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		Frederico Beiramar (FB) 
		– Deixe-me para já saudá-lo, Doutor Jagodes, em nome de todos os nossos 
		leitores, uma vez que… 
		Doutor José Jagodes (JJ) 
		– Não ponhas mais na carta, moço e desculpa interromper-te. Mas é que 
		essas coisas de se falar em nome de outros… traz-me à memória coisas 
		tristes, nomeadamente aquele hábito que certos homens públicos têm de 
		exalar “o povo isto, o povo aquilo”, 
		quando são eles que opinam e dizem o que lhes vai no bestunto…Tás a 
		perceber? 
		FB 
		– Entendo… Então, saúdo-o só e mais nada. Na verdade… 
		JJ 
		– Vou-te interromper outra vez, mas não leves a mal. Tu nunca ouviste, 
		ou leste, aquela sensata frase libertária, ou mesmo anarca, que diz e 
		com razão que “ninguém representa 
		ninguém”? Porque isso de um sujeito andar a ser representado por 
		tipos que fazem demasiadas vezes o contrário do que os interessados 
		fariam, tem sempre levado água no bico…É um belo truque, com licença da 
		mesa… 
		FB 
		– Certo, Doutor, percebo o seu ponto de vista. Vamos então em frente: os 
		últimos tempos têm sido férteis em surpresas: o Lima que apanhou 10 anos 
		de sossega, o ex-conselheiro de Estado que não apanhou nada nem sequer 
		foi incomodado e segue com os seus negócios a beneficiar o país, o 
		Temístocles encanado, o outro a quem salgaram com a fiança de 3 milhões, 
		os… 
		JJ 
		– Tu desculpa, mas hoje parece que é sina minha interromper-te…Tu chamas 
		a isso surpresas?! Surpresa é não terem ido há mais tempo, além de 
		outros que já lá deviam estar! Mas a maior surpresa é esta: apesar da 
		verdadeira bambochata em que transformaram o país, isto ainda se 
		aguentar de pé. Mas isto é a nação que de repente até vê num Costa do 
		Castelo de S.Jorge, vazio e verborreico, um salvador. O outro da malta 
		dele era em estilo arrebenta, ele é em estilo mija-mansinho, com quele 
		sorrisinho de sacristão. Que é esperto não se duvida, mas creio que vai 
		fazer as coisas acabar mal. O drama está em que o contraditório, ou seja 
		a cena que vai no adro, não é melhor, a não ser ter menos habilidade na 
		conversinha…Tás a topar? 
		FB 
		– Na perfeição. Mas ele há coisas excessivamente graves… 
		JJ 
		– Isso era como dizia aquela personagem do velho Eça… 
		FB 
		- …coisas que nos causam um arrepio no 
		espinhaço, se o doutor me permite este termo um bocado pimba… 
		JJ 
		– Não faz mal, pá! Os pimbas, em comparação com alguns que aparecem a 
		todo o momento na tv, são mestres pensadores… 
		FB 
		– Então e agora a rádio, que praticamente não dá nada mais do que 
		futebol, política e biografias de músicos ou musiquinhas a granel? 
		JJ 
		– Isso é o que se chama dar-nos música. Não conheces a expressão 
		proverbial? O habituar a maltosa a pensar que não há nem cientistas, nem 
		escritores, nem historiadores, nem investigadores, nem outra gente 
		assim, faz parte da querida banalização, tás a ver? Era a isso que o 
		Botas chamava “viver habitualmente”, 
		a pouco e pouco reduzir o mais possível as enxaquecas produzidas pela 
		utilização das meninges…E estimular as casas de segredos, a moda de se 
		ser tendencialmente rasca e obsceno. São os valores da modernidade em 
		que nos enfronharam! E o outro truque sem dúvida habilidoso, o “para os amigos, tudo”, para empregar a expressão daquele mangas 
		muito rábula que às vezes nos vem seringar com partes gagas? 
		FB 
		– E o ambiente internacional também não está nada bem…O doutor, que tem 
		fortes ligações a França, certamente tem andado muito apoquentado. Se 
		calhar até foi a Paris, não? 
		JJ 
		– Fazer o quê? A ver as modas para a próxima estação? Não me estás a 
		falar disso, pois não? Que o ambiente da Moda, seja cá seja lá, também 
		anda bonito, não haja dúvida… 
		FB 
		– Claro, Doutor, refiro-me ao resto… 
		JJ - 
		
		 Deves querer referir-te à 
		brutalidade fundamentalista islâmica. Então ouve: que estou de alma e 
		coração contra o terrorismo, não há dúvida. Que a vida dos franceses e 
		das francesinhas me diz muito, é óbvio. Que a liberdade de expressão e a 
		negação da intolerância é um valor fundacional, é evidente. Mas fará 
		muito sentido ir para a rua aos magotes, principalmente com os maiorais 
		em lugar de destaque – eles que têm sido pelo seu laxismo e desleixo os 
		maiores incrementadores da brutalidade que acham por vezes muito 
		compreensível e, depois, ficarem-se pelas intenções piedosas e deixarem 
		que a entrada às carradas continue, propiciando uma islamização 
		progressiva, maciça, com o pretexto de que devemos consentir que venham 
		intrometer-se habilmente na nossa maneira de viver? Essa gente do mando 
		foi capturada pela má consciência que lhes advém do mal que fizeram ao 
		povinho da gleba durante séculos e, agora, em jeito de quem tem 
		remorsos, deixam aos inimigos da Liberdade todo o à-vontade para 
		tentarem destruir a mesma Liberdade de que usufruem com cinismo 
		orientado e maldoso. Como os granjolas vivem protegidos nos seus 
		gabinetes-fortalezas, bem comidos e bem dormidos, não querem entender 
		que os que, seja à força ou ao jeitinho, querem acabar com o Iluminismo 
		e a Razão, usando capciosamente uma religião e uma figura fideísta, não 
		têm direito de apelar para as regras e os valores da Democracia que 
		apenas usam para melhor tripudiarem sobre o Direito humano de luz e de 
		dignidade íntegras! 
		FB 
		– Eu penso que o ambiente é muito inquietante, sim. Para o Doutor, que 
		habitualmente usava um certo, se me consente, humor pronunciado, falar 
		com tanta gravidade – é porque as coisas estão de facto pretas… 
		JJ 
		– Eu tenho o humor ainda na pele, moço! O meu senso de humor está vivo e 
		são – e se não acreditas deixa-me falar-te nos romances de políticos 
		eróticos e outras contradanças avantajadas que têm por aí aparecido 
		ultimamente…Só que um mano fica farto de andar por aí a brincar enquanto 
		a sociedade agoniza. Já viste que, por exemplo, depois dos manos Kouchi 
		serem apardalados a maioria dos comentadores da tv, com a hipocrisia que 
		deus lhes deu (tanto o nosso como o dos outros…) se apressaram a falar 
		às pázadas na necessidade de não se ter uma reacção anti-muçulmana, em 
		vez de falarem no verdadeiro problema que é a de se precisar que os 
		muçulmanos afixem de vez a ideia e a realização de saírem da mentalidade 
		medieval, e isto nos próprios “muçulmanos bonzinhos”, ou seja, os que 
		pensam atingir o Kalifado sem ser preciso pôr bombas e kalashnikovs mas 
		pela introdução maciça e paulatina? Porque o busílis reside nisso, ainda 
		há dias vinha na maior revista lusa uma entrevista com um fulano 
		islamizado que dizia com toda a lata que, quando o Islão tiver ocupado 
		toda a Europa, seremos então todos felizes. Percebes? FB – 
		Perfeitamente.  Mas passemos agora 
		a outro tema. O mundo do futebol, que parece também andar a… JJ – E mais uma vez, meu maroto, tenho 
		de te interromper! Então tu falas-me de futebol, que é uma coisa que já 
		não existe? FB – Que não existe?? Então o Doutor 
		diz-me que a bola não existe? Mas se ele é cada vez mais… JJ - …ou antes, 
		existe mas como vaudeville. Tu 
		não achas que as tricas na bola, seja nos clubes seja nas federações e 
		outras deambulações, excepto na terceira bola de ouro do Cristiano, é 
		muito mais uma trapalhice pegada que uma coisa a sério? 
		 FB – Eu não direi nada, mesmo que o 
		pense…Sou apenas entrevistador… JJ – Então se assim é e a hombridade 
		profissional te obriga a não tomar partido, aqui vai da minha parte 
		outra coisa a rasar o humor: já reparaste que nas audiências 
		parlamentares ao caso Santo Espírito, os assessores e coadjutores do 
		Gajo que Mandava na Coisa Toda de repente começaram todos a perder a 
		memória e a explicarem que tudo o que faziam o faziam por lealdade e 
		outras honradezas com o manda-chuva? Vai por mim, no fim tudo vai acabar 
		em bem, com toda a malta soltinha e limpinha e tu entrarás para a sacola 
		com mais uns pózinhos de austeridade, que é para aprendermos. FB – Ó Doutor, chiça, se me permite o 
		termo assim a modos que de novo um bocado pimba, não seja 
		tão…desconsolado. Afinal ainda há Justiça neste país, com mil raios! JJ – Sim? Achas que sim? Então vai 
		ouvir o Distinto Ancião pai da democracia… e ouvirás das boas! Isto, 
		segundo o conceituado e famoso cavalheiro, é tudo uma cambada de 
		infames, uma malandrice pegada! FB – Eu se fosse ao Doutor não daria 
		muitos ouvidos a toda a gente. É muito bom a gente não ligar a 
		cabeças…esquentadas. Ou que já perderam o norte…alegadamente. Mas bom, o 
		nosso tempo esgotou-se e eu dou por terminada esta entrevista que estava 
		em dívida. Agradeço-lhe penhoradamente e…até uma próxima oportunidade. JJ – Penhoradamente? Em dívida? Já 
		agora tem cuidado com as expressões idiomáticas, moço. Em tempo de 
		austeridade usar certos termos com perfil económico – penhoras, dívidas, 
		etc – não é nada positivo… Mas bom, apanha lá esta “bacalhauzada” e que 
		tenhas muita sorte…mesmo sem te entregares à emigração. Até mais ver!   
		
		(Entrevista conduzida por Frederico Beiramar e editada por Arminda 
		Pentecostes, coordenadora sectorial) |