Fantasmas
da Despedida
(poeta
dirigindo-se a si mesmo)
– Fantasma do
eu do passado –
vai e sê feliz
com mais esta memória
caída. e finge
que não estou dentro
dela, de olhos
verdes,
cheios de
lágrimas, a somar
poemas ao
infinito.
um dia chegará
em que não saberás
destrinçar,
nestas linhas, o que realmente
é teu passado:
respiração, ternura,
grandeza de um
corpo que quer aconchego.
como saberás
onde terminas?
– Fantasma do
eu do presente –
se concebo,
pior: se executo
friamente um
esquecimento tão grande,
é só para,
mais à frente,
encontrar na
inocência, no espanto
das coisas, a
ingénua criança
que a todos
acompanha.
- não voltes
nunca -
– Fantasma do
eu do futuro –
é bem possível
que desconheças
os alimentos
de que, actualmente,
me nutro. é
bem possível que seja
uma figura que
nunca reconhecerias.
asseguro-te:
sou feito da tua
matéria, o teu
olhar é ainda o meu olhar.