Estrela da manhã e Libertinagem
manuscritos,
viagem de circum-navegação elíptica:
além do Recife, Rio, Santos, São Paulo e Rio;
até chegar a Totônio Rodrigues e a rua da União.
¿Que fazia aquela noite
-poesia e música da mão, pintura e poesia
caminhando juntas-
Bandeira, no Sertão, diálogo afetivo
com um escritor espanhol e uma
pesquisadora capixaba?
Pergunto,
que fazia aquela noite,
farto do lirismo comedido
farto do lirismo bem comportado,
do lirismo funcionário público,
desejando ser um poeta crítico e selvagem
peixe emergente das águas abisais
fera nas interioridades selváticas?;
que fazia essa noite no Sertão,
-sorriso insatisfeito, mitológica olhada,
autocrítica memoria-
em aparente atitude latifundista?
Sonhava eu o sonho de sempre:
a humanidade satisfeita de suas coisas,
os açambarcadores devolvendo o comum;
o sonho era meu e Bandeira o habitava:
Abaixo os puristas!
Abaixo o lirismo namorador!
Abaixo o lirismo que capitula!
Sento ainda o eco de suas palavras
no pavilhão de meu ouvido
esquerdo
-o direito
ouve distorcido-
e me somo a seu protesto, praça acima,
cenáculo literário abaixo:
Não quero mais saber do lirismo
que não é libertação.
Um sonho de liberdade e de justiça
distributiva,
o sonho dos representantes
servidores dos representados,
era meu sonho aquela noite no Sertão.
Discutíamos Ester Abreu e eu
sobre alguns aspectos confusos
de Dom Juan, baixando
aos infernos para surgir de novo:
andrógino,
triunfante,
celestial.
Desenvolvia-se o sonho,
intemporal ou com os tempos misturados,
num Sertão imaginário
que era a soma
dos Sertões de Euclides da Cunha,
Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Jô Drumond:
aridezes existenciais, aleph, vidas secas,
horizonte além do horizonte,
utopia.
E se sucedesse: pensei um instante: que
Pasárgada
ocupasse um extremo imaginário do Sertão?,
o correspondente à Utopia, exempli gratia;
ou ao exoplaneta Gliese 581 g
onde a felicidade pende dos galhos nos arboles,
sendo o ar maná alimenticio;
e Manuel chegasse alí
num momento de fundo desânimo,
desde a casa da Rua do Curvelo
no interior da ânfora de sua tristeza mais
triste:
Não sei dançar,
meu verso é sangue,
cai, gota a gota do coração...
Grita, ri, vive!: exclamei: Manuel Bandeira;
alegra-me que coincidamos na função liberadora,
detersoria,
da poesia.
Fica a vontade no meu sonho sertanejo:
convidei:
não a Veneza americana
não o Recife dos Mascates,
neste Sertão de Sertões gris e gélido,
vozes simbolistas, parnasianistas, modernistas
sequedade na garganta,
imaginando com Ester e comigo
o triunfo último de don Juan
convertido
em fêmea
feminista.
Vou-me
embora para Pasárgada:
disse,
mãos nos bolsos vazios,
olhada displicente:
poesia ao serviço da imaginação.
E vi-lhe marchar ao longe, sonho adiante,
convidado por Baudelaire,
quando a ilusão acordava em mim
e os livros se fechavam:
correção do professor Veríssimo:
Capibaribe!, Capiberibe!
PSdeJ
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