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Adelto Gonçalves é doutor em Literatura
Portuguesa pela Universidade de São
Paulo (USP) e autor de
Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro,
José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra
Selvagem, 2015),
Gonzaga, um poeta do
Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
1999), Barcelona brasileira (Lisboa,
Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher
Brasil, 2002),
Bocage – o perfil perdido
(Lisboa, Caminho, 2003),
Tomás Antônio
Gonzaga (Academia Brasileira de
Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,
2012), e Direito e Justiça em Terras
d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre
outros.
E-mail:
marilizadelto@uol.com.br |
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ADELTO GONÇALVES
A religião como fato cultural |
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I |
Algumas teorias políticas, como as do comunismo
e do anarquismo, atraíram multidões não só
porque pregavam a igualdade entre os homens como
prometiam aos descrentes em mudanças graduais a
revolução dos costumes e o fim dos privilégios e
das classes sociais, ou seja, o paraíso na
Terra. O anarquismo esgotou-se logo porque
defendia que não existia ditadura do
proletariado, mas apenas ditadura de um partido
ou de meia-dúzia de espertalhões. Mas o
comunismo durou décadas e levou muitos jovens
idealistas que não acreditavam mais nas
religiões a sacrificar a própria vida em favor
de um futuro que não existiria.
Apesar do fracasso dessas teorias, volta e meia,
ainda existem demagogos que se aproveitam da
chamada democracia burguesa para empolgar as
massas com promessas mirabolantes. Como mostra a
experiência, essas aventuras invariavelmente
acabam em desastres, pois, quando chegam ao
poder, os demagogos precisam não só cuidar dos
negócios particulares e dos de sua família como
favorecer apaniguados, pois o que mais desejam é
se locupletar com os recursos públicos ou com as
mamatas que os negócios feitos à sombra frondosa
do Estado sempre propiciam.
Tudo isso resulta em decepção para as massas,
que continuam famélicas e errantes, ao menos nos
países do Terceiro Mundo. Diante dessa situação
de caos, as religiões ressurgem periodicamente
porque, de certa maneira, respondem às ameaças
que são feitas cotidianamente, colocando em
risco a sobrevivência da humanidade. E trazem
solidariedade às vítimas, o que nunca se viu nos
regimes que defendiam que a vida dos homens se
esgotava no âmbito da animalidade.
É o que mostra o
professor e sacerdote Silvio Firmo do Nascimento
em O homem
diante do Sagrado:
Alguns elementos da antropologia das religiões (Londrina:
Humanidades, 2008), livro que não discute uma
religião específica, mas que trata da religião
como obra humana edificada em torno do sublime,
como diz o filósofo José Maurício de Carvalho,
que foi professor do Departamento de Filosofia
da Universidade Federal de São João del-Rei
(UFSJ) e, atualmente, do Instituto de Ensino
Superior Presidente Tancredo de Almeida Neves
(Iptan), no percuciente prefácio que escreveu
para este trabalho. Segundo Maurício de
Carvalho, neste livro, a religião é examinada
como fato cultural, “produto da nossa ação
transformadora do mundo, ainda
que esse fato não invalide o reconhecimento da
inspiração divina”
(NASCIMENTO, 2008, p. 9).
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II |
De fato, num tempo como o de hoje em que a
precariedade humana é tão presente no dia-a-dia
da população, depois do fracasso das
experiências totalitárias, as religiões, sejam
as tradicionais ou as chamadas pentecostais,
ainda cumprem o seu papel fundamental, que é o
de infundir esperança e alimentar os sonhos de
amor e paz, ou seja, manter o homem vivo, para
se repetir aqui uma expressão do poeta e
dramaturgo alemão Bertold Brecht (1898-1956).
Depois de discutir a conceituação de
antropologia, de religião e de antropologia da
religião, Firmo do Nascimento avalia as teorias
psicológicas e sociológicas que falam da origem
da religião, analisando as hipóteses do
sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), do
neurologista austríaco Sigmund Freud
(1856-1939), criador da Psicanálise, e do
filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903), sem
deixar de penetrar na obra do poeta e filósofo
latino Tito Lucrécio Caro (Ca.99aC-143).
“Estarrecidos pelos males provocados na
humanidade em nome da religião – guerras,
divisões, imposições, sacrifícios humanos,
explorações, conquistas, matanças –, alguns
pensadores antigos e modernos desconfiaram da
seriedade da religião e quiseram ver a sua
origem na maldade do coração ou na perversão da
mente”, diz o professor, adicionando entre os
pensadores modernos adeptos dessas teorias o
filósofo britânico Bertrand Russel (1872-1970) e
o escritor e dramaturgo argelino Albert Camus
(1913-1960).
Em suas considerações
finais, Firmo do Nascimento (2008, p. 124)
defende não podemos ficar restritos à expressão
“só Jesus salva”, mas acreditar e agir como
seres verdadeiramente humanos comprometidos com
a verdade através do homem bom: zeloso,
sigiloso, honesto e objetivo. “A fé precisa
descer das altas esferas transcendentes para
ocupar-se com o homem como habitação divina.
Noutras palavras: não se pode separar a
experiência religiosa das outras experiências
humanas”, diz (idem),
acrescentando que “a religião possui essência
libertadora e deve questionar o imperialismo
cultural europeu e norte-americano” (idem).
Enfim, o leitor que adentrar este livro, com
certeza, sairá dele diferente, mais fortalecido
espiritualmente, pois, como diz o autor, em suas
derradeiras palavras, o homem precisa da
harmonia consigo mesmo, com os outros, com a
natureza e com Deus, para viver humanamente o
sentido da vida. Ou seja: “a experiência da
solidão leva-nos à solidariedade, da
fraternidade à comunhão, da finitude ao infinito
e da consciência do limite dos bens naturais à
revalorização da natureza” (NASCIMENTO, 2008, p.
128).
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III |
Sílvio Firmo do
Nascimento (1956), sacerdote diocesano em São
João del-Rei, Minas Gerais, é doutor em
Filosofia pela Universidade Gama Filho, do Rio
de Janeiro (2001), mestre em Filosofia pela
Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas
Gerais (1992), bacharel em Teologia pela
Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio
de Janeiro (1987), e fez Licenciatura Plena em
Estudos Sociais e Filosofia pela Fundação
Educacional de Brusque, Santa Catarina, hoje
Faculdade Dehoniana (1983).
É autor dos livros Teses
morais do tradicionalismo do século XIX (Londrina:
Edições Humanidades, 2004), A
religião no Brasil após o Vaticano II: uma
concepção democrática da religião (Barbacena:
Unipac, 2005),
A Igreja em Minas
Gerais na
República Velha
(Curitiba: Juruá,
2008),
A pessoa humana segundo Erich Fromm
(Curitiba: Juruá,
2010),
A centralidade da
eucaristia na vida da humanidade
(Garapuava: Pão e Vinho, 2011),
Gotas de
sabedoria
(Curitiba: Instituto Memória, 2012),
A educação em um mundo globalizado,
em coautoria com o professor Kennedy Alemar da
Silva (Belo
Horizonte: O Lutador, 2014)
e Pressupostos
epistemológicos e antropológicos da ética do
tradicionalismo (Curitiba:
CRV, 2ª
ed., 2016), além
de artigos sobre filosofia, ética, educação e
religião.
Atuou como docente na
Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac),
de Barbacena, Minas Gerais, de 1992 até 2008.
Atualmente, é membro do Comitê de Ética em
Pesquisa da Unipac, membro efetivo da Academia
de Letras de São João del-Rei e docente do
Iptan, de São João del-Rei. Atua como editor da Revista
Saberes Interdisciplinares,
periódico semestral multidisciplinar do Iptan.
Tem experiência na área de Educação, com ênfase
em Filosofia da Educação, atuando principalmente
com os seguintes temas:
liberdade-propriedade-educação, tradicionalismo,
educação, catolicismo e ética.
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O homem diante do
Sagrado: Alguns elementos da antropologia das
religiões,
de Silvio Firmo do Nascimento, com prefácio de
José Maurício de Carvalho.
Londrina: Edições Humanidades, 126 págs., R$
40,00, 2008.
E-mail: silviofirmodonascimento@gmail.com Site:
www.iptan.edu.br
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