Ver Manuela Cristóvão, "Luz entre palavras - Exposição de Alexandra Dias"

NOTA EXPLICATIVA

O tema era a luz

Na biblioteca «a luz» está entre palavras mas fiz também questão que as palavras estivessem fisicamente presentes e mais do que isso que fossem legíveis, articuláveis e assim verdadeiramente providas de todos os seus alegados e celebrados poderes.

PROCESSO

Utilizaram-se técnicas mistas, envolvendo pintura, impressão e colagem sobre véus de noiva.

REFERÊNCIAS

Os elementos circulares diversamente recortados, pretendem evocar rosáceas de catedral, peças de mecanismos e formas de vida.

A forma das obras apresentadas e nomeadamente a presença de uma marca autenticadora e as aplicações de dourado inspiram-se nos antigos rolos de mensagem.

A caligrafia foi inspirada na utilizada por José de Almada Negreiros no seu conhecido auto-retrato de 1948 executado a grafite sobre papel em que o autor se retrata sobre um fundo de citações.

Alexandra Dias

Março de 2017

O ESPAÇO

A biblioteca do Colégio Verney da Universidade de Évora é um espaço amplo, uma espécie de nave suspensa rodeada por luz vinda de todos os lados menos de um, o «istmo» que fica ao fundo, nesse mesmo fundo onde se encontra numa janela metalizada, encaixotado um elevador por onde sobem os livros do Arquivo.

A sensação que este espaço transmite é a de estar no convés de um navio de outras eras, construído de madeiras enobrecidas pelo tempo. As traves do tecto, o longo tabuado do soalho e os cordames metálicos pintados de azul cinza (ou verde jade segundo outros) ornamentados por cornucópias que parecem pretender sustentar o mundo criam esse ambiente vagamente náutico que convida a navegar não sobre as ondas ou entre as estrelas que estão distantes mas entre palavras.

AS VELAS

Esta exposição, de alguma forma acrescenta velas ao navio secreto, dotando-o de «telas» translúcidas que procuram construir-se de luz para uma navegação feliz. São feitas de véus sobrepostos num processo aditivo, véu sobre véu, com tinta, cola e PALAVRAS oferecendo-se à luz e invocando a luz.

AS PALAVRAS

Este é o reino da Palavra. As palavras dos livros arrumados nas estantes estão como que adormecidas à espera de serem acordadas, enquanto as palavras inscritas nas velas sobre a translucidade dos materiais suspensos que vão sendo ligeiramente agitadas por brisas provenientes dos corredores dos pisos inferiores, lutam placidamente para seduzir e aliciar o visitante, procurando conduzi-lo a uma viagem ao interior de si mesmo.

AS PALAVRAS E A LUZ

As PALAVRAS descrevem um percurso começando por se afirmar a si mesmas na presença da LUZ como se assumissem uma autoconsciência (Luz entre palavras). São PALAVRAS de LUZ, centelhas, clarões, brilhantes como sóis (Palavras de luz), depois imersas na consciência do lugar, na biblioteca das Ciências e Tecnologias, buscam a luz do conhecimento (Processos de busca 1 e 2), debruçam-se depois sobre a própria LUZ, procuram afirmá-la saindo dos livros onde foram escritas para se inscreverem no espaço como verdades absolutas, gritantes e luminosas (A luz nas palavras 1 e 2), quase que completamente esquecidas da ausência de luz (da sombra, das trevas e da escuridão) porque se entendeu aqui que para falar da LUZ não é, em absoluto, necessário falar da sua ausência a não ser que se pense como Mário Cesariny (as únicas sombras admitidas - do poema «Faz-se luz» - «Faz-se luz pelo processo de eliminação de sombras») que a na luz existem também as sombras com «exaustiva vida própria» e «intensamente amantes   loucamente amadas».

A LUZ

Por fim já não há palavras legíveis ou articuláveis. Numa espécie de silêncio prenhe de luz surge uma outra linguagem ténue, desconhecida e indecifrável dando lugar à invocação da vida e da perfeição das suas formas (Outras palavras 1 e 2) e finalmente de novo a luz irradiante como energia electromagnética e corpuscular simultaneamente simples e discursiva (Irradiação).

Exposição LUZ ENTRE PALAVRAS, Alexandra Dias, 2017.

«7. Na luz - Outras palavras 1» e «8. Na luz - Outras palavras 2».