A Corrente
Estes peixes não têm olhos
estes peixes prateados que me
aparecem nos sonhos,
que espalham
ovas e esperma
nos bolsos do meu cérebro.
*
Mas há um que vem-
pesado, com cicatrizes,
silencioso como os outros,
que apenas
se aguenta
contra
a corrente,
*
fechando a boca escura contra
a corrente, abrindo-a e fechando
enquanto se agarra à corrente.
Fragmento Tardio
E tiveste tudo
o que querias desta
vista, mesmo assim?
Tive.
E o que querias?
Chamar-me amado, sentir-me
amado na terra.
O Arranhão
Acordei com uma mancha de sangue
no meu olho. Um arranhão
a meio da testa.
Mas hoje em dia ando a dormir
sozinho.
Porque razão levantaria um homem
a mão
contra si próprio, mesmo a
dormir?
São esta e perguntas semelhantes
a que estou a tentar responder
esta manhã.
Enquanto examino a minha cara na janela.
Circulação
Quando me apercebi da dor
e acordei, o luar
inundava o quarto. O meu braço
estava paralizado,
servia de apoio como uma velha
âncora sob
as tuas costas. Estavas a
sonhar,
disseste mais tarde,
tinhas chegado
cedo para o baile. Mas após
um momento de ansiedade estavas
bem
porque na verdade era uma feira
no passeio, e os sapatos que
usavas
ou não usavas, eram bons para
isso.
A melhor parte do dia
Noites de verão frescas.
Janelas abertas.
Luzes acesas.
Frutos na taça.
E a tua cabeça no meu ombro.
Estes
são os momentos mais felizes do dia.
*
Logo a seguir
às primeiras horas da manhã,
claro. E antes
do almoço.
E a tarde, e
a altura em que começa a
anoitecer.
Mas gosto mesmo
*
destas noites de verão.
Até mais, acho,
do que daqueles outros tempos.
O trabalho do dia já feito.
E ninguém nos consegue alcançar
agora.
Ou vez alguma.
Setembro
Setembro, e algures a última
das folhas
do sicómoro
voltou à terra
*
O vento varre as nuvens do céu.
*
Que ficou aqui? Galinhas bravas,
salmões prateados
e, não longe da casa, o pinheiro
atingido.
Uma árvore onde caiu um raio.
Mas mesmo agora
a recomeçar a viver. A
aparecerem por milagre
alguns rebentos.
*
“Maggie by My Side” de Stephen
Foster
toca no rádio.
*
Ouço com os olhos distantes.
Entrevista
Falar de mim o dia inteiro
fez-me relembrar
algo que eu pensava estar
definitivamente
encerrado. Aquilo que
eu sentira
por Maryann – Anna, diz
ela agora – aqueles anos todos.
Fui buscar um copo de água.
Fiquei algum tempo à janela.
Quando voltei
passámos sem dificuldade ao
assunto seguinte. Mas
aquela recordação enterrando-se
como um prego.
Estendendo o braço
Ele soube que estava
em dificuldades quando,
no meio
do poema,
se viu
a estender o braço
para o thesaurus
e depois
o
Webster’s