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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
nova série | número 40 | agosto-setembro | 2013
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DELMO MONTENEGRO
O cânone e o
esquecimento
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Delmo Montenegro
(Recife, Pernambuco, 1974) é poeta, ensaísta e tradutor. Publicou os
livros de poesia Os Jogadores
de Cartas (2003) e Ciao
Cadáver (2005). Organizou, em parceira com Pietro Wagner, a
antologia Invenção Recife
(2004). É um dos editores da revista literária
Entretanto. Atualmente,
prepara dissertação de mestrado sobre o tema “A poesia científica de
Martins Júnior: percurso de uma vanguarda literária em Pernambuco no
século XIX”.
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EDITOR |
TRIPLOV |
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ISSN 2182-147X |
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Contacto: revista@triplov.com |
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Dir. Maria Estela Guedes |
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Índice de Autores |
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SÍTIOS ALIADOS |
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Apenas Livros
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Domador de Sonhos |
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Escrituras Editora |
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“Felizes os que esquecem”.
Temístocles
“O Passado não é
mais a Lei”.
Pierre Nora
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Por
que o estatuto de valor de uma determinada obra de arte (dita pioneira
ou original) permanece inalterável no Sistema das Artes mesmo quando
descobrimos que os seus ditos procedimentos inovadores são na realidade
plágios crassos ou simples diluições de obras de arte anteriores (já
presentes neste mesmo Código Artístico)? Por que, mesmo diante da
revelação da existência destas obras (com todo seu potencial explosivo e
transformador da História), o Código Artístico permanece o mesmo, não se
modifica? Como podemos investigar as relações existentes, então, entre a
fabricação e a manutenção do Cânone Artístico e as operações mentais (e
físicas) do Esquecimento? Qual o papel do Esquecimento na Construção da
Ordem? Apagar o passado é sempre algo negativo? À luz da História das
Artes, o esquecer deve ser sempre visto como o Mal?
Ilustremos isto tudo através do exemplo das
imagens acima. É inconteste ainda hoje o
estatuto fundador e derrisor
dos ready-made de Marcel
Duchamp (1887-1968) na moderna História da Arte[1].
Através de suas operações de deslocamento irônico da rede dos signos,
Duchamp desmascarou a rede produtora de sentidos de uma Obra de Arte.
Uma das obras fulcrais deste movimento (junto com o Urinol e a Roda de
Bicicleta) foi, sem dúvida, a sua célebre intervenção à lápis sobre um
cartão com a reprodução da Mona
Lisa de Leonardo da Vinci, realizada em 1919, pondo-lhe cavanhaque e
bigodinho e intitulando a obra de L. H. O. O. Q. (Mais uma replicação
das inúmeras operações de travestimento que orbitam conceitualmente em todo desta obra.
Trata-se de um jogo fonético[2].
Lido em francês de forma rápida soa como a expressão chula “Elle chaud
au cul”: “Ela tem um cu excitante”). Depois de Duchamp, jamais uma obra
de arte será apenas uma obra de arte. Para além da sua materialidade,
todo objeto artístico será agora visto como um nada (um signo vazio), um
espaço (locus) a ser locupletado pelo trânsito e negociação de ideologias
interpretativas. Entretanto, muito antes de Duchamp, em 1887, um certo
Eugène Bataille, dito Sapeck
(1853-1891), publicaria na revista
Le Rire de Coquelin-Caquet, sua versão “deslocada” e esvaziante da
Mona Lisa, a baforar estupidamente anéis de fumaça através da sua
elegante pipette. A ilustração La
Joconde de Sapeck representa de forma genial a postura anti-clássica
de um dos movimentos mais radicais (e esquecidos – para não dizer
propositalmente “apagado”) da recente História da Arte, o movimento das
Artes Incoerentes (1882-1893)[3].
Inserido na tradição “irônico-cômica” do Simbolismo Francês – que
engloba tanto a poesia de Tristan Corbière (1845-1875) e Jules Laforgue
(1860-1887), assim como a atuação iconoclasta de grupos subterrâneos
como Les Zutistes, Les Hydropathes,
Les Fumistes – o movimento das
Artes Incoerentes (Les Arts
Incohérents) começa a partir das exposições organizadas pelo
ex-membro dos hydropathes
Jules Lévy (1857-1935) em sua própria casa, a partir de 1882, para ser
tornar uma das febres parisienses do
fin-de-siècle, com seus
artistas antecipando muitas das inovações formais comumente associadas
às vanguardas históricas do século XX. Duchamp bebe radicalmente desta
fonte – não se trata de puro acaso. Até mesmo os seus jogos fônicos –
como o já citado L. H. O. O. Q – ressoam outros praticados pelos os
incoerentes como L’ M. A. K. B. (1882) ou L’ A. E. OU. U (1889)
(“l’avez-vous vu?” – “você já viu?”)[4].
Se mesmo assim algum crítico ainda disser que não encontra semelhanças,
que não vê no deslocamento conceitual em Sapeck a mesma intervenção
(ataque) ao locus estabelecido
do Regime da Arte, somente o Riso pelo Riso, só posso lhe recomendar
então que faça a barba desta outra obra –
Le Vénus demi-lot ou le mari de la
Vénus de Milo – de Alfred Caussinus, dito
Ko-S'inn-Hus, tal como belamente se apresenta no
Catalogue illustré de l'Exposition
des Arts incohérents (1886):
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Toda história é um ato de destruição. Toda
escrita envolve seleção e corte. Afirmação da diferença. Colonização do
espaço da página. Aplainamento de toda alteridade discursiva que não
sirva ao Pai do Discurso (seja este o autor ou qualquer força
interpretativa com poder coercivo para tal). Toda história se faz a
partir de atos de apagamento. Por perversão, toda história é
esquecimento.
Os Artistas
Incoerentes foram esquecidos e permanecem deliberadamente esquecidos.
Aquilo que seria o seu topus justo já está preenchido para a História – já servida por uma
outra locupletação conceitual (chamemos Dada, Surrealismo ou o quer
for), o espaço sobre a página já está ocupado por uma outra ideologia
interpretativa, por uma outra Memória. Por um outro Zeus filho castrando
Urano Pai. Isto em si em um Mal? Haverá plasticidade suficiente na
História para abarcar todos os passados possíveis?
De que valeria substituirmos uma peça pela
outra, em termos de uma economia mental, de uma economia ideológica? O
que ganharíamos? Justiça? Redenção do Passado? Não me parece possível
(nem justo) devolver aos Incoerentes aquilo que eles de fato só foram em
estado de potência. Não fomos educados assinalados-assujeitados pela sua
representação. Os Incoerentes ocupam apenas uma virtualidade na
História. O fato é que – como filhos da Modernidade – não podemos
doar-lhe de volta à Função do Pai, a não ser como imposição e falácia.
Impostura do Passado.
Mesmo que isso fosse
essencialmente possível, não seria economicamente viável o esforço de
substituição / a política de compensação. Eis a função clara do
esquecimento. O esquecimento tem um papel decisivo na ecologia
interpretativa do discurso. Se não ocorre ganho na economia dos
Sentidos, não há valor intrínseco em reafirmar o Passado apenas pelo seu
valor de Passado. O Cânone não se move.
Desapegado de sua condição
histórica, o que resta ao Cânone senão fetichizar o Desejo, a
Mais-Valia, e instaurar a Ordem do Gozo. Desejar não o Passado, mas
gozar a beleza, identificar-se com a Potência do Belo sobre todas as
coisas. O passado não é mais a Lei. Qualquer Tempo pode exercer a Função
do Pai, ser o Pai do Discurso ou o Filho Eterno. O nome do Pai agora é o
Princípio do Prazer. O maior inimigo do Passado não é mais o sujeito
cindido, mas sim a Narrativa Desejante. A Economia Libidinal a orbitar
em torno do Gozo da Página. Pode o Desejo rasurar a Ordem? Perverter a
Lei? Copular sobre a letra do Pai morta? Pode O Esquecer partir de uma
componente erógena?
Observemos agora
um caso oriundo da Literatura para descrever a componente sexual dos
Esquecimentos. Existe algo capaz de questionar a singularidade e a
originalidade do célebre soneto Voyelles (1871) de Arthur Rimbaud (1854-1891)[5]?
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Não? Conheçam, então, neste momento,
Le sonnet des sept nombres (composto em data incerta, provavelmente
no mesmo ano de 1871) pelo (entre outras coisas) professor de piano de
Rimbaud, o hoje ilustre desconhecido Ernest Cabaner (1833-1881): |
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Das
relações de Rimbaud com o músico Cabaner (de quem Verlaine dizia parecer
um “Jésus Christ après trois ans
d’absinthe”) basta dizer que Rimbaud o considerava um dos seus
melhores amigos[6].
Paterne Berrichon (que foi casado com a irmã de Rimbaud) dizia que
Rimbaud tencionava que os seus
Vers Nouveaux et Chansons (entre eles
Comédie de la soif, Chanson de la
plus haute tour e L’Éternitè)
fossem musicados por Cabaner (curiosamente estes poemas de 1871-1872
representam uma revolução métrica em relação as obras anteriores de
Rimbaud – serão acaso indícios de uma influência sofrida das harmonias e
ritmos de Cabaner?). Conhecemos o testemunho de Ernest Delahaye, a ouvir
Rimbaud cantar no Hôtel des Etrangers, no Boulevard Saint-Michel – “sur
une musique bizarrement soupirante” – os seguintes versos de uma
canção de Cabaner – Souffles de
l’air (“Souffles de l’air
pleins d’harmonies / Souffles embaumés / Qui passarez rapides sur son
toit, / Pour vous les jeter je change en tristes sons / Mes larmes...”)[7]
. Era no salão deste hotel (onde Rimbaud vivia de favor e Cabaner era ao
mesmo tempo o barman, o zelador e o pianista. Rimbaud lá morava e era
seu assistente) que aconteceram as lendárias reuniões do
Cercle Zutique. Fundando pelos
irmãos Cros, em outubro de 1871, foi exatamente neste clube boêmio onde
Rimbaud, Verlaine, Charles Cros, Germain Nouveau, Jean Richepin, Henri
Mercier, Raul Ponchon e Cabaner formariam o primeiro bastião de jovens a
contestar os excessos e a ridicularizar os ideais vagos do
Parnasianismo. Destas reuniões restou como um vivíssimo testemunho o
Album Zutique (que para os
especialistas só viria a lume em 1943), onde Rimbaud gravou de próprio
punho algumas de suas peças mais experimentais e satíricas como
Le Cocher Ivre (O Cocheiro
Bêbado) e Le Sonnet du Trou du Cul
(O Soneto do Olho-do-Cu – este em parceria com o na época seu amante o
poeta Paul Verlaine). Se nada disso ainda bastasse para caracterizar o
grau de aproximação entre estes dois autores, é através do próprio poeta
Paul Verlaine que ficamos a saber – assim se deduz de uma carta escrita
por ele ao seu ex-cunhado Charles de Sivry – que até mesmo – eis a prova
máxima – o manuscrito original da
opus magna de Rimbaud – Les
Illuminations (As Iluminações)
– ficara por certo tempo guardado exclusivamente sob seus os cuidados.
Assim, podemos dizer, de forma indireta, que Cabaner, ao preservar os
papéis de Rimbaud (numa época em que o mesmo foi literalmente
escorraçado – e apagado como memória infecta – do meio cultural de Paris
após o escândalo sexual e o tirocínio em Bruxelas – que culminou na
condenação por crime de sodomia do poeta Paul Verlaine), foi também um
dos fundadores do Verso Livre, e, por conseguinte, de toda uma corrente
anárquica e libertária da Poesia Moderna.
“Le sonnet des sept nombres”
foi revelado ao mundo pelo estudioso Paul Gachet em 1954 e exposto no
mesmo ano em Paris, na exposição da Bibliothèque Nationale em
comemoração ao centenário de Rimbaud. Da amizade entre Rimbaud – na
época, em 1871, com 17 anos – e Cabaner – então já com 38 anos –
resta-nos a singela dedicatória aposta por Cabaner no manuscrito do seu
soneto tipográfico-cromático-musical: A RIMBAUD. Porém, tal indício em
vez de esclarecer a primazia de um texto sobre o outro, apontando uma
influência do “Shakespeare Enfant” Rimbaud sobre um obscuro e apagado
Cabaner, parece de forma perplexa apontar exatamente para o contrário.
Que toda a (supostamente original) teoria das correspondências
preconizada e graficamente realizada no Soneto das Vogais de Rimbaud é,
na realidade, derivada das teorias estéticas preconizadas e praticadas
por este excêntrico pianista-poeta – este hoje imensamente desconhecido
Ernest Cabaner.
É no livro
Dinah Samuel (publicado em
1882), roman à clef
de Félicen Champsaur, que retrata o meio artístico parisiense por
volta de 1870 – onde temos um curioso dialogo entre as personagens
Raperès (na realidade, um retrato cifrado de Cabaner) e Richard de
Boishève (na realidade, um retrato do escritor e
dandy Villiers de l’Isle-Adam) – que oferece-nos os princípios
gerais da teoria de composição musical sinestésica elaborada por
Cabaner:
“(...)
sans doute, il existe um rapport entre la gamme des sons et celles des
couleurs. Le blanc doit correspondre, selon mes longues études, à l’ut,
le bleu au ré, le rose au mi, le noir au fa, le vert au sol. Ces
rapports des couleurs et des sons une fois trouvés et fixes, on
traduirait en musique des paysages et des médaillons, en remplaçant les
teintes par les notes et en marquant les semi-teintes par des dièzes ou
des bémols. Um travail, fort aisé, de transposition serait nécessaire à
l’auditeur pour voir um paysage ou reconnaitre le portrait du personnage
illustre. ”[8].
Já num
artigo anônimo – publicado no Le Figaro poucos dias após sua morte – alude não só as suas intensas
pesquisas musicais, como também a sua busca por conhecimentos
hermético-cabalísticos-mágicos, em total consonância com a teoria das
correspondências exposta em ambos os sonetos:
“Cabaner a passe une période son existence dans la magie comme disciple
d’Eliphas Lévy [sic] et dans
la chimie, comme élève des anciens Arabes. Ce côté qui rapelle la
recherche de l’absolu de Balzac, avait penétré jusque dans sa pratique
musicale.” “(...) c’est qu’il avait inventé un système particulier
de”notation intentionnelle”, c’est-à-dire que pour indiquer les moindres
inflexions d’un chant e de la diction de l’interprète, il avait imaginé
dês signes typographiques spéciaux, qu’il avait fait buriner exprès, et
qui étaient inintelligibles à tou autre qu’à lui-même. Il espérait
arriver pluis loin, et enfin noter les sons par des lettres (...)”[9].
Ou seja, toda a questão das
sinestesias aplicada ao desenvolvimento de um singularíssimo sistema de
notação cromático-tipográfica, toda a matriz alquímico-esotérica dos
símbolos do poema explica-se naturalmente dentro do programa estético
preconizado por Cabaner – desde antes de 1870 e desde antes do seu
encontro com Arthur Rimbaud. Agora, o inverso poderia ser explicado?
Teria Rimbaud – com tal nuance de características – um programa estético
que pudesse defender a singularidade e a originalidade do seu célebre
soneto Voyelles em oposição ao
soneto de Cabaner?
Contudo, a História não muda.
O Cânone mais uma vez não se move. A explicação como dissemos
anteriormente, é que o maior inimigo do Passado não é o sujeito cindido,
é a Narrativa Desejante.
Queremos nos
identificar com Quem? Com a beleza inaugurante de Rimbaud (“cette
litterále beauté du diable”, tal como Verlaine a anuncia, no prefácio a
edição de 1884 dos Poètes Maudits,
traduzindo à perfeição o magnífico retrato feito em 1871 pelo fotógrafo
Étienne Carjat) ou com os traços esquálidos e a palidez algo doente,
algo mórbida de um triste e patético Cabaner (de quem pode nos dar
testemunho este Portrait de
Cabaner, pastel sobre tela de 1880-1881, executado por um de seus
amigos, o pintor Edouard Manet)? Queremos a Beleza ou os índices de
Falência e de Morte como construtores da Ordem?
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Pode o desejo rasurar a Ordem?
Perverter a Lei? Pode ser o Cânone filho de uma Ordem Desejante? Podemos
falar de uma Memória Narcísica retroalimentada pelo próprio desejo de
si? Ou de ser um outro? Pode o Cânone também se construir a partir de
operações de Transferência? Projetar sobre a História um Gozar Para Si
Além-de-Si?
A Ordem quer a tudo Devorar.
Devorar o Outro. Devorar o seu Si Negativo. Ser o pai de sua Própria
Perversão. A Identidade quer prevalecer sobre todas as coisas,
preservar-se a qualquer custo, Gozar a todo custo, mesmo a partir da sua
sublimação, do Esquecimento, da desterritorialização de Si. A tentação
do Esquecimento? O esquecer habita um
locus erógeno. Sem esquecer o compromisso (o laço) não há
originalidade. O dispêndio sobre o esquecer pode ser prazeroso. Matar o
Pai e rasurar a Culpa. Ou simplesmente não ter Culpa. Esquecer o Pai.
Assumir ontologicamente o desvio e a originalidade. Ser sempre o Filho
Infinito. O Belo Infinito. O Gozo infinito. O desmaterializável.
Na fabricação do Belo
devasta-se.
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Qual o limite ético para tudo isso? É
possível falar de uma ética da memória? De justificar ou mesmo justiçar
a memória? Esquecemos do fascismo de nós mesmos na construção de toda e
qualquer política identitária. Gozamos o Cinismo. Devoramos alteridades.
O resto é silêncio. Constantemente esquecemos que a Perversão do Cânone
é a Perversão de Nós Mesmos. Gozamos o Esquecimento.
Sabemos o peso de uma política
do Belo levada às últimas conseqüências[10].
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Bibliografia
ANDRÉ,
Jacques et CHABERT, Catherine (Orgs.). O Esquecimento do Pai. São
Paulo: Edusp, 2008. ISBN 978-85-314-1087-1;
BÁEZ,
Fernando. História universal da destruição dos livros: das tábuas
sumérias à guerra do Iraque. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. ISBN
85-00-01657-4;
CABANNE, Pierre. Marcel Duchamp: Engenheiro do Tempo Perdido. São
Paulo: Perspectiva, 1987. ISBN 85-2730-134-2;
CHARPIN, Catherine.
Les Arts Incohérents (1882-1893).
Paris: Éditions Syros Alternatives, 1990.
ISBN
2-86738-465-6;
DERRIDA, Jacques. Mal de Arquivo: uma impressão freudiana. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 2001.
ISBN 85-7316-247-3;
ELGER, Dietmar. Dadaísmo. Köln: Taschen, 2005. ISBN
3-8228-4209-5;
HERSZKOWICZ, Sophie. Les Arts incohérents.
Arles:
Les Éditions de La Nuit, 2010. ISBN: 978-2-917431-51-1;
KUHN,
Thomas S.. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo:
Perspectiva, 1995.
ISBN 85-2730-111-3;
LEFRÈRE, Jean-Jacques. Arthur Rimbaud. Paris: Fayard, 2001. ISBN
2-213-60691-9;
LEFRÈRE, Jean-Jacques et PAKENHAM, Micheal.
Cabaner, poète au piano.
Paris:
L’Échoppe, 1994. ISBN 2-84068-037-8;
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas:
Editora da Unicamp, 2007. ISBN 978-85-268-0777-8;
–––––––– Le Mal:
Un
défi à la philosophie et à la théologie.
Genève: Labor et Fides, 2004. ISBN 978-2-8309-1144-2;
RICHTER, Hans. Dadá: arte e antiarte. São Paulo: Martins Fontes,
1993. ISBN 85-336-0211-1;
ROUDINESCO, Elisabeth. A parte obscura de nós mesmos: uma
história dos perversos. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. ISBN
978-85-378-0081-2;
WEINRICH, Harald. Lete – arte e crítica do esquecimento. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. ISBN 85-2000-542-X;
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[1]
Sobre Duchamp e o Dadaísmo – ver CABANNE (1987), ELGER (2005) e
RICHTER (1993);
[3]
Sobre o movimento das Artes Incoerentes – ver CHARPIN (1990) e
HERSZKOWICZ (2010). Para uma visão mais rica dos diversos movimentos
dessacralizadores do período – ver os livros de Daniel Grojnowski
L'Esprit fumiste et les rires,
fin de siècle (Paris: Jose Corti, 1990) e
Aux commencements du rire
moderne: L'esprit fumiste (Paris: Jose Corti, 1997);
[4]
CHARPIN (1990, p. 84);
[5]
Sobre Arthur Rimbaud – ver LEFRÈRE (2001). Por uma iconografia do
poeta – consultar de Jean-Jacques Lefrère
Rimbaud le disparu (Paris:
Buchet Chastel, 2004) e Face a Rimbaud (Paris: Phébus, 2006). Remetemos para consulta ao
texto dos poemas a edição da Bibliothèque de la Pléiade, organizada
por Antoine Adam, Rimbaud :
Oeuvres completes (Paris: Gallimard, 1972);
[6]
Sobre Cabaner – Ver LEFRÈRE et PAKENHAM (1994). Para maiores
detalhes sobre as reuniões e a produção artística do Cercle Zutique
– ver o recém-lançado livro de Bernard Teyssèdre
Arthur Rimbaud et le foutoir
zutique (Paris: Éditions Léo Scheer, 2011), com prefácio de
Jean-Jacques Lefrère;
[7]
LEFRÈRE et PAKENHAM (1994, p. 39);
[8]
LEFRÈRE et PAKENHAM (1994, p. 49-50);
[9]
LEFRÈRE et PAKENHAM (1994, p. 96);
[10]
Sobre as representações de Jesus – ver BARELLA, José Eduardo.
A última face de Cristo:
Técnica de reconstituição facial põe em xeque imagem clássica do
rosto de Jesus. In: Revista Veja. Edição 1694. 4 de Abril de 2001.
Disponível em:
http://veja.abril.com.br/040401/p_064.html (data de consulta:
04/07/2011).
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL |
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