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Durante a II Guerra Mundial, mais precisamente em
1941, redige os seus primeiros trabalhos científicos. É o caso de
“Études embryologiques sur les céphalopodes” que sai editado in
Homenagem ao Professor A. Celestino da Costa. No ano seguinte, como
bolseiro do Estado, estagia na Universidade de Genebra, recebendo então
a orientação dos cientistas Émile Guyénot, Kitty Ponse e Jean Perrot.
Continuando algum tempo em meios científicos da
Suíça, passa a desenvolver os seus estudos científicos na Universidade
de Basileia, junto do Professor Adolf Portmann, no Instituto de Zoologia
daquela cidade. Esse nome cimeiro da Ciência helvética continuará,
aliás, em toda a vida de Germano da Fonseca Sacarrão, uma figura de
referência para grande número dos seus trabalhos.
Desde 1951 ao serviço da pesquisa biológica,
como docente da Faculdade de Ciências de Lisboa
Regressado a Portugal, Germano da Fonseca Sacarrão
beneficia da nomeação, em 1951, para o lugar de primeiro-assistente da
Faculdade de Ciências de Lisboa (à altura, recorde-se, na Rua da Escola
Politécnica). Nessa instituição e durante mais de três décadas – até
alcançar a sua jubilação, em 1984 – passa pela docência, na referida
Faculdade, das disciplinas mais variadas, tanto teóricas como práticas.
Registem-se em síntese, entre outras, (na área da Zoologia) Embriologia
e Histologia, Invertebrados, Metodologia das Ciências Biológicas, Curso
Geral de Zoologia, Zoologia Sistemática, Ecologia Animal e Zoogeografia,
Zoologia Médica, Anatomia e Fisiologia Comparadas, e Antropologia.
Ainda em 1951, defendeu a sua tese de Doutoramento
subordinada ao tema Sobre as primeiras fases da ontogénese de
Tremoctopus violaceus (da qual havia já terminado a sua redacção em
1949).
Em 1957 este cientista português viu ser editado,
em livro, o seu ensaio O Embrião e a Evolução dos Vertebrados. Dois anos
depois, por portaria publicada no então Diário do Governo, recebeu, após
concurso, o título de Professor Agregado de Zoologia e Antropologia.
Naquela Faculdade que, de certo modo, passou a ser
também a sua “casa”, a ascensão do Prof. Germano da Fonseca Sacarrão,
nas décadas seguintes, foi por assim dizer, empolgante. Em 1964 foi
eleito director da Faculdade de Ciências de Lisboa, tendo-se mantido em
funções naquele cargo até 1971.
Por seu lado, dada a especificidade da sua formação
como biólogo, passou a dirigir também, na instituição, o Museu e
Laboratório Zoológico e Antropológico (Museu Bocage) até 1974, ou seja,
até ao final do Estado Novo. Entretanto no Instituto Nacional de
Investigação Científica, dada a notoriedade que o rodeava nos meios
científicos em Portugal, passou a dirigir, até 1976, o Projecto de
Investigação Científica sumariamente referenciado como “LB 2”.
A fase mais emblemátia da sua acção editorial como
biólogo
e o seu fiel e constante conselhamento no projecto
votado
ao tema do “Humanismo e Ciência”
A fase que decorreu entre meados da década de
setenta e meados da década seguinte – ou seja, até à sua jubilação
universitária na Faculdade de Ciências em 1984 – foi sem dúvida aquele
em que foi mais abundante e fecundo período de edição científica. Assim,
em 1977 publicou o seu livro Ontogenia e Ambiente na Evolução dos
Vertebrados. Dois anos depois foram dadas à estampa as suas obras A
Ecologia da Luz e Vida e A Vida e o Ambiente.
Em 1981 e no ano seguinte editou, respectivamente,
A Temperatura como Factor Ecológico e A Biologia do Egoísmo. Já em 1983
viu ser publicado, e sempre com êxito, O Meio Biológico. Iniciação ao
Estudo da Interdependência na Natureza Viva.
Não escondemos o fascínio que a sua obra teve em
nós, desde 1979, no período em que na Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa desenvolvemos e concluímos os
estudos com vista à licenciatura em Antropologia. Por sermos seus
vizinhos, no bairro de Campo de Ourique em Lisboa, ele era por nós
perspecivado (já então) não como um Mestre superior e distante, mas como
um Professor afável sempe disposto a abrir-nos horizontes para novas
incursões científicas.
Nesse período da segunda parte da nossa referida
licenciatura na UNL levávamos por diante – depois de um reconhecido
fascínio por temas filosóficos em que pontificavam, para além de
Lévi-Strauss, os cinco Mestres de Paris (Deleuze, Ricoeur, Derrida,
Bourdieu e Foucault) – um projecto votado ao tema do “Humanismo, Método
e Ciência”. E foi em longas e continuadas conversas com o nosso referido
vizinho, Prof. Sacarrão, que fomos encontrando semrpre o incentivo, o
“travão” aos nossos ardores juvenis, e, sobretudo, o bom conselho.
As nossas missões científicas em Paris, por esse
período, foram de alguma continuidade e sustância (e ouvíamos sempre,
antes de partirmos, a sua voz amiga). Recordamos a nossa partida para o
Hospital Boucicault, na capital francesa, onde fomos trabalhar alguns
dias com o Prof. Henri Laborit (ver testemunho nestas páginas da
presente Revista). E uma vez mais, a voz douta e prudente do Prof.
Germano da Fonsaca Sacarrão não deixava – no plano da Etologia e da
Agressologia, como era o caso desse plano de pesquisa específico – de
levantar pistas e de nos induzir para algumas fontes que não deveríamos
descurar.
Ele acompanhou, de igual modo com o seu empenho, o
nosso trabalho pessoal com o biólogo britânico Desmond Morris. E se
algumas das nossas descobertas não deixavam de lhe provocar um saudável
espírito de hilariedade, por outro lado, o esforço que ele fazia para
que continuássemos nesse domínio era um desafio pois, reonhecidamente,
enveredando mais pela Filosofia e História da Cultura, não estivemos,
reconhecidamente, ao nível dos empolgantes desafios que nos ia lançando.
Entre os temas da Agressologia e os da linguagem
tamborinada
com reflexos no sistema nervoso de aborígenes da
Melanésia
Quando ainda na primeira metade da década de
oitenta, na cidade de Paris, partimos para trabalhar com Borys Rybak (e
depois entrevistámos, aqui em Lisboa, René Thom, Medalha Fields),
ouvimos sempre a sua voz avisada. Ele denotava uma paciência invulgar –
ante o aprendiz de feiticeiro que éramos – quando, acerca deste último
cientista francês, colocávamos o Prof. Sacarrão em confronto, na nossa
grande ignorância, com dúvidas óbvias sobre as relações do sistema
nervoso e a linguagem tamborinada dos índios da Melanésia (uma matéria
empolgante que pouco antes havia sido estudada precisamente por B.
Rybak).
Foi nesse contexto de um debate científico bipolar,
o cientista da referida Faculdade de Lisboa e o aprendiz do feitiço da
Ciência que éramos, que, no ano de 1985, ele nos aliciou a trabalharmos
com ele, naturalmente que sob a sua direcção, na biblioteca da sua
antiga Universidade.
Tratava-se de de levarmos por diante, nesse ano de
1985, um primeiro trabalho sobre o espólio do naturalista açoriano
Francisco Arruda Furtado. Mesmo apesar de se ter jubilado, de facto, em
1984, este docente continuava então a trabalhar nas mesmas instalações
com o mesmo afinco e rigor.
Foi de surpresa em surpresa que, nesse ano e pela
sua mão, ele nos indicou e acompanhou o modo como deveríamos olhar, com
outros olhos, uma matérria então ainda praticamente virgem (para além de
um estudo sumário de um Colega seu): a correspondência trocada entre
Charles Darwin e Arruda Furtado. Depois de fastidiosas sessões de
trabalho conjuntas, naquela biblioteca – onde a pesquisa se tornou
extensiva às outras obras do açoriano e inclusivamente, à sua própria
biblioteca – em fins de 1985 esse nosso primeiro trabalho estava
concluído.
Foi então, com efeito, pela mão de Diogo Pires
Aurélio, especialista em Espinosa e que, por esses anos, foi nosso
Colega na redação do Diário de Notícias, beneficiámos do seu favorável
acolhimento para este nosso trabalho (bem como um outro do nosso Mestre
e biólogo) ser, como foi, publicado no ano seguinte, no vol. 11 da
revista Prelo, que ele dirigia na Imprensa Nacional – Casa da Moeda
(Maio-Junho).
Esse ano da edição do nosso referido estudo de
incidência darwiniana correspondeu, de igual modo, aquele em que Germano
da Fonseca Sacarrão fez publicar, precisamente O darwinismo em Portugal.
Tal ocorreu depois de um curioso trabalho, sobre O Abuso da Metáfora em
Biologia.
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