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LUÍS COSTA
"Homero suburbano" e
outros poemas |
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- Homero
suburbano -
Estou sentado num
café. bebo um chá
de camomila para
aclarar os pensamentos.
pois passei a noite
dentro de um sonho obscuro.
sem portas. nem
janelas. sem sol. nem luar.
bebo o meu chá
vagarosamente como se pudesse
parar o tempo no
simples gesto de beber.
bebo e olho através
da janela do café.
bebo e olho
e vejo vistamente
visto um homem,
um homem sentado a
uma esquina.
não tem braços, nem
pernas.
o mar estendido à sua
volta como um cão magro.
o mar, sujo, mas
fiel.
(θάλασσα
θάλασσα)
o rosto barbudo,
nobre e altivo como a
tristeza.
e ouço como canta,
como canta uma canção
muito antiga,
numa língua muito
antiga.
uma canção de miséria
e terror.
e fala dos seus
membros perdidos.
algures perdidos.
das dores que ainda
lhe provocam dores,
das feridas que
chegam da alma até à carne,
da casa que já não
pode habitar.
e também das crianças
que correm,
cegas, pelas ruas do
amanhecer
em busca da turbina
da luz.
dos animais
degolados.
dos avós olvidados na
solidão demográfica.
e as mães que choram
os seus filhos
as mães.
e esperam por
notícias de deus.
as mães que esperam.
ach!
aber Gott ist tot! Gott ist tot!
com os olhos cegos,
revirados para o vazio,
canta e canta
e o sal da noite
bate-lhe nos ventrículos.
bate.
sobe.
arrebata-lhe a voz.
e eu: olho-o. olho-o.
entristecido, mas
maravilhado, olho-o.
e lembro-me de
Homero.
Homero com o seu
búzio miraculoso
numa
das mãos.
Póvoa de Varzim .
2015 .
Luís Costa |
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Was bleibet aber,
stiften die Dichter.
Hölderlin
Podo a lucidez
Dos louros da
loucura:
Proclamo o
empalamento
Do poeta
Para que o sangue
Incendeie a terra
Pois o que fica
Os poetas o fundam. |
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Há profissões estranhas, mas
geniais.
E assinalo aqui o amolador do
cântico dos rouxinóis
Que todos os anos, no dia 20
de março,
Passa pela minha rua. |
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Por esses dias, os rouxinóis
ardem
Castos e húmidos
Nos jardins. |
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De todas as vezes, o amolador
do cântico
Dos rouxinóis diz-me que a 20
de 1770,
Em março, nasceu Hölderlin.
óstracos, luís Costa |
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