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ANA PINTO
Pinturas-poema |
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Ana Pinto
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Poeta e artista plástica portuguesa,
natural de Setúbal. Estuda conservação e
restauro de pintura de cavalete e,
posteriormente forma-se em cerâmica
criativa, que desenvolve a par com a
pintura. Contacta com o restauro de
arqueologia e explora as temáticas
clássicas na poesia. Tem traduzido
poetas como Gérard de Nerval e Charles
Baudelaire. Dos vários títulos de poesia
publicados surgem também dois álbuns de
pinturas-poemas, abordando literatura e
artes plásticas, trabalhando os dois
contextos.
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Gaia
Eu sou a filha das brisas, das folhas
orvalhadas,
Das verdes
manhãs da inocência, do rubor do Outono.
Estou presente
nos primeiros silêncios da Primavera
E na seiva do
fruto e no perfume da terra molhada sou eu.
Cresço no olhar
da criança que espelha as estrelas
E nos braços da
mulher sou uma oferenda de asas.
Solto os cabelos
na terra para o vento abotoar no meu peito
Todos os caules
solares da esplêndida virgindade da cor
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Endymion
Endymion que na encosta nua
Imóvel, alheio,
inconsciente
Vive a vida da
morte aparente
Da vida que é sono
e foi a sua
Cego, seu rosto
grave na folhagem
Do sono sem sonhos
sua beleza uniu
À clareira de
Latmos. Foi a prata que o cingiu
E brilha no
perfeito círculo da miragem
Seu corpo sempre
jovem e eterno
Não se sacia com a
água das nascentes
Nem espera a
fresca aurora ou os poentes
É dos montes seu
ser e sua imagem
Una e imortal. Ali
no silêncio que ficou
Só sente a sombra
de Seléne que o amou.
Ana Pinto, Endymion e Seléne, acrílico s/tela
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Leda e o Cisne
Como te encontrar sem dor sem repouso
Macerada erva
sombra salvia de terno seio?
Defeso fruto,
antes tomado - proibido o veio.
Podadas asas
serei assim - num só sopro
em teu corpo em
carnação me tornarei.
Unguento o poro,
enlevo o rasgo,
a madre, a pele.
Súbito lance, ferindo o bico
e tomarei. Espelho
de água, impura
luz não me revela.
E tu, dormente, e
tu absorta, ao sol te entregas
fluindo a sede da
minha seda –
Penas verás e
elevarei.
Morro no ventre,
na morte amada
rasgando lagos.
Dual gestante,
pira carregada
do meu incêndio.
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