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Maria
Estela Guedes
(Portugal, 1947). Poeta, dramaturga,
historiadora da História Natural e da
Maçonaria Florestal Carbonária, além de
exegeta da obra de Herberto Helder.
Membro da Associação Portuguesa de
Escritores, do Instituto São
Tomás de Aquino e da Associação 25 de
Abril.
Foto: José Emílio-Nelson |
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Membro das
Comissões Interinstitucionais da
Academia Lusófona Luís de Camões e do
Instituto Fernando Pessoa - Língua
Portuguesa e Culturas Lusófonas. Faz
parte do
Conselho Editorial da revista Incomunidade,
e dirige coleções na editora Apenas
Livros, entre elas cadeRnos
suRRealistas sempRe.
Tem umas dezenas de títulos publicados.
Proprietária e
diretora do Triplov. |
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MARIA ESTELA
GUEDES
Projeto "Sarmento Pimentel", balanço |
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Chegámos ao fim dos
trabalhos no
Projeto TriploV "Sarmento Pimentel",
é por isso altura de fazer o balanço de uma
travessia muito conturbada nos trabalhos. O
mais recente e grave distúrbio verificou-se
com a hospitalização do nosso camarada
na equipa que montou a iniciativa
"Sarmento Pimentel - Um século de História",
Coronel Nuno Santos Silva. O que mais lhe desejamos
são
rápidas melhoras! Um grande abraço ao
ex-Capitão de Abril.
Movimento dos Capitães, 25 de Abril, a maior
parte dos leitores é demasiado jovem e
estrangeira para saber o que isso é, então direi
que, desde 1910, com a implantação da República,
a agitação foi quase permanente em Portugal, até
aparecer em cena uma Ditadura Militar, e logo a
seguir um ditador-mor, Salazar, que manteve o país
acorrentado, fora da via do progresso e da
democracia, durante 40 anos. Houve diversas
revoltas e tentativas de restaurar os ideais
democráticos dos primeiros republicanos, a
algumas das quais Sarmento Pimentel está
associado, mas todas falharam, até ao dia 25 de
Abril de 1974, em que o Movimento dos Capitães,
sem sangue, pôs termo à longa e escura ditadura
e repôs os ideais do também Capitão João
Sarmento Pimentel que, nas palavras de Victor Cunha Rego, em
artigo do jornal República de 16 Maio
de 1974, o considera precursor dos capitães de Abril. |
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Este
número da Revista Triplov é dedicado aos
Capitães, não por causa do 25 de Abril,
apesar de no Triplov ser habitual festejarmos o
dia,
e até já aqui tivemos, a contar
a história da fotografia, aquela criança
que põe o cravo na espingarda (Amílcar
Mateus), símbolo da Revolução.
Não, vou ser franca, presto homenagem
aos Capitães, hoje coronéis e generais,
por terem fundado parceria com o
Triplov, para levarmos a cabo a
iniciativa
"Sarmento Pimentel - Um século de
História".
Seguindo o link, ainda
vão a tempo de participar nas três
sessões dialogantes e de ver a
exposição. Este ponto é central, revela
a abertura dos militares à Internet nas
mãos da sociedade civil, e o desejo de
manter viva a imagem de um homem que é
uma referência não só para os militares,
antes para todos, quer
pelo seu heroísmo, quer pela sua integridade. |
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A
instituição mais significativa a que o Triplov
podia ter levado o projeto só podia ser a casa
dos Capitães de Abril. Posto isto, fecho o
Projeto TriploV "Sarmento Pimentel"
com chave de ouro e deixo como balanço alguns considerandos.
A obra de João Sarmento Pimentel está na maior
parte inédita. Nós não fizemos o levantamento
integral da édita, faltam artigos de jornal e
revista, quer em Portugal quer no estrangeiro,
sobretudo Brasil. Não houve falta de documentação
para o projeto, há muita, apesar de a maior
parte se encontrar inacessível, dada a
localização da fonte, por pertencer a particulares
e até por constituir testemunho vivo, dos que
conheceram o Capitão mas nós não tivemos
oportunidade de conhecer.
Porque o volume de documentos é imenso (só no
seu espólio, na Biblioteca Municipal Sarmento
Pimentel, em Mirandela, há três mil espécimes
epistolográficos catalogados), inacessível o
local em que se encontra, porque a tarefa de
tornar acessível, através da catalogação e
disponibilização dos documentos na Internet é da
competência de instituições, e porque eu não
tenho tempo de vida para tudo ler e estudar,
mesmo que o material estivesse acessível, e
porque outros projetos requerem a minha atenção,
digo um relativo adeus a João Sarmento Pimentel,
pessoa que passei a admirar pela sua virtude -
virtus na completa semântica da
palavra latina, em que se salientam o poder, a
coragem, a excelência moral e intelectual. Foi um homem que eu desejava ter tido
por Mestre, e que por tal tomo, sempre que
me é cicerone da História de Portugal, na mais
importante das suas fontes primárias, as Memórias do
Capitão, e o que diz nas entrevistas de
Norberto Lopes, em João Sarmento Pimentel -
Uma geração traída.
É necessário proceder à edição da
epistolografia (vão ser publicadas cartas
trocadas entre Sarmento Pimentel e Jorge de Sena) pois são um repositório de informação do maior
relevo para a História do século XX em Portugal,
com ramificações para o Brasil e outros países.
Basta Sarmento Pimentel ter sido um dos
co-fundadores do Partido Socialista, para se
adivinhar que sobretudo a esquerda tem muito a ganhar se
puder ler o que ele escreveu; alguns documentos
estão em linha no
site da Casa Comum / Fundação Mário Soares,
mais diretamente
relacionados com o PS. Sarmento Pimentel
presidiu à Acção Socialista em São Paulo e antes
disso ao Centro Republicano Português. Algumas
fotografias que usamos na exposição pertencem ao
espólio da Casa Comum e retratam encontros de
Sarmento Pimentel com velhos camaradas e amigos,
no pós-25 de Abril, quando veio do Brasil para
celebrar a Revolução, receber justas homenagens
e respirar a Liberdade que para sempre acabaria
com a mágoa de ser um exilado, com o sentimento
de exclusão e impotência por não poder entrar no
seu próprio país. Agora podia voltar, mas já era
muito tarde, estava com oitenta anos, a família
constituíra-se e fixara-se definitivamente no
Brasil.
É necessário também reeditar as Memórias do Capitão
na versão completa, a portuguesa, de 1974, e o livro de Norberto Lopes,
João Sarmento Pimentel, uma geração traída,
que também só viu a luz do dia em Portugal em
resultado do Movimento dos Capitães. Os livros
estão esgotadíssimos. Nos sebos do Brasil pude eu
adquirir dois exemplares, mas tiveram de ser
pagos na origem, por Ana Paula Ferreira, jovem
carioca a quem agradecemos a atenção e a oferta.
Esses livros são raridades.
Os exemplares das Memórias do Capitão
em primeira edição, São Paulo (1962 na
datação do prefaciador, Jorge de Sena), além de
raridades, são decerto na
maior parte
espécimes de bibliófilo, pelas razões que o
bibliófilo avaliará, quando abrir o seu
exemplar. |
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