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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
nova série | número 48 |
outubro-novembro | 2014
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ADELTO GONÇALVES
Eça de Queiroz: a biografia definitiva
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Adelto Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa
pela Universidade de São Paulo e autor de
Gonzaga, um Poeta do
Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999),
Barcelona Brasileira
(Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002),
Bocage - o Perfil Perdido
(Lisboa, Caminho, 2003) e
Tomás Antônio Gonzaga (Rio de Janeiro, Academia Brasileira de
Letras, 2012). E-mail:
marilizadelto@uol.com.br |
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EDITOR |
TRIPLOV |
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ISSN 2182-147X |
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Contacto: revista@triplov.com |
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Dir. Maria Estela Guedes |
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I |
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O mais produtivo dos
pesquisadores ecianos, A. Campos Matos (1928) acaba de lançar pela
Editora Unicamp e Ateliê Editorial a edição brasileira (revista e
aumentada) de Eça de Queiroz. Uma
Biografia, considerada desde que lançada em 2009 por Edições
Afrontamento, do Porto, como a mais completa e mais rica biografia do
romancista português (1845-1900), ainda que trabalhos anteriores, como
Eça de Queiroz, o Homem e o
Artista (1945), reeditada em 1973 como
Vida e Obra de Eça de Queiroz
(Lisboa, Livraria Bertrand, 3ª ed., 1980), de João Gaspar Simões
(1903-1987), e Eça: Vida e Obra de
José Maria Eça de Queirós (Rio de Janeiro, Record, 2001), de Maria
Filomena Mónica (1943), constituam igualmente estudos imprescindíveis.
Ao lado de informações até aqui
pouco conhecidas sobre a vida de Eça de Queiroz, o livro de Campos Matos
traz vasta e preciosa iconografia, além de reflexões críticas que
permitem uma visão aprofundada do percurso ideológico do escritor, da
repercussão da sua obra e da sua figura pública entre os contemporâneos.
Nesta biografia, há ainda uma lista das principais obras do autor de
O Primo Basílio, acompanhada
de resumo do enredo e opiniões críticas.
Por isso, como observa o
professor, crítico e poeta Paulo Franchetti na contracapa, este é “um
volume tão agradável ao leitor comum quanto indispensável ao
especialista e ao estudante interessado na cultura luso-brasileira do
século XIX”. Enfim, pode-se dizer, sem medo de errar, que se trata da
biografia definitiva de Eça de Queiroz.
Escrita inicialmente para o
público francês, a obra foi publicada na França de forma simplificada e
com o título Vie et Oeuvre d’Eça de Queiroz (Paris, La Différence, 2012).
Mas para a edição brasileira o autor introduziu alguns complementos aos
retratos psicológicos de Eça e de Emília de Castro, sua mulher;
apresentando novos elementos sobre o período obscuro do Colégio da Lapa,
no Porto. Por fim, o leitor encontrará também uma cronologia
rigorosamente revista, a mais completa até agora; entre outras
atualizações.
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II |
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Como se pode ler na edição
portuguesa, cuja introdução de 13 páginas foi suprimida para a edição
brasileira, “para a não sobrecarregar”, a metodologia adotada nesta
biografia “baseia-se numa seleção ampla e criteriosa de documentos e de
comentários e de uma cautelosa interpretação dos mesmos, que são, em
suma, exigências fundamentais do historiador”. Essa interpretação
procura desvendar as motivações psicológicas de Eça de Queiroz, “uma
criança em bolandas”, ou seja, que viveu aos trancos e barrancos, sem um
lar seguro. Diz o autor: “Da mãe, logo após o nascimento, para a ama, em
Vila do Conde, da ama para a casa dos avós em Verdemilho, da casa dos
avós para o Colégio da Lapa no Porto, daqui para casa de uma tia, irmã
da mãe. Finalmente, depois da formatura em Coimbra, vai para a casa dos
pais no Rossio, em
Lisboa. Eis
o que os psicanalistas chamam uma criança “cedida” (...)”.
A partir daí, o biógrafo conclui
que os comportamentos dissimulatórios de Eça, que se transportaram para
a ficção, “afiguram-se resultado de mecanismos de autodefesa, que
implicam um jogo de disfarces, (...) que nem sempre compreendemos e que,
por vezes, nos parecem inteiramente gratuitos”. E observa que o que
predomina na maior parte de sua ficção é “o insucesso amoroso, a
impossibilidade da realização do amor, a desilusão”. De fato, é extensa
a lista de amantes enganados na ficção queiroziana, desde o conselheiro
Acácio atraído por uma ex-amante e Jorge por Luísa em
O Primo Basílio
(1878) e Raposão em A
Relíquia (1887) a Pedro Maia em Os
Maias (1888) e tantos outros.
Essa desconfiança em relação a
mulheres talvez tenha contribuído para que a solteirice de Eça durasse
até os 40 anos de idade, quando, depois de algumas “aventuras” nos
Estados Unidos, à época em que fora cônsul em Cuba, e, provavelmente,
com a “bela desconhecida de Angers”, na França, decidiu procurar a
estabilidade e a disciplina que só o casamento poderia oferecer.
Casar-se-ia com Emília de Castro, irmã de seu amigo Luís Benedito de
Castro Pamplona, conde de Resende, de uma família do Porto há muito sua
conhecida. E constituiria família com quatro filhos, enquanto prosseguia
a carreira diplomática em Bristol e Paris, sem deixar de passar curtas
temporadas no Porto.
Com o conde de Resende, alguns
anos antes, Eça fizera uma viagem ao Oriente, cujas peripécias e
deslumbramento passaria para um romance de tinturas picarescas,
A Relíquia. Ao contrário do
que dissera seu primeiro biógrafo, João Gaspar Simões, que desconhecia à
época a existência de cartas trocadas pelo escritor com sua esposa, o
casamento de Eça com a aristocrata Emília de Castro, como mostra Campos
Matos, esteve longe de ter sido motivado apenas por conveniências.
Emília seria extremamente ciumenta em sua relação conjugal com o marido.
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III |
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A exemplo do que já fizera em
livro anterior (Eça de Queiroz-Ramalho Ortigão, Retrato da “Ramalhal Figura”),
Campos Matos volta a desmistificar a figura de Ramalho Ortigão
(1836-1915), até então considerado um grande amigo de Eça, inclusive
pelo próprio escritor. Assumindo a responsabilidade perante a família de
coordenar e preparar a publicação dos últimos livros do amigo, Ramalho
Ortigão, como constatou o biógrafo, praticamente, nada fez pela obra
inédita do antigo companheiro, que lhe havia sido confiada pela viúva.
Um ano depois da morte de
Eça, Ramalho Ortigão descartaria a publicação de seus trabalhos
póstumos, limitando-se a fazer a revisão das 30 páginas finais de
A Cidade e as Serras (1901),
“trabalho atrabiliário de abusiva intervenção”. Ao contrário do
comportamento dúbio do pretenso amigo Ramalho Ortigão, o milionário
brasileiro Eduardo Prado, desde o primeiro instante em que soubera da
morte do escritor, haveria de assumir uma série de atitudes solidárias
com a família de Eça de Queiroz, inclusive levando-a para a casa onde
morava, na rue Pergolèse, em Villa Said, perto da
famosa Avenida Foch.
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IV |
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O arquiteto e historiador da
literatura portuguesa Alfredo Campos Matos, nascido na Povoa do Varzim,
como Eça de Queiroz, tem um vasto currículo queiroziano, que começou com
Imagens do Portugal Queirosiano (1976). Foi autor em grande parte do
Dicionário de Eça de Queiroz,
publicado em 1988, que deu lugar a uma edição aumentada em 1993 e, em
2000, ao Suplemento ao Dicionário
de Eça de Queiroz. Publicou ainda
Eça de Queiroz-Emília de Castro,
Correspondência Epistolar (1995) e, posteriormente,
Cartas de Amor de Anna Conover e
Mollie Bidwell para José Maria Eça de Queiroz, cônsul de Portugal em
Havana: 1873-1874 (1999).
É também autor de
Diálogo com Eça de Queiroz
(1999), A Casa de Tormes,
Inventário de um Patrimônio (2000),
Viagem no Portugal de Eça de Queiroz (2000),
A Igreja Românica de S. Pedro de Rates: Guia para Visitantes (2000),
Eça de Queiroz, Marcos
Bibliográficos e Literários (1845-1900), catálogo da exposição do
Instituto Camões (2000),
Ilustrações e Ilustradores na Obra de Eça de Queiroz (2001),
O Mistério da Estrada de Ponte de
Lima: António Feijó, Eça de Queiroz (2001),
Sobre Eça de Queiroz (2002),
Sete Biografias de Eça de Queiroz
(2004), Dicionário de Citações de
Eça de Queiroz (2005), Eça de
Queirós, Postais Ilustrados (2006),
A Guerrilha Literária Eça de
Queiroz-Camilo Castelo Branco (2008),
Eça de Queiroz. Correspondência (2008),
Eça de Queiroz-Ramalho Ortigão,
Retrato da “Ramalhal Figura” (2009),
Silêncios, Sombra e Ocultações em
Eça de Queiroz (2011) e Sexo e Sensualidade em Eça de Queiroz (2012), entre outros. No
total, já publicou 33 livros, incluindo livros sobre arquitetura.
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EÇA DE QUEIROZ.
UMA BIOGRAFIA, de A. Campos Matos.
Campinas: Editora Unicamp; Cotia-SP: Ateliê Editorial, 600 págs., 2014,
R$ 100,00. E-mails: vendas@editora.unicamp.br;
contato@atelie.com.br
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL |
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