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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
nova série |
número 49 |
dezembro-janeiro | 2014-15
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RUTE MARTINHO
Ariana |
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Rute Elisa de Matos Martinho (Portugal). Poeta e ficcionista |
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EDITOR |
TRIPLOV |
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ISSN 2182-147X |
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Contacto: revista@triplov.com |
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Dir. Maria Estela Guedes |
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Índice de Autores |
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SÍTIOS ALIADOS |
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Apenas Livros
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Arte - Livros Editora |
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Domador de Sonhos |
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de Cultura |
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Revista Incomunidade |
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Ariana e
Apolo
Tocas as minhas mãos, sinto-as aquecidas;
Sinto o abraço desse teu corpo nu a envolver-me.
David, tornaste-te Apolo, Deus Olímpico,
Descido dos Céus, agora à minha beira.
A estátua que eras, enfeiticei-a eu? Não,
Enfeitiçaste-me tu, ò bela estátua alva de
mármore feita.
Afinal quem és tu? Apolo o Deus do Olimpo?
David, apenas o tão humano Rei da Judeia?
Deus já não és, teu toque demasiado terno.
Simples Humano, essa beleza etérea é tão irreal.
Toma-me em teus braços, transporta-me até Naxos.
Transfiguraste-me. Não sou eu. Agora sou Ariana.
Ou, se preferires, permanece no mundo que
habito.
Humano serás, Humano permanecerás.
E um dia, talvez um dia, pereçamos juntos.
Para acordarmos
ambos na tua Naxos celestial.
17 de Julho de 2012
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Lisbon
Revisited
A cada dia à cidade regresso,
Pela mão de documentos antigos.
Deambulo, por ruas extintas, desconhecidas,
Hoje por umas, amanhã por outras,
Esqueci eu, afinal, que em Lisboa desde sempre
vivi?
21 de Novembro de 2013
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Já lá vem Céu Velho
Chuva, apenas chuva,
Nada mais que chuva;
Mas, do nada, sem porquê,
Nasce a esperança.
Além, ao fundo,
Um rasgo de Céu Velho.
Alegremo-nos
“Já lá vem Céu Velho”
Não me lembro de meu Avô usar esta expressão.
Lembro apenas a sua companhia,
O modo como olhava por nós,
O modo como sempre se entregou à nossa amizade.
Um querer que lhe lembrasse o olhar.
Que lhe lembrasse o gosto de estar connosco seus
netos.
Mas, ao ouvir a minha mãe dizer
“Já lá vem Céu Velho”,
Num dia chuvoso e triste,
Parece sempre ter-me lembrado
Ser só o meu Avô que o dizia.
9 de Março de2010
(Em memória de meu avô António Matos)
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Simão
Canetas, fita-cola, tesoura;
E das mãos do Simão nasceu a pomba.
10 de Abril de 2013
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Quincas
Marinheiro, como sempre quiseste ser,
Ou boneco nas mãos da família?
Decidiste: corpo mole, mas vontade firme.
18 de Agosto de 2014
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Orfeu em Rilke
Cada bicho enfeitiçado,
O bosque da cidade apaziguado.
Imersa na música de Rilke eu o oiço:
Orfeu ressuscitou e o bulício sossegou.
9 de Dezembro de 2014
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Noite Transfigurada
E transfigura-se
a noite vislumbrada,
Não pela música
de Schoenberg,
Aqui, na minha
Maia, rodeada de penumbra,
As Estrelas,
brilham, sempre tão fulgurantes.
Os Deuses deram
a este local uma imensa graça,
Vislumbrarmos a
noite escura, quase apenas escura,
Alumiada por uma
abóboda a cada minuto mais estrelada.
Ao olhar um céu
assim tão rico, percebo-me insignificante.
E, no meio deste
Universo imenso, quem somos?
Pó, nada, apenas
um insignificante nada.
Pensamo-nos o
centro do Universo, tão importantes,
Não passamos de
um grão de areia, ao sabor do vento.
Abandonemos essa
nossa crença vã, que falsa é.
O cento do
Universo, se existe, está a cada instante mais longínquo.
Mas nós, seres
humanos, aí de nós, insistimos e querer alcança-lo.
9 de Junho de
2012-06-12
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Poema piada
Buracos,
buracos, tudo buraco.
Poderá suceder,
sem que queira,
Viajar ao centro
da terra?
7 de Agosto de
2014
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Carlos Paredes
Tua música um bordado, à mão dedilhada.
Aprendera eu as palavras a assim conseguir bordar.
7 de Outubro de 2013
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5ª Sinfonia de Mahler
Cada canal
percorro, a música sempre em fundo.
Poderei ansiar
por melhor gondoleiro?
7 de Outubro de 2013
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Eco et Narciso
Narciso, bela Flor, tua conquista
está completa,
Tal qual a conquista do belo
jóvem de outrora.
E repentinamente, a metamorfose
inverteu-se.
Ninfa sou, outrora apenas Eco de
voz alheia,
Em corpo me transfigurei e a ti
Flor te cativei.
Transmutou-se o Mito, Nasceu o
amor,
Onde, em tempos, apenas
ressentimento havia,
E esta voz que apenas vozes
alheias repetia,
Ouvida pela alma, agora humana,
da bela Flor,
Reencarnou, voltou a ser a Mulher
Ninfa dantes incorpórea.
11 de Setembro de 2012
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Anjos by Rafaello
Pintaste-os com a curiosidade
Típica de uma criança traquina.
Não imaginaste que os teus Anjos meninos,
Um dia se tornassem nos anjos
Que das minhas tonterias me guardam.
Da minha Firenze veio a bolsa,
Perdi-a um dia, e pasme-se:
Encontraram-na e devolveram-ma.
Foram os Anjos meninos que perceberam,
Quanto esta menina tonta,
Necessitava da sua protecção.
9 de Abril de 2012
/ 23 de Março de 2013
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Ariana e Apolo
Tocas as minhas
mãos, sinto-as aquecidas;
Sinto o abraço
desse teu corpo nu a envolver-me.
David,
tornaste-te Apolo, Deus Olímpico,
Descido dos
Céus, agora à minha beira.
A estátua que
eras, enfeiticei-a eu? Não,
Enfeitiçaste-me
tu, ò bela estátua alva de mármore feita.
Afinal quem és
tu? Apolo o Deus do Olimpo?
David, apenas o
tão humano Rei da Judeia?
Deus já não és,
teu toque demasiado terno.
Simples Humano,
essa beleza etérea é tão irreal.
Toma-me em teus
braços, transporta-me até Naxos.
Transfiguraste-me. Não sou eu. Agora sou Ariana.
Ou, se
preferires, permanece no mundo que habito.
Humano serás,
Humano permanecerás.
E um dia, talvez
um dia, pereçamos juntos.
Para acordarmos
ambos na tua Naxos celestial.
17 de Julho de
2012
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Casa Assombrada
Portas que abrem sozinhas,
Ruídos vindos de lugar nenhum,
Vozes ouvidas, mas ninguém fala.
Uma casa de assombros?
31 de Janeiro de 2014
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D. Fuas
D. Fuas, ó gato, à minha memória voltaste,
Teu olhar permanece altivo. Nunca deixou de o ser.
Só Jorge de Sena para te nomear assim: revia-se em ti.
28 de Junho de 2013
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Nevou.
E os flocos não caíam,
Dançavam.
5 de Novembro de 2014
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Platão em demanda de Bach
Cheguei, de novo à Caverna terrestre,
Onde, de pés e mãos agrilhoados,
Vivem os Humanos em ilusão,
Subi, ouvindo, em fundo, um canto divino,
Sempre em serenidade, por vezes dramático,
Os degraus que me levaram ao Mundo da Música.
Então descobri a Ideia
Suprema de Música em Bach.
Parti em demanda do Sublime;
Subi a escadaria que leva à Ideia de Belo;
Então, no Mundo das Ideias, perdi-me:
Perdi-me na Suprema Música de Bach;
E, ao perder-me, voltei a encontrar o meu Ser,
Na Música de Bach contemplei o Bem Supremo.
Em Bach revela-se o verdadeiro Éden
Não o do Mundo Palpável, do Mundo da Caverna,
Mas sim o Éden do Mundo da Música.
Agora quem quiser entrar na minha Academia
Terá que amar a harmonia chamada Bach.
13-01-2000
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL |
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