A Felisa era uma menina
pequena, apenas com 1 ano e meio, talvez uns
mesitos mais.
Naquele Verão tinha
voltado com os pais à terra onde tinha nascido,
uma pequena aldeia de pescadores chamada
Portimão. Eu sei que muitos desconhecem, mas a
grande cidade turística que conhecemos hoje, nos
anos 60 do século XX, altura em que se passa a
nossa história, era só uma pequena aldeia de
pescadores. Tinha uma mão cheia de casas
pequeninas, só com um andar e com um ou dois
quartos e uma sala, que dava directamente para a
rua.
Ficaram hospedados num
quarto com espaço só para uma cama e um colchão
pequeno, onde dormia a nossa amiga; na casa de
uns amigos que era um bocadinho maior do que a
maioria das outras casas do Portimão dessa
altura.
Costumavam dar grandes
passeios, ao fim da tarde, junto ao mar, com os
seus amigos anfitriões e o filho deles, que era
um pouco mais velho que a Felisa, mas que, pelo
que me contaram, gostava muito de brincar com
ela. Até parecia ser seu irmão, de tanto brincar
com aquela menina pequenina que teve como
companheira naquele ano.
Um dia a nossa
amiguinha, que estava sentada na sua cadeirinha
de passeio e que gostava muito de mexer as
pernas para se entreter, deixou cair um sapato.
Como ninguém deu por nada, continuaram o
passeio, até que, a dada altura, o pai da Felisa
olhou para os pés dela e viu que lhe faltava um
sapato. Ela nem percebeu nada, ou talvez tenha
sentido o pé nu mais à vontade; nunca lhe
perguntei e por isso não sei se deu pela falta
do sapato.
Como devem imaginar,
voltaram todos pelo caminho por onde tinham
vindo, para ver se conseguiam encontrar o
sapatinho da Felisa. Não o encontraram naquele
dia, nem nunca mais.
Não, a história não
acaba aqui: muitos anos depois, já a Felisa era
grande, com 15 anos de idade, o pai dela
encontrou-se com o amigo de Portimão, um pintor
muito famoso; ora esse amigo não disse mais nada
senão
“Anda daí à procura do sapato da Felisa, que
nesta altura já deve ser um sapato de salto
alto.”.
Já adivinharam que
ninguém foi à procura do sapatinho perdido, até
porque, hoje, passados uns anos depois deste
encontro, e apesar da Felisa ter o pé muito
pequeno, o sapatinho de bebé já não lhe serve.
8 de Julho de 2015
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