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Geógrafo tradicional, de elevada craveira nos domínios das geografias
física e humana, com uma notável preparação geológica, Orlando Ribeiro
(1911-1997) foi um humanista igualmente reconhecido a nível nacional e
internacional. Renovador da Geografia em Portugal, o Prof. Orlando (era
assim que o tratávamos), foi senhor de muitos saberes em diversas áreas,
como as da História, da Antropologia, da Etnografia e outras, saberes
que expunha numa linguagem falada e escrita de invulgar correcção, não
raras vezes poética.
De parceria com o seu colega e amigo Pierre Birot, de l’Institut de
Geographie de Paris, foi pioneiro numa metodologia de investigação
geomorfológica, substancialmente assente no cabal conhecimento dos
sedimentos resultantes da erosão do relevo. E foi nesta linha frutuosa,
inovada pelo geógrafo alemão Walter Penk (1888-1923) que me concedeu o
privilégio de aceitar ser meu orientador nas dissertações de
doutoramento que apresentei e defendi nas Universidades de Paris e de
Lisboa, factos decisivos na escolha da via de investigação que
caracterizou o essencial da minha actividade com geólogo e como docente.
Nesta linha, solicitou-me que montasse no seu Centro de Estudos
Geográficos, um laboratório de sedimentologia de apoio à geomorfologia
que dirigi entre 1965 e 1981
Como era hábito deste ilustre Mestre, para além das pedagógicas
discussões que travava com os seus orientandos, nas visitas que com eles
fazia ao terreno, lia com eles o manuscrito em fase final das
respectivas dissertações e aí, uma vez mais, voltava a discutir, dava
sugestões, fazia correcções de forma e de conteúdo, e ensinava a
escrever em bom português. E foi isso que ele fez comigo, o único
geólogo entre os muitos geógrafos que orientou.
Este meu relacionamento com o Prof. Orlando aconteceu porque eu era
colega do seu filho António (hoje, o igualmente ilustre Prof. António
Ribeiro), na licenciatura em Ciências Geológicas, e ambos fizéramos, com
ele, proveitosas saídas de campo, onde a geomorfologia, a geologia,
geografia humana e a história de Portugal se harmonizavam no rigor e na
beleza das palavras. Aconteceu, ainda, porque éramos vizinhos. Das
traseiras da sua casa falava-se para as traseiras da minha. Assim, para
além da relação mestre/discípulo, fomos amigos chegados ao longo de 40
anos.
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