REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 49 | dezembro-janeiro | 2014-15

 
 

 

 

FRANCISCO JOSÉ 
CRAVEIRO DE CARVALHO
Lembro-me 
(segundo Joe Brainard)

 

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
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  ÍNDICE
 
 

A terceira cadeira 

Em Setembro de 1969, David Hockney, acompanhado por Peter Schlesinger e Ossie Clark, visitou a cidade termal de Vichy, fazendo fotografias e esboços para  o que viria a ser a sua pintura  Le Parc des Sources, Vichy.

Schlesinger era seu amante ao tempo, Ossie Clark, casado com uma grande amiga sua, Celia Birtwell, era fashion designer, um elemento destacado da swinging London.

   
 
   
 

Quanto a Le Parc des Sources, Vichy trata-se de uma pintura, só na aparência, realista. A cadeira vazia é um sinal de alerta.

Os dois homens, de costas, são Schlesinger e Clark. Embora se possa logo contrapor que uma representação frontal seria mais óbvia, mais naturalista, por que razão estão de costas? E a cadeira vazia, porque está lá?  Seria destinada ao pintor? Talvez a razão esteja na ruptura, mais ou menos próxima e que já se anunciasse, nas relações entre o pintor e os dois homens. A relação com Peter acaba em 1971.

Estranha-se também a total ausência de outros figurantes na paisagem. Embora das  sombras haja apenas um esboço,  que podia ser apenas o saibro numa zona mais calcada, é difícil entender que a cena não seja diurna. Ninguém no parque àquela hora?

Ouve-se, quase, o silêncio... Como cantaram Paul Simon e Art Garfunkel, Hello darkness my old friend/ I’ve come to talk with you again...

Querendo  ser-se irritante, poder-se-ia  dizer que não é uma pintura realista pois se passa algo de esquisito com os pontos de fuga. Há paralelas a convergirem para pontos distintos, um efeito demasiado visível para não ser intencional.

É uma pintura que deixa o seu peso na memória. Acontece com os grandes trabalhos.

Há uns anos estava em Paris e, não sei por que razão, pensei que a pintura representava uma parte do Jardin du Luxembourg.

Na altura procurava uma imagem para fechar um chapbook, Calle de José Abascal, com poemas escritos num quarto de hotel em Madrid.

Ficam aqui um poema desse opúsculo e uma variação do tema de Hockney que, esta ou semelhante, lhe serviu de fecho.

 

Guernica 

Esta é a tela

que se apodera

 

dos nossos olhos

a fogo lento.

Para as outras

que os cobiçam

 

ficam as correntes

da espera.

   
 
 

  Francisco José Craveiro de Carvalho  (Portugal). Licenciou-se em Matemática na Universidade de Coimbra. Doutorou-se, mais tarde, com uma tese em Topologia e  Geometria, sob a supervisão de  Stewart Alexander Robertson, Southampton University, U. K.. Assume uma posição de alguma marginalidade em relação à divulgação daquilo que escreve. Traduziu poemas de Carl Sandburg, Jane Hirshfield, Jennifer Clement, Linda Pastan, Rita Dove..., publicados em opúsculos discretos, que circularam entre  os seus amigos.
 

 

© Maria Estela Guedes
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