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Nasceu a 2 de Abril de 1924 no sítio do Jangão, freguesia da Ponta do
Sol,
sendo filho de Francisco Rodrigues Macedo e de Maria de Jesus Gomes.
Seus pais
eram pessoas humildes e de fracos recursos económicos mas eram letrados
e
queriam que os filhos frequentassem a escola. Apesar de alguma
resistência
manifestada por alguns fidalgos da vila, começou a frequentar o ensino
primário em
1933.
Com a extinção das ordens religiosas em Portugal em 1834, os cinco
conventos
franciscanos então existentes na Madeira (no Funchal, Santa Cruz, Câmara
de
Lobos, Ribeira Brava e Calheta) foram sendo encerrados com a morte dos
últimos
frades e deste modo a Ordem dos Frades Menores deixou de marcar presença
na
ilha. Esta ausência perduraria até 1935, ano em que os Franciscanos
regressaram à
Madeira, fixando residência na Capela da Penha de França, no Funchal. No
entanto, e devido ao facto de estar profundamente enraizada no seio do
povo madeirense, a Ordem Terceira (formada por leigos) manteve-se ininterrupta na
ilha.
Ana Palinhas, avó materna do jovem Francisco, era uma fervorosa terceira
franciscana. O seu maior desejo era que o seu neto fosse padre
franciscano. Foi
imbuída por este pensamento que um dia foi à Penha de França apresentar
o seu neto
aos frades, dizendo-lhes do seu propósito.
Tendo sido aceite, foi acordado enviar o Francisco para o Colégio de
Montariol, em Braga. Corria o ano de 1937. Após frequentar os estudos
liceais, iniciou
o seu Noviciado a 2 de Agosto de 1942, no Convento de Varatojo, em
Torres
Vedras. A tomada de hábito franciscano decorreu a 8 de Setembro de 1943.
Seguiram-se dois anos de estudos filosóficos, em Montariol, e quatro de
Teologia no
Seminário da Luz, em Lisboa. Ali seria ordenado sacerdote a 24 de Julho
de 1949.
A sua Missa Nova no continente ocorreu a 2 de Agosto na Capela dos
Anjos, no
Porto, e na Madeira, a 14 desse mês, na igreja paroquial de Nossa
Senhora da
Luz, na Ponta do Sol.
Convidado pelo Pe. David de Sousa (que viria a ser Bispo do Funchal de
1957 a
1965) a partir para as Missões na Guiné-Bissau, não hesitou. Chegou
àquela
ex-colónia portuguesa a 11 de Dezembro de 1951 e por ali ficaria durante
46 anos
onde viria a desempenhar um importante papel no campo da educação.
Naquele país africano começou a sua vida missionária em Bissau, como
coadjutor da única paróquia ali existente, director das escolas,
assistente religioso
da Mocidade Portuguesa e responsável pelo grupo coral da Catedral.
Organizou
ainda várias récitas teatrais e inúmeras projecções de filmes, sobretudo
do
Charlot, que atraíam imenso público.
Em Outubro de 1952 começou a leccionar a disciplina de Religião e Moral
no
Colégio-Liceu de Bissau. Precisamente dois anos depois foi nomeado
superior da
Missão de Bula, onde criou um Orfeão composto por 90 jovens, que actuou
por
várias vezes em Bula, Canchungo, Bissorã e em Bissau. Durante 14 anos de
vida
missionária desempenhou ainda o cargo de Superior Regular dos
Franciscanos
Portugueses naquele país. Quando o bispo de Bissau tinha de ausentar-se
da sua
diocese, Francisco Macedo substituiu-o várias vezes.
Aquando da visita à Guiné, em Maio de 1955, do General Craveiro Lopes,
então
Presidente da República, escreveu a letra e música do hino de recepção
em sua
honra, do qual apresentamos o refrão: Ó Guiné, terra de nobre gente,/
Canta
alegre em coro geral!/ Viva o nosso Presidente,/ Viva o nosso Portugal.
Em Novembro de 1961, encontrando-se de férias na Fraternidade da Penha
de
França, no Funchal, recebe um telegrama do seu Provincial convidando-o
para ser
capelão do Santa Maria numa viagem rumo à Venezuela e Curaçau (dois
destinos da
emigração madeirense de então), fazendo ainda escala em Miami, na
Florida,
antes de regressar à Europa. Nesta breve visita aos Estados Unidos teve
a
oportunidade de visitar o Seaquarium (onde se extasiou a assistir a um
espectáculo
de golfinhos e focas), a loja Burdine’s e a celebérrima Miami Beach.
De volta à Guiné, é proposto para o cargo de vice-reitor do Liceu
Honório
Barreto, em 1966. Devido ao seu empenho no campo da educação, este
madeirense
recebeu de Américo Tomás, então Presidente da República, a condecoração
da Ordem
de Instrução Pública, a 4 de Fevereiro de 1968.
A 3 de Fevereiro de 1973 foi nomeado Reitor daquele liceu pelo General
António de Spínola, então Governador-geral da Guiné. Com o advento do 25
de Abril,
solicitou a sua resignação do cargo, tendo sido reconduzido pelas novas
entidades governamentais guineenses que, entretanto, mudariam o nome daquele
estabelecimento de ensino para Liceu Nacional Kwame N’ Kruumah. Após ter
orientado o
arranque do ano escolar de 1975-76, Francisco Macedo foi convidado para
o cargo
de Assessor e Conselheiro do Ministro da Educação.
Este franciscano também foi condecorado pelo governo guineense em
Fevereiro
de 1981, como reconhecimento dos seus valiosos serviços prestados à
Educação. A
30 de Abril de 1989 recebeu ainda um louvor do Conselho de Ministros
daquele
país que pretendia Louvar publicamente o Reverendo Padre Francisco
Rodrigues
de Macedo pelas excepcionais qualidades reveladas no exercício das
diferentes
funções que lhe foram confiadas no âmbito da educação, pelos seus dotes
de
inteligência, capacidade de trabalho, dedicação e espírito de
sacrifício, do que
adveio uma profícua colaboração em prol do ensino, o que é grato
destacar em
sinal de reconhecimento do governo e do povo guineense.
Em Março de 1983 assumiu a direcção da escola interna do Seminário
Diocesano,
onde leccionou ainda a disciplina de Português. Para que o ensino ali
ministrado fosse oficializado pelo governo, Francisco Macedo redigiu os
Estatutos
daquela escola, que foram aprovados em Julho daquele ano. Em Julho de
1989 mudou
o nome daquela instituição para Liceu João XXIII e elaborou novos
Estatutos
que foram aprovados dois anos depois.
Por motivos de saúde, deixou a Guiné em meados de 1997, tendo vivido por
dois
anos no Convento de S. Francisco, em Leiria, findos os quais regressou
definitivamente à Madeira. Na Fraternidade da Penha de França, entre
outros
afazeres, desempenhou ainda o cargo de Procurador Regional da União
Missionária
Franciscana.
Em Dezembro passado foi convidado pelo Provincial da Ordem Franciscana
Portuguesa a acompanhá-lo numa visita à Guiné-Bissau. Tendo tomado
conhecimento da
presença no país deste ‘Homem Grande’ (assim denominam os africanos as
pessoas
ilustres), estes formavam longas filas para poderem cumprimentá-lo. Até
a
Assembleia Nacional da Guiné-Bissau interrompeu uma das suas sessões
legislativas
para o receber condignamente na medida em que a maioria dos seus
deputados
tinham sido seus alunos.
Este humilde e afável franciscano madeirense que a todos cativou pela
sua
bondade, faleceu no dia 6 de Março, contando 81 anos de idade.
Desapareceu o
homem, mas a sua obra para sempre ficará lembrada na sua amada Guiné.
Aqui fica o
registo do seu perfil biográfico em preito de homenagem a este saudoso
amigo.
duarte_barcelos@portugalmail.pt
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