REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 49 | dezembro-janeiro | 2014-15

 
 

 

 

FRANCISCO JOSÉ 
CRAVEIRO DE CARVALHO
Lembro-me 
(segundo Joe Brainard)

 

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
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  Retrato com cisne
 

 

Nem  praticante de bancada sou, no que se refere à maioria dos desportos. Os desportos aquáticos, por exemplo, saltos para a água, em particular.

Passa-se tudo muito de repente. Exagerando, está o apresentador a falar sobre o tipo de salto que vamos ver e já o saltador está dentro da água. Ficam na memória algum acerto ou desacerto de braços e pernas e a entrada na água.

Como escrevi uma vez

 

A cratera da água sorve o fôlego

num instante.

 

Na patinagem artística sobre gelo, o problema com os saltos é parecido, inside edge, outside edge, triple axel, triple lutz... nós a contarmos as rotações, faltando sempre uma... e ainda aquelas obsoletas figuras obrigatórias, traçadas seis vezes, a mudar de pé e aresta não sei quantas vezes e cujo objectivo final era obter uma  única curva no gelo.

Acontece porém, muitas vezes, criar-se uma especial simpatia por um certo desportista e passar-se a seguir a sua carreira atentamente.

Ao longo da vida, tive muitos casos,  em desportos que, visualmente, me deixam quase indiferente: Ayrton Senna, Laurent Fignon, Mark Spitz, Steve Redgrave...

Porquê? Carisma, sobretudo.

Foi o que aconteceu com o americano Greg Louganis, que vi pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, 1984,  puramente por acaso. Medalha atrás de medalha, fui seguindo a carreira e vi-o ainda quatro anos depois, em Seoul. Foi o único homem a ter ganho medalhas de ouro nos saltos de 3 e 10 metros, em olimpíadas sucessivas. Não fora o boicote, teria, provavelmente, ganho também em Moscovo.

Em Seoul, a sua actuação teve aspectos dramáticos. Num dos saltos de 10 metros, bateu com a cabeça no trampolim.

O poema que escrevi continua

 

... instante. A cabeça do saltador

desfar-se-á na descida.

 

Ao encontro na beira

de uma mancha com a luz

do sangue amortecido.

 

O poema, Retrato de Greg Louganis, alude nesta parte ao incidente e a outras circunstâncias que não me interessa aqui explorar.

Anos passaram e foi publicada uma biografia de Louganis, Breaking the surface, cuja capa era uma fotografia de Annie Leibovitz.

Esta a razão da introdução feita até agora. 

O trabalho de Leibovitz não me interessa especialmente. Too glossy magazine, diria. No entanto, a qualidade de alguns dos seus retratos é, no mínimo e para mim, por vezes inesperada.

Compilei  uma pequena galeria de retratos de Ms Leibovitz que, por razões várias, merecem, em minha opinião, contemplação menos apressada.

   
 
 

 

 
 
   
 
   
 
   
 
   
 
   
 
   
 
   
 

Os retratados são os actores Meryl Streep, Leonardo DiCaprio,  o bailarino Misha Baryshnikov, a escultora Louise Bourgeois, o cantor Mick Jagger e a escritora Susan Sontag. Jet set das artes...

Não incluí, é óbvio, nenhum dos que fez de Elizabeth II. Confesso que apreciei bastante mais o dos 88 anos, por David Bailey, que vi hoje, 20 de Abril, na edição online de The Guardian.

 

  Francisco José Craveiro de Carvalho  (Portugal). Licenciou-se em Matemática na Universidade de Coimbra. Doutorou-se, mais tarde, com uma tese em Topologia e  Geometria, sob a supervisão de  Stewart Alexander Robertson, Southampton University, U. K.. Assume uma posição de alguma marginalidade em relação à divulgação daquilo que escreve. Traduziu poemas de Carl Sandburg, Jane Hirshfield, Jennifer Clement, Linda Pastan, Rita Dove..., publicados em opúsculos discretos, que circularam entre  os seus amigos.
 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
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