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Maria Estela Guedes (Portugal,
1947).
Poeta, dramaturga,
historiadora da História Natural e da
Maçonaria Florestal Carbonária, além de
exegeta da obra de Herberto Helder. Faz
parte do
Conselho Editorial da revista
Incomunidade, em
www.incomunidade.com.
Dirige coleções na editora Apenas
Livros, entre elas Cadernos
Surrealistas Sempre. Tem umas
dezenas de títulos publicados. |
Foto de José Emílio-Nelson |
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MARIA ESTELA
GUEDES
Cadernos Surrealistas
Sempre |
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Parece que temos em
Portugal, pela primeira vez, uma coleção
inteiramente dedicada ao Surrealismo. Revistas
tem havido várias: Pirâmide, Grifo
e publicações coletivas, como antologias. Aliás,
"Triplov" é o nome de uma revista surrealista
fundada em Nova Iorque por André Breton, a
VVV - triplo V. Como se sabe, atualmente o
TriploV é um dos mais importantes repositórios
digitais de materiais e autores surrealistas, que
tentaremos publicar na Apenas Livros, com
preferência para os portugueses.
O Surrealismo tem quase 100 anos, devia por isso
estar já bem estudado e difundido, bem arrumado
nas prateleiras das bibliotecas académicas. Tal
não tem acontecido; de um lado, apesar dos 100
anos, é-nos ainda demasiado próximo; de outra
parte, o Surrealismo permanece movimento fluido
e ativo; finalmente, a sua vertente libertária e
rebelde, contestatária, manifesta muitas vezes
em atos e discursos que a moral de sacristia
condena, não é decerto apetecível para
investigadores bem comportados.
Por mim, confesso: o Surrealismo desafia-me e
envergonha-me. Envergonha-me porque estou sempre
a descobrir surrealistas que não sabia que o
eram. No próprio Triplov, imaginem! Peço perdão
pela minha ignorância, os surrealistas
assemelham-se a
uma termiteira, entram e saem dela formigas que nunca mais
acabam! E artistas bem interessantes, bem
contundentes na sua crítica social, costela que
o hasard bretoniano fez que recebesse a
designação de abjecionismo ou surrealismo
português. Como reparação, proponho-me assim, na
medida das minhas capacidades, juntar na coleção
Cadernos Surrealistas Sempre trabalhos
sobre o Surrealismo e criação pura de
surrealistas que retratem essa tão pujante,
poética, divertida, desconcertante e maldizente
arte que foi a mais importante contribuição da
modernidade para a cultura europeia do século XX
e no nosso país constituiu terreno fértil para o
desenvolvimento de artistas que não só deram
poderes à imaginação como tornaram a liberdade
poética uma prática de contestação política. |
Sairam os primeiros cinco cadernos, com
bela e sugestiva capa a cores, obra da
artista plástica Maria Tomás.
O primeiro,
de Claudio Willer, poeta surrealista
brasileiro com obra ensaística notável
sobre as tendências mais recentes da
literatura, em especial o surrealismo:
A
verdadeira história do século 20
é o seu título e dá teto a poesia. |
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O nº 2 cabe a António
Cândido Franco, poeta, ficcionista e ensaísta.
Como ensaísta e investigador deve ser a pessoa
que mais se tem dedicado ao Surrealismo e mais
gente tem convocado para essa função,
especialmente na revista que dirige em Évora,
A Ideia. História e mito do
Surrealismo em Portugal - I é o título do
seu texto, que agora se ocupa do Grupo
Surrealista de Lisboa. Numa futura segunda
parte, certamente intentará continuar aquela
"impossível História do Surrealismo", no dizer
de Mário Cesariny. É uma História sensível,
apaixonada, porque feita do interior, a partir
de memórias e relacionamentos de António Cândido
Franco com vários surrealistas, como é caso mais
relevante a sua convivência com Cesariny, com o
qual perfilha a tese de ser Teixeira de Pascoaes
um pré-surrealista.
Terceiro autor publicado
sou eu: Surrealismo
incertae sedis
reúne comunicações, conferências, textos
publicados n' A Ideia, na Incomunidade e no
TriploV, de análise semântica, sobre Manuel de
Castro, Herberto Helder, Luiz Pacheco, José
Emílio-Nelson, Luís Filipe Coelho, Nicolau
Saião e João César Monteiro e eu pergunto,
esperando que alguém responda: então não há
mulheres no Surrealismo? Teremos de as
desencantar, não me conformo com a sua ausência.
João Garção, número 4 na
coleção, assina O teatro surrealista em
Portugal. Neste ensaio posto na área da
História do Teatro, a atenção do autor foca
Mário Cesariny de Vasconcelos, Manuel Grangeio
Crespo, Manuel de Lima,
Jorge de Lima Alves, Virgílio Martinho e Nicolau
Saião, encerrando o estudo os casos de Jorge de
Sena e António Pedro.
Finalmente, em número 5,
um abjecionista de bom calibre, isto é, um
artista de forte vocação satírica, dirigida aos
cabeças do Poder político, Luís Filipe Coelho,
que põe burka na assinatura e manda dar a cara a
um tal Schäuble de Albuquerque. O título da obra
deste "autor" híbrido de alemão e lusitano é por
si só um tratado que dispensa mais ilustrações:
De roldão ou de roldinha, da Podridão da
Globalizacinha prà Globalização da Podridinha e
Umas, e aos desmais, Diatribes Locais.
É bom que queiram os
livros. Ninguém tenha a veleidade de se
considerar pessoa cultivada se os não ler e para
isso tem abaixo os endereços da editora, Apenas
Livros. O alimento do espírito é indispensável
para não deixar raquitizar o intelecto, e é mais
barato que o quilo da carne. Nunca mais se
escreverá tese de mestrado ou de doutoramento
sobre surrealismo sem referências a esta
coleção.
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Alameda das Linhas de
Torres
97 - 3º esq.
1750-140 Lisboa
PORTUGAL
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