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Cícero Leilton
(Tito Leite) .
Nasceu em
Aurora, Ceará, 1980. É monge beneditino
em Olinda/PE. Mestre em Filosofia pela
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (2010), atuou como professor da
disciplina. Tem outras coletâneas
publicadas nas revistas brasileiras
Mallarmargens e Germina.
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TITO LEITE
Flores temporais |
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Flores
temporais
Solfejo das musas.
A poesia
é prima
da mística.
Na inércia
do rito
nada uma linda
flor de Baco.
A lira e o plectro
se consagram
em estrelas.
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Arautos
A nudez
das coisas
cítara
do nada
onde
homem
e mulher
adivinhos e artesãos
do
celeste
se
extasiam em
sacerdotes do verbo.
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Sindicato dos místicos
Na brisa ácida dos Santos
um místico incensava
de silêncio
o corpo esvaziado
na harpa.
Imitando os anjos
transmutava
cinzas ásperas
em
tardes de acácia.
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A invenção das manhãs
Um místico
tem na poesia
um velho breviário
de polir manhã.
No silêncio
dos fragmentos
a ociosidade dos pombos
primavera uma flor
de ipê.
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Clareando vácuo
A lama
do húmus
tem asco
pelos líquidos
das palavras.
O deserto
se ilha
para o limbo
de Dante.
O caos do
desconhecido
é um balaço
às escuras.
Em tempos
de demência
a moira nem sempre
é fortuna.
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Modernidade
Os leprosos das Metrópoles têm
feridas disformes para o social.
A virtualidade das neuroses
dançam debaixo das margens.
Todo homem tem transcendência
almas dadas para o noturno.
Epiderme exposta nas vielas sujas
a prostituta em seus mistérios.
O Estado se esmera
dilatando os poros em solidões.
No chão espoliado do indigente
a águia escava ouro negro.
O mesmo que bebe a cicuta desse destino
abre em cada mazela o sagrado.
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Retorno
No rio de Heráclito, Nietzsche nada.
A borboleta tem cheiro
de metamorfose.
Santo Agostinho não atirou pedras
nem desmantelou a ampulheta
do que Deus amara antes do nada.
O mar lava os pés com foice de prata.
O moderno se oceana
nas escamas da manhã.
O relógio de vidro tem que ser póstumo
para ter lar.
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Jardim da
existência
A existência tem decotes de Eva.
Uma obra original
precede o veneno.
Amo todos os sentimentos
que burlam minha fé.
Sou um mistério desnaturado
a esmo no silêncio
dos minérios.
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A casa do meu ser
A casa do meu ser
- sem o amor
dos meus sonhos
- sem os louros
dos heróis.
Quando serei o místico
das minhas orações?
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Depois do estranho
Não oculte janela
de nada.
O paraíso
tem seu pedaço
de ficção.
Arregace as mangas.
Esmere
o âmago.
O humano
ainda
espanta.
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Longe de casa
Uma estrela
no fundo
da terra.
Desce a nuvem
numa margem
de ferrugem.
Topázios límpidos
diluídos em petróleo
de porcos.
Vinho seco.
Um místico
se veste
de rito.
Como as flores se perdem
das suas estações?
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Poema beatificado
A poesia
nasce na infância
do mistério
educada
pelos olhos
dos mágicos
sua mátria
é a língua
do silêncio.
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Poema do absurdo
O que importa
a febre do aço?
Minha alma
tem o sulfato
das palavras.
Sou filósofo
do absurdo
contra o óbvio.
Se os versos
não tocam
no poema
eu me diverso.
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Um movie para um andarilho
Um homem cansado
dos cordeiros
que anoitecem
lobos.
Matriz calada
nas pedras que gritam.
A dúvida nas lápides
do rio negro.
Girassóis azulados
na jarra funda
dos olhos
da lua.
Outono.
Completar as tardes
com vácuo.
O tempo, uma árvore.
Um eremita.
A flor de lótus branca.
Seguir aves
migratórias.
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