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Fui vizinho, em Carcavelos, de um vulto do Surrealismo que dava pelo
nome de Mário Henrique-Leiria e essa incidência de proximidade
acarretou-me responsabilidades imprevistas, ao ser, no ano passado,
instado a escrever sobre essa condição para uma monografia da referida
Vila publicada pela Junta de Freguesia local.
Se me
refiro a um vulto e não a uma pessoa concreta é porque é disso que
verdadeiramente se trata. Um vulto. Não conseguindo visualizar a figura
de quem mereceu, subitamente, o reacender da atenção institucional na
terra onde viveu largos anos (já era nome de rua), e nem mesmo o registo
fotográfico incitando a qualquer forma de reconhecimento mais ou menos
estável, terei de me congratular em abstracto com uma coincidência
residencial afortunada e deambular um pouco em torno da sua herança
picto-literária sem o apoio de qualquer suporte de história vivida e
partilhada, em boa verdade inexistente.
Ele
morava numa rua que fazia ângulo recto com a minha, logo a nossa
vizinhança não era propriamente de porta com porta. Se alguma vez passei
por ele e ele por mim, não nos saudámos com certeza: eu seria um garoto
e ele jovem adulto empenhado em transformar as artes, o Sistema e o
mundo, subvertendo os costumes vigentes na pátria, segundo o padrão por
que pautava o seu comportamento cívico e intelectual e do grupo que
integrava. Participaria, por esse tempo, activamente naquilo que
designava por “actividades da movimentação surrealista em Portugal”. Eu,
de Surrealismo, nada então entendia. E muito menos de “movimentações”.
Sabia lá o que isso era. Todavia, foi invocando o meu longínquo estatuto
de vizinho que alguém veio pedir-me um depoimento sobre o destemido
intelectual e irreverente panfletário. Alguém a quem eu não podia dizer
que não mas a quem também não podia dizer que sim com a guarda
desguarnecida. Que ia ver.
Logo, as
tais responsabilidades do vizinho que não podia imaginar-se vizinho a
valer, dada a diferença de idades, de um ser humano com uma vida dupla
tão preenchida por ousadias culturais e políticas – os complexos enredos
dessa existência paralela teciam-se a vinte quilómetros de casa – eram,
calculo, enormes, e nessa medida, pareceu-me justo não defraudar quem
tão honestamente se me havia dirigido para ajudar à “ressurreição” do
intelectual deixado em banho-maria por desmazelo da eternidade, todavia
hoje razoavelmente instalado na posteridade graças a um par de
estudiosos que não lhe deu descanso.
Os autores de O Surrealismo em
Portugal 1934-1952 (ver
Bibliografia), estranham, nesta recolha monumental, que
Leiria tenha sido recuperado para a posteridade mais pelo que escreveu
do que pelo que a sua produção plástica justificaria no cotejo com os
trabalhos dos seus contemporâneos, no ramo específico que abraçou.
Fernando J. B. Martinho referencia-o, todavia, como alguém
“especialmente vocacionado para a escrita”. Escreve Martinho:
“De Mário Henrique Leiria
(1923-1980), vieram a público três poemas na antologia organizada por
Alfredo Margarido e Carlos Eurico da Costa e editada no Brasil, Doze
jovens poetas portugueses (Margarido e Costa 1953 pp 52-55), sete
poemas no nº 2 de Notícias do Bloqueio (Julho de 1957) que, a seu
tempo, abordaremos, e circulou, em folha volante, um poema-colagem
datado de 1949 (cf. Marinho, 1987, p. 230), que Mário Cesariny reproduz,
em extra-texto, em A intervenção surrealista. Em 1974 Mário
Henrique Leiria deu a lume o “poema-mito” Imagem devolvida,
composto em 1950, e Cesariny revelou poemas de Claridade dada pelo
tempo na antologia Surrealismo / abjeccionismo [1963] pp.
131-139,e, já depois da morte do poeta, de Climas Ortopédicos na
Revista da Biblioteca Nacional (vol. 2, nº 1, Janº.-Junho de
1982,pp. 101-108), datados de fins dos anos 40 e dos princípios dos anos
50. M. H. Leiria participou nas duas exposições de “Os Surrealistas”, em
1949 e 1950 e na primeira destas exposições foi lido um poema de
Benjamin Péret “Allo”, em versão sua, (cf. Cesariny de Vasconcelos,
1966,pp. 144-145). O seu “encontro” com o surrealismo ter-se-ia dado por
volta de 1942, “quando [descobriu] os Manifestos Surrealistas de André
Breton e a ‘Imaculada Conceição’ de Breton e Eluard” cf. Ibid., p. 133.
(ver Bibliografia)
Seja como
for, graças ao prestígio da palavra escrita, do livro, vamos, sobreviveu
Mário Henrique-Leiria ao olvido, nada tendo ele feito, verdade se diga,
como preparação da glória post-morten ao emigrar, enquanto os
seus pares – um Cesariny, um Cruzeiro Seixas – souberam aproveitar o seu
“momento” para construir a obra e a imagem que lhes salvaguarda
afortunado aconchego no regaço da História. Mas mais adiante veremos
como esta opinião é passível de controvérsia e como ao legado pictórico
de Leiria é conferido, pelo menos, valor arqueológico, quando se fala da
história do Surrealismo em Portugal.
Ao deixar-se de surrealismos para se dedicar à luta
político-partidária (1952), acompanhando o correligionário Carlos Eurico
da Costa (a este conheci-o bem quando trabalhámos na direcção da
Associação Portuguesa de Escritores) Mário cavou um buraco semelhante ao
do amigo (também salvo in extremis pelo livro A Cidade de
Palaguin e alguns poemas) entre o antes e o depois de que só o
Gin o resgatou, muito maltratado. Não sei quais foram os acidentes
de percurso que devolveram Mário Henrique-Leiria a Carcavelos, onde em
1973 se encontrava “chateado”, custando-lhe “muito a andar”. Mas os seus
biógrafos dão-no como tendo sido operário, caixeiro de praça, decorador,
tradutor, crítico de arte, oficial da Marinha Mercante, planificador de
exposições, colaborador de jornais e revistas, artista gráfico,
publicitário, nas suas andanças por outros mundos (partiu para o Brasil
em 1961 ali permanecendo até 1970).
Carlos Eurico da Costa,
esse, à data do passamento de M. H-L. (Cascais, 1980), convivia
confortavelmente com o estatuto de Director-Geral da Ciesa (uma
multinacional da publicidade), bebia e fumava demais, estava casado com
uma bela mulher de Minas Gerais e tinha por desporto favorito a caça. Um
universo bem distinto daquele onde “havia gente de bem a vagabundear /
com a barba crescida”. Também partiu mais cedo do que devia. Valeu-lhe
A Cidade de Palanguin para sobreviver. Mais um que a literatura
salvou.
Henrique-Leiria escreveu um livro que à época da sua primeira
edição crispava a censura e rompia com a constrangida prosa de ficção à
nossa moda, fosse a declarada e militantemente linear, fosse a
excessivamente barroca. O nonsense praticado à boa maneira
saxónica com expressão assaz recorrente no paradoxo (diz o autor que se
deslocou “até Inglaterra para aprender coisas” e que “não aprendeu e
voltou” mas acho que aqui ele tenta enganar alguém), íntimo de um humor
negro radical em deliciosas short stories, arrepiou como uma
corrente de vento fresco a pele da literatura que então se fazia por cá.
Para quem duvide aqui fica um lance tragicómico de Contos do
Gin-tonic :
Então
chegaram a minha casa e disseram-me:
–
Mas você não consegue escrever coisas compridas! Isto que faz é uma
miséria.
–
Coisas compridas como?
–
Bem, romances, crónicas autênticas, ensaios sólidos.
–
Não, isso não sou capaz.
–
Então você não é um escritor.
–
Pois não. Quem se atreveu a chamar-me tal coisa? – aí é que me ia
encanzinando.
–
Não é ofensa, desculpe. Mas uma coisa comprida, por favor, não arranja?
–
Olhe, o mais comprido que tenho é isto. E já foi difícil. Quando as
coisas vão a ficar maiores, deito logo fora. Compreende, não é?
Quis o acaso que, poucas semanas antes do convite para escrever
este texto, tivesse encerrado no Centro Cultural de Cascais a exposição
Vanguardas Russas, reportada aos anos vinte e princípios dos anos
trinta, correspondendo, por conseguinte, a um período em que a revolução
bolchevique se encontrava em pleno desenvolvimento, animada por um
optimismo sócio-político genuíno. Por razões profissionais acompanhei de
perto a montagem e as reacções dos públicos que frequentaram a
exposição, apercebendo-me de que certas pessoas se admiravam da
desenvoltura dos artistas de vanguarda num meio aparentemente adverso à
livre criação. Ainda que muitas dessas composições exaltassem os feitos
dos construtores do novo mundo, a verdade é que as formas de expressão
utilizadas para reverterem aqueles em obra de arte ressentiam claramente
uma atitude modernista ocidental, leia-se burguesa, ou melhor, não
realista socialista (coisa que ainda não se sabia muito bem o que era,
mas que não tardaria a chegar por decreto). Segundo uma especialista em
vanguardas russas* estas absorviam um “caleidoscópio de correntes”:
cubismo, futurismo, construtivismo, fauvismo e suprematismo. Em caso
algum é referido pela autora o surrealismo, mas o seu exórdio, ao
intitular-se “Obra de Arte Total” remete para o conceito de “libertação
total do homem” caro, por exemplo, a um André Breton da primeira fase,
isto é, o do primeiro Manifesto. O mesmo Breton que por altura do
segundo Manifesto, depois da sua ruptura com o partido comunista, a que
aderira na companhia de Aragon, Eluard, Péret e Unik, se sente
incomodado com os surrealistas tentados pela “literatura” e pela “arte”
ou pelos “que se agarram ao anarquismo moral” recusando-se a “dar o
salto” para o “surrealismo revolucionário” com muitas exclusões,
expulsões, acusações de traição à mistura. Lê-se em
O Surrealismo (ver
Bibliografia): “Esta série de
justas políticas tem infelizmente demasiada tendência para esconder a
florescência de técnicas e de obras surgidas durante este período
(1926-1927.[…] Aragon, Artaud, Breton, Éluard publicam assim durante
esta época obras de primeira importância e, muitas vezes, afastadas das
preocupações políticas.”
Em todo o caso, voltando às vanguardas russas, há no que respeita às
suas manifestações pictóricas alguma coisa daquilo cuja propriedade
autoral os surrealistas franceses se reclamam: a colagem, ou seja, a
técnica de “fazer coexistir elementos figurativos (colhidos em revistas
ilustradas, em catálogos, em ilustrações de romances populares, etc.)
num contexto que, a priori, não lhes convém.” Dois exemplos apenas:
KLUTSIS, Gustav,1932; e ROSKIN, Vladimir Osipovitch, 1929 indiciam que
paralelamente à turbulência
parisiense os russos não só tinham acolhido a técnica da colagem como a
cultivavam num alto nível de criatividade e projecção, uma vez que as
utilizavam sobretudo como capas para livros, agora recuperadas como arte
de vanguarda. As purgas de Estaline, a guerra e a Zdanovitcha fizeram
desaparecer essas estruturas soviéticas, poupadas, provavelmente, na
primeira fase da revolução iniciada em 1917 à acusação de sabotadores da
mesma por, não obstante, exaltarem os valores do colectivo nas pujantes
representações de operários e heróis. O conteúdo era comunista mas a
forma era “reaccionária” e semelhante combinatória não escaparia mais
tarde à sanha do ditador conhecido por pai dos povos através do seu
homem de mão para a pasta da cultura. Lê-se no catálogo atrás mencionado
que nesse processo se envolveram “pintores, poetas, editores,
fotógrafos, arquitectos, etc.”, e que sob o título de
Poligrafia se “fundiam
fotografia, colagem, design e tipografia, tudo passado pelo crivo da
fotomecânica”.
Ora bem – e era aqui que queria chegar – as primeiras colagens e
desenhos de Mário Henrique-Leiria datam de 1948-49, e os primeiros
textos programáticos coincidem com a I Exposição Surrealista de 1949 o
que dá uma ideia do “atraso” do aparecimento da corrente em Portugal,
enquanto tentativa de intervenção através de uma estrutura organizada,
uma vez que, em termos individuais, António Pedro, António Dacosta e
Cândido Costa Pinto precederam a “explosão” do final da década. Os mais
antigos trabalhos surrealistas de António Pedro, por exemplo, remontam a
1935, mas ele foi um lobo solitário, pioneiro, sem dúvida, sem qualquer
pretensão de liderança de um “partido” surrealista. Panfletário,
agitador, co-autor de textos programáticos foi-o, sim, Leiria, num
quadro de resistência anti-fascista e anti-neorealista, como se
depreende do “Comunicado dos Surrealistas Portugueses” datado de Abril
de 1950 que subscreve juntamente com João Artur Silva e Cruzeiro Seixas:
“Debaixo de qualquer ditadura (fascista ou stalinista) não é possível
uma acção surrealista organizada sem as respectivas consequências de
represálias policiais e portanto sem o aparecimento dos respectivos
mártires e heróis.” E mais adiante: “Qualquer espécie de
realismo-socialista com todo o seu cortejo de estéticas, literaturas e
políticas de partido é tão prejudicial à liberdade do Homem como uma
ditadura fascista, apenas conseguindo pôr no lugar de deus um outro deus
igualmente absurdo.” Há aqui uma certa mimese, um certo
remake, do acontecido em
França nos anos vinte. Aí a grande fractura punha-se na adesão ou não
dos surrealistas ao partido comunista, quando o comunismo era uma
“moda”, um projecto de regeneração social que seduzia os intelectuais e
a ele acabou por aderir o próprio Breton, ainda que tivesse sido entrada
por saída. Por cá já se “sabia” do que eram as ditaduras capazes, mas
migrações ideológicas de ruptura também as houve. A que partido
“aderiram” Mário-Henrique Leiria e Carlos Eurico da Costa –
transitoriamente, embora – quando decidiram renunciar ao Surrealismo
para se dedicarem à actividade política?
A situação política em Portugal não favoreceu a aproximação dos
intelectuais do país, nos anos vinte, à turbulência surrealista em
França, faltando-lhes uma tradição, um passado, quando da erupção dos
anos quarenta-cinquenta, altura em que se pretendeu estruturar o
Surrealismo como movimento organizado. Parecia haver nisto um contra
senso. Sendo o surrealista, por definição, um ser desestruturado,
pretendia-se para ele um colete de forças normativo, com direitos e
deveres, nos antípodas da sua condição natural. Em Portugal seguia-se a
linha europeia de reorganização do movimento, não reorganizando mas
organizando. O que noutros lados era restauro, aqui era começo,
fundação. Com o fim da guerra tinha emergido a esperança na
democratização do país, mas a sobrevivência do salazarismo ao impacte do
modelo europeu ocidental a breve trecho obrigou os activistas surreais a
reconhecerem a falta de condições para o exercício da liberdade de
expressão, ingrediente indispensável à observância dos princípios
programáticos surreais. A realidade mundial havia, entretanto, mudado,
obrigando a ponderar as consequências de uma herança de horror e
repressão: o holocausto, o bombardeamento nuclear, os milhões de mortos
civis em consequência directa das operações militares, o imperialismo
soviético a leste da Europa e a consequente guerra fria, e por aí fora
até se chegar aos Ugandas, aos Cambodjas, etc. Muitos idealistas do pós
guerra tiveram de fazer correcções de perspectiva face ao estado das
coisas e o Surrealismo português como movimento organizado, deve ser
encarado como um fenómeno esporádico num contexto histórico esperançoso
de duração efémera.
Fixemo-nos porém no período surrealista de Mário-Henrique Leiria
que é o que verdadeiramente importa neste texto. Além de panfletário
iconoclasta, Leiria foi muito parcimonioso a produzir obra de arte.
Nesse particular, seguiu as recomendações de Breton, até certo ponto, de
uma não sujeição à “arte” e à “literatura”. Como queria Breton que o seu
Homem Total deixasse de fora uma área da realização tão fértil em
possibilidades de contracultura, de irreverência, de manifestação do
desejo? Manda a verdade que se diga que no cotejo com a produção dos
contemporâneos mais talentosos os desenhos e as colagens de Leiria
exprimem alguma ingenuidade, algum défice de austeridade (ele preferia o
riso avinagrado, o sarcasmo, a caricatura), e sobretudo um frágil
reportório ideográfico (se comparado, por exemplo, com a versatilidade
das vanguardas russas nesse campo). De facto, numa avaliação a olho nu e
a voo de pássaro da obra “pictórica” de Leiria ressaltam dois tipos de
impressão: a de que o artista se esteve nas tintas para a obsessão de
deixar “obra” – na pintura a sua contribuição resume-se a intervenções
em parceria quando os amigos pintores a tal se prestam (Cesariny, por
exemplo) – no que parece ter sido uma opção deliberada, ficando-se pelo
desenho e pela colagem; e deixando por outro lado que uma ideia de
vulnerabilidade conceptual, o pueril e o humor fácil estivessem na base
de muitos atribuírem à sua produção literária, ainda que escassa, a
primazia do que escreveu sobre o que desenhou e “colou”.
E é aqui que entroncam as judiciosas palavras de Cuadrado e Maria Jesús,
segundo as quais os desenhos e as colagens de Leiria são relevantíssimos
para se perceber e situar historicamente o surrealismo português.
Escrevem eles, designadamente: “Apesar do valor da sua poesia e dos seus
livros colagem, em que as linguagens verbal e plástica dialogam até se
fundirem num único mundo poético significante, Mário Henrique Leiria vem
sendo conhecido sobretudo pelos seus livros de narrativas em que a
intenção crítica alia-se a um humor que não ignora as suas origens
surrealistas.” E mais: “… cedo familiariza-se com as premissas e
preocupações do movimento surrealista realizando colagens, desenhos e
objectos surrealistas desde 1949, na procura de um sentido poético que
transvasa a escrita e ocupa qualquer manifestação plástica.”
Finalizando: “No terreno indefinido entre arte e literatura, intensa foi
a sua produção de poemas-colagens e de desenhos em que palavra e imagem
confluem, e no campo da actividade colectiva, também abundantes foram os
cadavres-exquis, aí se destacando a série realizada com Calvet, entre
1948-1949, e as composições com Mário Cesariny, entre elas as
Objectivações do período E.”
O condicionalismo histórico – como na Europa ocidental durante a guerra
39-45, como na União Soviética estaliniana – determinará “a precariedade
e até a frustração do Surrealismo português”, como o reconhecia, aliás,
Mário Henrique-Leiria no auge da sua intervenção programática.
*Consuelo Císcar Casaban in catálogo da exposição
Vanguardas Russas em Cascais
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