REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 49 | dezembro-janeiro | 2014-15

 
 

 

 

ANTÓNIO JUSTO

A Queda do Muro de Berlim

– O Fim de um Susto

António da Cunha Duarte Justo . Jornalista e ex-professor de filosofia aplicada.

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
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Dir. Maria Estela Guedes  
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A Divisão da Europa e do Mundo passava, há 25 anos,

pelo Meio da Alemanha


O dia 9 de Novembro, é aquele dia em que se celebra o 25° aniversário da queda do Muro de Berlim, o dia em que a liberdade arrebentou com as portas e desceu à rua.

Até àquela data já tinha fugido do éden socialista, cerca de 5 milhões de “ossis” (alemães de leste). O Politburo constatava que, por dia, fugiam de Berlim Leste de 300 a 500 pessoas e toda a Alemanha de Leste se encontrava em efervescência tal como acontecia já noutros países do bloco soviético; por isso decidiu simplificar a saída e a entrada no país.

A notícia prematura da administração (Politburo) de que no dia seguinte haveria liberdade de circulação levou o povo a acorrer em massa, já no dia 9, às fronteiras.

Ateado o fogo da coragem à multidão, esta deixou a alegria saltar em cima do muro e destruir, por algum tempo, a "cortina de ferro" entre capitalismo e socialismo. Apenas a porta de Brandeburgo se manteve algum tempo encerrada, devido ao titubear das instâncias socialistas, que por fim deixaram vingar a razão, não intervindo naquele acto da força popular. Os sodados controladores do muro abandonaram os seus postos, ao ver tal formigueiro de pessoas e trabis (auto típico da Alemanha de Leste) a querer passar para o lado ocidental do muro. Deste modo, os alemães tiveram a sorte de fazerem uma revolução sem tiros nem mortes. Posteriormente o funcionário superior do Politburo (Schabowski) que, por descuido, deu início à enxurrada da liberdade, declarou-se envergonhado do sistema socialista confessando: “fizemos quase tudo mal” naquele “sistema incapaz de vida”.

Era o início do fim da ditadura socialista da Alemanha de Leste. A vontade de liberdade não se deixou dominar por mais tempo; o estado injusto com espionagem em todos os sectores laborais e sociais, com o terror policial, a perversão da justiça e a idiotice económica aproximava-se do fim.

Aquela monstruosidade do muro erguida nos olhos do mundo desde 1961 caía agora devido à força da enxurrada da liberdade represada durante 28 anos. Começava para os cidadãos do socialismo real uma nova vida pondo-se a corar ao sol da liberdade a mancha da vergonha. Inicia-se aqui uma nova página da História para a Alemanha e para a Europa. Acaba-se com um mundo bipolar e com a guerra fria, conseguindo-se a reunificação da Alemanha a 3 de outubro de 1990.

Os cidadãos ao saltarem o muro do medo conseguem fazer milagres aplainando os muros para a felicidade poder deslizar.

Tive a dita de festejar juntamente com os alemães o dia da libertação. Um misto de alegria, agradecimento e humildade se juntavam nos ares. Neste momento não tínhamos nacionalidade, cor nem raça, éramos universais. Neste dia as pessoas mesmo desconhecidas aplaudiam e choravam, abraçando-se na rua. Como é belo e consolador quando o sol deixa de ser arrebanhado por mãos escuras e pode descer à rua. Se a massa do povo soubesse a força que tem, não haveria político algum que lhe resistisse e continuasse a servir-se e a servir interesses anónimos e escuros, à sua custa.

O nove de novembro é uma data marcada pelo destino alemão. Em 1918 deu-se a abdicação do imperador e proclamação da República; a 9.11 de 1923 falha miseravelmente o golpe de Hitler contra a Democracia; a 9.11 de 1938 deu-se a miserável “Noite dos Cristais”, o pogrom contra os judeus em que os nazistas incendeiam sinagogas e se deu a pilhagem das lojas judaicas - com este dia inicia-se a perseguição sistemática dos judeus; finalmente, a 9.11 de 1989 dá-se o passo para a união e liberdade depois da abertura incontrolada do muro.

O sacrifício que se paga pela liberdade deve ser proporcional à vitória e à perda! A liberdade e a justiça justificam o máximo de esforço e sacrifício.


António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu

 

 

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