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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
nova série | número 42-43 | dezº 2013-janº 2014
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EDITOR |
TRIPLOV |
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ISSN 2182-147X |
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Contacto: revista@triplov.com |
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Dir. Maria Estela Guedes |
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Índice de Autores |
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SÍTIOS ALIADOS |
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Revista InComunidade (Porto) |
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Domador de Sonhos |
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novas reflexões
sobre
DEMOCRACIA E LIBERDADE
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desde sempre que o homem tem procurado entender
o mundo que o envolve e compreender.se a si mesmo ,através da
inteligência
.o mundo ,porém ,não é ,apenas ,o que se vê e o
que se deseja
.é algo de muito profundo ,traduzido em actos e
factos, perecíveis no tempo e que, mais cedo ou mais tarde, nele se
apagam e reacendem
.é um processo também de memória ,quando o preço
da incompreensão se reveste numa agressiva ,se bem que controlada
,desilusão
.a angústia como dividendo da Utopia – escrevi
,há algum tempo atrás
.regresso ao mesmo tema ,dada a sua oportunidade
,e ,sobretudo ,a minha estupefacção face ao jogo das máscaras que alguns
representam ( mais ou menos bem ,muito embora julguem o contrário ) no
tabuleiro da vida
.hoje ,em que o destino de cada um de nós se
encontra ,cada vez mais ,comprometido pelas opções políticas ,o estar em
sociedade só se justifica através da adesão a essa mesma sociedade .mas
,se esta adesão não tiver sido subordinada ,previamente ,a imperativos
fundamentais que ,para cada um ,encerram uma série de interrogações
,quer no plano ético das representações ,quer no plano material das
necessidades ,o estar em sociedade ,repito , não tem qualquer sentido…
e quais são os factores que condicionam esses
imperativos? como os interpretam os homens? quais as suas mutações
históricas? - são ,apenas
,algumas das questões que ,na contemporaneidade ,reflectem a noção de
democracia ,o que não acontecia outrora
.Rousseau ,por exemplo ,só conhecia a perfeita
democracia entre um povo de deuses
.há ,no entanto ,que renunciar a esta perfeição
ideal ,já que ,na viva experiência hodierna , “ela
perdeu a serenidade de traços com que a enobreciam os filósofos do séc.
XVIII, quando não era, senão, uma belíssima estátua num templo deserto.
Se, por vezes, a semelhança nos choca, não é apenas a nós que nos
devemos incriminar?”
democracia pressupõe liberdade e é ,antes de
mais ,um sistema que inclui a liberdade na conexão política .pressupõe
,ainda ,autoridade ,mas estruturada e fundamentada na adesão do social
,mantendo.se compatível com a liberdade do mesmo
.a Declaração dos Direitos de 1789/91 dispõe que
“os homens nascem e permanecem
livres e iguais em direitos” ,o que demonstra a transcendência da
liberdade e a obrigação das instituições políticas a ela se submeterem
.não basta ,porém ,associar o princípio
democrático à liberdade humana para tomar consciência do significado
presente da democracia
.liberdade equivale a autonomia que se traduz na
ausência de coacção e no sentimento de independência ,física e
intelectual
.nasce ,deste modo ,uma nova concepção de
liberdade e democracia a que poderemos chamar de participação (
liberdade participativa/democracia participada ) e que consiste em
associar o indivíduo ,como ser social ,ao exercício do poder
,defendendo.o das arbitrariedades e do abuso e/ou prepotência desse
mesmo poder
.mas ,liberdade e democracia pressupõem ,também
,e ,antes do mais ,responsabilidade
.todavia , “que
importa que o homem seja livre de pensar se a expressão da sua opinião o
expõe ao ostracismo e à perseguição? Que seja livre de discutir as
condições do seu trabalho se a sua situação económica o obriga a
curvar-se à lei do empregador? Que seja aspirante ao desenvolvimento da
sua personalidade cultural se esta lhe falta como mínimo vital? –
escreveu Georges Bordeau
.hoje ,tudo se passa numa subordinação ,passiva
e irreflectida ,à vontade política que ,por seu lado ,se vê confrontada
com um processo irreversível de dupla “morte” – de perversão de memórias
e de ideais
.destarte ,torna.se urgente recriar a sociedade
livre e democrática que alvitramos e defrontar o AMANHÃ ,sem medo
,demagogias e falsas esperanças ,mas com a consciência de que é ,hoje
,no presente e em cada momento da nossa vida ,que vale a pena fruir a
herança cultural de que somos herdeiros.
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algumas reflexões sobre cidadania
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“Regra
absoluta de uma alma livre: nunca aclamar um senhor governante, seja
este liberal ou não seja; por maioria de razão, nunca ser tímido dele,
não sentir por ele “instintivo respeito”, ou “temor aflito” ante o seu
contacto: mas conservar uma atitude ( desprendida ) crítica, ainda que
concordemos com a sua obra, ainda que o ajudemos na sua acção.
As almas libertas – as bem nascidas – só se
comovem interiormente se inclinam ante as puras grandezas espirituais,
quando desacompanhadas de qualquer poder.
Num Marco Aurélio, veneramos a nobreza do
filósofo estóico, não veneramos o imperador de Roma”.
- António Sérgio
em Portugal ,porém ,face à passividade geral ,os
homens do poder ,porque eleitos ,ditam as suas “leis” e aplicam.nas em
nome da representatividade
.são venerados como eleitos para – e como se
estranharia se não cumprissem essa função – condicionar o comportamento
da sociedade .e esta ,por “instintivo respeito” ou “temor aflito”
,inevitavelmente ,estereotipada e amorfa ,vai perdendo ,cada vez mais
,influência
.é ,então, que por artes de magia ,os eleitos
promovem ou patrocinam espectáculos circenses alienatórios das massas (
já de si alienadas ) que ,impulsivamente ,aderem à festa
.há ,no entanto ,os resistentes
.aqueles que embora em minorias – culturais
,sociais ,políticas e intelectuais – buscam o essencial ,marginalizados
do complô compulsivo do poder .fazem jus ao seu imaginário ,cientes de
que ,em momentos de crise ,são as minorias que ,tendencialmente
,invertem os jogos do poder enquanto tal
.já é tempo de a Cultura ser considerada na sua
dimensão fundamental – não como um somatório de experiências “velhas e
inúteis” ,mas como um modo de estar e de intervir ,como um ponto de
partida ,e ,sobretudo ,como um impulso para uma procura inventiva de
novas possibilidades de progresso e desenvolvimento humanos
.todavia, o trabalho que permite vencer o
isolamento ,a apatia ,o individualismo ,o passivismo e fomentar uma
atitude criativa e crítica ,não se concilia com o desejo que anima
alguns eleitos ,de obter resultados rápidos e imediatos
.passivamente ,continuamos a não interiorizar os
nossos valores essenciais ,a não exigir a preservação dos nossos
símbolos ,suportes presentes da nossa história colectiva ,logo ,da nossa
identidade como povo
.face ao inegável ,há ,contudo ,quem tente
resistir ,encontrando nas palavras de Miguel Torga ,a justificada fuga
ao efémero – “Bem quero, mas não
consigo alhear-me da comédia democrática que substituiu a tragédia
autocrática no palco do país.
Só nós!
Dá vontade de chorar ver tanta irreflexão.
Não aprendemos nenhuma lição política, por mais eloquente que seja.
(…)
Quando temos oportunidade de ser
verdadeiramente livres, escravizamo-nos às nossas obsessões. Ninguém
aqui entende outra voz que não seja a dos seus humores. É humoralmente
que governamos, que legislamos, que elegemos. E somos uma comunidade de
solidões impulsivas a todos os níveis da cidadania.
Com oitocentos anos de história, parecemos
crianças sociais. Jogamos às escondidas nos corredores da vida.”
.é tempo de pô.lo em prática ,assim o exige o
nosso ser/estar social.
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carta a um Amigo
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caríssimo
José!
certo é que “ano
novo ,vida nova” é mais um lugar comum e como tal ,merece.me pouca
importância ou mesmo nenhuma ,atendendo ao facto de não gostar de
lugares comuns .mas ,não são os meus gostos pessoais que pautarão esta
carta ,mas ,antes ,algumas reflexões que tenho vindo a fazer ao longo
dos tempos ,e ,muito particularmente ,dos últimos dois anos
.observo ,no que
aos partidos políticos respeita ,um afastamento cada vez maior das
pessoas perante os mesmos .várias são as razões que podem explicá.lo
,desde um desinteresse cada vez maior pela “res
publica” ,a consciência da inevitabililidade – tão presente no nosso
pensar colectivo - ,o deixar correr ,o desacreditar cada vez mais nos
nossos políticos ,o desencanto ,a necessidade de chegar cada vez mais
fundo ,como se ,hoje ,fosse possível chegar ainda mais fundo ,para então
sim ,tentar novas políticas e novos rumos .a partir do momento em que
,cada um de nós interiorizou o estar em sociedade e o viver em
democracia participativa ,diluiu.se o papel do Eleito e do Eleitor –
prática contraditória – que pouco agrada aos diversos partidos políticos
.a militância
,porém ,não se faz ( ou não deve ser feita ) com amargura ,mesmo quando
os agentes têm razão ,porque a mesma acarreta ,para quem tem a
consciência tranquila… e alguém terá? ,afastamento em vez de aproximação
.além disso
,caríssimo amigo ,tenho consciência ,em função da minha experiência ( e
não só!!! ) e do muito que alguns têm dado em prol do social ,sem nunca
terem pedido nada em troca ,os verdadeiros idealistas ,que na presença
da corrupção ,da incompetência ,do vazio de ideias e ideais ,dos
oportunismos e dos pessoalismos exacerbados que vão presenciando
,diariamente ,se distanciam ,quais observadores dum mundo em decadência
.que é feito das Mulheres e Homens deste País que ,sem ambições de poder
,ao mesmo têm dedicado ,através do seu estar social ,a sua experiência e
saber? conscientes da presente evolução da democracia (?) ,afastam.se
,porque as suas ambições ,perante o desalento ,passam a ser outras
.tornam.se mais expectantes ,exigindo aos mais novos o que os mais
velhos não souberam demonstrar ou fazer
.assim sendo
,julgo ,por tudo isto ,que outros ,e não os actuais agentes políticos
,mais novos ,em termos de idade e envolvência política ,deverão ser os
novos protagonistas das políticas .quero vê.los dando provas, num País
rejuvenescido ,em domínios que decidem e decidirão o nosso futuro
,mormente ,no domínio da Saúde –
onde estão os cérebros? – na área da Segurança Social – não há crânios
para tais abordagens? – na Educação e Justiça – então, meus amigos?
a Cultura ,essa
filha pródiga ,como nunca deu ,nem dará votos ,sempre foi vista e
continuará ,lamentavelmente ,como a parente pobre ,na qual não vale a
pena investir ,como se a mesma ,a par da Educação ,não fosse o barómetro
da sociedade
.mas ,prosseguir
com este desabafo ,meu amigo ,levar.nos.ia muito longe ,e o meu amigo
,como eu ,sabe.lo…….
assim ,prefiro
manter.me na reserva ,sem quaisquer dramas .e ,agora mais do que nunca
quero fazê-lo ,porque ,segundo vejo ,ouço dizer e leio ,há presságios de
muito mau augúrio que se avizinham
.fico.me ,então
,pela expectativa e aguardo ,sem ironia ,o momento próprio para intervir
.e ,o meu Amigo
,qual o seu papel neste desenrolar da História sem história?
.aguardo a sua
resposta
,com a amizade e
a sinceridade de sempre
Silves ,Setembro
de 2013,
Gabriela Rocha
Martins
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL |
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