Aos deuses, que o sereno
céu sustenta
entre Amarillo Road ou Canyon Drive
ou em esquinas de ruas
indiscretas
como luzes num bosque
além dos montes
ofereço as minhas horas
de amargura
e muitas meias-noites em
meu rumo.
Acresce que
fui sempre muito pouco
metafísico
mau grado a nostalgia
que me punge
ao longo de não poucos
boulevards.
Morenas tive algumas,
mas não foram
mais que pistas abertas
p'lo destino
como louras que rápido
olvidamos
- fios de música
correndo pelo tempo
e uns sopapos ao norte
da figura.
Fiz de conta que os anos
eram flores
numa campa de amigos ou
de amores
sonhos que o vento leva
quando calha
como folhas das árvores
de Los Angeles.
Saber de mais é obra que
não chega
p'ra ti, p'ra mim, p'ra
todos os que sofrem
em vernáculo ou calão.
Dizer da vida o pouco
que nos dá?
Prefiro um
highball
bem fornecido
um disco de
hot jazz
a meio da tarde
(solarenga ou chuvosa)
- até as convenções nos
são propícias
se a carne é fraca,
posto que perspicaz.
Nos meus arquivos guardo
alguma 'sperança
mesmo que o tempo venha
e me devore.
Junho
de 1990
in “Os
olhares perdidos”
ns
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