Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências .
ns . nº 55 . dezembro 2015 . índice


 

Remisson Aniceto - 16/04/1962, Nova Era - MG - Brasil. Desde criança, lá no Aleixo, admirado de ver os sorrisos, as caretas, as expressões diversas no rosto do meu pai quando ele lia, pensei que aquilo devia ser bom e logo também comecei a ler. Com a leitura, surgiu a imperiosa necessidade de escrever. Escrevo contos, crônicas, poesias e artigos diversos, tendo parte dos meus trabalhos traduzidos e divulgados em livros didáticos, revistas, jornais, rádios e sites de alguns países. 

Nasci em Nova Era, cidadezinha próxima da Itabira de Drummond e sempre imaginei que algum dia contornaria as montanhas para conhecê-lo, mas, como o poeta já me havia advertido bem antes: "tinha uma pedra no meio do caminho". Até que em 1987 Drummond, que há muito vivia no Rio de Janeiro, viajou definitivamente.
e-mail: remisson8@yahoo.com.br
. Site: Revista PROTEXTO - www.remisson.com.br/

 

REMISSON ANICETO

Poesias

 
 

Miopia 

`0-0´

Comprei um óculos futurista
de singular utilidade
Vendo a vista
pela metade
.

 

Intensidade: 

Toda ânsia é imediata e fugaz

Insana vontade de se ter

Transitório receio de perder

Brevíssimo desejo de viver  ou de morrer

Depois acalma. 

 

Nova Era  

Homenagem à minha cidade natal,

no Vale do Aço.

 

Minha cidade é limpa,

é verde amarela azul e branca.

Minha cidade é    pequenina

e tem rio,

tem lagoa,

tem São José da Lagoa,

tem vales e serras.

Inda ontem fui lá

e fiquei feliz:

na minha cidade ainda há crianças

brincando na rua...  

Poeminha prático 

Hoje ele quer morrer,

só hoje, amanhã não:

amanhã ele quer viver intensamente.

Amanhã ele quererá morrer,

só amanhã, depois não:

depois de amanhã ele supõe

viver intensamente.

E assim ele há de ser eternamente:

morrendo hoje, amanhã não,

querendo sempre o inusitado,

o diferente...

Poema furtivo 

O poeta ao falar de si fala dos outros,

Que cada um tem um quê do outro.

Tudo é como se fosse um amarrio de cordas

Seguidas, compassadas, continuadas.

O poeta ao falar dos outros fala de si,

Que cada um outro tem um quê de nós,

Cada um vive a vida alheia sem saber

E morre na morte do outro.

Cada poema é impessoal, é de todos,

Ainda que impregnado de evidências da mão.

O meu seu poema dele não existe.

 

Origem 

Ei-lo

no ventre Alfonsino

no seco Aleixo das Geraes

rico de fome

e aridez... 

Nada 

Quem pensa que eu vivi, engana-se

Quem diz que eu vivi, mente.

Passei apenas...

E passei como se fosse

um nada

que ninguém vê,

que ninguém sente... 

 

Súplica 

Reza por mim, amor.

Reza por mim

e não serei um mero grão disperso,

e não serei um anel de Saturno

desgarrado, solto no espaço-tempo

da Eternidade.

Que aqui tudo é mistério,

tudo é descobert a,

há outro sentido,

outro conceito de Existência.

Aqui não há espera,

só a lembrança fugaz,

só a vaga imagem do teu rosto

na moldura do Infinito.

Não te deixei, amor,

roubaram-me de ti,

despejando-me no vácuo do tempo.

Reza por mim,

fumaça disforme ora diluída,

ora rejuntada,

assumindo formas várias e inúteis,

bailando aos dissabores

da inconsciência.

Reza por mim, amor.

Imagina-me como um lago

de águas puras, serenas,

e assim hei de ser

para matar minha sede

de ti.

À minha mãe 

Quisera hoje ver-te, ó mãe querida,
contigo estar no meu torrão
e te contar da minha Vida,
da dor que me aperta o Coração.
 

Quisera alegrar teus olhos cansados,
curar da falta a grande ferida
que te faço e me fazes. Já quebrados
os meus planos, minh'alma está partida.
 

É tão longa a distância, mãe amada,
que me consola esta página amarelada
onde me debruço a chorar o meu tormento.
 

Contudo, mãe, se são desfeitos os meus planos,
meu Coração, mesmo entre tantos desenganos,
tanto te ama e não te esquece um só momento.
  

 

Realeza 

Por que em tudo quanto vejo cuido vê-la?

Por que não fico um segundo desta vida

sem pensar na minha amada e esquecê-la,

se é uma joia que pra mim está perdida?

 

A cada fim-de-semana tão sofrido

me transformo nas flores que lhe oferto,

mágica forma que creio ter aprendido

para vê-la, pra senti-la, pra estar perto...

 

Abdico hoje da tristeza,

do sofrer e da amargura abdico,

qual um rei que não quer na dor a realeza.

 

E como antes para tê-la eu me dedico,

para ser rei, mas rei feliz e tenho certeza:

quando a tiver, serei de todos o mais rico!

 

Fantasia 

Para Rosangela de Fátima

 

Ó bela Flor, purpúrea, serena,

de sutil formosura, eflúvio de rosas...

Desvelada Flor, sublime, amena,

mescla escarlate das veias ardorosas.

 

Ó infinita Flor, plácida, aérea,

rubra Flor dos meus anseios...

Visão indelével, magicamente etérea,

lampejo de cor dos devaneios...

 

Ó Ros'angelical, rósea Flor mirim,

fulgente glória dos meus sonhos,

cobre-me com pétalas carmim!

 

Ó majestosa Flor, pujante e sincera,

sê real! Dissipa a névoa do medonho,

ó inefável Flor de Quimera...

 

Um outro país 

Quando você chegar,

deve encontrar um outro país,

ser recebido por um povo que diz

ter orgulho da sua nação.

Quando você chegar,

deve encontrar um país diferente,

confiante na força da sua gente,

moderno, seguro, sem corrupção.

Quando você chegar,

ouvirá histórias de um país encantado,

de um povo forte, feliz, inspirado,

que lutou como um bicho acuado

por trabalho, saúde, casa e educação.

Quando você chegar,

menino ou menina,

ainda haverá vestígios da revolução

nos jornais, nas revistas,

nos cartazes escritos à mão,

das passeatas, dos brados, daquela canção

cobrando o respeito à sua gente sofrida.

De um povo que, cansado do seu pesadelo,

saindo às ruas de forma atrevida,

fazendo sua guerra sem o uso do aço,

somente com suas vozes e a força dos braços,

libertou-se, por fim, daquela opressão.

Quando você chegar,

será (menino ou menina) bem mais feliz

do que sua mãe, seu pai, seus irmãos,

que lutaram tanto para te deixar um país

grandioso, belo, liberto, viril,

como sempre deveria ter sido o Brasil. 

 

Dimensión                     

Somos sublimes de nacimiento,

y no por la voluntad propia, ni por la apariencia o la estética.

Nacemos grandiosos, todos por igual, indistintamente,

en el mismo peso y en la misma medida,

sin posibilidad de crecer o disminuir.

La aparente discordancia que se da en las personas

es la que lleva a la simpleza clasificatoria,

a ese sentirnos superiores o inferiores y mirar a los otro por encima

o bajar sumisamente la mirada,

como si unos pisaran y otros sirvieran de suelo.

Nacemos excelsos como Dios quiso

y seremos así aunque no queramos,

sin oportunidad de cambio,

porque a ningún ser vivo le cabe la posibilidad de ser mayor

o más pequeño que lo determinado por la semilla de la vida.

Si tuviéramos todos - magníficos como somos -

la humildad de darnos las manos

y caminar hacia un mismo horizonte,

seríamos felices e indestructibles.

Ninguno destaca por su tamaño,

ni por ser más o menos importante.

Lo que puede suceder es lo que nos espera

sin descubrirse jamás antes de tiempo.

Por eso nacemos crecidos,

para resistir el presente y esperar

la divina dádiva del mañana. 

(Tradução para o castelhano por Pedro Sevylla de Juana.)

 

Dimensão 

Somos todos grandes porque nascemos grandes,

não porque quisemos, não no sentido visual, não na estética.

Nascemos grandes como nascem todos, indistintamente,

no mesmo peso e na mesma medida,

sem possibilidade de mais crescer ou diminuir.

A proporção que se dá ou se vê nas pessoas

é que leva a essa tolice da classificação,

a esse ser mais ou menos que nos faz olhar por cima

ou erguer submissamente a vista,

como quem pisa e quem serve de chão.

Nascemos grandes como Deus quis

e seremos grandes ainda que não queiramos,

não tendo como mais crescer ou nos apequenar,

como nenhum vivente tem como ser maior

ou menor que a semente da vida.

Se tivéssemos todos - grandes que somos -

a humildade de nos darmos as mãos

e caminhar para um mesmo horizonte,

seríamos felizes e indestrutíveis.

Nenhum de nós há, maior, menor,

mais ou menos importante.

O que pode haver é o que nos espera

sem jamais revelar-se antes da hora.

Por isto nascemos grandes,

para resistir ao agora e aguardar



Ave!

Por todas as marias do mundo, ave

pelas mulheres cheias de graça, ave

por todas as benditas mulheres, ave

pelos seus frutíferos ventres, ave

por todas as mães ardorosas, ave

pelos pais e pelos seus filhos, ave

pelos sorrisos e pelos abraços, ave

pelos sinceros apertos de mão, ave

pelo inocente olhar das crianças, ave

por todas as famílias unidas, ave

pelo trabalho e pelo descanso, ave

pelo alimento do corpo e da alma, ave

pelas tristezas e alegrias, ave

por todos os pássaros do céu, ave

pelos rios e pelas matas, ave

pelos desertos e pelos mares, ave

pelos vales e pelas montanhas, ave

pelos ventos e pela chuva, ave

pelo calor e pelo frio, ave

pelo sol e pela lua, ave

pela natureza e as criaturas, ave

pelo bem que move a vida, ave

pela vida e pela morte, ave

por Aquele  que tudo criou, ave

pelas nossas orações,

ave!

 

a divina possibilidade do amanhã. 

 

Terapia do riso absurdo 

 “Risus abundat in ore stultorum"

 

Contraídos o risório e o zigomático,

explode em ti sonora gargalhada.

Do veneno do teu riso tão elástico

minhas cordas também são contagiadas.

 

Tudo em ti é motivo de euforia

e até o vento faz-me cócegas passando.

De tudo rimos e na falsa alegria

o teu riso com o meu riso vai rimando.

 

Com o riso tu me enganas e eu te engano.

Se sorrimos, damos bah! para a tristeza.

Riamos, que o riso encobre o dano.

 

Devemos rir, pois só o riso nos sobeja.

Serão bobos? vão dizer. Somos insanos!

E talvez rindo, a triste Morte não nos veja.

Partida 

Devo partir hoje,

o mais tardar amanhã.

E não quero que me vejas hoje,

para não guardares de mim uma saudade triste,

uma saudade recente,

pois agora estou assim, triste,

por saber que hoje, o mais tardar amanhã,

não poderei mais te ver.

Quero que guardes de mim

uma lembrança feliz de ontem,

quando rimos, quando brincamos,

quando meus olhos brilhavam ao te ver,

quando eu ainda não sabia que ia partir.

Não quero te ver hoje,

para que guardes de mim

apenas o que viste ontem nos meus olhos

e o que sentiste no meu corpo.

Quero que fique contigo

apenas o que levarei de ti comigo:

alegria, alegria, alegria.

TRANSICIÓN 

Es tan frío el hueco y tan oscuro el huerto

donde depositan mi cuerpo doliente!

_ ¿Como el hueco es frío si el cuerpo está muerto?

A partir de ahora sólo el alma siente...

 

Ah! Esta cama tosca donde estoy echado

y este cuarto oscuro y tan bien cerrado!

Quiero levantarme, pero estoy cansado...

¿Que rumor es ese en el cuarto al lado?

 

Hay un jardín cerca: siento aroma a flores.

Quiero levantarme, pero estoy cansado...

Estoy tan cansado pero sin dolores.

Y el rumor aumenta en el cuarto al lado.

 

_ ¡Bajen el cajón! _ dice alguno ahora.

¿Quien murió en tanto estuve durmiendo?

Cercano a la puerta oigo alguien que llora,

lamenta la suerte de quien va partiendo.

 

Quiero levantarme, con fuerza tamaña

inertes mis manos y mi cuerpo duro.

Reza el sacerdote en una lengua extraña,

mientras quedo preso en este cuarto oscuro.

 

Va cayendo tierra sobre el tejado.

Parece que el mundo se está derrumbando...

El aire me falta en el cuarto cerrado

y una multitud está afuera llorando.

 

Siento un temblor leve, un escalofrío...

Ya casi nada más estoy sintiendo.

¿Por qué no me sacan de este cuarto frío?

Alguien murió mientras estuve durmiendo.

 

Es tan frío el hueco y tan oscuro el huerto

donde depositan mi cuerpo doliente!

_ ¿Como el hueco es frío si el cuerpo está muerto?

A partir de ahora sólo el alma siente...

 

(Traducción: Graciela Cariello) 

 

ÁUREA 

Hago poemas

en versos negros

y versos blancos

para que todo poema

sea libre.

 

RUA (CALLE) 

Na casa de nº 0

um vagido rompe a manhã

 

En la casa marcada con el número cero

un vagido rompe el cristal de la mañana

 

Na casa de nº 08

uma criança saúda o sol

 

En la casa marcada con el número ocho

un niño saluda al luminoso amanecer

 

Na casa de nº 20

um rapaz que amadurece

 

En la casa marcada con el número veinte

un muchacho empieza a madurar

 

Na casa de nº 32

uma mãe que amamenta

 

En la casa marcada con el número treinta y dos

una madre entrega el jugo de la vida

 

Na casa de nº 50

uma carícia vesperal

 

En la casa marcada con el número cincuenta

una caricia corre las cortinas de la tarde

 

Na casa de nº 75

um casal namora antigos retratos

 

En la casa marcada con el número setenta y cinco

un matrimonio reaviva su amor ante fotos antiguas

 

Na casa de nº 100

uma senhora cega e surda

pressente o cair da noite

 

En la casa marcada con el número cien

la señora de los ojos ciegos y la boca muda

presiente la caída del silencio sobre la noche oscura.

 

(Traducción al castellano por Pedro Sevylla de Juana)

 

ENVOLTURA 

¡Idiota! ¿No ves que nada eres?

Apenas fina capa mohosa te protege

de la podredumbre. Gusanos hambrientos te rodean.

¿Ignoras que en un pase mágico, en un segundo apenas

cae por tierra toda la altivez y el bello

papel de regalo revela la fétida masa?

El gusto amargo de la hiel, la visión incierta,

el torcerse de las piernas, el descontrol total…

¡todo es inevitable!

Cualquier día serás presa fácil:

el tiempo es impiedoso.

El trágico fin no depende de tu voluntad.

La arrogancia que derramas no pasa

de ser faceta inútil de tus diversas faces

vanas y mundanas.

Al sol poniente, el rostro marchito y los huesos corroídos

dolerán más que en aquellos que tuvieron

la precaución y el buen tino de ser

simples y ocultos.

Quedarán tus lindos cabellos…

¿Y qué utilidad tendrán tus cabellos, hilos

huérfanos y subterráneos, dispersos, opacos

sobre los huesos?

 

(Traducción Graciela Cariello) 

 

LLUVIA 

Un cuerpo sobre la mesa –

y fuera el día llora

aguas de la tristeza.

 

PLUJA

 

Un cos a taula –

i allà fora el dia plora

aigües de tristesa.

 

(Traducción al catalã: Pere Bessó)

 

JARDÍN

 

Acerquémonos, pues, querida,

en medio del camino,

soñando nuevos y viejos sueños,

que todavía ellos —los sueños—

no tienen edad …

Seamos niños en un jardín de rosas

porque quiero quedarme contigo en la tierra

y dar gloria a las otras flores

más pequeñas que tú, querida,

y menos bellas.

¡Gloria a ti, Rosa!

Quiero sentir tu perfume,

acariciar tus ramas

y poco a poco llenar

de besos tus hermosos pétalos,

tus ojos, tu pelo,

tu cuerpo,

mi refugio…

Tú y yo,

un jardín de sueños

donde me alimento alimento alimento

con tu aroma de sol y de luna

en el rocío de la mañana…

Y contigo son dulces mis días y mis noches,

dulce mi vida.

¿Sueño?

¿Y por qué, Dios mío, este sueño,

como muchos otros

y para mi mayor gloria,

no puede convertirse en realidad?

EDITOR | TRIPLOV
Contacto: revista@triplov.com
ISSN 2182-147X
Dir.
Maria Estela Guedes
PORTUGAL
 
 
 
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