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								ANTONIO COLINAS.
								
								Poeta, narrador, traductor y ensayista, nació en 
								La Bañeza (León, 
								España), 
								en l946. Ha publicado, hasta la fecha, más de 
								una treintena de libros. De ellos, once son de 
								poesía, entre los que destacan: Sepulcro en 
								Tarquinia (Premio Nacional de la Crítica en 
								1975), Astrolabio, Noche más allá de la noche, 
								Jardín de Orfeo, Los silencios de fuego y Libro 
								de la mansedumbre. En l982 le fue concedido el 
								Premio Nacional de Literatura a una edición que 
								recogía el conjunto de su obra poética y que ha 
								sido reeditada por Visor Libros con el título de 
								El río de sombra (Treinta años de poesía, 
								l967-l997). 
								 
								 http://www.antoniocolinas.com/index.html |  
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								ANTONIO COLINASTrês poemas
 Tradução de João 
								Rasteiro
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								A chama |  
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								| Hoje começo a 
								escrever como quem chora. Não de raiva, ou dor, 
								ou paixão.
 Começo a escrever 
								como quem chora
 saciado de plenitude,
 como quem leva um mar 
								dentro do peito,
 como se o olho 
								possuísse toda
 essa imensa colmeia 
								que é o firmamento
 em sua breve pupila.
 
 
 Incendeio-me em 
								plenitudes passadas.
 E por estas presentes 
								emudeço.
 Choro por ter uma 
								mulher a meu lado
 pela água de um monte
 que sonha entre 
								ciprestes num lugar da Grécia;
 choro porque nos 
								olhos do meu cão
 encontro a 
								humanidade, pela arrebatadora
 música que talvez não 
								mereçamos,
 por dormir tantas 
								noites em sossego profundo
 sob o ícone e sua luz 
								de oiro,
 e pela mansidão da 
								vela,
 que é só isso, chama.
 
 
 Começo a escrever e 
								também a escrita
 chora, porque respira 
								e queima, porque passa.
 Que grande prazer 
								sentir-me
 eu mesmo essa palavra 
								que vai ardendo.
 (Porque eu também 
								ardo e também passo)
 
 
 Contemplo uma chama 
								imóvel na penumbra
 de suaves jardins,
 na margem de um mar 
								calmo e antigo,
 e vou-me incendiando 
								com a fortuna
 de saber que não 
								existe outra verdade
 que não seja essa 
								chama, ou seja,
 a do amor que é dom e 
								que é condenação.
 
 São chamas as 
								palavras e são chamas os olhos,
 que choram sem chorar 
								pelo ser que eu fui
 (aquele fogo cansado 
								que tremia
 junto a outros 
								jardins de outro mar)
 e pelo ser que agora 
								está fitando
 fixamente uma chama,
 e que é, em solidão, 
								a chama mais satisfeita.
 
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								| O muro branco |  
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								| Estou sentado frente 
								a um muro branco: áspero muro, seco 
								como grito
 de cristal, ou talvez 
								como a neve
 da infância no 
								silêncio das gândaras.
 Um muro branco, 
								branco como o osso
 calcinado, ou talvez 
								como cal viva
 que nas tumbas abraça 
								carne branca.
 
 
 E, olhando-o, eu 
								também sou branco,
 pois branco é o fogo 
								ou é a luz
 que vai e vem nas 
								veias venturosas
 Enquanto durar a luz 
								não chegará
 o negro até este muro 
								limpo e branco.
 Enquanto durar a 
								minha luz todo o branco
 do mundo envolverá a 
								sala, o ar,
 as horas desta casa 
								que é fogueira.
 
 
 Estou sentado 
								defronte ao muro branco
 à espera de tudo e 
								obtendo
 tudo de quanto é nada 
								em sua brancura.
 O muro que é deserto 
								da minha alma.
 O muro que é deserto 
								da luz
 
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								| A visita do 
								mal |  
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								| Hoje recebemos a 
								visita do mal, mas decidimos 
								acolhê-lo
 como a um hóspede 
								fecundo.
 O mal chegou de 
								repente, como ratoeira ou veneno,
 e abrimos-lhe
 de par em par a porta 
								da casa.
 
 
 Como sempre, o mal
 veio cego, despido, 
								sem razão,
 e embora cães e gatos 
								tenham fugido,
 conservámos 
								plenamente a calma
 e conduzimo-lo até ao 
								jardim.
 Ali, o doce dia, o 
								sol tão forte
 abrasavam as chagas e 
								pesares,
 ressequiam o sangue 
								nas feridas,
 apagavam o espesso 
								fedor do ar.
 
 
 Chegou-nos o mal como 
								uma faca irada
 em porões de sombra,
 mas a casa e o 
								coração estão abertos.
 Uma vez mais tivemos 
								que colocar
 amor onde o amor não 
								se encontrava.
 E não há mordaça, 
								dardo, agulha, fel
 que não possa fundir 
								a fogueira musical
 que, de monte a 
								monte, hoje propaga o outono.
 
 
 Entrei uns momentos 
								na casa
 para oferecer o pão e 
								a bebida
 ao hóspede irado.
 Quis alegrar-lhe o 
								coração, colocar
 um pouco de calor em 
								seu rosto de gelo.
 Em aquietada paz 
								voltei ao jardim
 para abraçar o mal, 
								mas não pude,
 pois encontrei-o 
								caído e moribundo
 de luz e silêncio 
								entre a erva.
 
 Hoje recebemos a 
								visita do mal,
 mas logo tivemos que 
								enterra-lo
 debaixo da laranjeira 
								e do seu aroma,
 onde zumbem as 
								abelhas.
 Sozinhos tivemos que 
								beber
 o vinho que tirámos 
								para o hóspede,
 
 o doce vinho do mais 
								profundo esquecimento.
 
 
 
 
 In, Libro de la 
								mansedumbre (1993-1997)
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