Excertos A Voz de Lyra – Versus Diarium
(4ª obra publicada em
2015)
Ao atravessar a ponte nasci
Nos lábios que gelam turbilhões
De azul verde laranja e sonhos
Como alma pioneira canto de setas
Chama azul meio século palpitando
No voo rasante da tragédia
Que tomou o ínvio rio da vida
Primorosamente errante porém fantástico
De mil mundos alegre casa
p.17
Os miríficos salteadores
Dos grandes sacos de luz
Volteiam no ar das trevas pálidas
Rainhas herdeiras do voo apaixonado
Penetrante ave-sopro em sublime pesadelo
Que ainda a tempo da perfeita ofuscação
Sucumbem ao encanto vermelho do sangue
Repruir não de vida ou de morte
Mas de futuro enfeitiçado
p.38
Amar-nos-emos no alto que enlaça
A inércia dos acasos que calo
Ao outro lado da beleza
No eclodir do verde vivo
Da substância fértil que o gemido
Do grande domínio arte de canto jónico
Existindo na ventura de sonhá-lo
Ressuscitará do pranto dança mortal
Para regar as bocas em flor
p.73
Quão admirável é o sopro
À importante hora da alma
Na avidez pesada da ordem
O sinal da libertação chegou
Celebro o casamento encantado
De um amor gelado em beijos de luz
Todos rejeitaram-no sem temor
Na fúria da noite originária
Aprendi na espera dos gemidos
p.103
As máquinas jamais serão poetas
Eu devolvo o inexprimível
Abraço o que o mundo repudia
Sonho na solidão dos bosques
Com tudo o que existe e se move
Pelo mesmo deus na mesma terra
Fincados como eu inteiros de perfeição
Mas comove-me o lento sofrer das velocidades
Desastradamente aprisionadas na penumbra
p.108
Onde o pó não chega
Há o mundo em abundância
Conseguir sobreviver é procurar
A única coisa que dá
O subtil prazer não reprimido
Aquele que permanece além de si
A ferver no vento maligno
Que baila no escurecer do olhar
Reacendendo a distância afã do ser
p.143
Há coisas que só eu sinto
Sem querer na grande claridade
Porque ninguém aprende de verdade
Na falsa expansão do tempo
Tudo é apoteose do absurdo
Mero pretexto de existência colorida
De um sol despejado à eternidade
Digestivo e imaginador em nós
Servos da hora do mistério
p.146
Se um dia tudo morrer-me
Toda a potência magnificará
O que trazia em mim antes de mim
Na eterna corrente dos precipícios
Nessa alma do erguer abandonado
Que retorce as veias sem dor
Inalcançável negação livre
Olhar de criatura animal
Onde só o silêncio se perde
p.156
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