REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 35 | janeiro | 2013

 
 

 

 

 

PAULO BRITO E ABREU


A quádrupla visão unitária

Paulo Jorge Brito e Abreu (Portugal, 1960). Licenciado em Estudos Anglo-Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa. É Poeta, pensador, ensaísta, crítico literário, cantor e conferencista. Sócio Correspondente da Academia Carioca de Letras; ganhou a Medalha Peregrino Júnior da União Brasileira de Escritores.

 

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«Igne Natura Renovatur Integra.»
À Hermética Irmandade dos Amigos da Luz.
 
I
 
Ó noite odiosa e vil! Com uma apoplexia,
Em noite de Dezembro mais vil e sanguinosa,
Abandonei meu lar, pra ver se descobria,
Nalgum coral oculta, a essência da Rosa.
 
Furioso, bato a porta. No imo da noite,
Na latrina da noite odiosa e obscura,
Tive quatro visões que me foram açoite,
Açoite prà minh’Alma de vícios impura.
 
Na rua vejo um velho vergado p’la idade,
Mil rugas no seu rosto, os olhos carcomidos,
Que me dizia assim, sem dó nem piedade,
Na minha face vendo o estigma dos bandidos:
 
«Não sabes que ser velho é estar na noite vil,
Sem fortuna, sem Paz; viver coa solidão
Também não viverás, ó jovem d’albas mil.»
E afastou-se buscando uma côdea de pão.
 
Acima vejo um jovem de pernas mutiladas.
Era cego, era surdo, e estava exposto ao frio.
Tinha n’Alma uma cruz de pontas afiadas,
E no peito esse pus que possui o vadio.
 
«Toda a noite a implorar, sem ninguém que me acuda!
Sou Lázaro, na praça, orando em desconforto.
Minha Mãe, minha Mãe, tu vem, teu filho ajuda!
Por que deste, Mãe minha, ao mundo um vil aborto?»
 
E eu tremo, mas caminho. Os dedos encrespados,
Que Inferno, penso eu! Que noite mais abjecta!
Caminho e vejo ali, pra mal dos meus pecados,
De criança o cadáver sobre uma sarjeta.
 
II
 
Maldição, maldição! Toda a noite esse velho,
Toda a noite o doente, o cadáver, a peste,
Por ali ficarão, só pra meu destrambelho,
Dando o pus à rapina e nutrindo o cipreste.
 
Maldita sejas tu, cadela dos Infernos,
E maldita, maldita, a Porca louca, louca!!!
Mas enquanto eu cuspia líquidos internos
E a minha voz cansada ia ficando rouca,
 
A Rosa me apar’ceu de dulcíssimo aspeito,
Suave e virginal, de pétalas de arminho…
Ela pôs sua mão no meu amargo peito
E me disse: «Não sofras, eu sou o Caminho.
 
Sou a deusa, meu filho, que à terra vem pura,
Suave e virginal e ornada de enfeite,
Do Inferno vos livrar. Eu sou a Formosura,
Desde o Verbo a vós vinda quais pombas ou leite.»
 
«Mas Rosa, o sofrimento, a marca do pecado,
Por que não os tornas tu no mel da tua seiva?»,
Disse eu, e disse a Flor com ar amargurado:
«Tens razão, filho meu, são todos minha leiva.
 
Existe o mal, meu filho, eu sei que existe a Dor.
Mas no seio da terra de vermes coberta,
Irromperá, gloriosa, a Rosa do Amor,
Quando a Cruz for a Luz e a porta for aberta.
 
A Paz será por fim!», me disse a amada deusa,
«Tu tem Esp’rança, meu filho, teu tempo virá…»
E foi-se a meiga Flor, mas eu, como quem reza,
Recordo esta lição: a Paz enfim será!!!!!!!!!!!
 
 
AD MAJOREM DEI GLORIAM
PAULO JORGE BRITO E ABREU
   
 

 

© Maria Estela Guedes
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