Há já muitos anos,
talvez desde que li os livros de prosa de
Fernando Pessoa dedicadas ao social e ao
político e
A Arte de ser Português, de Teixeira de
Pascoaes (numa edição de 1978, de Edições Roger
Delraux, reprodução da 2ª. edição, de 1920, mas
com anotações e correcções inéditas
do próprio autor, sendo a de 1920 uma
cópia integral da 1ª. edição, de 1915), há
muitos anos, dizia, que penso que uma
“democracia” de fanatismo partidário não vai a
lado nenhum – é o que se tem visto. Por mais
voltas que se lhe dê, o funcionamento da nossa
“democracia” tem sido uma embrulhada palavrosa
que nos vai embalando, entre ser e não-ser, sem
chegar ao destino da perfeição onde a esperança
ainda se alimenta. Nem vale a pena bater
argumentos contra tal sistema. Vou apenas basear
o raciocínio nos seguintes pontos fulcrais:
1º. – o Mundo está em
mudança, em variados aspectos que influenciam a
governação de qualquer sociedade e não se vê que
os
governantes dêem por isso; quase apenas vão
gerindo o dia-a-dia, arrastando decisões de
fundo, necessárias e urgentes, esquecendo que
também na Política tudo tem que, e vai, mudar,
queiram eles ou não queiram; há quantos anos
ouvimos falar na reforma da Administração
Pública, na reforma da Justiça, na reforma de…?
Tudo palavras de nos embalar, com que nos mantém
adormecidos. Espe- ramos nem sabemos o quê.
2º. – “esquerda” e
“direita”, seja lá o que isso for hoje em dia –
e temos visto como pairam, se desvanecem e
diluem… até uma na outra –, têm,
impreterivelmente, que conciliar esforços, em
benefício do colectivo e, evidentemente,
harmonizando os interesses dos patrões e dos
trabalhadores, uma vez que não existem uns sem
os outros, desaparecido que foi, há muito tempo,
o conceito de escravidão laboral tornado
necessidade (necessidade declarada mas nunca
provada, a não ser pela ganância de maiores
lucros); tudo isto me parece lógico, necessário
e urgente; não o ver é chover no molhado, é
prometerem-nos mais do mesmo;
3º. – temos duas pernas
e dois braços (“esquerda” e “direita”): tentem
andar só numa perna; claro que conseguem, mas
todo o dia, todos os dias? E os braços não têm
que actuar em conjunto para efectuarem quase
todas as tarefas?
4º. – as ideologias
estão ultrapassadas
– deram o
que tinham a dar, mas foram experiências
falhadas, por todo o lado; em alguns países
disfarçam bem a sua fraqueza… através da força.
***
Triste espectáculo a
que assistimos quase diariamente, a ver
governantes e oposição em permanente troca de
atribuição de responsabilidades, por vezes
insultando-se, nos jornais, na TV e na
Assembleia da República!
Se não se respeitam,
como querem que os respeitemos?
Com essa atitude só
desvalorizam o que, mal ou bem, vão fazendo.
Além do mais, dá ideia de que perdem mais tempo
nessas questiúnculas, típicas de meninos mal
comportados, que não levam a nada construtivo,
do que a planear o futuro e a resolver os
problemas que diariamente enfrentamos. Parece
terem prazer em complicar tudo. Para se
eternizarem no poder?
Por favor! Aprendam a
tornar simples o que parece complexo; não
compliquem o que de si é simples!
Gastam em demasia do
que é de todos (devia ser), consigo e com os
amigos partidários (até com os opositores
políticos, do género coça-me as costas que
depois coço-te as tuas); gastam o que temos e o
que não temos (por isso os empréstimos) e
deixámo-nos chegar a esta situação presente,
mais uma vez. O modo como iremos sair deste
imbróglio irá determinar o que quisemos ser (por
acções concretas ou por inércia).
Sim, ou não, queremos
ser um Povo a levar uma vida decente, sem
sobres- saltos?
***
É tempo de mudança!
Somos forçados a
descobrir uma forma de nos governarmos sem
partidos (ou com todos eles dando o que têm de
melhor em material humano), criando instituições
de controlo e de coordenação realmente eficazes.
Portugal não terá uma
palavra a dizer? Um Povo imaginativo e
aventureiro como nenhum outro, não terá que dar,
também neste aspecto, um exemplo de ir na
vanguarda das realizações?
Espero que o faça.
O Povo, em Portugal,
em Espanha e na Irlanda, por exemplo, deu
recentemente mostras de ter pressentido essa
necessidade (a da conjugação de esforços) e, na
prática, pelo menos em Portugal e Espanha,
obrigou os partidos a encaminharem-se nesse
sentido, por mais distantes que pudessem parecer
uns dos outros.
O Futuro aguarda-nos.
Monte Abraão, 12 de
Março de 2016
Julião Bernardes
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