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EUGENE GUILLEVIC
Carnac (excertos)
Trad. de Francisco Craveiro |
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Guillevic (Eugène), poeta francês, 1907-1997, nascido em Carnac.
Segundo a Wikipedia, versão inglesa, “His
poetry is concise, straightforward as rock, rough and generous, but
still suggestive.”
A sua formação em Matemática levou,
provavelmente, a que escrevesse
Euclidiennes,
uma colecção de poemas tendo a geometria elementar por base.
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Olhas o mar
E buscas-lhe os olhos.
*
Olhas os olhos
E neles vês o mar.
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Em Carnac, atrás do mar,
A morte toca-nos e respiramo-la
Até nos figueirais.
*
Estão no ar,
As ossadas
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Havia casas pobres
E gente pobre.
*
O tempo
Podia não ser
O dos vivos.
*
Do mar aos menires,
Dos menires ao mar,
*
O mesmo caminho com dois ventos contrários
E o do mar
Assassinando o outro.
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Entre a povoação e a praia,
Havia à direita uma fonte
*
Que não parava
De recuar no tempo.
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Ela tinha um rosto
Como são os rostos
Abertos e fechados
Sobre a calma do mundo.
*
Nos seus olhos eu via
As profundezas do oceano, os seus esforços
Em direcção à luz suportável.
*
Tinha um sorriso igual ao alcatraz.
Apoderava-se de mim.
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O que faz com que a morte esteja morta
E eu vivo,
*
O que faz com que a morte
Se mantenha mais longe do que antes
*
Oceano, tu colocas a ti próprio
Perguntas deste género.
**
Sei que há outros mares,
O mar do pescador,
O mar dos navegadores,
O mar dos marinheiros de guerra,
O mar daqueles que nele querem morrer.
*
Não sou um dicionário,
Falo de nós dois
*
E quando digo o mar,
É sempre o de Carnac .
**
As ervas de Carnac
Nas beiras do caminho
São ervas de epopeia
Que o repouso não diminui.
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Do meio dos menires
O mundo tem o ar
*
De começar lá
E lá voltar.
*
Lá a luz está bem,
Desculpa.
*
O céu
Encontrou o seu lugar.
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Nas terras,
Muitas vezes,
*
A miséria
É constantemente cinzenta.
*
O sol sobre o mar,
Silêncio, um ponto fixo
*
Para o qual tendes
Sol, mar –
*
E o ar que se perde
Para te ver.
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Que dizes tu deste azul
Em que te tornas no mapa?
*
Sonhaste por vezes
Parecer assim?
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Quando recebes a chuva
Reconheces a tua filha?
*
Exilada, de volta,
Desconhecendo a sua história,
*
Quem acredita que ela te magoe
Ou provavelmente te serene.
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Quiseste unir-te
Contra o sol
*
Mas a quem
Senão ele?
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Sem corpo,
Mas espesso.
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Sem ventre,
Mas macio.
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Sem orelhas,
Mas falando alto.
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Sem pele,
Mas tremente.
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Tão vasta, tão pesada
E tão limitada.
*
Um pouco de areia
Que tu removes.
*
Precisas de muito tempo
Para bem pouca coisa.
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O teu pai:
O silêncio.
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A tua obrigação:
O movimento.
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A tua recusa:
A
bruma.
*
Os teus sonhos.
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De igual modo que as casas
As pessoas sucumbiam.
*
Por vezes o vento era tanto
Que o tempo não era pesado.
*
Mas o vento
Escondia o tempo.
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Entre o mar e a terra
Cultivada, tratada,
*
A charneca faz a transição
E luta para não escolher.
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Perguntei-me muitas vezes
O que pensavas das cores.
*
Acho que a pergunta te incomoda,
Mas noto:
*
Nunca me veio a ideia
Fazê-la à hortênsia.
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Quando pareces dormir
Vencido pelo sol,
A fadiga ou os sonhos
*
Nessa altura o alcatraz
Grita desesperadamente por ti.
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Alinhados, os menires,
Como se estar em linha
Devesse dar direitos.
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