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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
nova série | número 48 |
outubro-novembro |
2014
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MARIA ESTELA GUEDES
Maria Toscano
e a sua obra ao negro
Foto: Ed. Guimarães |
Maria Estela Guedes. Poeta,
dramaturga, historiadora da História Natural e da Maçonaria
Florestal Carbonária. Tem umas dezenas de títulos publicados. |
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EDITOR |
TRIPLOV |
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ISSN 2182-147X |
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Contacto: revista@triplov.com |
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Dir. Maria Estela Guedes |
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Maria Toscano é uma personagem. Artista dos pés
à cabeça, em várias vertentes das artes visuais e performativas e não
limitada às letras com que escreve poesia. Nesta medida polivalente,
pegou nos seus vinte e um cadernos de poemas inéditos e resolveu dá-los
à luz, num projeto de cinco volumes, com título geral de
Poemas do Sul em cinco cantos.
Cada volume apresenta-se com dois tipos de edição, regular (87
exemplares) e de colecionador: 13 exemplares em regime de obra única ou
livro de artista. Saiu o primeiro,
Canto I – Da Terra (Col.
SulMoura, Coimbra, 2014), cuja tiragem de colecionador se apresenta em
papel couché negro, com letras brancas, acomodado em estojo também negro
de damasco acetinado, confecionado pela artesã e modista Alda Clemente.
Acompanha o volume um CD com poemas ditos pela autora. Todo este
requinte envolve uma poesia igualmente requintada, que age
inovadoramente mas com tal delicadeza que nem se dá conta de que é o
Alentejo que faz rumorejarem árvores e palavras como SulMoura, nome da
edição, a não distinguir muito de salmoura.
O cromatismo, que variará de volume para volume,
evoca no primeiro o trabalho alquímico da Terra, desde o alcatrão da
estrada do primeiro poema até ao tema
do inverno que domina a obra, com o seu luto e tristeza,
despertados para a vida pela sugestão verde do musgo que as crianças das
aldeias, in illo tempore, iam
arrancar dos muros milenares de pedra para assoalharem os seus
presépios.
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Luto e tristeza advêm da morte do pai e por consequência do
fim dos natais na casa de família.
Mas ao número treze da Morte já sabemos que sucede o renovo
primaveril na figura solar, entre outras, do Menino Jesus. Síncrona com
a temática marcada pelo tempo natalício é a data de redação dos poemas,
em locais variados da cidade de Coimbra. |
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Morte do pai que é
também morte da grande árvore, a sombra protetora que nos acompanha e dá
segurança, elementos tradicionalmente projetados no homem. Maria
Toscano, no entanto, apropria-se deles: apesar de a sua poesia ser
feminina, feminina na temática, na doçura das emoções, no tipo de
memórias que traz à flor das palavras (sabores, alimentos, recantos de
casa), ela apresenta aqui e ali, subrepticiamente, um inesperado
enunciador masculino, que se torna personagem atuante ao apoderar-se da
fala. O leitor assimila esse nódulo masculino ao poder masculino da
árvore, que aliás é ou devia ser um complexo simbólico feminino, dado
tratar-se de um ecossistema (Terra Mater), que Maria Toscano reinventa e
vira ao contrário, ao apresentar como ecossistema afetivo o seu coração
(dela e dele, a figura engravatada); é nele que vivem outros seres e
crescem as árvores:
no meu
coração de andorinha
fizeste tu,
ó árvore,
o ninho.
pousaste
devagar de
mansinho
com a polpa
dos frutos que guardas
entre longos
ramos
elementais.
antes,
roçaste a minha gravata
assim como a
pedir licença
de passagem
logo voaste
regressando à terra
e esperaste
a hora dos musgos e
pirilampos.
Uma obra ao negro
trespassada de emoção e recordações quentes, cheias de amor, sementes
que decerto hão de germinar em estação primaveril no volume seguinte.
Ficamos à espera das flores e dos frutos que este primeiro volume tão
amorosamente acalenta no cadinho repleto de tão bons poemas como de boas
sementes.
Maria Estela Guedes . Casa dos Banhos . 4 de
outubro de 2014
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
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