Com a geração de
geólogos e professores, como Carlos Teixeira,
Torre de Assunção, Cotelo Neiva, Georges
Zbyszevski, Gaspar de Carvalho e Carlos Romariz,
renasceu, em Portugal, a meados do seculo
passado, uma geologia adormecida, que fora
grande no virar do XIX ao XX, com Carlos
Ribeiro, Paul Choffat e Nery Delgado entre os
mais destacados. A esta geração, que fez escola,
seguiu-se a minha, com António Ribeiro, em
Lisboa, Ferreira Soares, em Coimbra, Fernando
Noronha, no Porto, e outros.
Daqui para a frente foi
um desabrochar de um sem número de “netos” e
“bisnetos”, na vanguarda do que de melhor se faz
nos domínios das Ciências da Terra, que já nem
conhecem os “avós”. João Duarte, agora
galardoado com o "Arne Richter Award for
Outstanding Early Career Scientists” pela União
Europeia de Geociências, é apenas um destes
descendentes que, com orgulho e satisfação,
vemos crescer.
O Arne Richter Award for
Outstanding Early Career Scientists reconhece
actividade científica de exceção, a nível
mundial, realizada por cientistas na fase
inicial da carreira, em qualquer área das
Geociências.
João Duarte, licenciado
em Geologia e Recursos Naturais pela Faculdade
de Ciências da Universidade de Lisboa, em 2005,
é investigador do Instituto Dom Luiz e do
Departamento de Geologia da mesma Faculdade,
recebeu este prémio pelo seu trabalho na área da
Geologia Marinha e Tectónica, bem como pela sua
atividade na área da divulgação científica.
Leia o
comentário de João Duarte a este post
que coloquei no Facebook:
“É
este o prestigiado percurso de uma
ciência, hoje de ponta em Portugal, onde
(com as excepções, que são devidas
salientar) a incultura geológica é uma
realidade a todos os níveis
socioculturais, dos governantes aos
governados.
Isto acontece
porque, ao contrário de outros domínios
científicos, a comunidade a que
pertenço, não tem sabido projectar para
fora das academias o muito que sabe
sobre este planeta maravilhoso e único
que nos deu vida, “um ponto azul claro”
(como lhe chamou o grande divulgador
Carl Sagan) perdido na imensidão do
espaço.
Leia-se agora o
comentário de João Moedas a este texto que
publiquei na minha página do Facebook:
“Caro Professor,
colegas e amigos. Muito obrigado pelas palavras!
Muito me honram. É verdade o que o Professor
diz: hoje somos muitos! E isso é uma conquista
fabulosa.. Mas é também verdade que eu, assim
como muitos, continuamos a ter posições
precárias com contratos a prazo sem qualquer
perspectiva de futuro. Estive emigrado uns anos
e as perspectivas que hoje tenho é que se quiser
continuar a fazer o que gosto (explorar e
ensinar a ciência que amo) e ao mesmo tempo
quiser ter condições para constituir a família
que tanto desejo provavelmente terei de emigrar
outra vez. Desculpem-me o desabafo, até por que
sou um optimista e não gosto de fatalismos. Mas
penso que é importante contextualizar um pouco.
No que diz respeito à dignidade dos jovens
cientistas em Portugal as coisas não estão nada
bem.. nada bem mesmo! E o pior é que não vejo
perspectivas de virem a melhorar
significativamente num futuro próximo. Notem que
não estou apenas a falar por mim. Estou também a
falar por um enorme número de colegas de
elevadíssima qualidade que ou estão em situações
muito complicadas ou que foram mesmo obrigados a
abandonar a ciência. E confesso aqui neste forum
(porque não é segredo nenhum) que eu próprio
tenho considerado abandonar a academia. Talvez
um dia o faça e me dedique à comunicação e
divulgação de ciência que tanto me apaixona)”.
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