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Quando o tema é a qualidade de vida nas
grandes cidades, interrogamos o desequilíbrio do meio ambiente, o
desemprego, a deficiência de moradia... decorrentes de um modelo de
desenvolvimento que se caracteriza por favorecer padrões de concentração
de renda e poder. Não pensamos na visualidade urbana. Diante de tanta
reivindicação não resta tempo para pensar a “beleza” como um componente
que qualifica o ambiente cultural das cidades. Na cidade moderna,
produto da sociedade industrial, a integração arte / arquitetura foi um
princípio racional contra o desperdício de decorações, imposto pelo
gosto eclético do século XVIII.
As relações: arte / arquitetura, arte / cidade dizem respeito à
qualidade ambiental, são ingredientes que de vez em quando aparecem nas
reformas urbanas, no paisagismo, nos espaços e edifícios públicos e
privados. No século XIX, a cidade conta com um acervo de monumentos e se
transforma num museu. Os monumentos arquitetônicos se destacam no tecido
urbano e nos centros das praças são instaladas estátuas de algum
indivíduo homenageado pelos seus feitos e ações. A burguesia, ao
contrário das sociedades arcaicas, planeja o entorno, marca o urbano com
suas estátuas. Até o horizonte das experiências estéticas dos anos 60 do
século passado, quando o Minimalismo superou o conceito tradicional de
escultura, transformando o objeto escultórico em elemento de composição
espacial, quase arquitetônico. Formas geométricas primárias, como
protótipos industriais, são inseridos no urbano, destacando-se na
paisagem pela monumentalidade.
Com os investimentos das grandes cidades voltados para obras básicas,
cidades oneradas por problemas financeiros e sociais, sem grandes
recursos, sem uma tradição de política cultural no planejamento urbano,
como imaginar a arte pública neste contexto? Quando intervenções em nome
da arte são executados de maneira casuísticas e personalistas,
respondendo às vezes a interesses de ocasião, sem qualquer relação com o
entorno, distante do que entendemos como arte, um adorno na paisagem,
neste caso a obra de arte deixa de ser uma contribuição positiva para a
visualidade urbana. Não vamos resolver o problema com legislação, sem um
programa de educação para as artes e sem consciência de cidadania. É
preciso educar os que decidem o destino da cidade com um programa
específico de apoio às artes.
No Brasil a integração arte / arquitetura foi uma preocupação do
modernismo, como podemos constatar na casa modernista em São Paulo em
1930, projetada por Gregor Warchauchik obedecendo aos ideais da Bauhaus.
No final da década de 30, no Rio de Janeiro o prédio do Ministério da
Educação e Cultura sob a coordenação de Le Corbusier com participação de
arquitetos como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, os artistas plásticos
Cândido Portinari e Bruno Giorgi foram convidados para participar da
concretização do projeto. Em Salvador, uma legislação dos anos 50
obrigava a cada projeto arquitetônico a reservar um percentual de seu
orçamento para uma obra de arte. E o espaço público? Pouco foi feito
para valorizar o espaço urbano com a presença da obra de arte.
Intervenções que ignoram o contexto, a escala, cultura e a
contemporaneidade da cidade, confirmam o crescimento desordenado e o
provincianismo da cidade.
Se é possível falar de uma estética do espaço urbano, ela é resultado da
relação que os elementos construtivos mantém entre si e com o todo, nem
sempre considerada nas reformas urbanas. Um exemplo: Praça da Sé, centro
histórico da Cidade do Salvador, palco de várias reformas, o que fazer
com uma fonte luminosa, que mais parece um elemento decorativo, uma
maquiagem para ocupar um pedaço abandonado da Praça? Um espaço que
poderia ser revitalizado do ponto de vista visual e ambiental com
esculturas contemporâneas. A meu ver, é oportuno o pensar sobre a arte
pública numa cidade onde o fazer artístico e sua intervenção no urbano é
uma relação ainda empírica.
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