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Renascer é uma constante na história do Universo, num processo que
remonta aos primórdios desta entidade que nos esmaga pela enormidade dos
números do tempo e das distâncias e da qual o nosso planeta é apenas um
minúsculo “pale bloue dot”
(ponto azul claro) como escreveu o grande divulgador Carl Sagan.
Na sequência das explosões das primeiras estrelas (supernovas),
surgidas, segundo se crê, há 12 500 milhões de anos (cerca mil milhões
de anos depois do Big Bang),
nasceram outras por aglutinação dos respectivos despojos (gases e
poeiras) lançados no espaço. O nosso Sol renasceu, assim, de uma estrela
anterior, num processo cuja história astrónomos e astrofísicos acreditam
ter desvendado, perscrutando o céu com os seus modernos e poderosos
equipamentos.
Renascer é também uma constante na história da Terra. O designado ciclo
petrogenético põe em evidência sucessivos renascimentos das rochas da
crosta terrestre, numa caminhada com início há mais de 4 000 milhões de
anos. Veja-se, por exemplo, o caso do granito (lato
sensu). Uma vez aflorada à superfície, esta rocha, de todos
conhecida, sofre meteorização e erosão, lançando no mar, através dos
rios, os produtos delas resultantes. Acumulados sob a forma de rochas
sedimentares, esses produtos acabam sempre por ser envolvidos na
formação de uma cadeia de montanhas e, aí, nas suas entranhas,
metamorfizados e total ou parcialmente fundidos, gerando um magma que,
por sua vez, faz renascer o granito.
A partir do momento em que homem tomou consciência da inevitabilidade da
morte, renascer tornou-se uma das suas aspirações, bem testemunhadas,
por exemplo, nas diversas crenças religiosas.
Bennu,
a ave da
mitologia egípcia,
ateava o fogo ao seu ninho e deixava-se consumir pelas chamas,
renascendo depois, dos seus restos calcinados.
Na Grécia antiga era a
Fénix
que renascia das próprias cinzas,
havendo um paralelo entre esta ave mitológica e o Sol, que todos os
dias fenece para lá do longínquo Poente, para renascer na manhã
seguinte, do outro lado do mundo, numa alusão da morte e do renascimento
na natureza. Na expressão figurativa do cristianismo, o renascer da
Fénix tornou-se um símbolo
popular da
ressurreição
de
Cristo.
Quando, na Liturgia, a Igreja utiliza a expressão “creio na ressurreição
da carne”
(carnis
resurrectionem)
do Símbolo Apostólico,
está a ir ao encontro do desejo de renascer, desde sempre, comum ao ser
humano.
No final da Idade Média, fazendo a transição para a Idade Moderna,
teve lugar em Itália, nomeadamente nas cidades de
Florença
e
Siena,
um período marcado por transformações em muitas áreas da vida humana, em
particular nas
artes,
na
filosofia
e nas
ciências,
com evidentes reflexos na
sociedade,
na
economia,
na
política
e na
religião
europeias. Foi a rotura com as estruturas antigas e a transição gradual
do
feudalismo
para o ideal
humanista
e
naturalista. O historiador, pintor e arquitecto italiano
Giorgio Vasari
(1511-1547) deu o nome de
Renascimento a este caminhar da chamada civilização ocidental,
que valorizou e fez renascer as referências culturais da
Antiguidade
Clássica.
Nos nossos dias, “Fénix 2” foi o nome escolhido para designar a cápsula
projectada pela NASA que, numa
operação prodígio e em tempo
record da engenharia mineira, fez renascer, resgatando um a um, os
33 mineiros da mina de São José, no Chile, soterrados a cerca de 700
metros de profundidade, em Agosto de 2010.
Renascem os povos que conseguem libertar-se de tutelas que os exploram e
maltratam. Renasceram as cidades depois de destruídas por catástrofes
naturais ou pelas guerras. Renascem para a vida as mulheres e os homens
que se libertam dos agentes opressores, sejam eles outros homens ou
mulheres ou as tristemente célebres substâncias psicoactivas.
Renascem os cravos vermelhos, todos os anos, em Abril e, logo a seguir,
nos campos, as espigas do trigo e as papoilas, ao mesmo tempo que, nas
avenidas, praças e jardins das nossas cidades, renasce um tapete de
pétalas lilases de jacarandás.
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