Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências .
ns . nº 54 . outubro-novembro 2015 . índice



 

 

 

 

 

 

Cícero Leilton (Tito Leite) . Nasceu em Aurora, Ceará, 1980. É monge beneditino em Olinda/PE. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2010), atuou como professor da disciplina. Tem outras coletâneas publicadas nas revistas brasileiras Mallarmargens e Germina.

 
TITO LEITE
Flores temporais
 

Flores temporais

 

Solfejo das musas.

 

A poesia

é prima

da mística.

 

Na inércia

do rito

nada uma linda

flor de Baco. 

 

A lira e o plectro

se consagram

em estrelas.

 

 

Arautos 

 

A nudez das coisas

 

cítara

do nada

 

onde homem

e mulher

 

adivinhos e artesãos

do celeste

 

se extasiam em

sacerdotes do verbo.

 

Sindicato dos místicos 

 

Na brisa ácida dos Santos

um místico incensava

de silêncio

o corpo esvaziado

na harpa.

 

Imitando os anjos

transmutava

cinzas ásperas

em tardes de acácia. 


A invenção das manhãs 

 

Um místico  

tem na poesia

um velho breviário  

de polir manhã.

 

No silêncio

dos fragmentos

a ociosidade dos pombos

primavera uma flor

de ipê.

 

Clareando vácuo

 

A lama

do húmus 

tem asco

pelos líquidos

das palavras.

 

O deserto

se ilha

para o limbo

de Dante.

 

O caos do

desconhecido

é um balaço

às escuras.

 

Em tempos

de demência

a moira nem sempre

é fortuna.

 

Modernidade 

 

Os leprosos das Metrópoles têm

feridas disformes para o social.

 

A virtualidade das neuroses 

dançam debaixo das margens.

 

Todo homem tem transcendência

almas dadas para o noturno.

 

Epiderme exposta nas vielas sujas

a prostituta em seus mistérios.

 

O Estado se esmera

dilatando os poros em solidões.

 

No chão espoliado do indigente

a águia escava ouro negro.

 

O mesmo que bebe a cicuta desse destino

abre em cada mazela o sagrado.

 

Retorno

 

No rio de Heráclito, Nietzsche nada.

 

A borboleta tem cheiro

de metamorfose.

 

Santo Agostinho não atirou pedras

nem desmantelou a ampulheta

do que Deus amara antes do nada.

                    

O mar lava os pés com foice de prata.

 

O moderno se oceana

nas escamas da manhã.

 

O relógio de vidro tem que ser póstumo

para ter lar.  

 

Jardim da existência

 

A existência tem decotes de Eva.

 

Uma obra original

precede o veneno.

 

Amo todos os sentimentos

que burlam minha fé.

 

Sou um mistério desnaturado

a esmo no silêncio

dos minérios.

 

A casa do meu ser 

 

A casa do meu ser

 

- sem o amor

dos meus sonhos

 

- sem os louros

dos heróis.

 

 

Quando serei o místico

das minhas orações?

 

Depois do estranho 

 

Não oculte janela

de nada.

 

O paraíso

tem seu pedaço

de ficção.

 

Arregace as mangas.

 

Esmere

o âmago.

 

O humano

ainda  

espanta. 

 

Longe de casa

 

Uma estrela

no fundo

da terra.

 

Desce a nuvem

numa margem

de ferrugem.

 

Topázios límpidos

diluídos em petróleo

de porcos.

 

Vinho seco.

 

Um místico

se veste

de rito.

 

Como as flores se perdem

das suas estações?

 

Poema beatificado 

                                     

A poesia

nasce na infância

do mistério

 

educada

pelos olhos

dos mágicos

 

sua mátria

é a língua

do silêncio. 

 

Poema do absurdo 

 

O que importa

a febre do aço?

 

Minha alma

tem o sulfato

das palavras.

 

Sou filósofo

do absurdo

contra o óbvio.

 

Se os versos

não tocam

no poema

eu me diverso. 

 

Um movie para um andarilho 

 

Um homem cansado

dos cordeiros

que anoitecem

lobos.

 

Matriz calada

nas pedras que gritam.

 

A dúvida nas lápides 

do rio negro.

 

Girassóis azulados

na jarra funda

dos olhos

da lua.

 

Outono.

Completar as tardes

com vácuo. 

 

O tempo, uma árvore.

Um eremita.

 

A flor de lótus branca.

 

Seguir aves

migratórias.

 
 
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Maria Estela Guedes
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