REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 50 | fevereiro-março | 2015

 
 

 

 


JOSÉ ROBERTO BAPTISTA

Primeiro tira a trave do teu olho... Quem tiver olhos para ver que veja


José Roberto Baptista (Brasil). Editor da ARTE-LIVROS Editora. Foi professor universitário e Diretor-Acadêmico de tradicionais instituições de ensino superior em São Paulo. É estudioso da fenomenologia parapsicológica e autor, entre outros, do livro Introdução ao Estudo da Parapsicologia (Arké, 2007), além de já ter escrito vários artigos sobre o tema. Dirigiu o IEP-SP - Instituto de Estudos Psicobiofísicos de São Paulo voltado, exclusivamente, ao estudo e ao ensino da Parapsicologia.

 

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Desde os tempos do antigo IEP-SP - Instituto de Estudos Psicobiofísicos de São Paulo tenho denunciado o uso indevido que se faz da parapsicologia. Há quase três décadas oponho-me à chamada e inexistente parapsicologia clínica.  Nunca pude encontrar algo que justificasse tal prática nos pioneiros das investigações, à época, chamadas pesquisas psíquicas. A razão: não há nada que prove serem os médiuns portadores de qualquer patologia. Simples assim.

Nessa linha cito dois grandes pesquisadores: Charles Richet, primeiro tratadista sobre a matéria e J.B.Rhine que elevou a parapsicologia à categoria de ciência universitária. Mas esta questão, da cientificidade, reconheço, é uma questão polêmica. O estatuto de ciência não se dá pelo desejo de uma universidade ou de pesquisadores universitários e, muito menos, por uma filiação a esta ou aquela entidade. Frágil ilusão.

Diga-se, a bem da verdade, que as pesquisas atuais nada avançaram em relação ao que foi dito pelos pioneiros: evidências de telepatia! Já as tínhamos. Constatações que os médiuns estudados nada têm de patológico! Já o sabíamos. Que os estigmas são produzidos pelo psiquismo humano, sem interferência de espíritos bons ou maus, demônios ou deuses! Já o sabíamos.

Poderíamos enumerar uma infinidade de fenômenos que, modernamente estudados, comprovam o que já foi dito há mais de um século.

Não se deve responder mais aos críticos que acusam a parapsicologia atual, como já o fizeram outros, no passado, em relação às pesquisas psíquicas, que as experiências não podem ser replicadas. Nada mais incoerente. Basta pensarmos em Eusápia, Home e tantos, mas não tantos como querem alguns,  outros médiuns que foram estudados por vários pesquisadores, de diferentes nacionalidades, em diferentes condições investigativas e submetidos a todo tipo de controle. Afinal, que língua estamos falando?

Continuam os atuais investigadores a não reconhecerem o novo em ciência e insistirem em não perceber apenas o que é contraditório na ciência, como já bem o disse Charles Richet. Mas, já se passou mais de um século dessa afirmação.

A parapsicologia foi colocada na "prateleira" por negar que os fenômenos não eram devidos a almas desencarnadas, ação do demônio, etc. etc. etc. que contradizia o que estava na moda e, até hoje, continua a contradizer a infundada crença na existência de seres inteligentes, independentes e sobrenaturais.

A parapsicologia de Richet a Rhine constatou, sem negá-los, que os fenômenos nada tinham a ver com espíritos ou demônios. Foi isso que incomodou mentes brilhantes, poderosas e contaminadas.  

Contudo, no meu particular modo de ver, a parapsicologia não precisa do estatuto de ciência. Basta a ela mostrar e, se possível, demonstrar, como já o fez no passado, e continua a fazê-lo no presente, independentemente de reconhecimento ou não pelo establishment científico, que tais e tais ocorrências são devidas, unicamente, ao psiquismo humano, portanto, sem interferências sobrenaturais. Eu mesmo, após tantos anos de acompanhamento e constatação, na prática, à época como sacerdote de umbanda, não posso negá-las.

Por outro lado, o aumento das igrejas que prometem vidas pomposas e cheias de recursos materiais, mesmo contrárias aos evangelhos que dizem seguir, devemos, pelo menos em parte,  aos críticos da parapsicologia.  

"Um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), entidade que monitora a abertura de empresas de todos os tipos no Brasil, revelou o grande volume de abertura de igrejas no país. De acordo com os números revelados pelo instituto, são abertas doze novas igrejas por dia no país. É uma nova igreja a cada duas horas." (1) 

Esta é a realidade, pouco comentada, diga-se, no dia a dia dos brasileiros.

Afinal, as religiões existem para que homens e mulheres religiosos sustentem homens e mulheres não religiosos, que apenas os enganam; religiosamente.

De nada adianta líderes religiosos das mais variadas e conflitantes denominações citarem a bíblia de cabeça para demonstrarem erudição. Tais "erudições" apenas servem para impressionar seus iguais. Nada mais. Assemelham-se àqueles que decoram o manual de um Boeing 737, vestem um pomposo uniforme, estampam no rosto um ar altivo de um experiente piloto, mas quando colocados na cabine de comando, para levantar voo, não conseguem, sequer,  encontrar a chave de partida da aeronave.

Estes são os senhores das "verdades teológicas". Termo insistentemente vago, equivalente a acreditar pela fé.  Inspirado ou não pelo Espírito Santo, continua vago.

Quanto mais os escuto mais me convenço da inutilidade de suas palavras, norteadas por pretensas revelações, ilusões e imposturas. São pregadores do medo e cultivadores de incertezas, efeito último da insanidade.

E a parapsicologia?

Continua a mercê de críticos que, "infiéis" há mais de um século de investigações controladas, e com o rigor exigido por cada época, afirmam que tudo é falso. Muitos, parece-me, acreditam em anjos e demônios, céu e inferno e, acima de tudo, que viverão eternamente no céu, ao lado das mais bondosas e sublimes almas, mesmo admitindo que seus filhos possam viver eternamente no inferno. Afinal, a cada um segundo suas obras.

O fato: as novas investigações corroboram, nada além disso, tudo o que foi dito pelos pioneiros.

Os fenômenos de natureza parapsicológica, bem descritos ou não, continuam a resistir ao tempo. Não se limitam a crenças. Apenas existem. Frágeis, repetitivos, monótonos como os raps, repulsivos como a maioria das ectoplasmias, intigrantes como algumas casas mal assombradas. Enfim...

O tempo é engenhoso. Já o disse Guimarães Rosa.

 
 

NOTAS 

(1)http://noticias.gospelmais.com.br/levantamento-revela-brasil-aberta-igreja-cada-duas-horas-60137.html

 
 

BIBLOGRAFIA DE REFERÊNCIA

1. RICHET, Charles. Tratado de Metapsíquica. Tomo I. s.d., Lake Editora.

2. RICHET, Charles. Tratado de Metapsíquica. Tomo II.s.d., Lake Editora.

3. BAPTISTA, José Roberto. Introdução ao estudo da parapsicologia. São Paulo:Arké, 2007.

4. RHINNE, J.B. e PRATT, J.G. Parapsicologia: fronteira científica da mente. Trad. Luís de Moura Barbosa. São Paulo:Hemus, 1966.

 

 

© Maria Estela Guedes
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