REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 41 | outubro-novembro | 2013

 
 

 


 

 

NUNO REBOCHO

In memoriam de

Guilherme José de Melo

 

Nuno Rebocho (1945, Portugal). Escritor e jornalista.     

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
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Dir. Maria Estela Guedes  
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Guilherme José de Melo morreu. Conheci-o e, de certo modo, o seu nome aparece ligado aos meus primeiros passos nestas coisas da escrita. Conheci-o em Moçambique (na antiga Lourenço Marques, atual Maputo) quando, era estudante do Liceu, animado pelo Cansado Gonçalves (o grande mestre Tirilicas), comecei a gatinhar no Despertar, do Notícias. O suplemento juvenil era então orientado pelo Guilherme. 

A juventude laurentina estava, nesse tempo, a sair da casca. O meu colega Luís Bernardo Honwana engatilhara com o seu “Nós Matámos o Cão Tinhoso” e, apesar de certas (muitas) influências de Erskine Caldwell, apontava-nos seguramente uma porta. E em volta do Núcleo de Arte reuniam-se vários escritores de algum peso, como Noémia de Sousa, Rui Knopfli (que vim a reencontrar, anos mais tarde, em Londres) e Rui de Noronha, para não falar do meu querido e notável Reinaldo Ferreira, filho do célebre Repórter X.

Foi em tal ambiente que se formou toda uma geração – como o Alexandre Alhinho de Oliveira, o Carlos Nuno Pinto Coelho e outros. Este “sangue novo” impregnou o Guilherme José de Melo e adubou as suas “loucuras”, que destoavam da comum sociedade moçambicana. Devido aos seus “desvios sexuais”, pessoas como Reinaldo Ferreira ou Guilherme José de Melo não eram bem aceites pelo vulgo. E, apesar de em casa de meu pai, o maestro Artur Rebocho, isso ser algo mais visto, também era com algum sarcasmo que deles se falava.

Reencontrei o Guilherme quando já me encontrava em Lisboa, vivida a queda do fascismo e a descolonização moçambicana: tornámo-nos amigos e ele, quase até ao fim, conservou no rosto o sorriso dos bons tempos. Havia entre nós motivos que nos aproximavam: a lembrança de África, as recordações da irredenta geração de Moçambique - que, em Lisboa, era amiúde evocada pelo Luís Carlos Patraquim -, o facto de ambos comungarmos de veleidades poéticas, o jornalismo que praticávamos.

“Exilado” em Cabo Verde, tomei nota do seu falecimento. E recordei-me dos dias em que com ele me encontrava no bar “Snob” ou no Diário de Notícias. E quando, em S. Pedro de Sintra, na Galeria do meu amigo Ernesto Neves, a “Arte Domus”, organizei - à segunda-feira de cada semana – a Festa da Poesia, teria que obviamente que o incluir. Ele merecia.

Nuno Rebocho

 

 

© Maria Estela Guedes
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