Revista TriploV . ns . nº 64. abril-maio . 2017 . ÍNDICE.
Homenagem do Triplov aos Capitães de Abril

Amosse Eugenio Mucavele nasceu aos 8 de julho de 1987 em Maputo- Moçambique, membro fundador do Movimento Literario Kuphaluxa, sonha em ser poeta, cronista, e contador de sonhos. faz parte da equipe editorial da Revista Literatas- Revista de literatura moçambicana e lusófona ,colabora no Pavilhão Literário Singrando Horizontes-Academia de Letras do Paraná, Ricardoriso.blogspot.com, Jornal Coruja (Cida Sepúlveda), organizou a antologia da nova poesia moçambicana publicada na Revista Zunai (Cláudio Daniel), tem poemas publicados na Revista Eutomia e Linguística da Universidade Federal de Pernambuco e em outros blogs. É membro Correspondente da Academia de Letras Teófilo Otoni -Minas Gerais.

AMOSSE MUCAVELE

entrevista

José Luís Peixoto

Foto em:
http://www.escritas.org/pt/jose-luis-peixoto
 

José Luís Peixoto nasceu a 4 de Setembro de 1974 em Galveias, Ponte de Sor. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Inglês e Alemão) pela Universidade Nova de Lisboa. A sua obra ficcional e poética figura em dezenas de antologias traduzidas num vasto número de idiomas e estudada em diversas universidades nacionais e estrangeiras. Em 2001, recebeu o Prémio Literário José Saramago com o romance Nenhum Olhar, que foi incluído na lista do Financial Times dos melhores livros publicados em Inglaterra no ano de 2007, tendo também sido incluído no programa Discover Great New Writers das livrarias norte-americanas Barnes & Noble. Foi atribuído ao seu livro A Criança em Ruínas o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores para o melhor livro de poesia. O seu romance Cemitério de Pianos recebeu o Prémio Cálamo Otra Mirada, destinado ao melhor romance estrangeiro publicado em Espanha em 2007, tendo sido finalista do prémio Portugal Telecom (Brasil) e do International Impac Dublin Literary Award (Irlanda). Em 2008, recebeu o Prémio de Poesia Daniel Faria com o livro Gaveta de Papéis. Em 2010, o seu romance Livro venceu o prémio Libro d'Europa, em Itália, e foi finalista do prémio Femina, em França. Em 2012, publicou Dentro do Segredo, Uma Viagem na Coreia do Norte, a sua primeira incursão na literatura de viagens. Os seus romances estão traduzidos em vinte idiomas.

 

AM - “Dentro da ditadura mais repressiva do mundo, dentro de um país coberto por absoluto isolamento, dentro do segredo.” In contracapa do livro “Dentro do Segredo, Uma Viagem na Coreia do Norte.”

- o que mais te interessou na Coreia do Norte do ponto de vista literário?

JLP - No momento em que escrevi esse livro, já tinha publicado narrativas breves de viagem em várias publicações, mas nunca tinha escrito um livro inteiro sobre esse assunto. Ao mesmo tempo, os livros que vinha publicando tratavam de temas bastante pessoais, próximos da minha biografia. Dentro do Segredo foi um desafio que coloquei a mim próprio: queria escrever fora dos temas que me eram mais confortáveis. Assim, a Coreia do Norte surgiu como uma opção extrema. As enormes diferenças que encontrei foram aquilo que mais me estimulou. Nesse sentido, paradoxalmente, a Coreia do Norte acabou por se tornar num tema que, em muitos aspectos, se aproxima da ficção.

AM - Pyongyang será uma cidade do medo ou uma cidade que conversa consigo mesma?

JLP - Creio que, por natureza, uma cidade nunca é apenas uma coisa. Esse é, também, o caso de Pyongyang. Apesar das características políticas e sociais que a tornam única, há um aspecto importante que Pyongyang partilha com todas as cidades do planeta: do ponto de vista literário, é inesgotável. Poderia passar a vida inteira a escrever sobre ela e nunca acabaria de descrevê-la. 

AM - Albano Nogueira, no JL/2 a 15 de setembro de 2015, no seu ensaio intitulado “Cinco encontramos com Salazar” escreveu o seguinte: "De nada do que sobre Salazar se tem escrito, surge a imagem de que no fundo de si mesmo, ele não fosse um homem só.”

- Como define a figura de Kim Jong-Il?

JLP - Não há maneira de definir pessoas, quer se trate de ditadores criminosos, como é o caso, ou não. 

AM -“Quando comecei a ficar doente, soube logo que ia morrer.” Assim começa o romance  Cemitério de Pianos.

-Foi a partir desta certeza do narrador que o romance tomou forma?

JLP - Não. Essencialmente, esse romance utiliza a história de uma família em várias gerações para falar de Portugal, de alguns traços da sua identidade e, de modo mais central e profundo, sobre a vida, a morte e a passagem do tempo. 

AM - Galveias está sempre presente em toda sua obra, desde os lugares, episódios e personagens da sua infância e juventude.

- O que lhe interessou explorar no livro intitulado Galveias?

JLP - Desde o meu primeiro livro, intitulado Morreste-me, que aquilo que escrevi se inclinou para uma dimensão autobiográfica. Por diversos motivos, esse foi sempre um percurso que me interessou e que não rejeitei. Pelo contrário, tive sempre vontade de aprofundá-lo. Tendo nascido em Galveias, que é uma pequena aldeia de mil habitantes no Alentejo, esse mundo foi-se impondo tanto pela muito que me dizia respeito, como pela própria originalidade dessa realidade. Foi desse modo que se criaram as condições para chegar a escrever o romance Galveias, que publiquei em 2014. Nessas páginas, a minha aldeia é nomeada de forma literal e constitui o espaço principal do romance. A minha intenção principal foi retratar essa realidade o mais fielmente possível, homenageando-a, levantando algumas questões que contem e levando o mais longe possível essa perspectiva própria e pessoal. 

AM - O livro é uma homenagem a sua terra natal ou é a universalização deste lugar?

JLP - Creio que essas duas dimensões estão presentes. Colocar esse nome na capa do romance, dar-lhe essa importância e tornar Galveias o centro dessa narrativa significa necessariamente uma homenagem. Ainda assim, entendo que o texto literário aspira à universalidade e, neste caso, existe um trabalho concreto que é feito com essa intenção. Não perdendo as suas características essenciais, a Galveias deste romance é um espaço exemplar.

AM - Nenhum Olhar, que significado tem no seu percurso literário?

JLP - Esse é um livro que tem um papel fundamental no meu caminho. Foi o meu primeiro romance. Quando o escrevi, não tinha sequer a certeza de ser capaz de escrever um romance. Ao nível dos temas que tenho tratado nos meus livros, foi aí que lancei algumas fundações principais. Foi um dos meus primeiros passos e, já se sabe, os primeiros passos são sempre essenciais na definição de um percurso. 

AM - "Uma casa na Escuridão é um romance onde José Luís Peixoto consegue um equilíbrio miraculoso entre o pensamento do negrume que nos ameaça enquanto espécie e o júbilo da ternura que nos resgata, sempre, a escrita do autor, para um espaço verdadeiramente intocado e novo.”

- Em obras como Morreste-me, O Cemitério de Pianos, e a obra acima citada, encontramos várias perspectivas sobre a morte; é um tema que te interessa?

JLP - Trata-se um romance bastante invulgar, tanto quando comparado com outros que escrevi, mas também com a maioria dos romances portugueses deste tempo. Na época, o mundo estava a mudar, Uma Casa na Escuridão é a expressão do modo como senti essas mudanças. A morte está presente nesse romance muito por se tratar de um tema a que é muito difícil fugir. A morte é um elemento estruturante da vida. É por essa razão e nessa perspectiva que a morte me parece muito interessante enquanto tema. Já escrevi muito sobre a morte e, com bastante probabilidade, continuarei a escrever sobre esse tema.  

AM - Sobre o diálogo intercultural no espaço da CPLP, existem dificuldades internas, em cada país, de fazer circular a obra literária. Um dilema plural. O livro editado em Moçambique, Angola etc. não chega a Portugal, o livro editado no Brasil não chega a Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau etc., apenas uma dúzia de autores é que desfruta desta sorte, como o seu caso, Ondjaki, Mia etc.

- Qual é o teu ponto de vista sobre estes dilemas editoriais no espaço da nossa comunidade?

JLP - Tenho pena que assim seja. Parece-me uma oportunidade perdida para todos. Espero que todos aqueles que têm oportunidade de o fazer contribuam para alterar esse cenário. Tento fazer a minha parte. 

AM - “Sim, menina, eu compreendo.

       Além de tudo, se te prendesse, não seria vida o que te dava. Com todos os percalços e transtornos, viver é continuar.”

Excerto do seu novo livro intitulado Em teu ventre, chegará às livrarias portuguesas numa edição da Quetzal.

- o que se pode esperar desse livro?

JLP - Trata-se de uma novela. Essa é uma novidade para mim, é a primeira vez que publico um texto que abertamente se define como uma novela. Pela minha parte, espero que os leitores se surpreendam com a perspectiva que apresenta.

AM - O que e que nos conta?

JLP - Trata de um tema muito português, bastante específico e concreto, e, assim mesmo, bastante universal. Como em Nenhum Olhar, Cemitério de Pianos, Cal, Livro ou Galveias, essa tem sido uma reflexão que me interessa muito fazer. A literatura, com frequência, organiza a memória de um país. Como nos títulos que referi, este também é um caso em que essa é uma das principais ambições do texto.

 
 
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Maria Estela Guedes
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