Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências . ns . #57. março-abril 2016 . índice



Francisco José Craveiro de Carvalho  (Portugal). Licenciou-se em Matemática na Universidade de Coimbra. Doutorou-se, mais tarde, com uma tese em Topologia e  Geometria, sob a supervisão de  Stewart Alexander Robertson, Southampton University, U. K.. Assume uma posição de alguma marginalidade em relação à divulgação daquilo que escreve. Traduziu poemas de Carl Sandburg, Jane Hirshfield, Jennifer Clement, Linda Pastan, Rita Dove..., publicados em opúsculos discretos, que circularam entre  os seus amigos.

 

FRANCISCO JOSÉ CRAVEIRO DE CARVALHO

A Rua de Hopper

(excertos)

 

A Rua de Hopper

 

Estou fora uns tempos. Quando volto

moro já numa outra rua.

Nesta rua não há vizinhos.

O envelhecido ramo da salsa

é a história estranha dos dois

 

que vivem  no andar por  cima

como a hora a que passa o carteiro

é a aquela  a que se levanta

a amante usada do  doutor.

 

As pessoas claro  cumprimentam-se.

Se ao sábado vão  ao mercado

ou se saem a correr já atrasadas

para ir apanhar o alfa pendular.

 

Pode hoje  ser domingo de manhã.

Mas mais perto ou mais longe

não acredito que alguém

esteja a ensaiar um solo de flauta.*

 

 

 

*John Stone 

 

Miss Sharapova to serve

 

Maria Sharapova serve agora

para fechar o encontro.

Alguma coisa se desarticula entre

 

ombro braço  ao ar a bola.

O seu jogo intenso e sonoro

devora depois o campo.

 

Olhos de príncipe agressivo

Maria não ganha sempre.

Tinha ainda esse encanto.

 

Depressa

 

A meta

a pouca distância

Shane Gould

é terceira.

Braços finais

vão crescer

e erguê-la.

 

Não foi ontem

sabemos que.

Mas foi há tanto

assim o vento

que espalhou cinzas

desse setembro?

 

Neil

 

O começo está num casal de amantes

desavindos num poema

num café de estação algures em França.

Que eu lhe roubei

como ele me deu outros.

 

Ver-nos-emos amanhã pela segunda vez.

A continuar o diálogo inicial interrompido

passaram anos.

 

Fôramos à Tate para uma exposição.

Deixámos a tarde no bar

a falar de coisas  que dão ao outro fios pequenos.

Como o azeite.

 

Voz

 

A sua voz era severa.

Austera como um átrio.

 

Anos haviam de vir

encarregados de a rasgar.

 

Afago hoje da minha

a este canto de  lembrarmos.


 

Mão

 

Perdeu o pé e já submerso

lembra-se de pensar

tão novo ia morrer tão cedo.

 

Depois e claramente

o toque da mão

que o levou do fosso.

 

Até hoje

não a encontrou

em nenhum outro troço.

 

 

 

(para o Jason)

 
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Dir.
Maria Estela Guedes
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