Manuel Cadafaz de Matos
Doutor em Estudos
Portugueses pela Faculdade de Ciências Humanas
da Universidade Nova de Lisboa (Jul. 1998). É
membro da Academia Portuguesa da História e
Academia de Marinha, ex-docente universitário em
Lisboa na Universidade Católica Portuguesa (Out.
1989) e na E.S.D. (Prof. Associado); e Prof.
catedrático convidado na Universidade de
Barcelona (Jan. 2004). Dirige os projectos
editoriais das obras latinas de Damião de Góis e
André de Resende. É ainda director, desde 1997,
da Revista
Portuguesa de História do Livro,
que se edita semestralmente. |
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MANUEL CADAFAZ
DE MATOS
O intelectual e o humanista
Prof. Germano F. Sacarrão (1914-1992),
um incentivador de estudos na área da História
da Ciência
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Homenagem a Germano da Fonseca Sacarrão . Centro de Filosofia das Ciências
da Universidade de Lisboa.
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 1.10.2015. |
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Antelóquio
(no Jardim Botânico de Lisboa,
inícios da década de 80):
GFS – Manuel, conseguiu ouvi-los, a eles?
MCM – A eles? A quem (1), Professor?
GFS – A eles, aos pássaros!...
Os contactos, ao longo de cerca de vinte
anos, com o Prof. Germano da Fonseca
Sacarrão – caracterizados por uma continuada
e creio que mútua e profunda amizade –
deixaram em nós (celebrado o centenário do
seu nascimento) três convictas conclusões: a
de que ele foi, fulcralmente, um cultor da
máxima moriniana de uma Ciência com
consciência; a de que ele como cientista
soube pautar-se sempre por um Humanismo
interventivo, ante os problemas sociais do
seu tempo; e, finalmente, que essas
vertentes coexistiram nele, sobretudo, a par
com a de um hermeneuta na área da filosofia
da Natureza (por via do estudo da
Ornitologia e do comportamento das aves).
Conhecemos o Prof. Sacarrão há cerca de
quarenta anos, pouco depois de termos lido
alguns dos seus trabalhos, nos Estudos de
Fauna Portuguesa, de 1974. Já estava a
decorrer, então, o Verão quente, do
ano seguinte, e quando a colectividade se
empolgava com a ambicionada e justificada
mudança, nós só pretendíamos obter uma
licenciatura em Administração Ultramarina no
(pouco depois extinto) Instituto de Ciências
Sociais e Política Ultramarina, o ISCSP, da
rua da Junqueira em Lisboa.
Não podemos
esquecer, neste contexto universitário, que
foi decisivo o seu trabalho “Cadeira de
Antropologia. 1961-1962 a 1963-1964" (2),
por nós lido em 1978 (ano do incêndio na
antiga Faculdade de Ciências), para
trocarmos um curso de licenciatura em
Sociologia por um novo curso em
Antropologia, na Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de
Lisboa, onde nos inscrevemos – tal a força
que esse seu escrito teve em nós – no ano de
1979.
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Edifício da antiga Faculdade de Ciências de
Lisboa,
na rua da Escola Politécnica, onde trabalhou
durante décadas
o Porfessor Germano da Fonseca Sacarrão, na
escola que mais tarde passsou a dirigir.
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1. Um cientista invulgar e incentivador de
projectos
Breves anos depois, nesses fins da década de
setenta, a continuação da nossa leitura de
alguns outros trabalhos de sua autoria,
levaram-nos a procurá-lo, Tal sucedeu numa
tarde, pouco antes das férias grandes, na
Faculdade de Ciências de Lisboa (praticamente
defronte do edifício onde então morávamos, ao
cimo da rua da Imprensa Nacional).
Ainda hoje conservamos em nós o caloroso
acolhimento que então nos patenteou ante os
projectos que tínhamos em mente. De tal modo que
foi sendo cada vez mais regular, a partir de
começos dos anos oitenta, a nossa visita aos
sucessivos gabinetes que dele então ali
conhecemos.
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O Prof.
Germando da Fonseca Sacarrão, à direita,
na companhia do autor do presente
estudo, à esquerda (numa foto de 1981).
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Nesse período empenhávamo-nos em levar a bom
porto a conclusão (deitando um relance de olhos
à Índia e à China, para outros projectos) da
nossa licenciatura em Antropologia naquela
nossa Faculdade lisboeta.
Entretanto tínhamos mudado de residência para o
bairro de Campo de Ourique, na mesma cidade.
Éramos, a partir de então, não apenas admirador
da obra deste cientista mas, também seu vizinho
(no sentido que este termo já tinha nos tempos
medievais, comungando dos mesmos espaços,
inclusive alguns espaços de lazer onde nos
encontrávamos, como a Livraria Ler do Sr. Luís
Alves e, até, um ou dois cafés que ambos
frequentávamos).Foi no ano lectivo de 1983-84 que o Prof.
Sacarrão nos aliciou, naquela sua Faculdade,
para desvendarmos o conteúdo de uma caixa, a ele
confiada, contendo aspectos essenciais do
espólio do cientista açoriano, Francisco de
Arruda Furtado e, em particular, a
correspondência por ele mantida com Charles
Darwin (ou seja, mantida com particular
interesse de ambas as partes).
Tratava-se de um verdadeiro desafio do qual,
pensávamos, tínhamos de nos sair bem, honrando o
Mestre, que nos dava confiança quase nos
impondo a aceitação de tal desafio. E
empenhámo-nos, beneficiando da sua linha
orientadora, do seu rigor como cientista e
académico.
Ainda durante o ano de 1984 dávamos por cumprida
a primeira fase desse projecto no velho edifício
da Faculdade de Ciências. Pensando ambos em que
tal projecto tivesse (então) a sua continuidade,
faltava apenas, nos fins desse mesmo ano, levar
por diante um outro, o do estudo da biblioteca
que havia pertencido aquele mesmo naturalista
açoriano.
Impunha-se então, finda essa primeira fase do
projecto, encontrar quem o editasse. A porta,
nesse mesmo sentido, veio a abrir-se pouco
depois. E a par de um estudo do Prof. Sacarrão,
o mesmo veio a ser impresso, na prestigiada
revista Prelo, em 1986 (3).
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2. As características de um cientista que
cultivou o ideário de um Humanismo ao serviço da
Ciência: a defesa intransigente de uma
Ciência com consciência
Todos estes anos decorridos, continuamos a ter
como segura a premissa de que o Prof. Germano da
Fonseca Sacarrão – a par de outros cientistas e
filósofos da Ciência portugueses como o Prof.
Hermínio Martins (docente em Oxford) – foi um
dos mais fervorosos defensores e cultores, na
peugada de Edgar Morin, de uma Ciência com
consciência.
No referido ano de
1984, encontrando-nos (como usualmente na
Livraria Ler), com o Prof. Sacarrão, ali falámos
de um texto meu – um dos vários diálogos
humanísticos que aprendi a redigir (também) com
ele, em contacto com cientistas de formações
variadas – tido precisamente com o filósofo e
sociólogo francês Edgar Morin. Eu tinha-o
editado em Lisboa, em Março desse ano (4)
e tinha várias cópias para partilhar com amigos
com quem privava.
Nesse ano de 1984, eu era já conhecedor do
percurso científico do Prof. Germano da Fonseca
Sacarrão em Lisboa, com interesses na área da
Histofisiologia, junto dos Profs. Celestino da
Costa e Xavier Morato. Ou da sua formação
complementar, nos anos quarenta, na Universidade
de Genève (junto dos Profs. Émile Guyénot, Kitty
Ponse e Jean Perrot) e ainda na Universidade de
Basileia, junto do Prof. Adolf Portmann, entre
outros), encontrando-se já de regresso em
começos da década de cinquenta.
Alargando nós os
dois, em conjunto, a área dos estudos a Edgar
Morin – que eu lhe sugeri que também estudasse
mais em profundidade (transmitindo-lhe mesmo a
sua morada em Paris a fim de ele lhe poder
escrever, eu que já me correspondia com ele há
algum tempo), acabámos ambos por mandar vir
conjuntamente da capital francesa o livro
daquele, Science avec conscience, que
tinha saído ali havia dois anos (5).
Tratava-se sem dúvida de um título inspirador, o
deste tratado moriniano. Ele constituía como que
a antevisão dos começos de um sonho mau
de desenvolvimento que se sucederia a não muitos
meses de distância : a catástrofe nuclear de
Tchernobyl (considerada como de nível sete, o
mais elevado em acidentes previstos deste tipo),
ocorrido precisamente em 26 de Abril de 1986, na
central Lénine, numa cidade da então URSS,
integrando hoje a Ucrânia.
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3. O cidadão pautado por um Humanismo
interventivo, face aos problemas sociais do seu
tempo
O Prof. Germano da Fonseca Sacarrão deu também
continuadas mostras, como universitário e homem
de Ciência, de ser um cidadão sempre empenhado
num humanismo interventivo e no saber estar e
viver no seu próprio tempo. Disso aliás deu
exemplo a muitas dezenas de discípulos que
formou.
Não interessando aqui o ideário político que
seguiu, ele foi um homem dado a causas, ao
universo do conhecimento e da Ciência em
particular. Leitor atento da História, ele olhou
o mundo estudando como um filósofo olha,
na transversalidade, os universos do
conhecimento apreendidos.
Como homem de Ciência, com efeito, pode ver-se
nele e nas suas aptidões de apreender o real
aquilo que Marcel Conche, metafísico, professor
da Sorbonne escreveu, inspirado em Montaigne :
[Não se trata mais
de] revelar as coisas tal como elas são na
verdade, mas permitir-se a tomar consciência do
si próprio (6).
Ele jamais saberá o que são as coisas – Deus, a
natureza ou o próprio homem, na totalidade do
ser – mas saberá o que ele é. Certamente ele não
poderá fundar, a partir de um saber respeitante
ao homem, uma sabedoria universal, mas ele
poderá, conhecendo-se a si próprio e à sua
singularidade, encontrar uma sabedoria à sua
medida
(7).
Este Professor da
Faculdade de Ciências de Lisboa, jubilado em
meados da década de oitenta, foi assim
construindo, ao longo de décadas, um invejável
palmarés como cientista, nas áreas que cultivou
com mestria. Se por um lado à Ciência apenas era
possível almejar um futuro pautado pela
consciência, por outro lado, no universo da
Biologia, foi edificando um sólido saber construído,
servindo-se do ideário próprio dos humanistas,
ao nível do que de melhor
ia sendo edificado por outros cientistas de
renome internacional como Louis de Broglie no
domínio dos quanta, René Thom no da
teoria das catástrofes, ou Jean-Pierre Changeux
no domínio das Neurociências.
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4. Um hermeneuta atento na área da filosofia da
Natureza perante o estudo da Ornitologia e do
comportamento das aves
Este cientista, fonte
inspiradora desde a sua casa na rua Azedo Gneco
em Lisboa (onde com ele privámos) – amoroso de
«música de qualidade e dos sons da natureza» –
teve, no entanto, ainda uma outra
particularidade (e a par de outros campos no
universo da Biologia que não vêm hoje aqui a
propósito (8).
Trata-se de uma vertente científica a que as
mais novas gerações porventura ainda não se
habituaram a admirar: a do ornitólogo e
prescrutador (como filósofo) da vida da própria
natureza.
O seu interesse no comportamento e no canto das
aves será, disso, o melhor dos exemplos. Nesta
vertente específica ele seguiu – autonomamente,
é um facto – o caminho que anteriormente já
havia sido delineado pelo Prof. Joaquim R. dos
Santos Júnior (1901-1990), médico, antropólogo e
ornitólogo, natural de Barcelos, também ele
apreciado docente, só que da Universidade do
Porto.
Assinale-se, apenas
em jeito de passagem, que ainda muito jovem,
Joaquim R. dos Santos Júnior se havia dedicado à
Ornitologia (conhecedor do interesse posto nessa
vertente por um cientista britânico W. C. Tait
(9).
Assim, em 1931 deixou o seu nome associado a um
Catálogo Sistemático e Analítico das Aves de
Portugal (que Germando Sacarrão não só
conheceu como apreciou) e, anos depois, a um
estudo sobre o tema (entre outros nesse âmbito
científico da Ornitologia), intitulado «A
colónia da pega azul na Barca d’Alva (Alto
Douro)», de 1965 (de que nos ofereceu um
exemplar) (10).
Com um caminho
científico independente daquele na área da
Ornitologia, Germano da Fonseca Sacarrão soube
também ele construir um percurso singular
nessa mesma vertente. Vários editores de
circunstância e, sobretudo, o Arq. Museu
Bocage, a série de Publicações da Liga de
Protecção da Natureza, e a antiga revista
Naturalia
(11),
foram eleitos
então por este (então) futuro universitário como
o privilegiado pólo difusor de alguns desses
seus trabalhos, na especialidade.
A reconstituição, que
aqui fazemos, de alguns dos principais trabalhos
que este cientista publicou nesses anos – no
domínio da Biologia mas, muito em particular, na
área da Ornitologia (12)
– corresponde, sem dúvida, ao acompanhamento
pari passu que fomos fazendo da sua obra
(mesmo trilhando nós, reconhecidamente, por
caminhos distintos na área do saber).
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5. Algumas linhas de contacto e um certo
paralelismo entre dois amorosos da
Ornitologia: do compositor francês O. Messiaen
(desde 1941) ao biólogo G. F. Sacarrão (desde
1944), passando pela área da Literatura e por
Aquilino Ribeiro
O Prof. Germano da
Fonseca Sacarrão, como aconteceu com alguns
destacados vultos europeus do universo das
Ciências Exactas e Aplicadas – para não falar já
de alguns bem conhecidos filósofos como Vladimir
Jankélevich – encontrou na Música e na audição
musical, um campo de entretenimento, e até,
nalguns casos, de refúgio
(que, apesar de tudo, e ao longo dos anos, foi
perdendo). Também este aspecto merece, aqui,
alguma da nossa reflexão.
A partir da passada
década de 40, ou seja, do período do pós-guerra,
torna-se possível encontrar algumas linhas de
paralelismo entre as actividades do Prof.
Sacarrão como biólogo / ornitólogo e o de um
outro amoroso da Ornitologia, o compositor francês,
Olivier Messiaen (Avignon, 1908
– Clichy, Hauts-de-Seine, 1992).
Três anos diferenciam – ou melhor, antecedem
–naquele autor francês o seu particular
interesse pela Ornitologia (neste caso, de
feição musical). O canto dos pássaros fascinou
desde muito cedo, com efeito, este jovem
compositor francês, mais particularmente em
1941.
Já na década de
trinta Messiaen tinha sido estimulado pelo seu
professor Paul Dukas (1865-1935) (13), nesse
sentido. Pouco depois, no primeiro ano da década
seguinte, ele acabou por vir a incluir, nos seus
arranjos, alguns cantos de pássaros estilizados
em algumas de suas primeiras composições como,
por exemplo, no Quatuor pour la fin du Temps.
Essa sua obra
musical, de 1941 como dissemos, foi composta em
oito movimentos (para violino, violoncelo,
clarinete e piano) em homenagem ao Anjo
anunciador do fim dos tempos. A sua
preparação e primeira apresentação, em círculo
restrito, decorreu quando o compositor se
encontrava num campo de concentração,
prisioneiro dos alemães (14). E foi precisamente
no seu terceiro andamento, intitulado L’abîme
d’oiseaux (e
datado, parcialmente, de algum tempo antes
daquele período (15), que Messiaen integrou, em
termos inspiradores, na sua partitura, um
simbólico recurso ao canto das aves. |
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Quanto à
empenhada participação de Germano da
Fonseca Sacarrão
neste domínio científico como
autor, apenas três
anos depois, em 1944
– quando ele contava 29 anos de
idade, ou seja, sete anos depois de se
ter licenciado em Ciências Biológicas
na Faculdade de Ciências de Lisboa –
passava a dar sinais inequívocos desse
seu interesse pela área da Ornitologia
(16). Este jovem viu então, com efeito,
ser editado um seu trabalho nesta
vertente específica, “Contribuição para
o estudo das aves de Moçambique”, que
principiou a sair no Arquivo do Museu
Bocage, precisamente nesse ano
(17). |
Aves embalsamadas, do acervo do
Museu
Bocage,
em Lisboa |
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Estes prolegómenos da dedicação de Germano
Sacarrão à área da Ornitologia, eram um facto
quando no mesmo ano, na área da Literatura, o
consagrado escritor, Aquilino Ribeiro
(1885-1863), editava o livro Volfrâmio
(18) e onde dava uma particular atenção entre
outras matérias, à área da Ornitologia musical.
Entretanto os
referidos primeiros episódios de cantos de
pássaros, no trabalho de Messiaen, como
compositor, passavam a ser cada vez mais
sofisticados. Assim, na obra Le Réveil des
Oiseaux (de
1953) este músico
atingia já, segundo a
crítica, uma notória maturidade. Tratava-se
neste caso, na realidade, da relevar o
estribilho de cantos de pássaros ao amanhecer
(19),
para orquestra. Tal compositor deu-se ao
encargo, inclusive, de anotar a espécie de
pássaro na própria partitura.
Paralelamente a esse
percurso, em Lisboa, o biólogo Germano da
Fonseca Sacarrão, na área da Ornitologia,
empenhava-se em publicar, entre 1953 e 1956,
outros trabalhos seus como “Protecção às Aves”
(20) (1953); “O
Algarve. Alguns apontamentos sobre o seu
interesse ornitológico"
(21) (1955); “O Mundo
das Aves” (22) (1956). Tal ocorria num período
em que Aquilino Ribeiro continuava a estar
atento – como desse facto também subsistem
vários testemunhos em outras obras – ao universo
ornitológico (23).
Olivier Messiaen, nessa sua caminhada estética
pelo universo da Ornitologia musical, passava
gradualmente a desfrutar – se não de uma
caminhada solitária nessa vertente – de
uma notoriedade invulgar.
As suas obras
musicais – neste domínio específico (de
trabalhos de partitura inspirados no canto dos
pássaros) – não eram, como vários
musicólogos têm posto em
relevo, apenas
simples transcrições, mas bem mais do que isso.
Uma prova desse facto foi o seu Catalogue
d’oiseaux (obra composta de Outubro de 1956
a Setembro de 1958) e, ainda, La Fauvette des
jardins (de 1970). Trata-se de obras tonais,
produzidas a partir de uma inspiração
ornitológica no seu ambiente musical.
Depois das últimas
obras de Aquilino Ribeiro onde a problemática
ornitológica está presente – já de 1958 (24)
(ou seja, de meia dezena de anos antes da sua
morte) –, Germano da Fonseca Sacarrão
beneficiava (em resultado do seu percurso
científico) de uma particular primazia no
domínio das Ciências Biológicas e do ensino
universitário em Portugal. Tendo sido nomeado
Professor Catedrático em 1961, dois anos depois,
em 1963, foi nomeado director da Faculdade de
Ciências de Lisboa.
Neste preciso ano
editou trabalhos, em particular no domínio da
Cinegética, como “A fauna cinegética portuguesa”
(25). Ou outros como “Nomes vernáculos das aves
portuguesas”
(26).
Em 1965, por seu
lado, este biólogo / ornitólogo assumiu as
funções de director do Museu Bocage
(27). O Prof. Germano
da Fonseca Sacarrão nunca deixou de cultivar os
estudos onitológicos (a par de vertentes
específicas da Embriologia), Assim em 1966
editou o trabalho “Sobre a ocorrência em
Portugal de Elanuscaeruleus
(Desfontaines), Falconiformes – Accipitriformes"
(28).
As funções
administrativas e de chefia que foi exercendo
não impediam, entretanto, de ir desenvolvendo
uma profunda pesquisa na sua área de trabalho
académico. Entre esse período e o ano de 1967
foi publicando variados estudos, tais como
“Remarques sur la variation géographique de la
Pie-Bleue, Cyanopica cyanus (Pallas),
dans la Péninsule Ibérique, spécialement au
Portugal”(29),
“Cyanopica cyanus cooki Bp. au Portugal.
Localités de capture et d’observation”
(30).
Nesta mesma vertente
de investigação foi o caso, ainda, de trabalhos
seus como “Contribution à l’étude de la
distribution de Cyanopica cyanus cooki
Bp. (Aves, Corvidae) dans la Péninsule Ibérique”
(31); “Acerca
de alguns aspectos problemáticos da ecologia
geográfica de Cyanopica cyanus (Pall.)
[Aves – Corvidae]
(32); “Sobre a
estrutura e composição do ninho de Cyanopica
cyanus (Pallas) (Aves: Corvidae).
Estudo preliminar”
(33);
ou “On the distributional area of Cyanopica
cyanus cooki Bp.
(Aves, Corvidae) in
Portugal”(34).
A presente listagem de estudos, mesmo que
incompleta (não aproveitámos todos os títulos
desta temática depositados na biblioteca do
CEHLE, associação, que dirigimos), de Germano da
Fonseca Sacarrão no domínio das aves, permite
uma avaliação desassombrada de que a História da
Ciência em Portugal, entre os anos 40 e a década
de oitenta, muito lhe deve. Período esse final
extensivo, aliás, ao seu empenhamento em novos
discursos como o da Sociobiologia, área em que
tinham pontificado Edward Osborne Wilson (da
Universidade de Harvard) e Stephen Jay Gould,
entre outros. |
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6. Incentivador de
estudos na área da História da Ciência, o
investigador patenteou também uma forte
sensibilidade para a História da Edição
Científica
Em 1979 – ainda durante a nossa permanência ao
cimo da rua da Imprensa Nacional, n.º 104, 3.º,
em Lisboa (a menos de cem metros da Faculdade de
Ciências) – tínhamos criado ali a Livraria
Humanística, de fundos bibliográficos impressos.
Com uma componente de edição antiga na área da
História da Ciência, foi essa a origem da futura
Biblioteca do CEHLE. |
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Edifício, à esquerda, onde foi fundada em 1979,
a Livraria Humanistica, em Lisboa
(de que o Professor Sacarrão veio a participar
no estudo
para a catalogação dos fundos científicos)
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Em 1986, quando fundámos em Lisboa a associação
científica Centro de Estudos de História do
Livro e da Edição – CEHLE, o seu nome e a
relação que tínhamos com ele (já depois de
editarmos, em natural autonomia, os nossos
trabalhos sobre Darwin e Arruda Furtado),
constituía para nós um aval seguro no domínio da
História da Ciência com que também contávamos.
Desde então a organização, nesta nossa
biblioteca de Fundos de História do Livro
Antigo, carecia de um consultor que nos pudesse
ajudar a ultrapassar várias dúvidas que
entretanto iam surgindo (na classificação das
obras editadas e impressas entre os séculos XVI
e XVIII). Dadas as relações de vizinhança, por
diversas vezes o contactámos, ainda nos anos
oitenta, nessa mesma vertente.
As nossas amigáveis discussões de então,
recordemo-lo aqui, centraram-se em áreas
diversas, estruturadas sobretudo a três níveis:
– de crença ou teológica (tomando a criação das
aves por Deus);– e artísticas
(incluíndo iconográficas), tomando-se em linha
de conta o largo espectro representacional que
vai desde a problemáticas das aves na
arquitectura medieval à da produção musical do
Renascimento em Gelenius (35)
ou Pierre Belon (1517-1564).
No que concerne ao primeiro daqueles espaços ou
temas do nosso debate (prolongado pelos anos)
com Germano da Fonseca Sacarrão, no plano dos
estudos sobre as Aves, lembremos primeiramente o
que se centrava na área das ideias religiosas e
em particular no Antigo Testamento.
No cômputo da
evolução das ideias científicas na Antiguidade,
importa, com efeito, recuar até à primeira
metade do século III a.C. e reler uma passagem
bíblica, fixada no Génesis. Retenhamos em
particular a passagem que os exegetas – que
fixaram os textos desse primeiro livro
veterotestamentário da Torah –, os
vulgarmente designados por Setenta (36),
estabeleceram uma passagem referente à criação
das aves por Deus. No Gen. I: 21-23: Creavitque Deus
(...) omne
volatile secundum genus suum. Et vidit Deus quad
esset bonum. benedixitque eis, dicens: Crescite
et multiplicamini, (...) avesque
multiplicentur super terram. Et factum est
vespere et mane, dies quintus (37).
Deste passo veterotestamentário apresentamos a
seguinte versão portuguesa:
Deus criou, segundo
as suas espécies
(...) todas as
aves aladas (...) e Deus viu que isto era
bom. Deus abençoou-os dizendo: crescei e
multiplicai-vos e (...) e multipliquem-se
as aves sobre a Terra. Assim, surgiu a tarde e,
em seguida, a manhã: foi o quinto dia (38).
No que concerne à segunda parte de tais
discussões, de relevar que tal tradição, de
matriz cristã, alusiva à criação das aves por
Deus, veio a repercutir-se nas mais variadas
expressões estéticas, ainda ao longo da Idade
Antiga (iluminuras de diversos códices) e,
sobretudo, no plano arquitectónico. Foi o caso
da sua cristalização no domínio da
iconografia catedralícia medieval, em
particular, em França.
Decorreram, desde a fixação de tal texto,
mais de uma dúzia de séculos até que essa
forma de reprodução / multiplicação
do ícone Deus como criador das aves,
passasse a beneficiar de novas tipologias e
de novos suportes na sua materialidade. Elas
passaram, com efeito, do pergaminho ao
marfim, mas também à pedra esculpida, como
no caso específico de Chartres, que vamos
agora reter.
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No final do período oitocentista, o
conservador ou guardião da
catedral de Chartres, a respeito deste
aspecto iconográfico específico (39),
reteve – na sua apreciada monografia
deste templo (com construção iniciada em
1145) (40) – uma escultura ali
existente, em que Deus se oferece, à
adoração dos fiéis, na sua qualidade de
criador das aves
(41).
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Pormenor de escultura em pedra, do século XII,
de Deus como criador das aves,
na Catedral de Chartres, em França.
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6.1 - Da História da Edição impressa dos textos à História da Edição musical, as aves foram ganhando uma cada vez
mais ampla notoriedade como tema de estudo
Quanto às nossas discussões em torno da História
da Edição científica, também centrada nas Aves –
e no período da imprensa pós-incunabular – ela
tinha-se centrado, no essencial, nss já
referidas edições antigas de Plínio o Velho,
Galeno ou Hipócrates; e do período do
Renascimento particularmente em Gelenius,
extensivas, embora, a outras épocas mais tardias
(42).
“Não deve esquecer-se que, na Idade Média, tinha
sido dado um contributo assinalável em França,
por parte de um religioso, o Hugo de Folieto,
quanto à representação (num códice que fez
história) Das Aves, como uma manifestação
da criação dos seres por Deus. Foi esse
códice que, entre os monges do mosteiro do
Lorvão, veio a influenciar – como já no século
XX o cientista e ornitólogo, Prof. Fernando
Frade, também disso se apercebeu – o tão belo
manuscrito iluminado do Livro das Aves.”
Quanto ao Renascimento, porém, a problemática
das Aves entrou no universo da criatividade
estética a outros níveis. Foi o caso de um dos
compositores franceses deste período, Clément
Janequin.
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Registe-se que Janequin (43),
quando contava cerca de quarenta anos,
apurou o sentido do seu gosto pelo canto
das aves. Depois de ter composto temas
em 1529, nessa vertente, uma das suas
obras capitais veio a ser Le Chant
des Oiseaux, de 1537 (44).
Sendo
considerado, ao nível da composição,
como o primeiro que se elevou no patamar
da reconstituição de sonoridades
(bruitiste), ele tentou, no
essencial,
retranscrever nas suas composições o que
ele ouvia
[como as aves] para permitir às
pessoas não presentes, o poder usufruir
das mesmas coisas que ele (45). |
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Retrato em pintura de Clément Janequin
(c.1485-1558),
autor da apreciada obra
Le Chant
des Oiseaux, de 1537.
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Nesse seu esforço reconstitutivo (e
antecedendo mais de quatro séculos o trabalho,
também a partir do canto das aves, de Olivier
Messiaen), Clément Janequin, nessa primeira
metade do século XVI, já cultivava a filosofia
da natureza epicuriana.
Utilizando
onomatopeias – desde os níveis da palavra
poética aos do canto propriamente dito – aquele
compositor quinhentista francês como que
inventava um novo discurso onomatopaico como
este que, visto à luz da musicologia do século
XX e XXI pode ser assim transcrito (46): |
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Um dos temas
em que, modestamente, cremos ter trazido alguma
luz ao espírito do Prof. Germano da Fonseca
Sacarrão, foi quanto aos conteúdos postos por
Belon (1517-1564) na sua Histoire de la
Nature des Oiseaux.
As nossas dicussões filosóficas e científicas
com Germano da Fonseca Sacarrão eram
acompanhadas, muitas das vezes, com belos
exemplares de edições quinhentistas originais
impressas. Levávamo-las até ele quando
pretendíamos que ele nos desse indicações
específicas quanto à sua classificação; ou,
eventualmente, quando lhe pretendíamos relevar
uma ou outra passagem que ferisse a dado momento
a nossa sensibilidade.
Voltando a Plínio o Velho, e à História
Natural, as opiniões do nosso interlocutor
sobre o livro X, respeitante à problemática de
As Aves, nem sempre eram coincidentes com
as nossas, mas foram sempre pautadas, da nossa
parte, por um enorme respeito pelas posições por
ele assumidas.
Assinale-se que nesse livro X, aquele cientista
(23-79 d.C.) aborda, entre outros aspectos, as
migrações avícolas, cruzando os oceanos (cap.
XXXIII). Um outro aspecto em que esse autor
clássico se detém, com algum interesse, é sobre
a temática e tipologias de nidificação (caps.
XLVIII-XLIX).
Germano da Fonseca Sacarrão não tinha dúvidas,
também ele, do particular papel que tinha sido
desempenhado pela Imprensa gutenberguiana, em
fins do século XV, num plano de
reprodutibilidade técnica dos textos. Foi essa
tecnologia, sem dúvida, que muito contribuiu
para a democratização da ciência e do saber em
geral, sobretudo a partir do primeiro quartel do
século XVI.
Na biblioteca do CEHLE, no sector de edições
impressas de História da Ciência, em homenagem a
este Mestre que tivemos – mesmo que
indirectamente e fora dos bancos universitários
das salas de
aula – houve sempre, desde a Primavera de 1987,
um retrato em fotografia, de Germano da Fonseca
Sacarrão, como dívida de afectuosa gratidão. Ele
constituía, na arrumação de tais edições (não um
GPS, mas) o GFS seguro que havia
contribuido decisivamente para uma
sistematização, em vários níveis científicos e
graus temáticos, ou seja, para uma melhor
catalogação de tais edições na área da Ciência
de entre os séculos XVI e XVIII.
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Réplica de uma
gravura quinhentista (presumivelmente já
do século XIX)
com o retrato do naturalista francês,
Pierre Belon,
autor da inovadora obra, na
especialidade,
L’Histoire de
la Nature des oyseaux,
Paris, 1535. Esta réplica saiu editada
em
La Nature. Revue des Sciences,
rédacteur en chef, Gaston Tissandier,
Ano XVI, Paris, G. Masson éditeur (das
colecções do CEHLE), p. 171.
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7. Evolução dos patamares de sensibilidade na
vertente ecológica em Portugal (um caso pontual
quanto à constatação da vida avícola)
Em 1975, com o
dealbar da revolução dos cravos, passou a
estar-se em presença, sobretudo entre as camadas
mais jovens, de uma nova consciência ecológica.
Nós próprios nos empenhámos logo em inscrever no
Movimento Ecológico Português (47) (sem qualquer
intuito político nem filiação partidária: apenas
a defesa de uma causa
pública.
As próprias autoridades e instituições políticas
do (novo) regime – que passaram a suceder-se a
um ritmo algo vertiginoso (48) – acabaram por
despertar, também, para essa nova
intervenção de carácter social que se impunha
por via da Ecologia. O Professor Germano da
Fonseca Sacarrão, com um sorriso nos lábios,
foi-nos manifestando, em várias fases, a sua
percepção, ao longo desses anos oitenta, quer
desse movimento específico de ideias, quer das
alternativas, ao nível da jurisprudência, que se
ia impondo (49).
Muitos outros casos poderiam ser aqui
equacionados, no plano da jurisprudência
portuguesa, quanto ao domínio do estudo das aves
em que então se ia empenhando o Professor
Sacarrão, como figura de proa, quer como cidadão
empenhado, quer como cientista. Retenhamos,
apenas, o caso do diploma 241/88, que legislou e
instituiu normativas para a Área da Paisagem
Protegida do Sudoeste Alentejano e da Costa
Vicentina.
Como disso também se
apercebeu o Prof. Luís Cancela da Fonseca,
naquela Área Protegida sentia-se desde há muito
uma forte diversidade de biótipos, contando-se –
para além de outros aspectos como a paisagem –
uma avifauna diversa e tipologicamente plural
nas suas características físicas e
comportamentais. Aquele cientista identifica,
num seu estudo, “vinte e cinco espécies [que] se
reproduzem nas arribas litorais, situando-se,
neste aspecto, entre as mais ricas da Europa”
(50). |
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8. A evocação de um cientista não é a
revitalização
tardia
da sua memória: é
uma nova dinamização da sua obra
Com a morte de Germano da Fonseca Sacarrão em
1992 – e uma vez que não é aqui o momento de o
lembrar – passou a impor-se uma nova tarefa.
Tornou-se pertinente e urgente, sobretudo entre
as camadas mais jovens, na área de História da
Ciência e, em particular, da Ornitologia,
difundir e redinamizar o seu hercúleo esforço
científico, ao longo de mais de cinco décadas,
nesse domínio.
É um facto que na área da Ornitologia, ao longo
das últimas décadas, têm surgido – em particular
na Faculdade de Ciências de Lisboa, mas também
em outras universidades – investigadores que têm
tido o mérito de erguer alto o lume aceso
(não é pleonasmo) que esse cientista nos deixou.
Sem a pretensão de fazer aqui uma selecção
atávica – e caracterizada, sem se pretender tal,
por uma desmedida irracionalidade, nem por
escolhas de micro-grupos de eleição – chama-se
aqui, no essencial, a atenção para alguns
cientistas das mais novas gerações que não
ignoraram os contributos de Sacarrão (nem de J.
R. dos Santos Júnior) no plano fundador
do estudo das Aves.
Paulo Xavier Catry, doutorado pela Universidade
de Glasgow em Ecologia de Aves Marinhas – em
colaboração com H. Costa, G. Elias e R. Matias –
foram os responsáveis, em 2010, pelo trabalho
Aves de Portugal, Ornitologia do território de
Portugal Continental
(51).
Do primeiro destes
cientistas retemos, ainda, dois estudos que
lemos com particular interesse. Foi o caso do
que publicou em colaboração com J. Forcada e A.
Almeida, em 2011, sobre “Demographic
parameters of black-browed albatrosses
(52) Thalassarche
melanophris from
the Falkland Islands”
(53); ou o que editou em colaboração com C.
Pacheco, em 2008, “Alterações na distribuição da
avifauna portuguesa. Bosquejo de algumas das
grandes tendências do século XIX ao XXI”
(54).
Refiram-se, de igual
modo, as investigações em curso, no mesmo
domínio científico, por parte de Inês Catry. É o
caso de um seu estudo – editado em parceria com
João Paulo Silva, Jorge M. Palmeirim e Francisco
Moreira – que de igual modo apreciámos.
Trata-se de “Freezing heat: Thermally imposed
constraints on the daily activity patterns of a
freeranging grassland bird”
(55).
Quanto a trabalhos
produzidos na Universidade de Coimbra, retemos a
tese de Doutoramento em Biologia (Ecologia)
apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia
em 1995 por P. G. Mota. Tratou-se de uma
dissertação subordinada ao tema Ecologia
comportamental da reprodução no Serino (Serinus
serinus, aves). Fringilidade.
No que respeita à Universidade do Porto, outro
trabalho que acompanhámos com interesse foi a
tese de Mestrado em Ecologia, Ambiente e
Território, de Edna Rita Freitas da Costa
Correia, apresentada no final da primeira década
do século XXI à Faculdade de Ciências daquela
cidade. Tratou-se de Estratégia migratória e
invernada do Pisco-de-peito-azul (Luscinia
Svecica), em 2011.
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Epílogo
Perante tão
restritos, mas cremos que sucintos, exemplos de
produção científica na área em que pontuou o
Prof. Germano da Fonseca Sacarrão, no plano das
várias universidades referenciadas, pode
afirmar-se aqui, em conclusão, que não é a sua
memória que se impõe invocar mas, no essencial,
a fecundidade do seu trabalho que se impõe
semear.
Se como refere o
Prof. Marcel Conche (ex-docente de Metafísica da
Sorbonne), in Presence de la Nature (56),
devemos estar atentos à Natureza e às suas
mutações, saibamos ouvir, então, de novo, o
Prof. Germano da Fonseca Sacarrão, nos inícios
da década de 80, no seu diálogo (perene) com o
autor destas linhas:
GFS – Manuel, conseguiu ouvi-los, a eles?MCM –
A eles? A quem, Professor?GFS – A eles, aos
pássaros! –
É
que parecem não se ouvir
mais na cidade!
(57) |
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ANEXO I
Pierre Belon e a Ornitologia (musical): 1545
(...)
Nous n’avons cognoissance d’aucun
oyseau qui soit de la nature d’un rossignol,
c’est à sçavoir, qui chante incessamment toute
la nuict sans dormir: car lorsque les foréts et
les taillis se couvrent de feuilles, il est long
temps sans cesser de chanter jour et nuict. Mais
pourroit-il estre homme tant privé de jugement,
qui ne prenne admiration d’ouïr telle mélodie
sortant de la gorge d’un si petit corps d’oyseau
sauvage ?
Une oiseau en chantant
A-t-il point eu de maistre, qui luy a enseigné
la science de musique si parfaite? Non: et
toutefois ne fault jamais à bien accentuer les
syllabes, et mieux observer teus les tons, et
les conduire d’une mesme haleinée si parfaite,
qu’il n’y a celuy qui ne désire l’entendre.
Encor redirons-nous qu’il ne fault point à bien
observer les tons, et les conduire d’une mesme
haleinée, les uns en longueur, et aspirer les
autres; tantost varier le dessus, quasi le
jectant en fusée, tantost courber les notes
entiêres, et soudain les mener par feinctes, et
puis les distinguer, et découper par pièces,
comme en minimes crochues:
tantost les assembler, puis les demeurer leur
baillant des entrelassures: et de là les
allongeant, soudain il les délaisse, et puis les
reprenant, il obscurcit sa voix au dépourvu,
quasi comme en tremblant: tantost après
murmurant en soy-mesme, ne chante que le plain
chant, l’une fois si pesant, qu’il semble
prononcer les notes par semibrèves: tantost il
les deprime, menant sa voix en bas ton, et de
prin sault, il fait l’accent aigu comme chantant
en faulcet; l’autre fois fréquente les tons,
l’autre fois les estend, et là où
il luy plaist, les darde haultains, moyens, ou
bas: tantost il contrefait son chant muant sa
voix en diverses façons: voulant quasi qu’on
pense que c’est d’un autre oyseau. Par quoy il
fault nous accorder, qu’il surpasse l’sacrifice
humain en ceste science
(...) (58).
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ANEXO II
As aves migratórias:
práticas de itinerância e vida grupalsegundo António de Oliveira Matos
Duas das
principais obras de António de Oliveira Matos,
natural do
concelho de Mação,
Animais migradores
e
Vegetais maravilhosos,
em edição da
Biblioteca Cosmos,
dirigida por
Bento de Jesus Caraça,
Lisboa,
Editora Cosmos, 1944.
(...) O Verdelhão é outro viajante
cronométrico. Aparece pelo Pentecostes, festa
que se celebra 50 dias após a Páscoa; emigra
apressado em Agôsto, quási sem ter levado a cabo
a criação da sua ninhada. Viaja em grandes
bandos.
O tipo das
sedentárias mais característico e clássico é
a Perdiz cinzenta, que fica sempre
vivendo no lugar onde nasceu.
A
galinha é outro exemplo frisante. O
pardal é sedentário e até doméstico, pois não
larga a casa onde estabeleceu o ninho, a não ser
momentâneamente para buscar o alimento. Em
Lisboa, é interessante observá-los de manhã indo
para o campo, e à tarde regressando para dormir
nos telhados ou sôbre as árvores de avenidas e
parques, em grande quantidade.
Pelo contrário, apresenta-se como uma das mais
audaciosas migradoras a
Tarambola, contudo na Ilha de Santa Helena há
uma espécie que não emigra. Na Nova-Guiné e
Madagáscar, quási tôdas as aves são sedentárias,
pois não saem dessas ilhas. Explica-se o facto
pela grande extensão dos seus territórios e
grande variedade de climas; contudo devemos
notar que na pequena Ilha de Santa Helena no
colhe tal argumento, pois há ali sedentárias.
Regressemos, porém, a outros conhecidos
migradores, que se prestam, além da
andorinha, a curiosas observações.
O
Picanço, essa ave pequena mas forte, tem área
de dispersão extensíssima. Encontra-se na
Europa, Asia, Africa do Norte e
América-do-Norte. Vive em Portugal durante todo
o ano.
Sustenta-se de insectos e, de vez em quando, de
outras aves mais fracas e pequenas.
O
Papa-figos, de plumagem negra e amarela, mede
0m,27 de comprimento. Prefere os
bosques e planícies da Europa e Asia.
No inverno penetra até
à África Central. O canto
harmonioso do macho faz-se ouvir nas primeiras
horas da manhã e nas últimas da tarde, saüdando
o aparecimento e o ocaso do sol.
No intervalo, no meio do dia, choca os ovos
enquanto a fêmea vai colhêr o alimento.«
Bastam dois dêstes pássaros para animarem uma floresta», diz Brehnn. E’ ave
de arribação.
Outra, muito interessante, a
Alvéola, de côres branca e
preta, voa ágil e saltitante em volta do arado e
dos pesados bois que vão rasgando a terra e
pondo a descoberto vermes e larvas. Come êste
apetecido manjar e gosta de estabelecer-se perto
da habitação do homem. Abandona, à chegada do
inverno, as regiões do norte da Europa, mas,
logo que o degelo começa, volta para lá,
expande-se nos prados. No outono vem de novo
para nós.
Faz o ninho em qualquer fenda ou buraco.
A
Folhosa
é
um minúsculo passarinho que
não excede 0,15 m
de
comprimento, ostentando no dorso a côr
verde-azeitona, e nas asas, amarelada e
trigueira. No verão encontra-se na Europa e Asia
do centro, no inverno emigra para o norte de
África e para a Índia. E’ muito
viva e alegre, sobe ràpidamente pelas canas,
poisa nos mais ténues raminhos, ou numa fôlha.
Constrói o ninho a pequena altura, com fôlhas,
fios e musgos, em forma cónica à maneira de
pera.
O macho canta os idílios de seus amores em um
arbusto próximo, para entreter a fêmea que está
no chôco.
O
Pisco, outra pequena ave, tem o dorso
azeitonado e o ventre branco. Na primavera e
verão prefere a Europa, no inverno a Africa do
Norte. Compassivo, socorre outras avezinhas
feridas, ou necessitadas, levando-lhes alimento.
Canta bem. Os sentimentos caritativos dêle têm
sido observados e louvados por grandes
naturalistas.
O
Rouxinol (Lucinia Pbilomela) é o rei dos
cantores. Em contraste com a modéstia da sua
plumagem, arruivada na parte superior do corpo,
branca na inferior, mostra-se o maior animador
dos sítios cultivados. Na primavera e verão
faz-nos companhia. No inverno vai deleitar os
ouvidos dos berberes do norte de Africa. Abunda
na nossa Península. Andaluzia e Portugal
constituem o verdadeiro paraíso do rouxinol. E’
ouvi-lo durante os delírios e cantos de amor,
sob o influxo de ciúmes, antes de a fêmea
começar a postura, entoando os mais maviosos
trilos e melodias formosíssimas e requebros para
agradar à sua fêmea e eclipsar os seus rivais.
Solta canções durante infindáveis horas,
variando sempre os temas e buscando, em cada
novo canto, maior harmonia.
Quem teve a ventura de passar algumas horas nos
celebrados jardins do Alhambra, ou na nossa
formosa Sintra, não poderá esquecer o enlevo, a
doçura, o encanto que ali o embriagaram de
prazer, ouvindo multidão inumerável dessas aves
divinas desferindo suas deliciosas melodias.
A
Toutinegra real é conhecida viajante. Vai da
Europa ao Sudão, em África, e às Ilhas Canárias.
E’ muito inquieta, vivendo em constante
movimento. O seu canto melodioso quási rivaliza
com o do rouxinol e nisto está o seu maior
elogio. A plumagem é escura. Aninha nos bosques
e silvados.
Muito domesticável, afeiçoa-se tanto ao homem,
que se habitua a celebrar a aproximação dêste
com requebros e cantos de alegria.
As
Toutinegas dos canaviais
são pequeninas e lindas aves que trepam com grande
agilidade pelas canas. Alimentam-se quási
exclusivarneune de insectos.
A
Toutinegra dos pântanos chega à Europa em
fins de Abril para regressar em Agôsto, ou em
Setembro o mais tardar, logo que os nevoeiros
apareçam. O macho aparece antes da fêmea e
começa a cantar desde os primeiros dias de Maio.
Para construir o ninho, o macho e a fêmea
escolhem os densos canaviais cujas raízes
mergulhem na água.
Juntam grande quantidade de fôlhas de cana e de
juncos e torcem-nas em volta de três ou quatro
hastes de canas vizinhas. Em geral, o ninho fica
a um metro acima da superfície da água. O
interior é afofado com panículos da cana e com
penugem de flores de salgueiros e álamos.
Sustenta-se da caça de libélulas e outros
insectos que vivem perto da água. Percorre com
admirável agilidade, neste empenho, as hastes
das canas, e, como é pequena, poisa em qualquer
fôlha ou planta de junco, entoando com
frequência os seus cantos maviosos.
O
Taralhão, muito freqüente no nosso país, mede
apenas 0m,14 de comprimento. Tem o
dorso pardo-escuro, e o peito branco-sujo.
Habita o sul da Europa donde emigra no outono
até à Africa Central. E’ muito vivo e ágil. Come
insectos alados, especialmente môscas e
mosquitos, no que presta grandes serviços.
Refere o naturalista Nawmann que um rapaz
apanhou um ninho desta ave com quatro avezinhas
implumes. Levou-o para casa e pô-lo numa sala. A
janela estava aberta. Os pais entraram por ela e
começaram a alimentar a criação com as môscas.
Em breve, estas desapareceram da sala. Mudou o
ninho para outra e sucedeu o mesmo.
Os habitantes da aldeia, ao saberem o facto,
pediram que lhes levasse para casa o ninho.
Dêste modo, tôda a povoação ficou isenta e livre
de tão incômodo insecto.
O
Cuco Cantor é de côr cinzento-azulada no
dorso, ventre quási branco, asas e cauda negras.
Emigra todos os anos. Desde a Sibéria atravessa
a China e desce à índia, Ceilão e Java. Da
Noruega e Lapónia emigra para o sul da Europa e
sudoeste de Africa. Passa pelo nosso país em
Abril, enchendo de cantos sonoros a floresta.
Cada macho escolhe um domínio que reserva só
para si, e acasala-se.
Defende-se furiosamente dos seus rivais. E’
carnívoro e voraz. Não se dá ao trabalho de
fazer ninho. A fêmea põe os ovos em qualquer
ninho de outra ave tendo o cuidado de deitar
fora um ou mais ovos que lá estavam. E’
interessante notar que o cuco que nasce é sempre
tratado com grande carinho pelos seus
hospedeiros, às vezes em prejuízo dos filhos
verdadeiros, pois o cuco é muito voraz.
(...) (59).
|
|
(1)
Pressupõe-se, aqui, tratar-se de seres vivos,
dotados de aparelho fónico, de voz. de fala
(de falas simbólicas),
de hábitos de comportamento, de modos de
acasalamento …
(2)
Este trabalho do Prof. Germano da
Fonseca Sacarrão foi editado na
Revista da Faculdade de Ciências de
Lisboa (2.ª série), 13 (2): 289-294.
(3)
Manuel Cadafaz de Matos, “Arruda Furtado
correspondente de Darwin”, in revista
Prelo, nº. 11, Abril-Junho de 1986,
Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da
Moeda. – Em separata, pp. 1-23. Este
nosso trabalho é referenciado pela
investigadora Ana Leonor Pereira (da
Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra, na sua dissertação de
doutoramento
Darwin em Portugal [1865-1914],
Coimbra, Almedina, 2001, pp. 69 e 573.
(4)
Idem, “Edgar Morin, Conceber o homem à
dimensão sdo seu mito” (Lisboa, DN, 8 de
Março de 1984). nova edição in
Revista Portuguesa de História do Livro,
Ano XI, vol. 22, Lisboa, CEHLE, 2008,
pp. 577-585.
(5)
Edgar Morin,
Science avec conscience, Paris,
Fayard, 1982 (de quie existe hoje
disponível uma nova edição, nas Éditions
du Seuil, col. “Points – Science”, nº.
564, Paris, 1990).
(6)
Marcel Conche segue, aqui, o primado da
obra de Paul Ricoeur,
Soi même comme un autre, Paris,
Éditions du Seuil, 1990.
(7)
Marcel Conche,
Montaigne ou la conscience heureuse,
Paris, Seghers, 1964 (edição disponível,
Paris, Presses Universitaires de France,
6ª. edição, 2007).
(8)
Quanto aos outros universos cultivados,
na área da Biologia – e ao longo de
décadas de produção científica como
universitário – remete-se para o nosso
estudo “Germano da Fonseca Sacarrão
(1914-1992), um humanista na pessoa do
cientista no centenário do seu
nascimento”, in
Revista Portuguesa de História do Livro,
Ano XVII, vols. 33-34, Lisboa, CEHLE,
2014, pp. 719-726. Este nosso texto foi
também divulgado pela Colega Maria
Estela Guedes, no sítio online
triplov, o que agradecemos.
(9)
W. C. Tait tinha editado, algumas
décadas antes, o apreciado livro
The Birds of Portugal, Londres, H.
F. & G. Witherby, 1924.
(10)
Este estudo específico sobre a
Ornitologia duriense, de J. R. dos
Santos Júnior, veio a ser editado no
Anuário da Faculdade de Ciências do
Porto, nº. 48, Porto, 1965, pp.
265-292. Tivemos a oportunidade –
terminados na Póvoa do Varzim, em 24 de
Outubro de 1982, do
Colóquio Santos Graça de Etnografia
Marítima, em que ambos participámos
– de provar e, ainda, de viajar com ele
desde aquela cidade até Rio Tinto, nos
areredores do Porto.Ele presenteou-nos,
então, com um exemplar daquele seu
trabalho.
(11)
Tivemos ensejo de conhecer na época essa
revista
Naturalia, através de um outro
cientista social, cultor do ideário do
Humanismo, o médico naturopata Dr.
Adriano de Oliveira (activo já então em
Lisboa).
(12)
Germano da Fonseca Sacarrão,
Curriculum Vitae, 1960; veja-se, de
igual modo, G. F. Sacarrão,
Publicações. Citações, Lisboa,
Faculdade de Ciências, 1975 (desta série
de actualizações do seu curriculum
científico, viemos a beneficiar, de
igual modo, de exemplares reestruturados
em 1979 e em 1984).
(13)
Paul Dukas insistia então, junto dos
seus jovens alunos como Messiaen, que
“urgía escutar os pássaros”.
(14)
Referimo-nos ao
Stalag
VIII-A, de Gorlitz, na fronteira actal
da Alemanha com a Polónia.
(15) Nesta obra
de Olivier Messiaen, as partes apenas as
partes I, II, VI e VII são inteiramente
originais, sendo as restantes (como
sucede com este terceiro andamento) uma
adaptação de peças suas mais antigas.
(16)
Seguimos, aqui, a colecção dos seus
trabalhos na área da Embriologia – e no
domínio da Ornitologia em particular (já
nos foi referido que no CEHLE,
associação, detemos uma das mais
completas colecções dos seus trabalhos,
dada a nossa proximidade de outrora ao
cientista agora homenageado) – que nos
apontam linhas de reflexão que não se
podem esgotar, já se vê, na
circunstância desta breve evocação.-
Veja-se, ainda, e em termos sumários, o
esforço do Colega, Prof. Carlos Almaça,
in “O Prof. Germano da Fonseca Sacarrão,
Aspectos da sua Obra Científica e
Didáctica”, in
Prof. Germano da Fonseca Sacarrão
(1914-1992), Museu Nacional de
História Natural. Museu e Laboratório
Zoológico e Antropológico (Museu
Bocage), edição com o apoio da Junta
Nacional de Investigação Científica e
Tecnológica e da Fundação da
Universidade de Lisboa, 1994 (com
introdução do Prof. Doutor Carlos
Almaça), Lisboa, 1994, pp. 5-22.
Remete-se em particular para a secção
deste estudo, “A Ornitologia”, pp.
15-17.
(17)
Tal trabalho de Germano da Fonseca
Sacarrão, teve a sua edição, naquele
órgão, vol. 15: 1-11 (e id. II, ibidem);
beneficiou da sua natural continuidade
in vol. 19, 1-14, já em 1948; e
finalmente no vol. 22: 39-53, de 1951.
(18)
Antes deste período específico, Mestre
Aquilino já havia dado alguma atenção a
esse aspecto da Ornitologia musical (e
até biológica) em outro romances seus
como
A
Via Sinuosa (1918);
Terras do Demo (1919);
O
Malhadinhas (1922);
Andam Faunos pelos Bosques (1926);
ou
O
Homem que Matou o Diabo (contos, de
1930). Nesta obra específica de 1944,
Aquilino regista, por exemplo, passagens
como as que se seguem: “(…) A coruja
agora esganiçava-se para a casa do
Calhorra como se alguém a tivesse
enxotado… (p. 155); ou “Estava a pegar
no sono, a ladrona da coruja veio a
crocitar mesmo, mesmo, por cima da
casa…” (p. 157); ou ainda “(…) nas
moitas, o cuco onde calha , e as rolas
na cruta dos pinheiros, ao desafio…” (p.
277).- Veja-se, a este respeito, a
atenta – e sistemática – seleccão de
textos deste autor, estabelecida no
Guia das Aves,
de Aquilino Ribeiro, antologia e
introdução por Ana Isabel Queiroz (IELT
– FCSH da UNL), Lisboa, BOCA, 2012, em
particular in pp. 20; 49; e 139. Este
trabalho textual – e respectivo registo
sonoro apropriado em CD – tinha sido
antecedido alaguns anos antes por um
outro projecto também de cariz
ornitológico e de um outro registo
fonográfico anexo em afinidade, da
responsabilidade da sociedade portuense
“In Libris – Sociedade para a Promoção
do Livro e da Cultura” sob o título
Cada árvore é um ser para ser em nós. O
som na árvore de um poema (2009).
(19)
«Dawn chorus”, que poderíamos traduzir
por
Coros da alvorada.
(20)
Publicações da
Liga de Protecção da Natureza, nº.
9, de 1953.
(21)
Revista
Naturalia, vol. 8, , 1955, pp.
165-180.
(22)
Lisboa, Livraria Escolar Editora, 1956.
(23)
Entretanto Aquilino Ribeiro, depois de
1944, tinha deixado alguns contributos
na área da Ornitologia em algumas outras
obras de ficção como
Aldeia – Terra, Gente e Bichos (de
1946, crónicas);
Cinco Réis de Gente (de 1948,
novela);
Geografia Sentimental (de 1951,
crónicas); ou ainda
O
Homem da Nave (de 1954, crónicas);.-
Veja-se, uma vez mais,
Guia das Aves de Aquilino Ribeiro,
edição ant. cit., loc. cit. (p. 20).
(24)
Referimo-nos a alguns dos seus trabalhos
finais dee ficção como
Quando os Lobos Uivam (romance) e
Mina de Diamantes (novela), também
referenciados por Ana Isabel Queiroz,
loc. Cit.
(25)
Este seu trabalho saiu editado na obra
A
Caça em Portugal, Lisboa, Editorial
Estampa, 1963: 50-148.
(26)
Revista
Naturalia, Lisboa, 1963, 19-20:
39-58; e
Aves de caça e sua biologia, Lisboa,
Escolar Editora, 1963.
(27)
Fora nesse privilegiado posto científico
que o viemos a conhecer nos turbulentos
anos da revolução (após Abril), como já
referimos.
(28)
Arquivo-Museu Bocage, 2ª. Série, 1:
77: 110. Este trabalho teve a natural
continuidade no estudo, do mesmo autor,
“Novos dados sobre
Elanus caeruleus (Desf.), , ibid,,
2, Not. Supl., vol. 18, 1970; e ainda em
“Notas sobre
Elanus caeruleus (Desf.) em Portugal
(Aves, Falconiformes), Ardeola, idem,
21: 173-182, de 1975; e id.,
Elanus caeruleus (Desf.) - Is a real
or illusory expansion in Portugal?”,
Arq.-Museu Bocage, (Série A), 1:
403-413. Esta série de trabalhos veio a
culminar ainda no estudo – preparado em
coautoria com o Prof. A. A. Soares –
“Sobre o status de
Elanus caeruleus (Desf.) em Portugal
(1975-1983) (Aves Falconiformes)”,
editado in
Cyanopica 3,: 339-349), já em 1985,
nove anos antes vir a falecer.
(29)
Arq. Mus. Boc. (2.ª série), 1, 12,
1967.
(30)
Arq. Mus. Boc. (2.ª série), 3, 6,
1971.
(31)
Arq. Mus. Boc. (2.ª série), 3, 11,
1972.
(32)
Este seu trabalho saiu publicado in
Est. Fauna Port., 1, 1974.
(33)
Arq. Mus. Boc. (2.ª série), 6, 1,
1976, em colaboração com A. A. Soares.
(34)
Cyanopica, 2: 1-3, 1981. Recordamos
que no ano lectivo de 1981-1982, no
nosso já referido curso de Antropologia,
na cadeira semestral de “Etologia e
Ecologia Humanas”, de A. Bracinha
Vieira, o trabalho de investigação que
então aí desenvolvemos, foi sobre a
Assimetria Funcional Hemisférica no
cérebro das Aves – no respeitante à
produção do canto – procurando nós então
tentar chegar a conclusões se tal
assimetria (entre o hemisfério esquerdo
e o direito nos pássaros) apresentava
similitudes à assimetria no cérebro dos
humanos.
(35)
A tradução em grego da
Torah, em cinco livros ou cinco
rolos – o
Pentateuco em grego – terá sido
realizado, segundo a tradição judaica,
entre 285 e 265 a.C.. Outras
interpretações do mesmo trabalho de
tradução apontam para que tal tenha
ocorrido a partir de meados do século
III a.C.. Existem, por outro lado,
testemunhos de judeus locais que
apresentam citações a partir do ano 200
a.C., datando o mais antigo papiro
actualmente conservado da primeira
metade do século II a.C.. – Esta
tentativa de datação é estabelecida por
Marie-Françoise Baslez, in
Biblie et Histoire, judaïsme,
hellénisme, christianisme, Paris,
Fayard, 1998, p. 17.
(36)
Biblia Sacra. Juxta Vulgatam Clementinam
Divisionibus, Summariis et Concordatiis
Ornata. Denuo ediderunt complures
Scripturae Sacrae Professores Facultatis
theologicae Parisiensis et Seminarii
Saneti Sulpitii, Romae – Tornaci –
Parisiis, Typis Societatis S. Joannis
Evang., 1947, p. 2,
Gen. I:21-23.
(37)
Nova Bíblia dos Capuchinhos. Versão dos
textos originais, Lisboa / Fátima,
Difusora Bíblica, 1998, p. 25,
Gen. I:21-23.
(38)
Veja-se, de igual modo, a entrada
“Aves”, in
Dictionary of the Bible (1985),
direcção de John D, Davies, versão em
língua portuguesa,
Dicionário da Bíblia, Rio de
Janeiro, 16.ª edição, JUERP, 1990, pp.
62-63.
(39)
Este templo medieval conheceu várias
vicissitudes ainda ao longo do século
XII (incluíndo um incêndio) só veio a
ser consagrado, porém, em 1260, na
presença do rei de França, Luís IX.
(40)
Etienne Houvet, in
Monographie de la Cathédrale de Chartres
(obra premiada pela Academia de
Belas-Artes, em França), s.l., 1900.
Este autor edita, aí, sob. o
número 46, e referente a esse
templo, a representação escultórica
“Dieu créant les oiseaux”, referente,
como indica, ao ”Portail Nord XIIIe.
siécle (Baie centrale, cordons
extérieures des voussures – Déposé)”,
imagem que acima se reproduz.
(41)
De períodos relativamente mais recentes,
centraram-se em figuras da área da
ciência como Lineu, Buffon, ou o Abade
Raynal.
(42)
Clément Janequin tinha nascido em
Châtelleraut, França, cerca de 1485
(vindo a falecer em Paris em 1558).
Tratou-se de um compositor muito atento
à problemática da natureza, sendo neste
aspecto um antecessor de Montaigne
(1533-1592).
(43)
A esse trabalho de Janequin associam-se
uma produção lírica, em quatro estrofes,
que se inicia com os seguintes versos:
Reveillez vous, coeurs endormis/
Le dieu d’amour vous sonne./
A
ce premier jour de may,/
Oyseaulx feront merveillez,/
Pour vous mettre hors d’esmay/
Destoupez vos oreilles/
Et farirariron (…)/
Vous serez tous en ioye mis,/
Car la saison est bonne. (...).
Remete-se para a reinterpretação desta
obra pelo agrupamento
A
Sei Voci, in
Clément
Janequin. Le Verger dr Musique,
Paris, 1995. Este registo, em CD,
ocorreu precisamente três anos depois da
morte do Prof. Sacarrão, em 1992 (não
conseguindo nós ouvir sem ter sempre
presente a sua memória e a recordação
dos nossos debates).
(46)
Pontificava então, à frente desse
Movimento Ecológico Português, Afonso
Cautela.
(47)
Estava-se então ainda muito longe de
surgir, no quadrante político português,
o partido ecologista Os Verdes, que
desde muito cedo perfilhou um inequívoco
alinhamento político. Obviamente que o
MEP havia tido uma capacidade de
intervenção ecológica e social muito
mais abrangente.
(48)
A relação do Prof. Sacarrão com a Liga
para a Protecção da Natureza (inclusive
no plano das publicações que aí foi
fazendo) não deixa dúvidas, ainda hoje,
quanto ao seu empenhamento, naquele
período, nesse sentido.
(49)
Luís Cancela da Fonseca, “Conservação de
rapinas: algumas considerações baseadas
em exemplos da costa sudoeste
portuguesa” (1992), in
Professor Germano da Fonseca Sacarrão
(1914-1992), Lisboa, edição ant.
cit.: 317-334.
(50)
Este trabalho foi editado em Lisboa, por
Assírio & Alvim.
(51)
Em pesquisas que já desenvolvemos sobre
a temática ecológica e a vivência do
albatroz no seu
habitat natural, nas regiões
costeiras, numa perspectiva comparativa
e em planos diacrónicos, já pudemos
concluir (mesmo tratando-se de um
domínio que não é, obviamente da nossa
especialidade, mas como simples
observador na área da Ciência) que,
regra geral, tal
habitat tem vindo a sofrer
significativas alterações. Assinale-se
por outro lado que em França, já em
1857, Charles Baudelaire (1821-1867) –
na sua obra poética, de certo modo
pioneira,
Les Fleurs du Mal – apresenta uma
nota de interesse (também de cariz
sociobiológico) sobre o albatroz, nestes
termos “(...) des albatros, vastes
oiseaux des mers.../ ces rois de
l’azur.../ laissent piteusement leurs
grandes ailes blanches/ comme des
avirons trainer à côté d’eux.
[l’albatros] ce voyager ailé (...)”.
(52)
Polar Biology DOI
10.1007/s00300-011-0984-3
(53)
Este trabalho saiu publicado pela Equipa
Atlas, in
Atlas das Aves Nidificantes em Portugal
(1999-2005). ICNB, SPEA, PNM e SRAM.
Assírio & Alvim, Lisboa, 2008: 67-83.
(54)
ESA – Ecosphere, 2015.
(55)
Marcel Conche,
idem, edição ant. cit. Cfr., ainda,
“Marcel Conche, L’Ésprit de la Nature”,
in
Le monde des Religions, n.º 73,
volume especial sobre o tema
Les Sages de notre Temps, Paris,
Setembro-Outubro de 2015, pp. 30-31.
(56)
E é aos cientistas da área do estudo das
Aves que compete, hoje, encontrar
respostas sobre as razões por que se
registam, desde as últimas décadas,
alterações significativas e
quantitativas nos contingents de aves
que
estão a deixar as grandes cidades.
(57)
Pierre Belon, L’histoire de la
natures des oyseaux, Paris, na oficina
de Guillaume Cauellat (sendo impressor,
Benoist Preuost), 1555, 381 pp. In,
Jean-Pierre Ouvrard (falec. 1992),
“Clément Janequin, Le Chant des
Oyseaulx”, in Le Chant des Oyseaulx,
Arles, Harmonia Mundi, (1983), nova
edição, 2013, livreto, p. [4]. – A
imagem da ave canora que aqui se
reproduz foi obtida, com a devida vénia,
da publicação Montanhas Mágicas
Magazine, 2014.
(58)
António de Oliveira Matos, “Aves
migradoras”, in Animais Migradores,
Lisboa, Biblioteca Cosmos, 1.ª secção
(Ciências e Técnicas, 24), n.º geral,
53, 1944, pp. 59-63. Veja-se ainda,
Manuel Cadafaz de Matos, “Projecto e
projecção da Biblioteca Cosmos”, 2.ª
parte (Resposta ao leitor), in
Revista Portuguesa de História do Livro,
vol. 11, Lisboa, CEHLE, 2004, pp.
169-173.
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