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Termo
erudito do glossário geológico, palingénese radica nos étimos
gregos palim, que quer dizer
de novo, e génesis, que
significa acto de gerar. Em linguagem vulgar é o mesmo que renascer. O
termo foi usado por alguns autores para referir a fase do ciclo
petrogenético que conduz à formação do granito por fusão dos sedimentos
de que são feitas as montanhas, no seu interior profundo, durante a
respectiva formação. Para outros autores, o mesmo processo toma o nome
de anatexia
(do grego aná, novo, e
teptikós, fundir).
Na formação de uma montanha, em consequência do fecho de um oceano e da
colisão das massas continentais que o ladeavam (um processo que pode
demorar quatro a cinco dezenas de milhões de anos), parte dos sedimentos
acumulados nos fundos e nas margens desse oceano e cujas espessuras
podem atingir milhares de metros, são forçados a mergulhar algumas
dezenas de quilómetros, em profundidade[1].
No referido mergulho, os sedimentos vão ficando sujeitos a temperaturas
e pressões cada vez mais elevadas, sofrendo modificações nas respectivas
texturas e composições mineralógicas. A tais modificações, quando ainda
processadas no estado sólido, convencionou-se chamar metamorfismo e as
rochas dele resultantes são adjectivadas de metamórficas. Por exemplo,
os sedimentos terrígenos habitualmente referidos por pelitos (argila
mais partículas muito finas de quartzo e de outros minerais), quando
submetidos a condições moderadas de temperatura e pressão,
transformam-se nos conhecidos xistos argilosos e nas ardósias ou lousas.
Os que desceram um pouco mais deram origem aos filádios, também chamados
xistos luzentes, uma vez que a componente argilosa se transformou em
minerais algo brilhantes (ou luzentes), como a sericite, a clorite ou o
talco. Mais profundamente, formaram-se os micaxistos e, ainda mais
abaixo, os gnaisses.
A profundidades na ordem dos 30 quilómetros, a temperatura pode atingir
os 700 a 800 oC, e
a pressão ultrapassar as 4000 atmosferas. Neste ambiente e na presença
de água (contida na composição das argilas) tem lugar a fusão parcial
das rochas, ou seja, a fusão dos minerais menos refractários (quartzo e
feldspatos). Entra-se aqui no domínio do ultrametamorfismo e o processo,
como se disse atrás, toma o nome de anatexia ou
palingénese,
dando origem, primeiro, a migmatitos[2]
e, finalmente, no caso de fusão total, ao renascimento do granito[3].
Os granitos do soco hercínico[4]
(ou varisco[5)
português, de norte a sul, são granitos renascidos por esta via, numa
orogenia ocorrida há 360-300 milhões de anos.
Quem frequentou a escola nas últimas décadas, talvez se recorde da
tectónica de placas, a teoria que fala de continentes à deriva, quais
imensas jangadas de pedra, de oceanos que se abrem e que, milhões de
anos depois, se fecham. Talvez se lembre do ciclo geotectónico global,
proposto pelo geofísico canadiano
John Tuzo Wilson
(1908-1993), segundo o qual as massas continentais resultantes da
fragmentação de um supercontinente se tornam a reunir num novo
supercontinente, com uma periodicidade média avaliada na ordem de 400 a
500 milhões de anos, fazendo renascer montanhas.
Renascer, porque as rochas que as edificam correspondem à transformação
de sedimentos acumulados durante milhões de anos nesses oceanos,
sedimentos que resultaram da erosão de montanhas anteriores.
Renascer é um processo que remonta aos primórdios do Universo. Na
sequência das explosões das primeiras estrelas, surgidas, segundo se
crê, há 12 500 milhões de anos (mil milhões de anos depois do
Big Bang), nasceram outras por aglutinação dos respectivos despojos
(gases e poeiras) lançados no espaço. O nosso Sol renasceu, assim, de
uma estrela anterior, num processo cuja história julgamos poder contar,
olhando o céu com os equipamentos adequados.
Os petrólogos falam de magma primário sempre que se referem à lava
incandescente a brotar de um determinado vulcão. Adjectivam-no assim
porque
admitem que ele surge directamente do manto superior, por fusão parcial
ou total deste, sem que tenha havido qualquer contaminação por parte de
rochas da crosta. Consideram-no, pois, um magma juvenil, primitivo ou
primordial e, por isso, um ortomagma, ou seja, um verdadeiro magma.
Porém, não devemos esquecer que a rocha (peridotito) do manto superior
de onde ele surgiu por fusão parcial, foi magma nos primórdios da
formação do planeta, quando este, segundo se crê, esteve envolvido por
um oceano de rocha em fusão. Quando há cerca de 70 milhões de anos a
região de Lisboa-Mafra, era palco de intensa actividade vulcânica ou
quando, em 1957, surgiu o vulcão dos Capelinhos no extremo oeste da Ilha
do Faial, nos Açores, foi, como em todos os vulcões da Terra e em todos
os tempos, magma a renascer.
Renascer é uma constante nas histórias do Universo, da Terra e também
dos homens. Vem de longe a ideia de renascer.
Bennu,
a ave da
mitologia egípcia,
ateava o fogo ao seu ninho e deixava-se consumir pelas chamas,
renascendo depois, dos seus restos calcinados.
Na Grécia antiga era Fénix que renascia das próprias cinzas.
Há um paralelo entre esta ave mitológica e o Sol, que todos os dias
morre no longínquo Poente, para renascer na manhã seguinte, do outro
lado do mundo, numa alusão da morte e do renascimento da natureza. Na
expressão figurativa do cristianismo, o renascer da Fénix tornou-se um
símbolo popular da
ressurreição
de
Cristo.
Nos nossos dias, “Fénix 2” foi o nome escolhido para designar a cápsula
que, numa operação prodígio da
engenharia mineira com o selo da NASA,
fez renascer, um a um, os 33 mineiros da mina de São José, no Chile,
soterrados a cerca de 700 metros de profundidade, em Agosto de 2010.
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No
final da Idade Média, fazendo a transição para a Idade Moderna,
teve lugar em Itália, nomeadamente nas cidades de
Florença
e
Siena,
um período marcado por transformações em muitas áreas da vida humana, em
particular nas
artes,
na
filosofia
e nas
ciências,
com evidentes reflexos na
sociedade,
na
economia,
na
política
e na
religião,
na Europa. Foi a ruptura com as estruturas antigas e em transição
gradual do
feudalismo
para o ideal
humanista
e
naturalista. O historiador, pintor e arquitecto italiano
Giorgio Vasari
(1511-1547) designou este
florescente período da chamada civilização ocidental, por Renascimento,
em virtude de ter feito renascer e revalorizar as referências
culturais da
Antiguidade
Clássica.
Renasceram cidades depois de destruídas por catástrofes naturais ou
pelas guerras. Renascem para a vida as mulheres e os homens que se
libertam dos agentes opressores, sejam eles outros homens ou mulheres ou
as tristemente célebres substâncias psicoactivas. Renascem os cravos
vermelhos, todos os anos, em Abril e, logo a seguir, nos campos, as
espigas do trigo e as papoilas, ao mesmo tempo que, nas cidades,
avenidas, praças e jardins se cobrem de um tapete de pétalas lilases de
jacarandás.
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