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Um divórcio não acontece de repente, vai-se
dando até que acontece. Política e ética tendem a divorciar-se a partir
do Renascimento. Até aí orientavam-se pelo dever ser e a partir daí,
especialmente com “O Príncipe” de Maquiavel (1469 - 1527) passou a
centrar-se na materialidade do ser sem a componente idealista anterior
(platonismo). Maquiavel, o iniciador da modernidade política, considera
as coisas como são e não como deveriam ser, por isso não está
interessado na ética. Só reconhece a realidade material na política,
querendo-a auto-suficiente: “os fins justificam os meios”.
Para Maquiavel ”a garantia mais segura da posse é a ruína”. A vida
humana é luta com os meios da legalidade ou da violência. O medo e o
temor são os instrumentos disciplinadores que o governante tem para
levar a causa política a bom termo. Kant, do lado oposto, apela para a
razão prática e para o imperativo categórico (regra áurea como
fundamento lógico e objectivo da moral: “Actua de modo a que o axioma da
tua vontade possa valer ao mesmo tempo como princípio de uma lei
universal”. Os princípios maquiavélicos e meramente materialistas de
orientação realista e pragmática atingiram o seu auge político nos
grandes assassinos de povos como Hitler, Estaline, Mao Zedong.
Na teoria medieval e clássica grega, e em especial para Aristóteles, as
coisas tendem todas para o bem, para a felicidade. Tudo se encontra a
caminho. Para ele havia três tipos de homem e de vida: o vulgar (vive
para o prazer), o político (para a honra, fama realizada na polis) e o
filósofo (para a felicidade), cada qual com a sua medida de felicidade.
O homem político orienta-se pela razão e por ela chega à postulação da
ética (do como se deve ser). A razão fundamenta a atitude moral, conclui
também Kant).
Sócrates defendia a teoria de que a cidade grega
deveria ser governada pelos filósofos, os melhores.
Cristãos têm andado a dormir na Forma dando o Comando aos Outros
A advertência evangélica de “dai a César o que é
de César e a Deus o que é de Deus” não justifica a ilibação moral de
atitudes políticas nem a isenção política por parte dos cristãos.
Pilatos também lavou as mãos e a consequência foi a morte do inocente
(Jesus=povo).
Não é suficiente o empenho de cristãos a nível individual na assistência
social e nas missões; não chega que o cristão seja um especialista do
povo, é preciso o seu empenhamento na ação política dos partidos como
parte do comprometimento estatal e global.
Apesar das contradições da coisa política, tem sido um grande erro a
renúncia dos cristãos no sentido de moldar o mundo politicamente a par
de outros destacados. Torna-se relevante congregar forças em torno de
pessoas de boa vontade para modelar o mundo e dar-lhe nova direcção: um
mundo de rosto humano para todos. A direcção não é dada por quem
trabalha no convés do navio mas pelos seus timoneiros. Urge dar forma
política ao conteúdo cristão não tanto como religião mas como filosofia
e ética cristã. Não se trata de unir política e religião porque isso é
catastrófico, como podemos constatar hoje em conflitos mundiais actuais.
Certamente não há partido que corresponda às aspirações éticas cristãs
mas
em todos os partidos há lugar para pessoas que se empenhem; a orientação
de
um partido depende dos seus membros e o legado da humanidade não se
encontra
em nenhuma instituição mas repartido por cada pessoa. O cristão, se
imbuído
da mensagem evangélica tem lugar em todos os partidos. É verdade que a
política é algo provisório e relativo mas a vida social é construída na
sequência e resulta da soma dos provisório e do relativo. O cristão está
chamado, com todas as pessoas de boa vontade, a criar uma sociedade mais
justa. Seria ingénuo e mendacidade queixar-se apenas de quem faz o
trabalho.
Quem trabalha suja as mãos mas tem a vantagem de poder ver o fruto do
seu
trabalho e de poder limpar as mãos.
O empenho político com o consequente assumir de funções públicas, é uma
forma socialmente desejável e eticamente desafiadora da responsabilidade
cristã para o mundo.
A política não é “negócio sujo”; é uma actividade imprescindível e boa,
em
si. Tem má fama por abrigar políticos sem a ética do dever moral, que
agem
por interesse, internacionalmente em manadas, de maneira colectiva e
anónima, puxados por grupos de interesses com poder. O povo não tem
poder
para se impor aos poderes organizados dentro do Estado, por isso precisa
do
empenho dos que se encontrem mais próximos deles. A qualidade da
política
depende da qualidade humana dos políticos. Se não está contente com a
política empenhe-se nela. Esta é a única maneira de melhorar o serviço à
polis.
A degradação política vem também de uma formação de políticos baseada
ainda
nos princípios de Maquiavel, que quer o político viciado, e no
utilitarismo
feroz anglo-saxónico. Candidatos ao poder passam, quase todos pela
escola de
Maquiavel e centram os estudos em filósofos defensores do materialismo
(Thomas Hobbes, Marx, etc.) e do relativismo moral ou nas ideias dos
sofistas, cínicos e cépticos. Desconhecem a nova era da filosofia
quântica
que considera espírito e matéria compatíveis.
Cada época produz o seu poder e a sua correspondente visão: no
absolutismo a
filosofia era absolutista, na democracia contemporânea é relativista e
numa
democracia orgânica complementar talvez se torne num integracionismo
social
e económico.
Do empenho social para o empenho político
O procedimento ético não se limita ao homem religioso. Na acção se
mostra a
validade dos princípios éticos. O cristão deve deixar o rasto da sua
atitude
ética na política. A política ocidental ao desvincular-se da religião e
da
ética deixa o timão da história aos que mantêm na alma do povo o desejo
de
missão. Política é serviço e como tal uma liturgia, embora a história
mostre
que a promiscuidade de política e instituições religiosas é perversora.
O político, em vez de combater o inimigo que se encontra no seu
interior,
repudia, por vezes, o adversário alimentando a inveja, a rivalidade e a
ganância. Na política estão em primeiro plano os interesses económicos e
estratégicos e não valores de justiça ou éticos. Seria de tentar
inverter-lhes a ordem; para isso o motivo do agir terá de ser
desinteressado
e altruísta.
A luta é um dado natural, mas numa ética desenvolvida não se luta contra
alguém, mas luta-se pela justiça e pela liberdade individual, social e
comunitária. A violência só cria mais tensão.
A obra de Max Weber “A ética protestante e o 'espírito' do capitalismo”
elucida as relações entre religião e capitalismo e induz a melhor
compreender as diferenças das sociedades nórdicas e latinas, bem como as
preferências católicas pela formação humanista e as protestantes pela
técnica. A maneira de estar presente na sociedade seja ela capitalista,
socialista, islâmica, católica ou protestante determina directa ou
indirectamente diferentes economias e políticas.
Urgem soluções intermédias entre capitalismo e socialismo entre religião
e
política, no sentido de servir a felicidade de todos e atingir o máximo
possível de igualdade económica e social. De facto todos somos parentes,
apenas o sol nos mudou a cor.
Deus é povo e a ética é justiça, por isso, ficam à porta de empresas,
ministérios, escolas e partidos. Uma coisa poderia o cristão aprender de
Karl Marx: para intervirmos na história teremos de entrar no interior
dos
conflitos político-sociais. Segundo ele o regime político é o reflexo da
organização das forças produtivas que é preciso influenciar.
Consequentemente, os comunistas são exemplares no empenho político pela
própria causa e na estratégia que usam de se instalarem nas estruturas
administrativas estatais através dos sindicatos.
Embora a missão do sacerdote implique um empenho de ordem religiosa, sem
compromissos políticos mas no compromisso pela paz e justiça, pela
promoção
integral do homem e dos direitos humanos, isso não o devem impedir de
fomentar vivamente o interesse dos cristãos pelo empenho político
militante
nos diversos partidos.
O mar sem a força do vento e da lua não teria as ondas que lhe dão vida!
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