| 
      
        |  |  | 
 |  
        | REVISTA TRIPLOVde Artes, Religiões e Ciências
nova série | número 52 | 
		junho-julho | 2015 |  
        |  | 
			
				| 
 |  
				| 
          
            | 
				RORY WATERMAN
 «The Avenue» e outros poemas
 
 Traduzidos por Francisco Craveiro
 |  
            |  |  
            | O livro de 
			estreia de Rory Waterman, 
			Tonight the Summer’s Over, foi objecto de uma
			Poetry Society Recommendation e integrou a lista final para o
			Seamus Heaney Prize. Rory 
			escreveu dois livros sobre poesia do século XX, co-edita a revista
			New Walk e colabora 
			regularmente no TheTimes 
			Literary Supplement. 
			É professor de Inglês na 
			Nottingham Trent University, onde é também responsável pelo
			MA em
			Creating Writing.
			
			  |  |  
				|   |  |  
        | EDITOR | 
		TRIPLOV |  |  
        | ISSN 2182-147X |  |  
        | Contacto: revista@triplov.com |  |  
        | Dir. Maria Estela Guedes |  |  
        | Página Principal |  |  
        | Índice de Autores |  |  
        | Série Anterior |  |  
        | SÍTIOS ALIADOS |  |  
        | Apenas Livros 
		Editora |  |  
        | 
		Arte - Livros Editora |  |  
        | Domador de Sonhos |  |  
        | Agulha - Revista 
		de Cultura |  |  
        | Revista 
		InComunidade |  |  
        |  |  |  
        |  |  |  
        |  |  |  
        |  |  
        |  |  |  
        |  |  |  
        |  | The Avenue  
		  
		Encontraram um homem no 
		arbusto que abriga a nossa pequena rua – 
		uma mão gorda e branca deixada 
		fora da cova – 
		e a polícia isolou uma pequena 
		área. Nenhuma  explicação 
		  
		a não ser do
		The Post. E agora o solo 
		está novamente pejado de latas 
		e pacotes vazios de batatas 
		fritas; o granizo sacode a hera; os melros 
		saltitam entre o chão 
		e o tronco quando monotonamente anoitece. 
		  
		Ao regressarmos à noite também 
		nós vamos continuando, 
		apressando-nos para as luzes 
		de segurança, nas 
		sombras de portões que 
		empurram pelo saibro do chão. |  
        |  |  |  
        |  | 
		
		Visita mensal  
		  
		A tua cerveja depois do 
		almoço; o meu sumo de ananás; 
		Um pacote de 
		aperitivos boquiaberto entre nós. 
		A sala do
		Wig & Mitre era uma escolha tua. 
		Depois, às seis, o táxi de 
		regresso, um abraço 
		antes de te deixar a acenar-me 
		na esquina, 
		terminado 
		o  nosso fim de semana 
		mensal. 
		A mãe à chegada a parecer  
		um pouco mais calorosa 
		do que quando a deixara e eu 
		um pouco mais fechado. 
		  
		Como havia eu 
		de saber o que era um alcoólico? 
		O
		Wig & Mitre é hoje o 
		Widow Cullen’s Well. As divisões foram deitadas abaixo, as paredes 
		deixadas nuas; mas o sítio tem ainda o mesmo cheiro a mofo, 
		adocicado
		
		 
		e 
		volto a entrar para beber qualquer coisa porque 
		
		sei que aqui encontrarei uma parte de nós. |  
        |  |  |  
        |  | Visita ao avô  
		
		  Ele deu-lhe uma fotografia da bisavó Alice e uma caixinha com medalhas que tinha ganho na 
		Guerra. Ela experimentou os óculos e riu-se, ouviu o clicar do 
		pacemaker, bochecha encostada ao peito, deu corda ao relógio e chocalhou os comprimidos, mas ele não lhe disse para que eram. 
		
		  Quando o cancro o levou 
		a mãe disse-lhe que não o podia ver. Não se mostra a uma criança de 
		quatro anos o que corpo pode fazer a si próprio. Uma noite 
		então ela ouviu falar em céu, nas pessoas a olharem cá 
		para baixo e a sorrirem. Fez por não chorar e escondeu
		 as medalhas que o avô em tempos usara. |  
        |  |  |  
        |  | Dores de crescimento (Distância)    A Mamã vai ao tribunal, o Papá vai ao tribunal, meu amor, 
		e lá resolvem como vai ser, meu querido – onde vais dormir, onde vais à escola. 
		Só isto.   E quem merece mais ficar contigo? Qual 
		é o melhor a abraçar-te e a dizer não tem importância quando fazes chichi na cama? É como um exame e o prémio és tu, doçura, os especialistas sabem,   fizeram contas, leram livros enormes. O juiz é um homem muito, muito inteligente. Vá, sê um homenzinho, pequenito, e limpa os olhos. Gostamos todos muito de ti. Estamos a fazer aquilo 
		que podemos.   E agora - caramba! – tens vinte cinco anos  e tiras 
		depoimentos de uma pasta. |  
        |  |  |  
        |  | De um apartamento de habitação social em Birmingham    À porta o monte habitual de correio: contas e extractos, alguns postais de Natal em Junho. Os vizinhos 
		achavam que não viam o John havia meses, já não suportavam as moscas, alguém interrogou-se de onde viriam elas e ligou-nos. O mau cheiro era insuportável, o estômago chegou-me à garganta. O pessoal da 
		medicina legal meteu-o num saco e levou-o. Limpámos a cinza   do seu último cigarro caída no chão, vimos a cova no sofá onde ele ficou em frente da TV, sob o candeeiro, e defumámos 
		o apartamento para fazer desaparecer  o sabor forte da sua presença, entre fotografias 
		emolduradas de alunos com covinhas na face. E ninguém chorou ao ver o álbum de casamento ou manchas de humidade ou se perguntou a razão pela qual se dera ao 
		trabalho de viver. |  
        |  |  |  
        |  | Retrospectiva    Como é que uma coruja é apanhada por um comboio? Sem manchas de sangue, como era, levemente 
		espalmada: aos treze anos não se pensa que é uma coisa que se não voltará a ver do mesmo modo   como brinquedos,
		cartoons, há apenas uns meses. Vês que está hirta como cartão. Esticas 
		uma asa que  
		fica a meio ao voltar a juntar-se ao corpo. Pegas-lhe por uma garra para mostrar aos amigos   que não tens medo. Quatro garras frágeis curvam-se na tua mão cruel – estás de mão dada com uma coruja morta e sábia, a aprender algo inescrutável que não podes compreender ainda. |  
        |  |  |  
        |  | Desdobrar    Fizeste uns cortes, sacudiste e pronto já estava: uma cadeia 
		de figuras de mãos dadas e pés a tocarem-se. O papá trouxe os lápis de cor,   tu esborrataste-a com rabiscos 
		e remoinhos roxos, verdes, pretos, azuis, desenhaste caras, olhaste e estava muito bem, escreveste o teu nome,   a Mamã achou que estava excelente e colou-a no frigorífico com
		Blu-tack. Dezasseis anos passaram num piscar de olhos. Lá ficou a 
		enrugar-se, salpicada,  meio 
		esquecida,  a amarelecer, a ser coberta por postais e foi metida numa lata   quando a Mamã 
		e o Papá fizeram obras na cozinha, tu  formado, com emprego, eles com tempo, dinheiro para gastarem e projectos para a reforma. 
		E quatro meses depois de ires contra aquele plátano, de dares cabo de 
		metade do cérebro, levaram-ta 
		perguntando lembras-te? Mas tu não respondeste. |  
        |  |  |  
        |  | Urtigas    Vou às urtigas na mata pensando vagamente em sopas, guisados, chás e movo-me com dificuldade entre hastes que quebram   nos meus 
		joelhos, sem pensar na destruição que os meus passos estão a causar, lembrando-me da 
		minha Avó a aproveitar uma tarde para talhar e deformar a sua sombra com uma pá   à procura de ruibarbo que nunca comemos, para tartes nunca feitas. |  
        |  | 
		 |  
        |  | © Maria Estela Guedesestela@triplov.com
 PORTUGAL
 |  
        |  | 
		 |  
        |  |  |  |  |