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						MAURÍCIO SILVA &  
						MÁRCIA FUSARO 
						
				Organizadores 
				 
				MIA COUTO 
						
				 
				Uma literatura entre palavras 
						 
						e encantamentos 
						 
						 
				São Paulo, 2011 
						 
						
				
				ÍNDICE 
				
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					 Os sentidos e os 
					não sentidos da língua portuguesa: questões de língua e 
					linguagem nos contos de Mia Couto 
				  
				MAURÍCIO SILVA* 
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				 "nós falávamos uma 
				língua que não nos falava". (Mia Couto) 
				  
				"o que eu quero é esse 
				desmaio gramatical,  
				em que o português perde todos os sentidos". (Mia Couto) 
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				 Introdução 
				           
				 
				 A literatura 
				africana de expressão lusófona, presente nos cinco países em que 
				o português - transplantado, a princípio, como língua do 
				colonizador - foi, finalmente, adotado como língua oficial, tem 
				se revelado um campo particularmente rico em possibilidades de 
				estudo e pesquisa, resultado de uma profícua produção estética e 
				de um inesgotável universo de criação no âmbito do imaginário 
				literário. Estudar, portanto, a produção ficcional de seus 
				autores e autoras é compreender como se organiza, no espaço 
				cultural lusoafricano, a concepção de mundo dos povos que ali 
				vivem, bem como sua relação com a própria língua portuguesa, 
				além de refazer o caminho histórico e cultural destas nações por 
				meio de uma interação entre a literatura e a realidade local.  
				 
				  
				Analisando o 
				desenvolvimento dessa produção literária, não há como negar – 
				sobretudo se pensarmos na produção mais recente – nem sua 
				procedência anticolonialista, no plano social e histórico, nem 
				sua vinculação com os conceitos de nacionalismo e identidade. 
				Com efeito, se essa literatura nasce vinculada a um projeto mais 
				amplo de luta anticolonial, o que lhe confere, às vezes, um 
				caráter de literatura militante, com o passar do tempo 
				ela passa a se ligar a um desígnio identitário-nacionalista, 
				resultando, primeiro, na afirmação da identidade cultural local, 
				com a valorização das singularidades nativas e humanitárias da 
				região; depois, na criação de uma consciência nacionalista, 
				incentivando a defesa de valores sociais comunitários. 
				  
				De modo sumário, 
				pode-se afirmar sobre a produção literária africana de expressão 
				portuguesa que ela pressupõe, como sugere Pires Laranjeira, uma 
				variedade de atitudes estéticas (busca de autonomia, 
				reivindicação anticolonial, afirmação nacional, assunção étnica 
				e folclórica, uso do bilinguismo textual, exaltação rácica etc.) 
				visceralmente vinculada à constituição/afirmação da comunidade 
				africana (LARANJEIRA, 2000). No contexto descrito, Mia Couto 
				talvez seja o nome que melhor sintetize valores e promessas da 
				produção literária da África lusófona na contemporaneidade, 
				elevando essa mesma produção à condição imprecisa, mas 
				meritória, de arte universal. 
				  
				Mia Couto (né 
				António Emílio Leite Couto) é, atualmente, o autor com maior 
				visibilidade no universo das letras africanas lusófonas. Natural 
				da cidade da Beira, em Moçambique, costuma ser comparado a outro 
				grande autor da língua portuguesa do século XX, o escritor 
				brasileiro João Guimarães Rosa, tanto por tratar de questões 
				relacionadas aos "mistérios" da vida humana, quanto pela 
				inventividade de sua escrita, numa permanente descoberta de 
				novas palavras e estruturas idiomáticas, que resulta, em última 
				instância, de um processo de cruzamento entre o português culto 
				e os vários registros linguísticos empregados pela população 
				local de Moçambique, num inusitado processo de criação, 
				apropriação e renovação do português. A vida do povo moçambicano 
				e sua cultura de modo geral estão representados em sua extensa 
				obra ficcional, onde não faltam o humor e o trágico, a 
				incorporação da linguagem cotidiana, a inclusão do fantástico e 
				do imaginário, tudo veiculado por meio de uma escritura 
				em que se destaca, como assinalamos há pouco, um intenso 
				trabalho de criatividade linguística. 
				  
				Autor refinado, tanto 
				no trato da composição quanto no da linguagem, Mia Couto não 
				abandona as tradições populares de seu povo, buscando contemplar 
				aquela moçambicanidade sempre perseguida pelos autores 
				daquela região. Dessa sua idiossincrasia estética disse Patrick 
				Chabal com propriedade: 
				  
				
				“Mia Couto reflecte no seu trabalho a diversidade do discurso 
				popular. Explora as subtilezas do português moçambicano, falado 
				actualmente em Moçambique, que é distincto do português de 
				Portugal. Enquanto muitos outros escritores moçambicanos ainda 
				usam o português ‘clássico’, relativamente neutro, Mia Couto 
				está na vanguarda dos que tentam integrar o português de 
				Moçambique na sua escrita” (CHABAL, 1994, p. 68) 
				  
				
				Buscando vincular, de um lado, aspectos mais propriamente 
				relacionados à língua portuguesa e, de outro lado, elementos da 
				ideologia que perpassa toda sua produção literária - esta última 
				compreensivelmente vinculada ao processo de colonização 
				historicamente vivenciado pelo continente africano -, nosso 
				artigo analisará como a questão linguística se apresenta ao 
				leitor nos contos de Mia Couto. Desse modo, ambas as categorias 
				aqui observadas - a que, por conveniência, chamamos de língua 
				e linguagem - congregam-se no sentido de dar à sua 
				produção ficcional não apenas maior consistência estética, mas 
				também maior alcance ideológico, na medida em que elas se 
				inserem no amplo conjunto de reflexões proposto pelo 
				pós-colonialismo, base teórica do presente artigo.  
				Assim, em Mia Couto, 
				há que se distinguir uma questão da língua e uma questão 
				da linguagem, ambas inseridas no contexto do 
				pós-colonialismo: a primeira, mais relacionada ao processo de 
				reconstrução idiomática do português no continente africano; a 
				segunda naturalmente vinculada a uma reflexão ideológica que se 
				reflete, metaforicamente, no substrato metalinguístico de sua 
				ficção. 
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				 Língua e linguagem no 
				contexto do pós-colonialismo 
				 
				
				 
				Já se tornou um 
				truísmo entre os pesquisadores das áreas da linguística e da 
				literatura o fato de haver uma necessária intersecção entre os 
				conceitos de língua/linguagem e ideologia, já que todos eles 
				atuam em conjunto – pautando-se, em tese, nas relações 
				intercomunicativas –, no sentido de decifrar os meandros da 
				existência humana e analisar sua inserção numa dinâmica social 
				complexa. Esse é, aliás, um fato que pode ser percebido nas 
				considerações que Bakhtin faz acerca da conotação ideológica da
				palavra: 
				  
				
				"a palavra é o fenômeno ideológico por excelência. Na realidade 
				toda palavra é absorvida por sua função de signo. A palavra não 
				comporta nada que não seja ligado a essa função, nada que não 
				tenha sido gerado por ela. A palavra é o modo mais puro e 
				sensível de relação social" (BAKHTIN, 1988, p. 36). 
				  
				Este matiz ideológico 
				do discurso linguístico e, por extensão, do literário encontra 
				no solo africano, talvez como em nenhuma outra região, as 
				condições propícias para se desenvolver, renovando um vínculo 
				entre palavra e ideologia que surge como um verdadeiro 
				imperativo. Por isso, pode-se dizer que a opção das 
				ex-colônias de Portugal pela língua portuguesa veio acompanhada 
				pela disposição inalienável a um uso "libertário" do 
				código linguístico, uso que se manifesta em dois sentidos 
				complementares: como oposição/resistência ao poder colonial e 
				como inovação literária a marcar uma identidade cultural 
				lusoafricana. Tal fato faz com que a língua portuguesa não 
				apenas assuma uma participação determinante na construção de um 
				ideário africano, afirmando-se como um idioma de relativa 
				unificação política, mas também atue como discurso formador de 
				povos autônomos, exprimindo – literariamente ou não – sua 
				realidade. Afinal de contas, como já se salientou uma vez, "as 
				visões de mundo não se desvinculam da linguagem, porque a 
				ideologia vista como algo imanente à realidade é indissociável 
				da linguagem. As ideias e, por conseguinte, os discursos são 
				expressões da vida real. A realidade exprime-se pelos discursos" 
				(FIORIN, 1988, p. 33). 
				Nesse contexto 
				específico, a literatura adquire papel de relevo no processo de 
				afirmação da identidade cultural africana, particularmente em 
				Moçambique e Angola, onde ela conquistou plena 
				representatividade como instrumento de resistência ao poder 
				colonial, sobretudo no que ela apresenta de possibilidades de 
				manipulação criativa a instaurar uma nova realidade cultural. A 
				transgressão do registro padrão da língua portuguesa, por 
				exemplo, torna-se, desse modo, meio simbólico de 
				veiculação dos anseios libertários da população, sendo utilizada 
				a partir de perspectivas estéticas ideologizadas, já que se 
				volta, a um só tempo, para a manifestação de uma causa 
				revolucionária e afirmação de uma identidade coletiva 
				pós-colonial. Das sociedades emergentes, como são as sociedades 
				moçambicana e angolana e suas congêneres lusoafricanas, surgem 
				estéticas igualmente emergentes, isto é, expressões artísticas 
				comprometidas com a liberdade política da sociedade em que as 
				mesmas se inserem: são manifestações estéticas em que a função 
				social é, para além de significativa, orgânica, expressando-se, 
				sobretudo, por meio de um sistema estético em que língua e 
				linguagem perfazem um conjunto dinâmico que ultrapassa o mero 
				significado "linguístico" que ele possa sugerir. 
				Daí o fato, por 
				exemplo, de as literaturas que representam as nações 
				lusoafricanos terem na transgressão do código linguístico uma de 
				suas marcas mais sugestiva, a exemplo do que fazem Mia Couto e 
				Luandino Vieira, por exemplo, instaurando uma verdadeira 
				tradição da transgressão. Uma tradição e uma transgressão, 
				diga-se de passagem, que trazem em sua própria razão de ser 
				modos de atuação que servem como paradigma para toda a 
				literatura contemporânea destas regiões, como já assinalara 
				Manuel Ferreira: 
				  
				
				“uma das características estilísticas introduzidas por alguns 
				poetas da Mensagem, e que vão ser continuadas pelas 
				gerações seguintes, é não só a integração das palavras da 
				língua-mãe, com relevo para o quimbundo, como também a 
				reapropriação pela escrita da cadeia falada do português dos 
				musseques, e ainda a justaposição de versos do quimbundo e 
				português” (FERREIRA, 1987, p. 124). 
				  
				Por isso, estendendo 
				ainda mais a abrangência do apelo ideológico que a literatura de 
				Mia Couto alcança por meio do processo transgressor aludido, 
				pode-se afirmar que, sem se limitar à dimensão idiomática 
				propriamente dita, seu processo de reescritura da língua 
				portuguesa incide diretamente sobre a própria constituição de 
				uma consciência pós-colonial, servindo assim de substrato 
				ideológico e expressivo ao conceito de moçambicanidade. 
				Com efeito, criador de uma narrativa inovadora, Mia Couto tem 
				produzido um conjunto ficcional que traz como índice mais 
				relevante de sua genialidade artística exatamente uma singular 
				capacidade de reorganização da mundividência moçambicana a 
				partir do processo de recriação linguística presente em toda sua 
				produção literária. 
				Os estudos 
				relacionados ao pós-colonialismo ganham maior destaque a partir 
				da década de 1980, como as obras de Edward Said e Bill Ashcroft. 
				O primeiro, em seu célebre estudo sobre o orientalismo, 
				buscou analisar o surgimento do Oriente na história das relações 
				europeias como uma construção ideológica, definindo o próprio 
				conceito de orientalismo como um discurso que é, antes, 
				"produzido e existe em um intercâmbio desigual com vários tipos 
				de poder, moldado em certa medida pelo intercâmbio com o poder 
				político [...], com o poder intelectual [...], com o poder 
				cultural [...], com o poder moral" (SAID, 1996, p. 24). Já o 
				segundo, de modo um pouco mais otimista e relacionando a 
				literatura à ideia de resistência - o que pode resultar no 
				conceitos de literatura de resistência ou resistência 
				literária -, lembra que tais conceitos vinculam-se à ideia 
				de uma luta pela libertação nacional, embora não no 
				sentido limitado de militância. Assim, na opinião do autor, em 
				relação à literatura, a ideia de resistência está associada à de 
				transformação, na medida em que o colonizado pode perfeitamente 
				adquirir o capital cultural do colonizador em seu próprio 
				benefício, podendo, inclusive, transformá-lo em uma arma 
				anticolonial: 
				  
				
				"Despite the power of colonial representation [...], despite the 
				ubiquity and influence of the tropes by which the colonized 
				subjects are marginalized, the colonial subject is never simply 
				a tabula rasa on which colonial discourse can inscribe 
				its representations: his or her engagement of the culture 
				presented as capital may be extremely subtle. This is, in a 
				sense, a key to post-colonial discourse: post-colonial societies 
				can not avoid the effects of the  
				colonization, but those effects need not necessarily be seen as 
				a tragic consequences of cultural subjugation, nor a cultural 
				contamination to be rejected at all costs. The effects of 
				imperial culture are a form of capital - neutral in itself but 
				politically potent in its possibilities - acquired and utilized 
				in the negociation of post-colonial cultural transformation. 
				Ultimately, it is this transformation, rather than a simple 
				opposition, which fulfils many of the goals of resistance" 
				(ASHCROFT, 2001, p. 44). 
				  
				Como estamos 
				sugerindo aqui, tanto a questão da língua quanto a da linguagem 
				inserem-se no universo da teoria do pós-colonialismo, o que 
				parece ser particularmente verdadeiro no contexto dos países 
				africanos, onde, segundo Russel Hamilton, se verificaria um viés 
				contestatório do regime colonial, resultando, no âmbito 
				literário, numa produção reformista e experimentalista, por meio 
				da qual se procura “re-escrever e assim re-inventar a África” 
				(HAMILTON, 1999, p. 16). De fato, essa constante tensão 
				que as sociedades africanas mantiveram e mantém, historicamente, 
				com o poder colonizador - o que implica, entre outras coisas, 
				como mostra Thomas Bonnici, na crioulização das línguas 
				europeias e numa constante prática contradiscursiva, em relação 
				ao discurso colonial (BONNICI, 2005) - é o que faz das 
				literaturas pós-coloniais manifestações estéticas de resistência 
				ao e de renovação do cânone literário ocidental, contexto em que 
				o trabalho voltado especificamente para um processo de rasura e 
				reelaboração da língua/linguagem do colonizador adquire um valor 
				incontestável. Inventa-se, assim, por meio da literatura 
				pós-colonial produzida no continente africano - em especial a 
				literatura de expressão lusófona - um sujeito e uma nação 
				pós-coloniais que, ultrapassando os limites da discussão 
				dos efeitos da colonização, passa a se referir a "uma ampla gama 
				de experiências políticas, culturais e subjetivas, que se 
				deslocam no tempo (pré e pós-colonial) e se situam em diferentes 
				lugares" (SCHMIDT, 2009, p. 142). 
				Como poucos autores 
				contemporâneos da literatura africana lusófona em geral e da 
				literatura moçambicana em particular, Mia Couto busca, ao 
				máximo, explorar todas as possibilidades que a língua lhe 
				oferece, a fim de atingir efeitos poéticos e 
				resultados ideológicos até então inalcançáveis. 
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				 Língua e linguagem 
				nos contos de Mia Couto 
				
				 
				A questão da 
				língua/linguagem em Mia Couto pode ser apreendida em todos os 
				seus livros, dos teóricos aos ficcionais e, entre estes últimos, 
				tanto nos seus contos quanto em seus romances. 
				 
				Nos romances, por 
				exemplo, ela surge em toda sua infinita potencialidade, como se 
				observa, por exemplo, em O Último Vôo do Flamingo (2000), 
				obra que tem no humor uma de suas características mais 
				marcantes, fato que resulta, entre outras coisas, de situações 
				inesperadas, quando não do puro nonsense. Há, 
				evidentemente, um conflito entre o mundo europeu (aqui 
				representado pelo italiano Massimo Risi) e o africano 
				(representado pelo narrador), tema recorrente em Mia Couto, 
				tratado de modo seguro, sem alguns ranços militantes que, 
				eventualmente, poderiam empanar a narrativa. Em meio a essas 
				questões, de fundo mais ideológico, por assim dizer, proliferam 
				criações neológicas, transgressões sintáticas, recursos orais, 
				além de uma série de considerações direta ou indiretamente 
				relacionadas à linguagem propriamente dita: o poder das 
				palavras, a voz dos falecidos, a importância da fala... Em A 
				Varanda do Frangipani (1996), um dos mais consagrados 
				romances de Mia Couto, destacam temas como o conflito entre a 
				tradição nativa africana e a tradição portuguesa, bem como entre 
				o passado – representado pela tradição – e o presente – 
				representando a modernidade. Trabalhando com ciclos distintos 
				(começa com um morto, figurando um ciclo que se fecha; passa ao 
				retorno desse morto à vida, simbolizando um ciclo que se abre; 
				para, finalmente, voltar à condição de morto, num ciclo que 
				volta a se fechar), trata-se de uma narrativa particularmente 
				marcada pelo jogo de identidades (Ermelindo Mucanga/Izidine 
				Naíta), em que não se dispensa uma reflexão sobre o problema da 
				desterritorilização (como no caso de Domingos Mourão/Xidimingo). 
				A palavra, sobretudo a palavra falada, exerce uma função 
				mítica na história, como ocorre com Navaia Caetano – para quem 
				as pessoas no asilo “vivemos muito oralmente” (COUTO, 2007, p. 
				26) –, que pede a Ermelindo Mucanga/Izidine Naíta que não 
				escrevesse nada, apenas escutasse sua história. Da mesma forma, 
				a fala, o contar, representa, muitas vezes, uma 
				sentença de morte, além de ser um perigo tanto para quem fala 
				quanto a quem ouve. Finalmente, a questão da linguagem 
				tem ainda um sentido especial na figura da feiticeira Nãozinha, 
				para quem a palavra possuia um valor sobrenatural. 
				Apesar do potencial 
				de trabalho que os romances sugerem, no que concerne às análises 
				em torno da questão da língua/linguagem, optamos por trabalhar 
				com seus contos, sobretudo pelo caráter sintético que o gênero 
				naturalmente possui (GOTLIB, 1988; SOARES, 1989; TAVARES, 
				1984), o que tende a tornar mais profícua nossa análise. 
				 
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				1. Língua 
				
				 
				Em relação à língua, 
				já se tornou um lugar comum - embora nunca seja demais voltar ao 
				assunto - assinalar o empenho intenso e constante de Mia Couto 
				na busca de um registro linguístico que exprima, 
				satisfatoriamente, tanto a complexa realidade da sociedade e da 
				história moçambicanas quanto a inapreensível volatilidade do 
				discurso literário. Assim, a partir de um trabalho de reinvenção 
				do código linguístico, o celebrado escritor reconstrói a própria 
				realidade moçambicana, representada, no plano narrativo, como um 
				quadro vivo das tradições, dos conflitos e dos costumes de toda 
				uma nação. Não obstante esse trabalho expressivo de resgate da 
				cultura popular-tradicional de Moçambique, suas principais 
				conquistas estéticas encontram-se no campo da estilística, já 
				que com a prosa ficcional de Mia Couto a literatura moçambicana 
				atinge seu ponto máximo, sobretudo no que diz respeito ao 
				tratamento linguisticamente inovador do texto literário. Tal 
				inovação pode ser verificada tanto no âmbito sintático, levando 
				o autor a promover verdadeira ruptura no encadeamento oracional 
				do português, quanto nos âmbitos morfológico – com sua 
				indefectível criatividade lexical – e fonológico, em que o 
				emprego deliberado de uma linguagem coloquial e o uso de 
				artifícios próprios da oralidade incorporados ao texto escrito 
				fazem de suas transgressões linguísticas uma ocorrência 
				esteticamente programática.  
				Do ponto de vista 
				fonológico, é, em primeiro lugar, o emprego abundante do 
				relato oral em suas histórias, a fim de promover um processo de 
				recriação da própria linguagem literária, que faz de Mia Couto 
				um dos mais criativos autores da literatura escrita em língua 
				portuguesa. Com muitos diálogos transcritos em sua forma 
				"original", própria da prosódia nativa, Mia Couto apreende a 
				fala local no calor da hora, dando a sua ficção uma dimensão 
				verdadeiramente humana, no rastro do que ressaltou Roland 
				Barthes ao afirmar que "l'appréhension d'un language réel est 
				pour l'écrivan l'acte littéraire le plus humain" (BARTHES, 1972, 
				p. 60). Além disso, o uso de termos próprios da linguagem 
				cotidiana pelo autor reforça ainda mais essa sua peculiaridade 
				estética: ao adaptar ao contexto local a linguagem de suas 
				personagens, Mia Couto logra recriar o universo cultural de toda 
				uma nação, revelando, pela ótica do particular, o que ela possui 
				de mais universal e transformando sua literatura num vasto 
				painel humanista destinado à resistência cultural e política de 
				um povo, em que - a exemplo do que faz Luandino Vieira em Angola 
				- a noção de identidade nacional não deixa de estar presente 
				(SANTILLI, 1985).  
				
				Não apenas no campo da fonologia 
				podem-se apreender as inovações linguageiras de Mia Couto. 
				Também no que concerne ao âmbito morfológico, seu 
				trabalho com a língua portuguesa apura-se e ganha relevo. 
				Trata-se, neste sentido, das criações neológicas de Mia Couto no 
				plano da renovação lexical, sempre com a intenção de tornar a 
				narrativa mais condizente com a realidade que procura retratar e 
				recriar em suas obras. Processos de formação de palavras como a 
				composição por justaposição (logo-logo, aero-anjo) ou por 
				aglutinação (senfins, saltitonto); como a derivação 
				prefixal (desconsegui, imovente, desorfanava, desmarado, 
				desrimou, desabismado, inacreditar, destrapezista), sufixal 
				(pontapesaria, pernação, sapudo, maravilhações, ardível) 
				ou imprópria (milesimamente, dezanovinha, todaviou-se, 
				senão-me, arco-irisca) e muitos outros fazem parte da 
				criatividade linguística de Mia Couto. 
				No plano 
				sintático-semântico, suas criações ficam por conta de uma 
				série de inovações, que vão da dispensa de conectivos 
				frasais e oracionais (preposições, pronomes, conjunções) a 
				invenções que resultam em efeitos estilísticos diversos, como a 
				ocorrência de inversões entre substantivos e adjetivos (impuros 
				matos, silencioso e adiado ser, culinárias ocupações, obesa moça), 
				uso de palavras com sonoridade parecida (assim postas e não 
				expostas; mais ela versejava menos a veda nela versava; era um 
				dedo sem sexo: só com nexo; um salto na casa, um assalto no 
				peito; graves lei da gravidade; em aparatosa aparição; vez e 
				voz, os olhos e os olhares; sem pertença nem presença; sem fim 
				nem finalidade; nada é repetível, tudo é repetente?; as tripas 
				já triplas; foi como se o mundo abrisse rochas e rachas; breves 
				são os enquantos, nenhuns os encantos), o emprego de figuras 
				de linguagem (o coração de Gilda se despenteava; seus olhos 
				taquicardíacos; vizinho congênito), tudo concorrendo para a 
				reverberação - por toda sua produção contística - de um 
				singularíssimo efeito estético-estilístico. 
				
				Desse modo, tanto do ponto de vista 
				fonológico e morfológico quanto sintático-semântico, pode-se 
				afirmar que a obra de Mia Couto tem na inovação do código 
				linguístico sua principal marca estilística, fazendo dele um 
				autor em que a ressignificação da língua torna-se 
				elemento estético de primeira grandeza. É o que sugerem Flavio 
				Garcia e Luciana Silva quando, ao considerar Mia Couto um 
				contador de histórias e um escritor que busca renovar a 
				palavra – afirmam: 
				  
				“a origem 
				multifacetada, refletida em sua obra, faz emergir um universo de 
				significações que revolve as palavras, transformando-as para que 
				gerem novos sentidos. Ao ressignificá-las, inovando em relação 
				ao uso da linguagem, ele propõe novos olhares para o que já 
				existe visto desde antes” (GARCIA & SILVA, 2012, p. 177). 
				 
				
				  
				
				Visto de outra ótica, não parece 
				exagero afirmar que a literatura de Mia Couto denota – por meio 
				da inovação linguística – uma transgressão do próprio código 
				estético europeu, na medida em que refaz o percurso da escritura 
				literária a partir de outros protocolos artísticos, nos quais 
				está pressuposta a literatura como expressão de uma nova 
				forma a representar um conteúdo. Sua criação linguística faz 
				parte, assim, de um projeto de inovação discursiva, por meio do 
				qual ao se instaurar um outro discurso literário, 
				inaugura-se uma nova maneira de interpretar a realidade nacional 
				que esse discurso representa. Considerando que, como afirma 
				Maurizzio Gnerre, "a língua dos gramáticos é um produto 
				elaborado que tem a função de ser uma norma imposta sobre a 
				diversidade" (GNERRE, 1987, p. 10), Mia Couto opta exatamente 
				por romper com essa espécie de condicionamento linguístico, no 
				qual a língua exemplar torna-se modelo ideal de uso e a norma 
				gramatical a única referência válida para a escrita. Daí o 
				emprego de um código linguístico "mestiço", mesclado por 
				regionalismos e adaptado à dicção sintaticamente aglutinante dos 
				falares locais de Moçambique, tudo esteticamente reestruturado a 
				partir da perspectiva literária que tem na criatividade 
				linguística sua tônica. 
				
				Esse movimento tem uma clara 
				conotação ideológica, vinculando-se, facilmente, à teoria do 
				pós-colonialismo, como sugerimos de início. Assim, na medida em 
				que o pós-colonialismo se relaciona não apenas com o contexto 
				histórico da colonização europeia do continente africano, mas 
				sobretudo com as práticas discursivas que atuam como 
				substrato desse contexto, percebe-se em Mia Couto - por meio de 
				um discurso de resistência, de um processo de “canibalização da 
				língua portuguesa pelo colonizado” (LEITE, 2003, p. 13) - uma 
				concessão deliberada ao gesto pós-colonialista que, no universo 
				específico de sua literatura, torna a palavra um 
				autêntico “instrumento de afirmação dos povos de nações 
				lusófonas” (BASTOS & BRITO, 2011, p. 151). 
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				 2. Linguagem 
				Em relação à 
				linguagem, aqui entendida como uma categoria que não se limita 
				apenas à configuração gramatical do idioma, mas a uma série de 
				elementos e atitudes vinculados a um sentido mais amplo do 
				registro linguístico, pode-se dizer que duas perspectivas se 
				destacam no processo coutiano de construção de um discurso 
				literário: a busca recorrente do sentido mítico da palavra e a 
				revelação intencional do poder que a palavra concentra em si. Na 
				verdade, há, em Mia Couto, um verdadeiro equilíbrio entre o 
				sentido mítico da palavra - que leva sua literatura para o campo 
				da ficção, vinculado-a ao ato de narrar - e o sentido realista 
				da palavra - que a retorna para a realidade, vinculado-a ao 
				poder. Ambos os sentidos inserem-se no plano da teoria do 
				pós-colonialismo, na medida em que o autor moçambicano - a 
				exemplo de outros autores de língua portuguesa, como Luís 
				Bernardo Honwana, Manuel Rui, Ungulani Ba Ka Khosa, Luandino 
				Vieira - atuam, como defende Niyi Afolabi, no sentido de 
				regenerar o processo de degenerescência da identidade 
				cultural dos povos africanos, promovido pelo sistema 
				colonialista português, processo realizado durante o período 
				pós-colonialista: “apoiando-se em vários modos de subversão, os 
				autores recuperam os valores culturais degenerados pelo 
				colonialismo português nos seus textos enquanto nas obras mais 
				recentes, ridicularizam a corrupção e a violência da condição 
				pós-independência” (AFOLABI, 1997, p. 28). 
				Com efeito, o 
				tratamento dado pelo escritor moçambicano à linguagem torna sua 
				dicção um discurso não apenas exemplar do ponto de vista 
				estético, mas sobretudo combativo do ponto de vista ideológico. 
				Em Cada homem é uma raça (1998) por exemplo, ao lado de 
				transgressões gramaticais e uma prosa poética carregada de 
				metáforas e outras figuras de linguagem, contos marcados por 
				conflitos intimistas ("Rosa Caramela") misturam-se a outros que 
				espelham problemas de natureza racial e afins ("A princesa 
				russa"). Neles, tanto o sentido mítico da palavra quanto a 
				linguagem como poder convivem, plenamente, no plano da 
				narrativa. O mesmo se pode falar de seus contos de estreia, no 
				livro Vozes Anoitecidas (1987), em que tudo o que aqui 
				foi dito ganha contornos ainda mais trágicos. 
				Esse sentido 
				mítico da palavra, a que nos referimos, contudo, surge de 
				modo mais evidente nos contos de Estórias abensonhadas 
				(1994) e nos de O fio das missangas (2004). Com efeito, 
				em Estórias abensonhadas deparamo-nos com narrativas que 
				parecem nascer da própria vivência do povo moçambicano, 
				resgatando o sentido mais sagrado da linguagem, descolando-a da 
				crua e insensível realidade, a fim de lhe conferir um sentido 
				sublime, um estatuto de ficção. Ali, a palavra torna-se 
				imagem, voz plena, estória, numa tensão dialética entre 
				verdade e ficção, como se afirma no início de um de seus contos: 
				"Toda a estória se quer fingir verdade. Mas a palavra é um fumo, 
				leve de mais para se prender na vigente realidade. Toda a 
				verdade aspira ser estória. Os factos sonham ser palavras, 
				perfumes fugindo do mundo" (COUTO, 2012, p. 47). 
				Em O fio das 
				missangas, a relação que personagens de suas estórias 
				estabelecem com a palavra é, ao mesmo tempo, uma relação de 
				distância e de descoberta: não é o emissor que fala, mas ele é 
				falado, atuando primeiro - numa autêntica inversão de sentido 
				das funções da linguagem - como receptor da mensagem: "as 
				palavras desprendem-se de mim" (COUTO, 2009, p. 23), afirma a 
				protagonista de um dos contos. Mesmo assim, a fala tem seus 
				segredos, seus impedimentos, seus silêncios constrangidos e 
				contrangedores, ora exigidos, ora deliberados. Em outro de seus 
				contos, por exemplo, a única permissão que é dada à fala é 
				aquela que a vincula ao contar uma história, permissão 
				dada mesmo a quem, tecnicamente, não fala: "minha mãe, que é 
				muda, que conte" (COUTO, 2009, p. 38). É que no universo mítico 
				de Mia Couto o contar histórias faz parte da própria 
				essência do ser humano, da vida mesma de cada um. 
				Em Mia Couto, a 
				palavra adquire um peso mítico, um valor quase sagrado, pois, 
				por meio dela, mundos submersos são revelados, segredos e 
				mistérios são desvendados, lembranças perdidas no tempo são 
				resgatadas. Essa realidade premente de sua poética exprime-se em 
				algumas passagens de seus contos, tanto naquelas em que a 
				magia da palavra faz parte do tecido narrativo quanto 
				naquelas em que ela é tema/motivo da própria narrativa. É a 
				narradora do conto "A despedideira" quem expõe essa lógica 
				cerrada, ao afirmar peremptória e reveladoramente: 
				  
				
				"Quando ele me dirigiu a palavra nesse primeiríssimo dia, dei 
				conta de que, até então, nunca eu tinha falado com ninguém. O 
				que havia feito era negociar palavra, em negoceio de sentimento. 
				Falar é outra coisa, é essa ponte sagrada em que ficamos 
				pendentes, suspensos sobre o abismo. Falar é outra coisa, vos 
				digo. Dessa vez, com esse homem, na palavra eu me divinizei. 
				Como perfume em que perdesse minha própria aparência. Me solvia 
				na fala, insubstanciada" (COUTO, 2009, p. 52). 
				 
				  
				Assim, seus contos - 
				como de resto toda sua produção literária - carregados de uma 
				poética simbologia, conformada por meio de mitos e legendas, 
				crenças e visões sobrenaturais, fatos e lembranças que se 
				multiplicam, fundem-se num indescritível painel de imagens 
				sensíveis, levando o autor a trabalhar a fundo o que aqui 
				chamamos de o sentido mítico das palavras. 
				Como dissemos, porém, 
				há outra força que move - no que concerne ao universo da 
				linguagem - os contos de Mia Couto: trata-se, agora, da ideia de
				poder da palavra, que, não raramente, traduz-se numa 
				tensa relação dialética: a oposição, recorrente em sua ficção, 
				entre a fala e o silêncio, como se falar e calar 
				fossem, no final das contas, faces de uma mesma moeda. 
				Desse modo, mais do 
				que uma narrativa do falar, seus contos afirmam-se, 
				muitas vezes, como narrativas do calar, numa profusão de 
				imagens em que personagens ora estão indiscriminadamente fadadas 
				ao silêncio ("a mãe era muda, a sua voz esquecera de nascer") 
				(COUTO, 2009, p. 33), ora demonstram, simplesmente, uma 
				resignação que, não obstante, manifesta-se, ainda uma vez, pela 
				ausência da palavra. Neste contexto, há que se observar, está 
				implicada uma evidente questão de poder: "nos capítulo das 
				falas, tinha a sua razão: nós, pobres, devíamos alargar a 
				garganta não para falar, mas para melhor engolir sapos" (COUTO, 
				2009, p. 34). Mas, inesperadamente, é também no contexto 
				específico da vinculação entre palavra e poder que 
				o calar pode até mesmo adquirir um sentido de resistência, como 
				se constata em "O adiado avô": 
				  
				
				"Curioso: um regime inteiro para não deixar nunca o povo falar e 
				a ele ameaçavam para que não ficasse calado. E aquilo lhe dava 
				um tal sabor de poder que ele se amarrou no silêncio. E foram 
				insultos. Foram pancadas. E foi prisão. Ele entre os muitos 
				cativos por falarem de mais: o único que pagava por não abrir a 
				boca" (COUTO, 2009, p. 34).  
				  
				É que em Mia Couto 
				não surpreende opções feitas pelo calar diante de situações 
				extremas, ora de risco, ora de desespero ("Prefiro o silêncio, 
				que condiz melhor com a minha alma") (COUTO, 2009, p. 22), 
				levando a questão da linguagem a ser colocada no justo entreato 
				da fala e do silêncio. 
				Mas a relação da 
				linguagem com o poder, no escritor moçambicano, não se limita à 
				tensão acima apontada. Talvez ela se revele (e se resolva) 
				melhor - podendo, assim, ser mais bem compreendida - no contexto 
				das relações pós-coloniais. Há, nesse âmbito, uma discussão que, 
				seguramente, toca em cheio o sentido da linguagem (e, por 
				extensão, da literatura) nos países africanos independentes: 
				subverter a linguagem do colonizador, no plano narrativo, como o 
				faz Mia Couto, é, com efeito, uma atitude revolucionária, para 
				retomarmos um conceito próprio do contexto da lutas de 
				libertação colonial, até porque, como registra o próprio 
				escritor em algumas de suas narrativas, não é possível 
				desvincular os conceitos de idioma e de poder, que 
				- no âmbito mais específico da colonização - adquirem um sentido 
				muito mais denso e complexo do que o habitual. Veja-se, por 
				exemplo, a passagem em que o pai do protagonista do conto "O 
				nome gordo de Isadorangela", ao visitar juntamente com o filho, 
				a casa do presidente da câmara Dr. Osório Caldas e após 
				sentenciar que "nós, sendo mulatos, tínhamos sorte em receber a 
				simpatia do chefe", alerta o filho - lançando mão de "um 
				português que [ele] nunca escutara" -, de forma peremptória e 
				ameaçadora, para que "puxasse lustro ao [seu] melhor lusitano 
				idioma" (COUTO, 2009, p. 60/61) 
				 Trata-se, 
				nesse contexto, da exposição de um embate em que a linguagem 
				torna-se o elemento diferencial: quem domina o português padrão 
				- índice e meio de ascensão social - tem o domínio do poder 
				local; mas é exatamente no domínio desse registro, ao 
				desvirtualizá-lo, que a liberdade pode ser alcançada e os 
				índices de poder, invertidos. É o que, em resumo, busca fazer 
				Mia Couto ao criar uma literatura escrita num idioma que, no 
				limite, é e não é o português, na medida exata em 
				que, partindo de um registro padrão do idioma, ataca-o em seu 
				flanco, a fim de moldá-lo à realidade moçambicana que narra e 
				pela qual, no final das contas, é igualmente narrado. Assim, 
				consciente de que linguagem e poder caminham pari passu, 
				o autor lança mão de uma série de recursos linguísticos que - 
				por serem próprios de um pensar local, de um modo de ser 
				moçambicano - interpõe-se nos meandros do embate entre 
				colonizados e colonizadores, reverberando na própria linguagem. 
				Já não se trata mais de uma luta física, corpórea, entre polos 
				de uma mesma lógica historicamente forjada (o colonialismo), 
				mas de um confronto mais sutil, que se dá no âmbito 
				discursivo-idiomático: o idioma do colonizador é, desse modo, 
				transgredido, transformado, rasurado para que, de seus 
				escombros, outro seja construído, sempre tomando como ponto de 
				partida uma outra disposição ontológica e social. Essa luta 
				contra a violência de um idioma único ("Venâncio estava na 
				violência como quem não sai do seu idioma" (COUTO, 2009, p. 70), 
				transposto e imposto por elementos exógenos, representa bem o 
				"projeto" literário de Mia Couto, transgressor consciente do 
				idioma do colonizador, onde procura inscrever uma marca da 
				diferença (COUTO, 2014). 
				Criando assim uma 
				verdadeira prosa poética, o escritor moçambicano não 
				apenas revitaliza o português, mas o reinventa. De fato, nas 
				palavras de Carmen Tindó Secco, Mia Couto, além de reinventar 
				esse idioma, leva-o, "pela morfologia e sintaxe contaminadas por 
				construções modificadas pelos falares moçambicanos, a expressar 
				as marcas multiculturais presentes no imaginário linguístico do 
				país" (SECCO, 1998, p. 161). Por isso, não é difícil encontrar 
				em seus contos, uma verdadeira reflexão metalinguística, com 
				implicações ideológicas várias. É o caso, por exemplo, no conto 
				"O perfume", de suas Estórias Abensonhadas, de 
				Glória, que vincula sua histórica condição de dependência 
				ontológica e social à questão da linguagem: "livre? Era palavra 
				que parecia de outra língua. Só de a soletrar sentia 
				vergonha..." (COUTO, 2012, p. 32). Desse modo, entre a 
				palavra e a coisa que ela representa, há toda uma 
				história de opressão que marca a vivência da protagonista, 
				facilmente identificada com a história de opressão do próprio 
				continente africano, além da opressão de gênero, na medida em 
				que o poder que o homem detém sobre a mulher não se manifesta 
				apenas nas relações sociais cotidianas, mas principalmente no 
				fato de ele, como extensão desse poder autoconferido, tomar para 
				si a palavra, como se percebe nessa emblemática afirmação da, 
				sugestivamente, não identificada mulher do régulo de Namarói: "o 
				que vou contar me foi passado em sonho pelos antepassados. Não 
				fosse isso nunca eu poderia falar. Sou mulher, preciso 
				autorização para ter palavra" (COUTO, 2012, p. 115). 
				 
				Há, finalmente, em 
				Mia Couto, um aspecto de seu discurso literário que diz respeito 
				ao mesmo tempo à forma como autor trata a língua e as 
				discussões em torno da linguagem em seus textos 
				ficcionais: é a questão da oralidade. A oralidade, em Mia Couto, 
				está diretamente vinculada ao conto, gênero que elegemos 
				aqui como objeto de análise dentro de sua diversificada produção 
				ficcional. De fato, como afirma Ítalo Ogliari, o conto, enquanto
				arte de narrar, pode ser considerado "o gênero mais 
				antigo de todos, originado da fábula, da oralidade, do 
				simples ato de reunir as pessoas e de contar algo" (OGLIARI, 
				2012, p. 61, grifo meu). 
				A presença intensa da 
				oralidade pode ser constatada na maioria dos contos de Mia 
				Couto. Afirmando possuir, sua literatura, um compromisso com 
				histórica real, Hélio Rodrigues Júnior destaca, contudo, o uso 
				de marcas oralizantes na narrativa coutiana, "subvertendo 
				de modo intencional e esclarecido a língua portuguesa, 
				servindo-se dela como instrumento para alcançar o objetivo de 
				exprimir a sua sensibilidade com que apreende o sentir e a 
				vivência moçambicana" (JÚNIOR, 2013, p. 19). É, portanto, 
				na questão da oralidade que Mia Couto encontra o verdadeiro 
				equilíbrio entre língua e linguagem em sua produção ficcional, 
				na medida em que ela tanto diz respeito ao modo como uma 
				articulação frásica e/ou uma configuração gramatical é 
				elaborada/utilizada (língua) quanto se refere à escolha feita 
				pelo autor de um determinado registro linguístico, o que, no 
				caso específico do texto literário, pressupõe uma opção 
				ideológica (linguagem). Com efeito, ao buscar um ponto de 
				equilíbrio de sua narrativa por meio do recurso da oralidade, 
				Mia Couto não apenas revela a importância dos falares locais, 
				mas também denuncia a cultura grafocêntrica representada por um 
				português depurado pelas elites colonizadoras. Essa é, por 
				exemplo, a denúncia que o autor faz ao afirmar que 
				  
				
				"a mais importante linha divisória em Moçambique não é tanto a 
				fronteira que separa analfabetos e alfabetizados, mas a 
				fronteira entre a lógica da escrita e a lógica da oralidade. A 
				maioria absoluta dos 20 milhões de moçambicanos vive e funciona 
				num tipo de racionalidade que tem pouco a ver com o universo 
				urbano. Mas em Moçambique, como no resto do mundo, a lógica da 
				escrita instalou-se  com absoluta hegemonia" 
				(COUTO, 2011, p. 102). 
				  
				Desse modo, essa 
				"cultura que sobrevive à margem da escrita" (COUTO, 2011, p. 
				180), que é a oralidade, é um dos fundamentos estéticos - e, 
				nesse caso, também políticos - da prosa de ficção de Mia Couto. 
				Faz parte desse universo mítico e diversificado que encontramos 
				em sua literatura, quase sempre vinculado à noção de 
				moçambicanidade a que já nos referimos e como reitera, ainda uma 
				vez, Pires Laranjeira, para quem suas narrativas “colocam em 
				situação de exposição, confronto e análise as várias culturas 
				e crenças do homem moçambicano” (LARANJEIRA, 1995, p. 312).          
				 
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				 Considerações finais 
				 Tudo 
				o que aqui expusemos tem relação direta, como estamos 
				salientando desde o início, com a perspectiva pós-colonial, 
				presente nas linhas e nas entrelinhas do tecido narrativo de Mia 
				Couto. Realizando um estudo comparativo entre a ficção de Milton 
				Hatoum e de Mia Couto, por exemplo, Vera Maquêa destaca 
				precisamente o caráter poético da escrita deste último, fazendo 
				ainda considerações sobre seu vínculo com questões históricas 
				próprias da realidade de Moçambique nos seguintes termos: 
				  
				
				“falar a língua do colonizador e dizer a sua própria sempre se 
				constituiu no grande desafio para a formação das literaturas 
				nacionais, mas foi ao mesmo tempo a condenação e a redenção dos 
				países colonizados pela Europa portuguesa [...] a força da 
				escrita de Mia Couto, que a torna tonicamente singular, é a 
				perfeita conjunção entre o conteúdo humano expresso e a 
				percepção da língua que se junta à experiência histórica. A 
				diversidade cultura e linguística existente em Moçambique, 
				implicando variações no próprio português, convida a literatura 
				– ou a provoca – a discutir a dimensão política do convívio com 
				o múltiplo” (MAQUÊA, 2008, p. 169). 
				  
				 É 
				exatamente dessa dimensão política de sua escrita que estamos 
				falando quando a vinculamos ao universo teórico do 
				pós-colonialismo. Por isso insistimos: em Mia Couto, a questão 
				linguística relaciona-se diretamente a um complexo processo de 
				construção identitária, já que é por meio desse substrato 
				linguístico - que envolve, a um só tempo, as noções fluidas de 
				língua materna, de língua de cultura, de língua transplantada 
				etc. - que as identidades se perfazem no contexto histórico de 
				Moçambique, em particular, e da África lusófona, em geral. Nesse 
				sentido, o trabalho minucioso e criativo de reconstrução 
				estética do padrão linguístico do português moçambicano 
				passa necessariamente pelo reconhecimento dos limites e das 
				potencialidades da linguagem, encontrando seu sentido maior na 
				necessidade de, por meio da criação linguística, re-criar 
				identidades sequestradas por um longo, avassalador e cruel 
				processo de colonização. 
				Criar uma 
				palavra nova, nesse sentido, não deve ser visto apenar como um 
				ingênuo exercício de criação neológica, desvinculado de outras 
				práticas histórica e ideologicamente construídas, mas como um 
				ato consciente de transformação de uma realidade local que 
				responde - simbólica e factualmente - aos anseios de um povo em 
				se ver representado também em sua maneira de interpretar o mundo 
				à sua volta e se expressar. 
				Não existe imunidade 
				cultural, já afirmou uma vez Marc Augé, ao estudar, pela 
				perspectiva da cultura, a relação entre indivíduo e 
				sociedade (AUGÉ, 1996); do mesmo modo e com maior razão, 
				diríamos nós, não existe imunidade histórica: a história só se 
				justifica plenamente quando incorpora em sua prática (ou em uma 
				epistemologia, metodologia, axiologia etc.) o humano, sem o qual 
				perde seu sentido. Reconstruir a linguagem a partir das 
				injunções históricas determinadas pelo processo colonizador é 
				incorporar o humano na história, tornando, pela assunção de uma 
				linguagem que o identifica e com o qual ele se 
				identifica, o sujeito de sua própria história ou, em termos de 
				criação literária, proposto por Mia Couto, de sua própria 
				estória. 
				Para Mia Couto, o 
				processo de colonização não apenas impõe ao colonizado um 
				outro modo de falar - vale dizer, de utilizar-se da 
				linguagem verbal, ideia que, neste contexto, corresponde a uma
				outra língua -, mas atua também no sentido de sequestrar 
				ao colonizado a possibilidade e o direito de narrar, de contar 
				histórias, as suas histórias: "o mesmo processo que 
				empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa 
				condição comum e universal de criadores de histórias" (COUTO, 
				2011, p. 13). Instaura-se, assim, no continente africano como na 
				literatura ali produzida - em especial, na produção ficcional de 
				Mia Couto - uma constante luta para que a palavra não se torne, 
				no final, apenas um longo e inextricável silêncio. 
				Portanto, a questão 
				da linguagem, em Mia Couto, guarda em si mesma, como vimos 
				antes, um complexo vínculo com o poder, no contexto 
				pós-colonial; e com a manutenção - mesmo após o período 
				revolucionário - de uma colonização de fato, a situação 
				torna-se ainda mais complicada, já que, mesmo depois da 
				independência, sempre sobram os resquícios, sejam eles materiais 
				(a própria língua portuguesa), sejam eles ideológicos (o poder 
				que o domínio dessa língua representa). Trata-se, aliás, de um 
				domínio que, no âmbito do imaginário popular, ultrapassa os 
				próprios limites terrenos da realidade, interferindo no âmbito 
				metafísico da religião. É por isso que, ao questionar a forma 
				como se devia dar a entrada no céu, o narrador do conto 
				homônimo afirma: 
				  
				
				"Depois veja: eu não falo inglês. Mesmo em português, eu só 
				rabisco fora da cartilha. Já estou a ver lá o letreiro, ao jeito 
				dos filmes: welcome to paradise! E não mais saberei ler. Bem 
				poderão me conceder a palavra. É como dar um alto-falante a um 
				mudo" (COUTO, 2009, p. 78). 
				  
				Conceder a palavra, 
				na situação explicitada, torna-se inócuo, pois se trata de uma 
				concessão pro forma, feita apenas para cumprir regras e 
				protocolos, uma vez que de nada adianta oferecer um instrumento 
				sem que lhe seja oferecidas também as condições para utilizá-lo. 
				Língua transplantada, no contexto da colonização, o português 
				revela-se, assim, um idioma artificial, mais um instrumento de 
				exclusão do que uma maneira de ingresso no mundo dos direitos, 
				distorção que só poderia ser corrigida por meio de uma efetiva 
				política linguística. Na literatura, pelo menos, Mia Couto 
				desfaz essa distorção por meio de um "idioma" que, efetivamente, 
				resgata não apenas o modo de falar do homem moçambicano, mas 
				principalmente seu modo de ser: sua cultura, sua personalidade, 
				sua religião. Torna, assim, o seu "rabisco fora da cartilha" num 
				riscado dentro da existência... 
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				SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo, Ática, 1989. 
				 
				TAVARES, Hênio Último da Cunha. Teoria Literária. Belo 
				Horizonte, Itatiaia, 1984. 
				 
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				Doutor e Mestre em Letras (USP). Pós-doutor em 
				Literatura Brasileira (USP). Professor e pesquisador do Programa 
				de Mestrado e Doutorado em Educação e da graduação em Educação 
				da Universidade Nove de Julho (UNINOVE). Líder de pesquisa do 
				grupo Literatura e Razões Literárias (UNINOVE/CNPq). Membro do 
				Comitê Científico Multidisciplinar da Universidade Nove de Julho 
				(UNINOVE). Pesquisador do Centro Interdisciplinar de Ciência, 
				Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL). 
				
				
				 
				
				 
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