Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências .
ns . nº 55 . dezembro 2015 . índice


Rafael Pires de Mello nasceu em 1984. Bacharel em filosofia pela Universidade Federal do Paraná onde também obteve sua licenciatura em filosofia. Pós graduado em docência pela Faculdade Tecnológica de Curitiba. É professor na rede pública e privada. Escreve para o sítio de jornalismo literário – Parágrafo 2 – uma coluna sobre filosofia e cotidiano. Atualmente mora na região metropolitana de Curitiba, PR.

 

RAFAEL PIRES DE MELLO

Conversas de fim de tarde

 

Conversa de fim de tarde

 

Quem foi que pintou o céu?

Que tamanho era o pincel?

Deixou a tinta respingar?

Uma gota gigante no meio do mar.

Quantos punhados de terra
são necessários para fazer uma serra?

Uma coisa que não entendo, que tudo
mundo diz
Por que se sofre tanto pra ser feliz?

Pra que serve a hora?

Pra onde vai o vento quando ele passa
e vai embora?

A menina dos olhos também namora?

Ou só chora?

Por que a gente sempre tenta separar
aquilo que vida mistura?

Ser adulto tem cura?

Quem não acha graça trabalhar
também é vagabundo?

Viver é igual para todo mundo?

Pra ser pessoa tem que ser sozinha?

Que tal se um dia destes a gente fazer um barco
de nuvens e sair voando por aí pescando passarinhos
com um anzol de mentirinha?

Só os dias passam

 

Nesta noite te esperei
e o vento zombou de minha
espera afagando meus cabelos
Você não desceu de um carro estranho
a uma quadra e meia daqui
nem entrou nas pontas dos pés
e eu não fingi estar dormindo

 

Nesta manhã eu te esperei
e você não chegou com hálito
de álcool e tabaco perguntando
se tinha café, e eu não te abracei
suspirando enquanto
se aquecia na cama limpa.

 

Nesta tarde eu te esperei
e você não apareceu só para
um oi, fingindo pressa, toda perfumada
Somente o sol e eu
e juntos achamos que o domingo
nunca teria fim

 

Nesta madrugada
chove, amanhã
nem você
nem o sol
aparecerão.

Verbo viver

 

Ontem, foi

Hoje, é

            Amanhã será (?)

Luemo-nos

 

Os desencontros da vida
nos trouxeram ao mesmo lugar
onde podemos nos sentar juntos
e passar a noite toda a luar...

17:30

 

Na saída da escola
a mãe não está
no portão
O menino chora

sua primeira solidão

Um dia em que choveu.

 

Uma vez andava por uma rua
e chovia
parei em um beco estreito
chovia
e a chuva cantava sozinha
uma estranha melodia
nada ali fazia diferença
nem eu, nem o beco, nem os ratos
                                           só a chuva
que chovia

A chuva criou aquilo tudo, aquele nada
e tudo chovia
choviam os telhados
as portas fechadas
a velha placa enferrujada
                                chovia meu coração

Um pranto uniforme e caudaloso
indiferente para mundo
chovia
Aqui neste minúsculo planeta
em uma galáxia qualquer do universo
chovia.
 

É a vida

Abrupta que
ela se revela
se paga de uma só
vez
A vida são se parcela

Carne viva

 

Me deixa te chupar
sugar toda a luz destes
olhos para dentro da
escuridão dos meus
Dos sonhos quero morder
o biquinho
até saltar
da realidade um corinho
Quero muito te comer
este riso
baforar na nuca
uma gargalhada ainda
quente
te engolir inteira
olho por olho
dente por dente
me deixa passar
a língua por
toda a desilusão
escorrida
que eu te deixo enfiar
o dedinho bem no fundo
da minha ferida.

Evite.

 

Você ainda nem foi embora
e eu já te olho com saudade

Amanhã quando partir
evite os acenos na rodoviária,
evite as lágrimas,
me evite.
Evite deixar a escova de dentes
sobre a pia
a calcinha no registro do chuveiro
evite deixar o cheiro do seu xampu
no meu travesseiro
evite tudo aquilo que me faça
entender que você nunca
mais vai voltar.

Que da minha parte
evitarei deixar o café pronto
e evitarei lembrar
das gargalhadas
das madrugadas
dos beijos sob o guarda-chuva
de tudo aquilo que um dia
não conseguimos evitar.

Fardo farto ou caminhando sozinho sob a neblina.

 

Cada linha
tem a marca d’água
da miséria,
da solidão
dos becos mais escuros.

Cada voz
o grito dos que
não são ouvidos
todas as notas
que jamais serão
tocadas

 

Chorar sem lágrimas
dor com dor
no sangue que bomba
pra fora do coração
Poesia, nunca foi
uma opção

 

A vida
que dia a dia
te assassina
poesia, esta
maldita sina

 

Esta necessidade
de ser olhos
de ser ouvido
de saber que a
vida sem ela
faz muito menos sentido.
 

 
EDITOR | TRIPLOV
Contacto: revista@triplov.com
ISSN 2182-147X
Dir.
Maria Estela Guedes
PORTUGAL
 
 
 
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