
rosáceas, cristais, minerais, estrelas, planetas, cartografias
desenhadas nas geometrias labirínticas de representações da
biologia ou da química – na transparência da cor, do véu e da
trama, no brilho reflectido das formas e das manchas douradas.
Com esta exposição Alexandra
recria o elo que junta as marcas deixadas pelos primórdios da
comunicação, através dos rolos das mensagens, a artistas como
Almada Negreiros (sua referência), numa re-descoberta e
sensibilidade contemporânea, desejando o encontro com
intérpretes de um pensamento e respiração original, capaz de
devolver às formas e às palavras um novo sentido.
Abril de 2017
Manuela Cristóvão
Profª Auxiliar
Escola de Artes – Universidade de Évora
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