Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências . ns . nº 56. janeiro-fevereiro 2016






José Roberto Baptista
(Brasil). Editor da ARTE-LIVROS Editora. Foi professor universitário e Diretor-Acadêmico de tradicionais instituições de ensino superior em São Paulo. É estudioso da fenomenologia parapsicológica e autor, entre outros, do livro Introdução ao Estudo da Parapsicologia (Arké, 2007), além de já ter escrito vários artigos sobre o tema. Dirigiu o IEP-SP - Instituto de Estudos Psicobiofísicos de São Paulo voltado, exclusivamente, ao estudo e ao ensino da Parapsicologia.
 
JOSÉ ROBERTO BAPTISTA

A Telergia no universo dos fenômenos parapsicológicos
de efeitos físicos


Duas classes de fenômenos, divididos didaticamente em dois grupos, são estudados pela parapsicologia:   

1. fenômenos subjetivos;

2. fenômenos objetivos[1]. 

Os primeiros são fenômenos de conhecimento, puramente intelectuais. Neste grupo, os mais estudados são a telepatia, transmissão extrassensorial de "pensamentos" e emoções e a precognição, conhecimento antecipado de fatos futuros. 

Os segundos, fenômenos em que há uma ação direta sobre a matéria, aparentemente sem contato físico, ou com contato físico insuficiente, além de uma variada gama de realidades tangíveis, com livre acesso pelos nossos sentidos. Neste grupo podemos citar os variadíssimos fenômenos de telecinesia.

Cabe observar, contudo, que tal divisão supre apenas uma necessidade didática, uma vez que os limites entre as duas ordens de fenômenos são por vezes incertos. Mas, tal divisão faz-se útil, uma vez que grandes dotados parece terem se especializado numa ou noutra classe e, também, porque os meios de investigação de um e outro grupo exigem comportamentos metodológicos diferentes. Neste artigo nos ocuparemos do elemento que, sob o ponto de vista da parapsicologia, sempre está presente nos fenômenos de efeitos físicos: a telergia.

Estamos nos referindo ao "fluido" ou "força" ou, ainda, "energia sutil", que parece emanar de determinados dotados e exerce, independentemente de algum princípio físico conhecido, uma influência sobre os objetos materiais e possibilita uma gama variada de fenômenos observáveis.

Podemos associar essa força a uma miríade de nomes ao longo dos anos. Tomemos por referência Oscar González-Quevedo.[2]

Franz Anton Mesmer propôs no século XVIII o nome de fluido magnético em sua teoria do magnetismo animal. Bailly, em 1868, admitia a existência de uma força nêurica radiante. William Crookes, na segunda metade do século XIX infere sobre uma força psíquica. No começo do século XX (1930/1) Osty, tentando fotografar os fenômenos de telecinesia, referiu-se ao fator X, ou metergia. Ferdinando Cazzamalli apresentava em 1927 os resultados de sua pesquisa em que admitia os efeitos curativos do que chamou de Antropoflux  ou fluido humano radiante, que designou com a sigla "R". Blondot falou de Raios N. Ainda outros nomes podem ser encontrados ao longo da história.

Em parapsicologia chamamos essa força de telergia (tele = longe; ergon = ação, trabalho), uma exteriorização e transformação de energia somática para a realização de um determinado trabalho.

Essa energia, emanada do corpo de alguns poucos e raros dotados, parece ser material, física. O russo Younevitch comprovou que a telergia (ou raios Y) emanada de certos dotados atravessava chapas metálicas com um poder de penetração superior ao dos raios X e ao dos raios gamma do rádio. A telergia atravessava até chapas de chumbo de três centímetros de espessura, colocadas a um metro de distância do dotado em transe. Chapas espessas a uma distância notavelmente maior, não eram atravessadas. [...]

Isto nos mostra que a telergia possui uma grande penetração e nos mostra também que é material, dado que se lhe pode opor obstáculos materiais.[3] (GONZÁLEZ-QUEVEDO, 2000) 

Os efeitos produzidos pela telergia vão desde ações mecânicas, que agem sobre os objetos produzindo ruídos ou deslocamentos, classificados dentro do grupo das telecinesias, até a dissociação da matéria, passando pelas ações de ordem física ou química, tais como fenômenos luminosos, térmicos, etc.

Tal força, contudo, como observado por William Crookes (1832-1919), não é uma força cega, ou seja, sempre há uma vontade, uma intenção por trás dela, uma vez que parece agir sempre no desejo de atender a um determinado fim. Nesse sentido, portanto, psicofísica.

Crookes, inclusive, em Recherches sur le spiritualisme, citado por Sudre[4] (1996), já destacava o caráter de inteligência e de finalidade nos fenômenos de efeitos físicos. 

Desde o começo de minhas pesquisas, constatei que o poder que produzia esses fenômenos não era simplesmente uma força cega, mas que uma inteligência o dirigia, ou pelo menos lhe estava associada. (SUDRE, 1966, p. 276) 

Contudo, essa "força", essa "energia sutil", emanada do corpo do dotado, nem de longe foi consensual entre os pesquisadores, ao longo da história. Pouco mudou a esse respeito. Muitos a negaram simplesmente. Outros atribuíram a constatação de tal energia a incorreções metodológicas, falhas na observação e outros, ainda, a puro charlatanismo, fora as incansáveis discussões sobre a natureza espiritual ou material de tal energia.

Estudos recentes[5], embora pouco divulgados, começam a surgir e apontam para aspectos que sugerem a presença de "energias sutis"[6], capazes de influenciar a matéria. Apontam, nesse sentido, vale dizer, às conclusões dos pioneiros das pesquisas psíquicas.

Essa energia, observada, inclusive fotografada pelos primeiros metapsiquistas[7], associada ao complexo psiquismo humano, é o elemento presente e necessário para a realização dos fenômenos telecinéticos, estudados pela parapsicologia. Numa palavra: a telergia.

[1] Por não existir uma nomenclatura oficial em parapsicologia nos limitaremos, para os propósitos deste artigo, a dividir os fenômenos  em subjetivos e objetivos, sem prejuízo de outras possíveis formas classificatórias.

[2] GONZÁLEZ-QUEVEDO, Oscar. As forças físicas da mente. Tomo I. São Paulo: Loyola, 1992. p. 21-60.

[3] GONZÁLEZ-QUEVEDO, Oscar. O que é Parapsicologia. São Paulo: Loyola, 2000.

[4] SUDRE, René. Tratado de Parapsicologia. Trad. de Constantino Paleólogo. Rio de Janeiro: Zahar, 1966

[5] Ver, por exemplo, a dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: Avaliação de efeitos da prática de impostação de mãos sobre os sistemas hematológico e imunológico de camundongos machos, apresentada pelo pesquisador Ricardo  Monezi Julião de Oliveira.
In
www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/.../RicardoMoneziJuliaoOliveira.pdf - Acesso em 18 de janeiro de 2016.

[6] Formas de energia não reconhecidas pela física.

[7] Os termos, Pesquisas psíquicas, Metapsíquica e Parapsicologia são utilizados, neste artigo, como sinônimos. 

 


 
 
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