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George Seferis, 1900 –
1971, poeta e diplomata grego.
Prémio Nobel da Literatura em 1963.
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GEORGE SEFERIS
Dezasseis haiku
Tradução de
Francisco José Craveiro de Carvalho
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1
Deita no lago
uma só gota de vinho
e o sol desaparece.
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2
Nem um trevo
de quatro folhas no campo:
qual dos três é o culpado?
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3
No
jardim do Museu
Cadeiras vazias:
as estátuas voltaram
para o outro museu.
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4
São as vozes
dos nossos amigos mortos
ou o gramofone?
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5
Os dedos dela
sobre o lenço azul –
olha: corais.
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6
Pensativa
o peso dos seus seios
no espelho
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7
Visto-me outra vez
com a folhagem da árvore
e tu – tu lamentas-te.
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8
Noite, vento
a separação
abre-se e ondula.
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9
Parca jovem
Uma mulher nua
a romã que abriu
estava cheia de estrelas.
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10
Ergo agora
uma borboleta morta
por embelezar.
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11
Como se podem juntar
os mil fragmentos
de cada um de nós?
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12
Linha não rentável
Que se passa com o leme?
O barco anda às voltas
e não se vê uma única gaivota.
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13
Fúria doente
Ela não tem olhos,
as serpentes que segurava
devoram-lhe as mãos.
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14
Há um buraco nesta coluna:
consegue-se ver
Perséfone?
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15
O mundo afunda-se:
espera, vai deixar-te
sozinho ao sol.
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16
Tu escreves:
a tinta gasta-se
o mar sobe.
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