Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências . ns . nº 56. janeiro-fevereiro 2016



FILIPE DE FIÚZA


Versus diarium

Excertos Angusti Folia – Versus Diarium
(2º obra publicada em 2010)

 

Tu de nós somos e eu de tudo ninguém

Querer de ontem nosso e de hoje também

Adormecido no que enternece de esquecer

De amar ante o louco só de ser

Espiritual encontro nentre planos diversos

Facto pelo porque no coração de racionalidade

Fantasmas índios do oriente em estridência

p.27

 

Sonhas com o ímpeto de mal-bem

Donde a valsa concria dorial de sem-dita

Dos tempos de vaivém à toa incônditos

Lauta rímula provemos disparates

No rossio dos esquizonautas de brilhar

E ou e nada mais que tu e eu ou e

Os piros de pessoas nas manhãs ininterruptas

p.54

 

Portento nascer em vasa morta

No constante passar ilidível da vida

Fervendo no espavento romanesco das causas

Como aliás inimigos animais de outros mundos

Será que choras ou ris de nós

Para lá das nuvens e das explosões olímpicas

Menoscabe a fatuidade da grande utopia

p.63

 

Porque revolveste o sangue das mumias cegas

Na presciência do um amor atrabiliário

Redúvias geométricas embiocam pedras de música

Não-tempo de senhoras promessas denigrativas

Da boca que fulmina de beijar ninguém

Outros inquietam-se no rever das coisas venerabundas

Houve brincadeiras dormentes antes da paz

p.67

 

Da dor dir-te-ei pelo que conquista

Com o espírito do deus seguinte

Pois no fim das árvores do corpo das palavras

Os vazios preenchem-se de luas na alba

Que é a flor comum das paixões desérticas

Têm eles a agnição platónica do ser

A esperança mágica das recriações atómicas

p.107

 

O amor jovial da mãe

Mensageira silenciosa dos segredos infinitos

Com a fé e a vontade do seio da terra

Em nome de um futuro distante

Até à mais querida das horas

Lança-o em sua fúria destruidora

Num sonho que romperá os nossos grilhões

p.158

 

São épicos de loucura

Ilustrados com a mão suprema

Dum dedicado servo da noite

Que fugiu amarrado de nascimento

Do sono delicioso e florescente

De pedras inexauríveis que residem

Infames na chuva brilhante do crepúsculo

p.160

 

 

 

Excertos Aforismos – Versus Vox
(3ª obra publicada em 2013)

 

 

O pássaro é feliz porque voa. Tu és feliz porque caminhas.

p.11

 

Convida-te a sonhar, serás eterno.

p.26

 

O universo é imenso e os passos que dás pequenas imensidões.

p.32

 

Pé ante pé girarás em volta de coisa nenhuma.

p.52

 

A história é a perfeita coincidência de não ser o que foi sendo o que

jamais será. Tu és um percurso de história inexoravelmente coincidente

com um equilíbrio efémero.

p.54

 

A imarcescibilidade das emoções é o ímpeto afirmativo da tua

humanidade.

p.61

 

A imodernidade é a fome exaurível de abstrato.

 

p.68

 

 

Nada é teu, tudo é de ninguém.

 

p.73

 

 

Tu és a primomovente parte de tudo porque contens a memória infinita

do nascimento da luz.

 

p.91

Excertos A Voz de Lyra – Versus Diarium
(4ª obra publicada em 2015)

 

Ao atravessar a ponte nasci

Nos lábios que gelam turbilhões

De azul verde laranja e sonhos

Como alma pioneira canto de setas

Chama azul meio século palpitando

No voo rasante da tragédia

Que tomou o ínvio rio da vida

Primorosamente errante porém fantástico

De mil mundos alegre casa

p.17

 

Os miríficos salteadores

Dos grandes sacos de luz

Volteiam no ar das trevas pálidas

Rainhas herdeiras do voo apaixonado

Penetrante ave-sopro em sublime pesadelo

Que ainda a tempo da perfeita ofuscação

Sucumbem ao encanto vermelho do sangue

Repruir não de vida ou de morte

Mas de futuro enfeitiçado

p.38

 

Amar-nos-emos no alto que enlaça

A inércia dos acasos que calo

Ao outro lado da beleza

No eclodir do verde vivo

Da substância fértil que o gemido

Do grande domínio arte de canto jónico

Existindo na ventura de sonhá-lo

Ressuscitará do pranto dança mortal

Para regar as bocas em flor

p.73

 

Quão admirável é o sopro

À importante hora da alma

Na avidez pesada da ordem

O sinal da libertação chegou

Celebro o casamento encantado

De um amor gelado em beijos de luz

Todos rejeitaram-no sem temor

Na fúria da noite originária

Aprendi na espera dos gemidos

p.103

 

As máquinas jamais serão poetas

Eu devolvo o inexprimível

Abraço o que o mundo repudia

Sonho na solidão dos bosques

Com tudo o que existe e se move

Pelo mesmo deus na mesma terra

Fincados como eu inteiros de perfeição

Mas comove-me o lento sofrer das velocidades

Desastradamente aprisionadas na penumbra

p.108

 

Onde o pó não chega

Há o mundo em abundância

Conseguir sobreviver é procurar

A única coisa que dá

O subtil prazer não reprimido

Aquele que permanece além de si

A ferver no vento maligno

Que baila no escurecer do olhar

Reacendendo a distância afã do ser

p.143

 

Há coisas que só eu sinto

Sem querer na grande claridade

Porque ninguém aprende de verdade

Na falsa expansão do tempo

Tudo é apoteose do absurdo

Mero pretexto de existência colorida

De um sol despejado à eternidade

Digestivo e imaginador em nós

Servos da hora do mistério

p.146

 

Se um dia tudo morrer-me

Toda a potência magnificará

O que trazia em mim antes de mim

Na eterna corrente dos precipícios

Nessa alma do erguer abandonado

Que retorce as veias sem dor

Inalcançável negação livre

Olhar de criatura animal

Onde só o silêncio se perde

p.156

Excertos Beliula – Versus Diarium
(1ª obra editada em 2008)

 

 

Sinistra imagem no entender surreal

Que decifra o desprender do corpo ao imortal

Porque corre sem partida, a dor à chegada

De compasso perdido pelo presente

Enleio senhor de dúvida acontecido

 

p.25

 

 

Conseguintemente a obliquidade exala unos infusos

Suprimindo as solidões de massas abaladas

Últimos restauros de eras em turbilhão

Deslocados nortes por trilhos zangados

De tamanhos absurdos porque latos e acordados

 

p.31

 

Haverá só verdade enquanto a matéria escrita

Consumir a chama falante de uma vela brilhante

Com verificação de uma paixão constante de sede

Avesso truque de contacto imaginável

Que em nenhuma vez se mentiram afastados

 

p.34

 

 

Entro perfeitamente fora

Como saindo de cá de dentro

Entro externamente à saída

No local próprio de entrada

Entro totalmente entrando

Movendo o interior do sair

Entro no termo interno

Vivo e informe do espaço.

 

Saio livremente adentro

Do exterior entrando de fora

Saio no negativo inverso

Do lado da saída do entrar

Saio repetindo o sair

Como amiúde nunca entro

Saio ilimitado inteiro

No ponto óptimo do fora-dentro.

p. 113

 

Evoluir não é evoluir

Não evoluir é evoluir

Ir é evoluir e vir

A ir no não evoluir

Por vir do não ir

Do evoluir do não-vir.

 

Evoluir é evoluir.

 

O espaço evolui

No não-espaço do espaço

Porque o evoluir do

Não-espaço é a evolução

Do um espaço evoluído.

p.115

 

Filipe de Fiúza, nascido em Sintra em 14 de Julho de 1983, é um poeta e escritor português. 

Depois de concluir os estudos liceais na Escola de Santa Maria de Sintra, ingressou na Universidade Nova de Lisboa vindo a formar-se em Engenharia Civil.

Desde muito cedo inicia as suas composições poéticas sob a influência de obras de Rainer Maria Rilke, Isidore Ducasse, Friedrich Hölderlin, Novalis, Ezra Pound, Fernando Pessoa, Ruy Belo, entre outros.
 

Em 2003, ao permanecer alguns dias na Casa de Saúde Mental do Telhal na função de voluntário pelos Irmãos de São João de Deus, conhece o poeta António Gancho, com quem trava amizade. 

Representa Portugal na UniVerse - a United Nations of Poetry, integra o Movimento Poetas do Mundo, é membro da W.P.S. - World Poets Society e da APE - Associação Portuguesa de Escritores. Foi vogal da direcção da Associação Cultural Alagamares durante 2011 e 2012. Foi presidente do conselho fiscal da Caminho Sentido - Associação Cultural.  

Assina a rubrica «Das Origens Catacósmicas» no jornal cultural Selene - Culturas de Sintra. Foi autor e dinamizador do Projecto Cívico Sintra em Ruínas, moderador nos encontros literários Poetas Aqui Connosco e dos recitais Poetry&Coffee. 

As suas obras poéticas, Beliula (2008) e Angusti Folia (2010), foram apresentadas no 1º Encontro Literário de Sintra, no Encontro Alternativas de Sintra, no Sintra Canal e na Feira do Livro de Lisboa

Aforismos (2013) foi a sua terceira obra e obteve uma crítica literária pelo Prof. Luís Martins (Miguel Real). (
ler crítica) 

A Voz de Lyra (2015) publicada em 2015 foi apresentada em vários locais culturais de Sintra e Lisboa. (ouvir excertos) 

 

Bibliografia: 

''Beliula - Versus Diarium''. 1ª edição. Edição de Autor. Lisboa. 2008. ISBN 978-989-20-1027-4

''Beliula - Versus Diarium''. 2ª edição. Edição Vírgula. Lisboa. 2010. ISBN 978-989-96619-9-8

''Angusti Folia - Versus Diarium''. 1ª edição. Edição de Autor. Lisboa. 2010. ISBN 978-989-96640-0-5
''Angusti Folia - Versus Diarium''. 2ª
edição. Edição Vírgula. Lisboa. 2010. ISBN 978-989-8413-01-7

''Aforismos - Versus Vox''. 1ª edição. Edição de Autor. Sintra. 2013. ISBN 978-989-96640-1-2

''A Voz de Lyra - Versus Diarium''. 1ª edição. Edição de Autor. Sintra. 2015. ISBN 978-989-96640-2-9 

 

Contactos: Website: www.filipedefiuza.pt

 
 
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ISSN 2182-147X
Dir.
Maria Estela Guedes
PORTUGAL
 
 
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