REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


NS | número 65 | junho-julho | 2017

 


Luís Costa
escreve poesia e mais algumas coisas. Nasceu numa Sexta-Feira Santa.
 Já teve o prazer de participar em várias revistas digitais e também (com 4 poemas) no primeiro número da Revista Objeto Surrealista DEBOUT SUR L'OEUF. mas até agora continua inédito em livro. Para além disso pouco há a dizer. Ah!Diz que a biografia do poeta é a sua poesia, pois, a seu ver, fora do poema o poeta não existe. Ama a poesia, mas também a odeia. Sim, poetar é para ele uma questão de ódio e amor. Uma violência amorosa. Talvez mesmo o ( des ) contínuo assassinato do eu para que o poeta se faça. 

LUÍS COSTA

Auschwitz, um exemplo
 

Se existe Auschwitz, não pode existir Deus.

(Primo Levi)

 

 

                                      O caminho do homem autêntico

                                      passa pelo homem louco.

                                                                             (segundo Foucault)

 

Se existe Auschwitz, não existe a loucura.

(Luís Costa)

 

 

Alguém deve ter difamado José K. pois uma bela manhã

foi preso, sem ter cometido qualquer crime.

                                         (Franz Kafka)

 

Leite negro da madrugada bebemo-lo ao entardecer

bebemo-lo ao meio-dia e pela manhã bebemo-lo de noite

bebemos e bebemos

(Paul Celan)

 

 

 

Se hoje ergo a taça é para dizer

Que já nada existe: os astros

Afundaram-se nos buracos negros

O sol é uma sombra de si mesma

 

E há alguém que fala de inumanidade

E loucura

Fala  procurando expurgar

A brutalidade e monstruosidade

             Humana

 

Amaldiçoa a loucura

Porém  esquece

Esquece que as atrocidades

Mais monstruosas sempre foram humanas

Demasiado humanas

Organizadas e ponderadas

Sob o estame da razão

 

Terá sido Auschwitz uma obra inumana,

Uma obra de loucos?

 

Não! os homens nunca estiveram

Loucos, os homens

Agem segundo o método da lucidez

A Grande Lucidez

 

         Oh humana iluminação!

 

Difamaste a loucura

Depois  encarceraste-a

Encarceraste o que de mais puro havia

 

Assim apagaste o horizonte… 

             A luz mais autêntica.

 

 

                     (Auschwitz-Birkenau, setembro de 2015) 

 
 

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