Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências . ns . #57. março-abril 2016 . índice



Luís Coelho. Terapeuta, filósofo, poeta, ensaísta, o autor tem dimensões várias difíceis de qualificar. A sua obra possui uma dupla componente de espiritualização do material e de psicanalização do Espiritual. Tem vários livros publicados. «Crítica da Razão Espiritual (...)» e «O Homem-Deus (...)» [ambos pelas Edições Mahatma, 2015] são os mais recentes.

 

LUÍS COELHO

Ruminando o princípio do mundo

 

Pelas redes sociais - esse epifenómeno [essa Realidade, virtual? Toda a Realidade concreta é virtual, e o virtual é concreto, definido - a definição é consumada de indefinições, ilimites -, real, tudo é real aos olhos do que observa o objecto delimitado - a delimitação é feita de ilimites e o ilimite é definido com recurso aos limites, necessidade da cognição, ai as palavras, estar entre o rigor e o belo - exigência de uma certa normalidade, minha ainda assim, dos meus fantasmas e experiências, do Superego - tu me obrigas e eu respondo-te, quero saciar-te, prestar-me no orgulho, ouviste mamã, ouviram homens desapiedados?, caminho, corro a contentar-vos, acabarei questionando-vos, exorcizando-vos, vós iniciais vossa própria destruição, reflicto, perco o juízo quiçá, desesperando o desespero, ponho-me em causa, auto-conhecimento?, vós quereis que seja tudo simplesmente, perder-me ou ser de tal modo que tudo e Nada serei?, porque se perco o Princípio, perco aqui a carruagem da vida, como o texto que se redunda certinho e sem risco, com as regras bem geridas e a beleza deste mundo, perder-me é tudo olvidar, o texto cessaria, mas como viver na Identidade e com justiça riscar todas as outras?, e cá estás tu de novo Superego, a querer Justiça, repreendendo a coisa precisa, e pensar que vituperas porque queres a adaptação, a concatenação do preciso ao Colectivo, mas o Todo é sobre-humano e vossa exigência deixa-me sem jeito, quero ser mas não devo ser e, no entanto, saber que se não deve ser não é ordem de deixar de ser, porque explicar não é obrigar, e se queremos o certinho direitinho é porque tu/vós - Superego - mandas e vociferas, e cá dentro fica paradoxo, aqui no texto até já deitei algo a perder - mas, veja-se, a sintaxe cá continua -, e verás que voltarei a isto mesmo sem querer, até que o explicar se esgote e tu fiques contente, explicar é andar e andar armando a rota, buscando descondicionar, mas o caminho para trás não cessa nunca, a Origem não se alcança, estaremos sempre no engano, na ilusão de um Princípio, que é Princípio mesmo assim, vamos rebobinando intentando a Causa pura (e é a Causa, a Condição, que se quer a si mesma, como muitas outras na tangência das possibilidades - mas se outra tivesse, este texto não existiria, porque esta Condição de agora é a da Condição da inCondição, a preocupação seria outra e as palavras não seriam tecidas, mas também aqui nos limitamos à probabilidade -, e, escrevendo este texto, bem que verifico ir parar sempre ao ponto de partida - talvez porque, não sendo Algoritmo, computador, a coisa não dá para mais, a máquina poderia fazer bem melhor, ah, mas eu quero assim, porque o "ir parar ao ponto de partida" é, mesmo assim, qualquer coisa parecida com uma realidade esgotada, resolvida (a mesmo obsessão humana de sempre) -, a viagem, o ser tudo, tudo isto está viciado pelo "Eu", o "Eu" que quer des-ser, e o des-ser é ser, onde esgotar a viagem, no Princípio dos Princípios, haverá "Princípio" temporal?, haverá, porventura, o que sempre houve, e, assim, difícil é definir a Origem, porque a definição vai sempre buscar outras palavras e estas outras ainda ad aeternum, como decidir onde parar, como forçar a satisfação? Desliga meu anjo, desliga ou ousarás loucura obsessão, e porque não tal inadaptação?, será só por ficar mal à vida lá de fora?), mas o puro é coisa vaga, todos se pretendem puros e originais, é vê-los no engano da Condição, grito-lhes convencido de estar principiando e eles não, mas eles pensam o mesmo sobre mim, que faremos quando começarmos a duvidar do Princípio nosso, para além dos outros?, começaremos a duvidar de tudo, dos sentidos, mesmo Razão - e a Razão é sentidos, emoção -, por vezes nem sei que diga, já me não tenho, já me perdi, não sei qual a minha opinião, queria não ter alguma, só o Silêncio é justo sem mais não, todavia penso isto e isso é ter opinião (e lá estou eu explicando, querendo o Princípio, mas este vale tanto como outro qualquer, o que quer que sejamos é sempre temporário, determinado e fortuito, está aqui - nunca chega a estar, o "estar" é mecanismo proximal da Consciência, de uma Escala de compreensão, deixa de se ver do mesmo modo noutra Escala - e logo deixa de estar, o que poderei ser verdadeiramente, a que me agarrar se todos os Princípios são válidos?, já estou preso aqui a qualquer coisa, mas quero matar essa coisa, matar a Consciência?, é po/a/ssível da Identidade a abstinência?, amar-me direis, é possível amar o que é limitado?, ah e o corpo-mente a massacrar-me, a reclamar o Ego, e o Ego a proferir que se não quer, na medida oculta de se querer, Que achas tu desta coisa?, tanto faz que ache ou desache, é indiferente e sem valor, e escreves assim tão difícil!, também isso me é indiferente, poderia ser de qualquer modo, e a indiferença é teatro, disfarce do Eu, e vou esgrimindo meus saberes, minhas referências, outro disfarce, deveria renunciar ao explicar, ao modelo, mas o apego, ai o apego e a programação), e está tudo bonitinho - e sigo um estilo, poderia ser qualquer outro, todos são irmãmente relevantes, todos estão justificados, este é resultado da Condição, agrada, mas outro agradaria também se se prestasse a seguir o pedido de dentro, e poderia pôr tudo de outro modo, seria "anárquico", diriam vocês, a desordem daqui é uma ordem, e ser sem Princípio, vazio, ai isso sim seria "estilo"!, mas cá me vergo pegado à mente, e ela vai rejubilando com umas coisas e não com outras, no dia a dia até vou refilando com isto ou aquilo que vejo e leio, digo não terem qualidade, mas teriam se o Princípio e os Critérios fossem outros, pensando bem têm qualidade ainda assim, porque uma vida permite todos os Princípios, é só abrir a mente, fingir a liberdade que não nos é acessível, essa liberdade seria condicionada ainda assim, tudo o que existe é Condição, coisa específica e relativa, ah e cá estou eu expondo minha filosofia, mas posso estar errado, pode ser outra a verdade, verdade?, não que há várias verdades, e estar aqui sofrendo é desusado, porque uma vale o que valem todas as outras, e logo sofro sabendo que só posso ser uma, e, mesmo dançando, continuarei a ser uma, bem que me torço e estico e continua a ser a verdade relativa, tomo disso consciência e sofro por não ser mais, e, voltando à vida, pareço deslocado, nem sei que dizer, todos pedem coisa precisa, e eu terei de fingir ser de qualquer coisa, desejo esquecer e prosseguir - isto quando o Ego não se põe com demonstrações, aí já pareço humano, animal inseguro fingindo segurança -, voltar a ser humano, animal da coisa única, mas se eu nunca o deixei de ser!..., mas é como se tivesse, mentira, é subjectividade falando, e que mal em ser coisa única, há que existir orgulho, o psyché ficará contente, antes ser algo determinado do que ser algo não sendo e tendo dúvida (mas se até minha Razão, todo o meu Sistema, é qualquer coisa dada!, ah admito! tenho cá minhas referências (mas também sou outras), pensadas é certo, mas sem a influência da Condição?, sem o toque do subjectivo?, sou justo, bem o sei, e, com justiça, digo que não sou justo, mas sou mais justo que os outros, mas ser "mais" é coisa que não existe!, e esta afirmação é justa?, não é Condição?, é "mais" objectiva que as outras?), ah mas a Culpa, que fazer desta Ética, desta Justiça que nos colocaram cá no córtex pré-frontal?, ser ou não ser, a questão intemporal, ser é melhor pela vida, não ser é melhor pela morte, e o que é ser melhor?, já dissemos que é tudo igualmente inútil, o Algoritmo mostraria qualquer diferença, mas ela perder-se-ia no Plano seguinte, face a um Absoluto maior, seria indiferente, não, direis vós, que ser e a vida são melhores, isso diz teu corpo, tua condição, socialização, não diz a Essência, ai "Essência"..., e isto não é criação também, Consciência Colectiva, Valor projectado?, a "Essência" é ficção necessária, mesmo não existindo existe aqui onde faz falta, tem de existir!, dizes tu que não podes viver sem o Universal, e eu mordo-te, é meu Ego agredindo, que a "Essência" é projecção, minha Razão vociferando, e a Razão é Ego corpo também, o corpo faz lá Valores, receitas, modos de viver, e são poucos os que isso vêem, felizes sejais!, mas eu cá estou no topo da montanha, ai!, não estou não, sou identicamente pequeno e aquela sensação é Ego reclamando, e reclama porque aqui a nossa Sociedade premeia quem pensa, se fosse "dionisíaca" seria diferente, o orgulho seria menor, e o orgulho traz sempre a ilusão, mas a ilusão daqui é a desilusão de outro Universo qualquer -, agradando ao outro mesmo assim -, do que me exijo e prazenteia, e o que prazenteia depende do "normal", do "Princípio", da experiência, do que se pretende oferecer (des)obrigado -, o conceito e o preceito, como medir o quantum de cada um, como precisar, comensurar, o que se agrega, o todo, far-se-á uso do Algoritmo?, para quê preocupar-me com tal, como medir a intrínseca apreensão?, e lá vem a apreensão com a apreensão, com a mensuração de tal aljube, ela é também prisão)] da mediocridade (menos medíocre a quem é útil?, útil ao quê?, como medir a utilidade?, a utilidade a que Plano de Consciência?, a que objecto?, existe o útil?, quando tudo é vão e obtuso...), esse vício de matar a solidão estendendo-a (a solidão é um estar acompanhado de inúmeros outros Eus e o Eu denuncia um oceano de alteridades) -, por meio da Imprensa - o que quer que isto seja -, circuita uma foto de um menino morto na empresa de se salvar (o nosso intuito mais fundo, pessoal, colectivo, o pessoal é o colectivo e este é o pessoal), as pessoas vão chorando - ou fingindo (tudo o que é real é fingido) que choram - a sua morte, gotejam a sua própria morte prevista - aliás, imprevista, porque impreparada, qual reduto de uma sobrevida (e o viver suplica igualmente a forja simbólica da morte) -, choram porque o mundo as manda chorar (senão o que o Contexto lhes inoculou/instruiu primitivamente), actuam com o sentimento hipócrita, se o mundo fosse outro, se a moral se consumasse diversa, destilaríamos por outra coisa qualquer, fabularíamos outro choro amordaçado (porventura histriónico), em tempos um menino morto não significaria coisa alguma (lembro também que, noutro tempo, o incesto, o adultério e a pedofilia contiveram significados bem menos "saturninos" do que os agora vigentes, de tal modo a Culpa, a consciência de um pretenso "crime", não se ultimaria da mesma forma, e o nível de "trauma" para a(s) vítima(s) (incluindo o suposto "vitimizador", também ele comummente vítima, tanto da Destinação epigenética/emocional/cognitiva/moral/contextual, quanto do julgamento do seu tempo - e os que julgam também são obviamente destinados, e, portanto, irmãmente justificados (e a sua justificação é mais lícita do que a do vitimizador, mas também esta suposição é vítima da Fortuna, do tempo, do Critério, o que faz com que não haja deveras algo mais legítimo que outro algo), como tudo o que "existe", tudo o que é "material", incluindo o "presentemente oculto", "futuramente desocultado", o adstrito a uma Escala de Consciência mais dilatada) - o recalcado - seria honestamente inferior) (não, fantasma meu - aliás, alheio, que o meu já o matei (?) -, não existe o intrínseca, reminiscente e Universalmente errado, o "errado" é projecção de cada tempo e/ou Cultura, os "Universais" provêm da "colectivização" de um Contrato e este Contrato provém da cabeça de uns poucos "influentes", "carismáticos", "cultos", projecção dominante dos fantasmas e caracteres corpóreos, como do ensejo soteriológico de preservação da sua expressão sobrevivente; pretendes fraquejar perante esta Realidade? - e é por isso que a negas contundentemente? -, os Valores não deixam de existir, as normas prevalecem, mas, claro, dentro de um qualquer Arquétipo convivem inúmeras normas, possibilidades, raízes, Condições, sublimações, e o conjunto todo é o da multiplicidade a querer adiar indefinidamente o (in)tempo do Uno, se isto te retrai ou desatrai é porque mexe com o teu próprio Arquétipo, oxalá fosses mais seguro, não te sentirias defender tão francamente), esses períodos retinham outros arquétipos, ninguém dá por isso, o sentimento - consequente à moral - deve camuflar, calar, a Razão, e eu, que o digo, sou autista psicopata imperturbável, deveria ser preso punido, sou o risco personificado, o Super-Homem a querer ser(-se) para além do outro, ah pois!, eu não sou pelo "outro", sou por mim, pela Razão, pela Verdade, não me trago no sentir fácil e "secular", sou objecto e Essência humanizada, estou para além da vossa Lei, das vossas cadeias, do constrangimento, mentira que eu também tenho cá meus desafios, minhas grelhas, sou distinto, inadaptado, feriram-me e por isso quero ferir, filo assim a Lei desprovida de leis, acrisolo nessa Ética que vos fende e crio a minha, ah, o que eu queria mesmo era estar para lá de qualquer Ética, estou aqui a pensar quando pretendia era não pensar, se fosse mais homem não pensaria decerto, mãezinha, castraste-me e criaste minha obsessão, e, assim, ensaiando ser procuro não ser, aqui estou tratando o meu paciente, vislumbro nele a Globalidade, mas poderia (con)ter outro modelo, poderia ser outro o paradigma, sou este porque o contexto me fez ser este (mas sou também de tantos outros), mas os outros têm razão também, eles são os seus contextos, como eu, e aqui a julgar-me melhor e maior, seria, decerto, se fosse além do modelo, mas o próprio pensamento prenuncia que quero segurar algo, que auguro ser qualquer coisa, e já me repito, não é? Concebo a postura no meu paciente e penso que também isto pode magoar, não tem esta pessoa de melhorar necessariamente, parte do corpo não quer a postura, mas o meu paradigma aleita tal demanda, e ainda lá para trás ia dizendo que não devemos ser paradigmáticos, deveríamos ser por tudo um pouco, flexíveis, mas o corpo requer a solução precisa, o modelo securizante (quando não pede o todo que é, ainda assim, a demanda da parte). E por que me ponho aqui a reflectir (n)esta postura, no acto terapêutico, por que me atravanco de escrúpulos? Pensar que ela pode magoar é desassossegar-me com a coisa, a pessoa, seria a Culpa a marejar se não fosse o Contexto finalista a (re)criar a contenda (racional) da solução. Queremos quase sempre esgotar a Realidade, estamos condenados a encontrar um Caminho, quando seria mil vezes mais atilado não procurar finalizar, solucionar, fosse o que fosse, porque nada é exaurível, o que aqui resolve ali desequilibra, o que hoje serve amanhã é inútil, e querer arrumar esta (re)solução não é mais do que satisfazer o Ego, a sua altercação, sua ordem de prosseguimento, mas se é tudo inútil, se marchar ou não marchar são exactamente a mesma coisa, se hoje dissolvo amanhã terei tudo perdido, se evoluo hoje tardamente encontro involução, tanto faz que a coisa vá ou não vá, isto é tudo só para agradar o outro, é para iludir o Eu, mais valia morrer ou matar, interromper o caminho, sua inutilidade, mas, se matasse, seria tão inútil quanto viver, assim mais vale viver, ou morrer, tanto faz onde fina o ciclo, o pior mesmo é querer findar a ordem da inquirição, da resposta, contudo, se vou pensando, se vou escrevendo, é porque quero esgotar alguma coisa, cavar o fim de qualquer coisa, mas se o fim não existe, sabendo que tudo é inútil, gostaria que a Razão fendesse a ordem do Corpo, da outra Razão, a Razão existe para fazer o corpo sobreviver, mas a minha Razão foi mais longe e diz que esse perdurar é frustre, estapafúrdio, ponderado seria des-racionalizar, andamos anos na escola a atulhar a cabeça de receitas (e sem elas não teríamos Estrutura, cognição edificada, elas escravizam-nos, como o que escrevo, sempre na clausura de um Princípio pessoal, inelutável), mais valia o selvagem (então e a Civitas, a sua candura?), o despojo do Princípio, mas mesmo esse não é vazio totalmente, ele já lá contém rendas, regras, termos, é impuro bem pensando,... que se mexo, se curo, estou a interferir, queria não toldar, e, meneando aqui meu paciente, vou cuidando que toco, auxilio, e que isto é mor desordem, terei o direito de me interpor, de acometer a normal evolução (evolução não, transformação, ou nem isso, na visão dúplice, nada muda ou parece mudar)?, e, no entanto, isso aconteceria com ou sem meu receptáculo, a ingerência é natural, a Razão é nata, mas isto é tudo sem Sentido, porque mexa o que mexer haverá sempre mais a mexer, melhore o que melhorar haverá sempre algo melhor (Oh tolo!, não há "Absolutos", não me ouviste ainda? Absoluto é não havê-lo! Absoluta é essa coisa de tudo se dividir indefinidamente, parar é achar satisfação, mas essa é também sensação de limites indefiníveis - focando, a sensação desmembra-se em sensações insatisfeitas, múltiplas gerações de impulsos, e os impulsos também se desmembram -, a ansiedade, a dúvida, é esgotada pela compulsão, mas o que esgota ou fina a obsessão?, pôr-lhe um termo, como?, quando?, barreiras, quiçá possamos decidi-las como deus, demiurgo, de grafias psico-logóicas, e o que/quem decide as barreiras do deus?), no futuro este paciente será tingido pelo milagre do "comprimido" perfeito (temporalmente imperfeito, e perfeito até que este passe pelo imperfeito de um perfeito mais vasto; perfeito para quem?, a perfeição pode ser a maior das imperfeições, o humano imperfeito é sempre apetecível, na medida em que ele configura um porvir, qualquer coisa inacabada - mas feita de múltiplos tempos acabados - e relativa - uma pluralidade de absolutos - a augurar ser prezada, por outro lado, o imperfeito é sempre singular e irrepetivelmente perfeito, atesta a sua unicidade), ele extinguirá sua carência (temporalmente, a um nível presumivelmente parcial), sublimará novel Absoluto (ah!, entre o de agora e o outro não há fronteira, distância, há dízima, Infinito, e não há "novo", tudo lá está - sempre lá esteve -, trata-te tão-só de ver ou não ver, o preâmbulo iniciático de uma viagem sem tempo, escalar, perspectivística, no Eterno Agora), e eu far-me-ei desnecessário e excrescente (serei sempre requerido ao tempo, ao pretérito), mesmo este discorrer, pretendendo-se arte supergóica, fá-lo-á o computador (se bem que parte de mim não quer aceitá-lo, ai o romantismo, a vicissitude do Espírito, nele me desnudo, nele vogo com toda a docilidade, sou eu mais este que qualquer outro, é ele minha Certeza, a Certeza do mundo, da representação, da salvação, que faríamos sem Ele?), e sabê-lo não é em mim e para mim seriação de desistência, há algo que vai gritando do Ego a flatulência (busco-me Eterno, já o Sou, não o entendo, patetice!, a morte e o nada são necessidade, garantia de cronicidade, quero-me lembrado e esse querer é buscar a paz de agora, o Princípio, o Passado e nele o futuro, e, assim, o Presente, o Eterno Presente, o aqui e agora sensitivo, granjear o Espírito é procurar deixar de o ser, é buscar a orgia dos sentidos, é querer o instante desmedidamente impensado, o espontâneo multiplicado, ininterrupto, tomisticamente perfilhado), a discrepância, a sua consciência, é insuficiente, dizes tu, o outro Eu (e o Eu-tu é um conjunto de outros), que o computador nunca fará disto, ele é máquina não é Espírito, ah aselha!, o Espírito é carne, complica o circuito e terás Espírito na máquina um dia, não será para já mas será lá para a frente, não queres ouvir-me, concordar?, fica lá com tua asnice, que eu sei bem que estou correcto!, sou Ego petulante?, pudera todos serem Egos assim errantes, há mais Espírito no meu nihil que nesse romantismo trôpego que te comanda (é o sentimento o corpo a fé esses teus comandantes, dir-me-ás, fantasma, que existe Espírito sobrenatural, meu espelho natural resplandecente, és-me, está aí pessoa minha, minha parte amolecida e dura objectiva, surgis-me aqui na nostalgia, da vida, do Sopro, e eu a querer mandar-te embora, és espectro de outro mundo, de outra vida), ah, mas eu também tenho desse espírito, esse romantismo, gozo desses livros, dessas capas amarelecidas, mas a Culpa, esta Consciência superpotente, não me deixa aí estacionar, impede minha felicidade, minha ilusão de coisas belas, é saber o porquê das coisas e elas tornarem-se subitamente menores, sem interesse - porque racionalizadas pelo Corpo travestido de Razão, uma Razão de carne amordaçando a do Ideal, uma Superconsciência feita da Verdade, mais que a moral, mas a Verdade é sempre um pressuposto da moral, não, que a Verdade pode matar a moral -,  lembra o imoral, para quê ser bom, para quê carpir a criança morta, por que agradar, se sei que é tudo corpo, que os Valores são projecções, podiam ser outros e a coisa seria por inteiro diferente, sabendo que a carcaça, a emoção, manda em tudo isto, deixo-me cair sem forças, diluindo-me sem sentido no sem Sentido, poderia até ser mau, ou bom, tanto faz, mas isto do "mau" e do "bom" são julgamentos, subjecções, não existe nada disto, e estar para além disto é também inexistência, o que quer que exista para além deste mundo não me chega, não posso sabê-lo e isso range-me por dentro e por fora, vou pensando tudo isto enquanto desloco o membro do meu paciente, e fico quase sem forças - a vontade periclita -, para quê ajudar a armação, de que serve a terapia, até o sofrimento é útil, "útil" ou "inútil"?, ah mas isso é também tudo subjectivo, útil ao quê?, ao crescimento?, para onde?, e para quê?, se o crescimento gera decrescimento, se o andar é um desandar (e o "desandar" andar é), e esta verdade é uma entre tantas outras, na décima e meia de segundo ao lado, no milésimo centímetro (de Consciência) para cima, a verdade é já outra - quiçá a fronteira entre o irrazoável e o razoável, entre o inverosímil e o verosímil, possa ser assim tão volátil, tão inacreditável, tomisticamente, miúda, mas o "pequeno" é grande na percepção do mais pequeno -, e ela é tão útil quanto a "outra", inútil assim ou assado, aqui ou ali é indiferente, vamos todos vivendo, lutando, opinando, todos temos ideias de desenvolver, mas haverá sempre outro modo, uma luta que falta, e não falta porque todas elas se perdem nesse caminho infinitesimal da Consciência, vamos caminhando sem Destino, e o Destino é o argueiro de um Destino maior, as vias vão-se abrindo sem conclusão, se houvesse uma morreríamos colapsados na certeza de qualquer coisa, ah não!, há Universos tangentes sem finalização, Escalas de Consciência fluindo por dentro e por fora, e a nossa voz não chega a Eco sequer, e, no entanto, por causa dela pode tudo mudar, mas esse efeito não muda nada, tudo é o mesmo, o mesmo inútil de sempre, vai ali o taumaturgo fazendo milagres, ele quer o milagre de si mesmo, quem cura quer curar-se, quem ajuda quer ajudar-se, quem procura quer encontrar-se, é Ego e nada mais, vai ali o ministro, o presidente, cortando fitas, é Ego e nada mais, ai, mas o milagreiro é menos Ego que o ministro, existem prioridades, uma Escala de Valores, existe o quê, é tudo o mesmo, é tudo Ego em diferentes condições, aspectos discrepantes, representações e respeitabilidades dissemelhantes, mas, sendo muito distintos, são iguais ainda assim, à lupa parecem diversos, noutro Plano de Consciência são exactamente a mesma coisa, o que corta a fita tem lá outras raízes que o milagreiro, mas lutam os dois pelo mesmo, é a sobrevivência, e o resto é só aspecto, Escala de Valores?, isso é tudo construção, noutro mundo o ministro seria melhor que o milagreiro, e, no entanto, prefiro ser terapeuta a inútil politiqueiro, ai a defesa, sempre a defesa, sempre a Condição a amamentar-me, sei que é tudo estúpido mas fugir do que dá nas vistas, do que é ou não respeitado?, nem pensar, que eu tenho de viver em Sociedade, vou ali ajudar meu paciente, fica bem a orfandade, ninguém quer Razão indolente, coisa sem ética, ciência sem moral, mas isso é querer o humano onde ele não deveria estar, mas há ciência sem humano?, aselha!, nada existe sem pensamento, um pouco de tudo tem lá o seu tormento, isto é tudo um desatino, queremos justiça, penso eu, queremos tudo arranjadinho, isso é tudo aspeito, não há Justiça pura, sempre haverá algo a ser melhor, mas se todos pensassem assim onde iríamos parar?, ao Vazio decerto, uiii!, nunca disse que estava preocupado com o Homem, estou a ver origens, verdades, razões, e não morais, que isso é tudo criação do tempo, a pensar assim ficas só e sem amigos, mas se eu não estou a falar disto aqui, eu estou bem além dessa tua moralidade, no outro mundo não há sós nem amigos, há qualquer coisa mais, bem, na verdade, há o mesmo de sempre, um caminho e novo Espírito projectado - será? Lá está meu "Espírito" a litigar, querendo certezas, projectando, imaginando, quando é tudo pouco mais que nada e dúvida -, dizê-lo é que não agrada a muitos, bem vendo nada disto vende ou pode fecundar, mas ser popular é indiferente, e lá vou explicando buscando eternizar-me, vou pensando escrevendo gravando, ai a hilaridade, mais uns anos e isto estará esquecido, no outro dia pensava em Auschwitz, na Ideologia, pouco depois da guerra muitos quiseram julgar os "infractores", mas se esses "maus" de agora eram os "bons" daquele tempo, eles fizeram o que era natural para si e para os outros, julgar o que muitos não entendem ser crime, e se entendessem?, julgar no modo de vingar?, mas não deveríamos, porventura, julgar a Civilização inteira?, mas a Civilização são tempos, morais diversas, e quem julga é limitado, tem lá sua moral, a não ser que seja conjunto diverso de Princípios, julgar a coisa diferente com o aparelho indestinado, isto faz lá sentido alguma vez, podes julgar mas haverá sempre algo a julgar, podes ser herói mas serás olvidado bem depressa, nada disto tem Sentido, mas querer o Sentido é querer a finalização de qualquer coisa, ora não há fim seja lá do que for, isto é tudo a fluir sem terminação, haverá sempre crime, mal, e outros tempos onde este crime, este mal, já não o serão, haverá sempre carne e julgamento transformante, projecção de sanguinários que o não são em outra aldeia, ah, dizes tu, como podes viver com a tua consciência?, essa pergunta és tu a querer viver com a tua, porque a minha é bem diferente, é um pouco sem tempo e sem ordem, se a minha consciência é diferente, se o meu Princípio é outro, viverei de modo divergente, poderia ser tranquilo e a matança mesmo ao lado, como os animais, nós somos esses mesmos animais, houve quem criasse Cultura, Educação, viesse fermentar a violação, Ora nós somos animais, o resto é artifício, e mesmo que ele não existisse haveria sempre artifício, assim como existe o "relativo", nenhum selvagem pode ser selvagem em absoluto, verdade assim como o homem não podendo ser racional em absoluto, não sei se é uma verdade equivalente, será possível medir tal coisa?, medir, obsessão de agora, talvez haja aí o Algoritmo capaz de fenecer alguma dúvida, mas haverá sempre outros níveis, outras Escalas, outros Universos, outros Divinos, muito para além de sons e matemáticas, bem além de linguagens e esgares múltiplos, e eu aqui agarrado à gramática, preso ao tempo, à forma, à porcaria, outros dirão "a tua escrita, isso não é arte", ai e eu sei lá o que isto é, arte loucura putrefacção, pode ser arte ou mais não, dispõe do critério e tudo será o que quiseres, e eu a querer fazer qualquer coisa livre, livre?, isso é coisa que não existe, escrever assim ou sem regras, queria ir além, mas isso só cá dentro na minha caixa, que dando à estampa qualquer coisa livre não haveria modo de perceber, de agarrar um Sentido, de agarrar fosse o que fosse, vós não entendais, dais o prémio, o reconhecer, ao que afirma o que quereis ouvir, e eu não quero ser ouvido, quero ser desprezado, quero ser ouvido, menosprezado, quero gritar essa Injustiça, e vós diríeis que eu tinha dito que é tudo relativo, não há Justiça, ah!, mas para vocês as regras são diferentes, falo-vos na vossa linguagem, a minha é estranha ao habitual, falo com as peças, a massa, do estrangeirismo. Sou anti-social, ai pois sou, se quero estar além do social... Dizia ali a miúda, tu não tens princípios, não assumes uma posição, não, eu assumo a posição de não ter posição, que eu bem queria ser por tudo e por todos, que todos têm razão, mas, tentando, não ser, lá vou sendo ainda assim, e dizia a miúda que mais cedo ou mais tarde teria de escolher alguma coisa, fá-lo-ei como o vento?, como a roleta?, mas a roleta possui seus defeitos, está viciada, não querer escolher é ter escolhido, mas ela tem razão, que nesta tentativa de não ter Condição, fico muitas vezes sem jeito, sem ter que fazer ou o que dizer, se disser algo terei de afirmar alguma coisa, e eu não quero afirmar, quero negar antes de tudo, e nem isso eu quero, poderia ficar calado, mas aí lá vem a outra chamar-me palhaço, Sê um homem, assume uma posição, defende alguma coisa, Eu, ter de crescer dessa maneira?, deixa-me lá ser criança, ainda no ovo imaculado, antes de nascer já defendia a melhor colocação.

 
 
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