REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
nova Série . número 66 . agosto-setembro . 2017 . ÍNDICE

ISABEL NOGUEIRA

Breve homenagem

a José Ernesto de Sousa

 

A revista Triplov propõe-se homenagear Ernesto de Sousa, organizador da mais importante exposição colectiva da década de setenta, a Alternativa Zero: Tendências Polémicas na Are Portuguesa Contemporânea (Lisboa, 1977), de que se assinalam em 2017 os 40 anos. Partilhando desta homenagem, deixo um pequeno excerto do livro de minha autoria, Artes plásticas e crítica em Portugal nos anos 70: vanguarda e pós-modernismo, editado pela Imprensa da Universidade de Coimbra em 2013, com segunda edição em 2015.  

«Ernesto de Sousa (1921-1988) foi uma figura incontornável no contexto da arte portuguesa destes anos. Indivíduo de considerável versatilidade – crítico, cineasta, “operador estético”, jornalista, ensaísta, curador de exposições (1), professor, cineclubista (2) –, catalisador de pessoas e de práticas artísticas, especialmente ao longo dos anos setenta, não obstante o seu percurso fragmentário, ecléctico e eventualmente contraditório, o qual se prolongou ao longo dos anos oitenta, até ao seu falecimento. Inicialmente ligado ao neo-realismo, começou a fazer crítica de arte na revista Seara Nova (1921-1979) em 1946, na sequência de uma exposição integrada na Semana de Arte Negra, na Escola Superior Colonial, que organizou com Diogo de Macedo. Foi redactor principal da revista Imagem (2.ª série, 1956-1961), estudou cinema em Paris (1949-1952) e interessou-se vivamente pelo denominado “cinema novo” português, realizando o filme Dom Roberto (1962). No final dos anos sessenta, Ernesto de Sousa começa a interessar-se vivamente pela vanguarda, pela arte conceptual e pelo conceptualismo. Sobretudo, a busca da relação entre a arte e a vida, pontua o percurso de Ernesto de Sousa, independentemente dos formatos, suportes ou conceitos. Em 1969, Ernesto de Sousa participou no primeiro festival 11 Giorni di Arte Collectiva a Pejo, em Itália, e conviveu com Ben Vaultier, Robert Filliou, Wolf Vostell, entre outros artistas de vanguarda/”operadores estéticos”, numa procura contínua de comunhão entre a arte e a vida. No mesmo ano de 1969, apresentava no Clube de Teatro 1.º Ato (Algés) o mixed-media Nós Não Estamos Algures, desenvolvido a partir da conferência A invenção do dia claro (1921), de Almada Negreiros, e a instalação/meeting as art Encontro no Guincho, com a colaboração, entre outros, de Ana Hatherly, Artur Rosa, Helena Almeida, Isabel Alves, Jorge Peixinho, Noronha da Costa, inaugurando as actividades da Oficina Experimental, bem como, de suma relevância, um processo de pesquisa ao nível da experimentação de suportes e linguagens, nomeadamente, em torno da arte intermedia».

 

Capa da primeira edição, 2013.
Encontro no Guincho
, Ernesto de Sousa, 1969. Na imagem o actor João Luís Gomes. Espólio Ernesto de Sousa, Lisboa.

(1) Foi responsável, por exemplo, pela representação portuguesa na Bienal de Veneza (1980, 1982, 1984).

(2) Fundou, no início dos anos quarenta, o Círculo do Cinema de Lisboa.

Isabel Nogueira (Portugal). Doutorada em Belas-Artes, área de especialização em Ciências e Teorias da Arte  (Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa) e pós-doutorada em História e  Teoria da Arte Contemporânea e Teoria da Imagem (Universidade de Coimbra e Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne). É historiadora de arte contemporânea, professora universitária, ensaísta e curadora independente. É investigadora integrada do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX/Universidade de Coimbra, onde coordena a linha de investigação: “Artes Visuais e Imagem em Campo Expandido”. Colabora regularmente nas publicações Estudos do Século XX e Recherches en Esthétique. No domínio do ensaio, publicou as seguintes monografias: Do  pós-modernismo à exposição Alternativa Zero, Nova Vega, 2007; Alternativa Zero (1977): o reafirmar da possibilidade de criação, CEIS20/Universidade de Coimbra, 2008; A crítica nas artes: fundamentos, conceitos e funções (coord.),  CEIS20/Universidade de Coimbra, 2011; Teoria da arte no século XX: modernismo, vanguarda, neovanguarda, pós-modernismo. Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012, segunda edição em 2014; Théorie de l’art au XXe siècle: modernisme, avant-garde, néo-avant-garde, postmodernisme, Éditions L’Harmattan, 2013; Modernidade avulso: escritos sobre arte, Edições A Ronda da Noite, 2014.

Obras editadas na IUC:

Teoria da Arte no século XX: modernismo, vanguarda, neovanguarda, pós-modernismo.

Artes plásticas e crítica em Portugal nos anos 70 e 80: vanguarda e pós-modernismo.

Teoria da Arte no Século XX (2.ª Edição).

Artes plásticas e crítica em Portugal nos anos 70 e 80: vanguarda e pós-modernismo (2.ª edição)

 

In: https://www.uc.pt/imprensa_uc/Autores/galeriaautores/isabelnogueira

HOMENAGEM DO TRIPLOV A ERNESTO DE SOUSA
DIREÇÃO  
Maria Estela Guedes  
EDITOR | TRIPLOV  
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
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