A Divisão da Europa e do Mundo passava, há 25
anos,
pelo Meio da Alemanha
O dia 9 de Novembro, é aquele dia em que se celebra o 25° aniversário da
queda do Muro de Berlim, o dia em que a liberdade arrebentou com as
portas e desceu à rua.
Até àquela data já tinha fugido do éden socialista,
cerca de 5 milhões de “ossis” (alemães de leste). O Politburo constatava
que, por dia, fugiam de Berlim Leste de 300 a 500 pessoas e toda a
Alemanha de Leste se encontrava em efervescência tal como acontecia já
noutros países do bloco soviético; por isso decidiu simplificar a saída
e a entrada no país.
A notícia prematura da administração (Politburo) de
que no dia seguinte haveria liberdade de circulação levou o povo a
acorrer em massa, já no dia 9, às fronteiras.
Ateado o fogo da coragem à multidão, esta deixou a
alegria saltar em cima do muro e destruir, por algum tempo, a "cortina
de ferro" entre capitalismo e socialismo. Apenas a porta de Brandeburgo
se manteve algum tempo encerrada, devido ao titubear das instâncias
socialistas, que por fim deixaram vingar a razão, não intervindo naquele
acto da força popular. Os sodados controladores do muro abandonaram os
seus postos, ao ver tal formigueiro de pessoas e trabis (auto típico da
Alemanha de Leste) a querer passar para o lado ocidental do muro. Deste
modo, os alemães tiveram a sorte de fazerem uma revolução sem tiros nem
mortes. Posteriormente o funcionário superior do Politburo
(Schabowski) que, por descuido, deu início à enxurrada da liberdade,
declarou-se envergonhado do sistema socialista confessando: “fizemos
quase tudo mal” naquele “sistema incapaz de vida”.
Era o início do fim da ditadura socialista da
Alemanha de Leste. A vontade de liberdade não se deixou dominar por mais
tempo; o estado injusto com espionagem em todos os sectores laborais e
sociais, com o terror policial, a perversão da justiça e a idiotice
económica aproximava-se do fim.
Aquela monstruosidade do muro erguida nos olhos do
mundo desde 1961 caía agora devido à força da enxurrada da liberdade
represada durante 28 anos. Começava para os cidadãos do socialismo real
uma nova vida pondo-se a corar ao sol da liberdade a mancha da vergonha.
Inicia-se aqui uma nova página da História para a Alemanha e para a
Europa. Acaba-se com um mundo bipolar e com a guerra fria,
conseguindo-se a reunificação da Alemanha a 3 de outubro de 1990.
Os cidadãos ao saltarem o muro do medo conseguem
fazer milagres aplainando os muros para a felicidade poder deslizar.
Tive a dita de festejar juntamente com os alemães o
dia da libertação. Um misto de alegria, agradecimento e humildade se
juntavam nos ares. Neste momento não tínhamos nacionalidade, cor nem
raça, éramos universais. Neste dia as pessoas mesmo desconhecidas
aplaudiam e choravam, abraçando-se na rua. Como é belo e consolador
quando o sol deixa de ser arrebanhado por mãos escuras e pode descer à
rua. Se a massa do povo soubesse a força que tem, não haveria
político algum que lhe resistisse e continuasse a servir-se e a servir
interesses anónimos e escuros, à sua custa.
O nove de novembro é uma data marcada pelo
destino alemão. Em 1918 deu-se a
abdicação do imperador e proclamação da República; a 9.11 de 1923 falha
miseravelmente o golpe de Hitler contra a Democracia; a 9.11 de 1938
deu-se a miserável “Noite dos Cristais”, o pogrom contra os judeus em
que os nazistas incendeiam sinagogas e se deu a pilhagem das lojas
judaicas - com este dia inicia-se a perseguição sistemática dos judeus;
finalmente, a 9.11 de 1989 dá-se o passo para a união e liberdade depois
da abertura incontrolada do muro.
O sacrifício que se paga pela liberdade deve ser
proporcional à vitória e à perda! A liberdade e a justiça justificam o
máximo de esforço e sacrifício.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu
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